domingo, dezembro 28, 2008

2009



Um 2009 que se pareça com essas lindíssimas pessoas, é o que de melhor se pode querer....















Um ano que tenha a alegria, a diversão e a beleza que eles trazem.





Saúde e felicidade. Trabalho prazeroso.
Paz, amor e som.


Um ótimo 2009 pra todo o planeta!


terça-feira, dezembro 23, 2008

velhos amigos

Fiz a minha boa ação de Natal na semana passada: promovi o reencontro de dois amigos que não se viam há mais de quarenta anos. Quem acompanha o blog talvez tenha visto meu irmão Newton em alguns posts anteriores. Roberto Menescal, claro, todo o mundo conhece. Pois bem. Minha existencia como músico deve muito aos dois, e pra quem não sabe, vou repetir a história, que já contei muitas vezes em entrevistas e que tais.

Nasci temporã, de um relacionamento de minha mãe _ já então separada do primeiro marido, e com dois filhos na bagagem _ que não foi adiante. Filha de mãe "solteira', portanto (em inglês fica melhor: single parent), algo meio escandaloso para a época. Lá em casa éramos ela, eu e meus dois irmãos, já adolescentes. Newton, o do meio, é 13 anos mais velho que eu. E logo que eu nasci, coincidencia ou não, começou a tocar violão. Portanto, o violão entrou lá em casa junto comigo.

Ele aprendeu pelo velho método Bandeirante, que era o que havia naquele tempo (estou falando dos anos 50). Seu colega de Colégio Santo Inácio, Beto, ficara impressionado com aquilo: ele estudava acordeon, como 10 entre 10 infantes da época, na famigerada academia Mário Mascarenhas, e o violão do meu irmão, já tocando Garoto, Noel e outros autores, passou-lhe uma impressão bem melhor do que as valsas e rancheiras que o forçavam a tocar nas apresentações da academia. E eis que o Beto resolveu estudar violão também.

Pois bem, Beto virou Roberto Menescal e foi em frente com sua gloriosa carreira de músico. Newton, que pretendia casar cedo (e casou), achava aquela vida meio alternativa e arriscada demais, portanto formou-se em direito, fez carreira no Banco do Brasil, e a música virou um hobby em sua vida. Os dois foram felizes e se deram bem no que queriam, cada um ao seu modo.

Eu ficava olhando e sonhando com aquilo, ouvindo as músicas que os dois tocavam em casa, ao lado de outros músicos amigos, que mais tarde ficariam famosos quando explodisse a bossa-nova. Ninguém me dava muita bola, eu era apenas uma pirralha que de vez em quando soltava uma opinião, quase sempre mal-recebida. Até que, aos 14 anos, comecei a pegar escondido o violão do meu irmão, e de tanto ver e ouvir o que ele fazia, aprendi a tocar também.

A descoberta de minhas primeiras gravações caseiras e a posterior cena em que Newton mostrava a Menescal a novidade da irmãzinha menor ficou na (minha) história. Mas daí pra frente, o amigo de meu irmão virou meu amigo também, e muitos trabalhos bacanas rolaram nos últimos anos, inclusive a nossa recente parceria. Eles é que nunca mais tinham se visto, cada um seguindo um rumo diferente. Mas depois de tanto tempo, ultimamente, sem que nada tivesse sido combinado, a toda hora um dos dois me pedia para arrumar um encontro.

O que foi finalmente resolvido com um almoço aqui em casa. Abriu-se um vinho, os assuntos foram postos em dia, e eu devo dizer que adorei tudo. Menescal chegou a lembrar, na íntegra, de um poema escrito por Newton na pré-adolescencia, do qual o autor não tinha a mais vaga lembrança, e que dizia assim:

"O futebol é o tipo do esporte
que não depende da sorte
mas sim dos seus jogadores
que querem mostrar os seus valores.

Quando no meio da partida
o jogador dá uma furada
é vaiado pela torcida
que diz: esse não dá pra nada!"

(Espero que o jovem poeta não se encabule com isso...)

Mas a alegria dos dois foi o melhor presente deste Natal pra mim. Revendo amigos, total!


sexta-feira, dezembro 19, 2008

natal, bossa e amores

Todo ano ela faz tudo sempre igual... Wanda gosta de receber os amigos, e quando chega a época de Natal a turma se reúne na casa dela. Aí está o pessoal na nossa festinha, exceto o Tutty, escondido, e a Ivone batendo a foto.

Neste ano teve um pouco de tudo, comidinhas gostosas (especialidade da nossa amiga W), muita conversa, roda de violão mostrando as músicas novas, e até uma prece ecumênica pra quem quisesse participar. Foi tudo ótimo, mas pra mim o ponto alto da noite deu-se depois do jantar, quando rolou um papo que seria lindo se não fosse sério. Ou vice-versa. De repente, não mais que de repente, surgiu uma conversa sobre amor, paixão, romance e outros sentimentos leves. Se Vinicius estivesse presente, teria adorado. Vejam só.

Carlos e Marcos são parceiros numa canção (música do Marcos, letra do Carlinhos, se não me engano) que ao final diz o seguinte: "a paixão é fugaz, um romance é pra sempre". Na verdade, não sei bem se era "um romance" ou "o romance", que no caso faria mais sentido. A partir daí, rolou uma discussão animada sobre o assunto. Houve quem fosse partidário das paixões (Vinicius certamente seria, este era o grande motor de sua vida). Houve quem dissesse que amor é chato, a paixão é que é o grande lance (compreensívelmente, a ala mais jovem). Carlinhos se esforçava para explicar o que quis dizer com "romance", que não é propriamente amor, nem paixão, é outra coisa. Mas o quê, exatamente? Quem explicou tudo foi alguém que é de falar pouco, mas teve um grande insight nessa hora. Meu também parceiro Marcos resumiu a ópera dizendo simplesmente o seguinte: romance é manutenção. Claro! Ele que já fez com o irmão uma deslumbrante canção chamada "O Amor é Chama", prima do poema de Vinicius ('infinito enquanto dure...'), descobriu a pólvora. Manutenção, é isso.

A conversa me lembrou o casamento de nossos amigos Paulo Moura e Halina. Foi numa casa de shows na Lapa, que eles fecharam para a festa, com música ao vivo e outros babados. Halina é judia, Paulo é originalmente ligado `as religiões afro-brasileiras, mas quem os casou foi o católico Frei Betto, que a certa altura disse o seguinte aos noivos: "nunca se esqueçam de que marido e mulher não são parentes _ marido e mulher são amantes!" Pois é, taí o tal do romance, a manutenção do desejo, da admiração, do carinho, a continuidade da caminhada, sem que os dois se esqueçam em momento algum das razões pelas quais estão juntos.

Amizade num casamento (ou em qualquer tipo de relacionamento) é imprescindível. Mas não basta. A paixão acende o primeiro click, sempre. Mas é preciso ainda mais. Daí pra frente, há que se cuidar da manutenção. Romance, é lógico. Ou a plantinha seca, e a vida fica árida e sem graça. É ou não é?


terça-feira, dezembro 16, 2008

exigencias


Eu já estava quase me conformando a passar este final de ano escrevendo sobre assuntos áridos como a truculencia da PM no RJ, a crise mundial, a sapatada no Bush _ se bem que este é um assunto que pode ficar engraçado, da série 'seria cômico se não fosse trágico' _ quando fui salva pelo comentário de um leitor. Túlio fala em artistas que fazem "exigencias esdrúxulas", e isso bem na hora em que Madonna está no Brasil. Esse é um assunto que não me quer calar, pois uma das minhas dificuldades em relação ao chamado estrelato é exatamente lidar com esse festival do ego, como já falei aqui várias vezes. Claro que algumas exigencias podem e devem ser feitas, em prol da segurança e do conforto do artista, e para isso existem os produtores que organizam as turnês, garantindo em contrato que não cairemos em nenhuma roubada, que o hotel não será um Caílson qualquer, que seremos pagos direitinho e outras cositas más _ que nós, músicos, de fato não sabemos como lidar com essas questões administrativas. Mas tem um pessoal que exagera.

Muitas vezes quem faz as exigencias não é o artista propriamente dito, mas seus representantes. Já vi isso acontecer diversas vezes. De qualquer forma, difícil imaginar que a pessoa seja desligada a ponto de não saber o que se está aprontando em seu nome. Eu mesma já demiti uma pessoa que trabalhava comigo porque as queixas se acumulavam em relação a seu (mau) trato com os demais. E era alguém de quem eu gostava bastante, mas impossível de trabalhar junto. Tudo bem também que o produtor não pode ser um eterno 'bonzinho', ou será tido por otário, e no final é o artista quem paga o pato. Sua função é sempre de bad cop, indo na frente e cuidando dos detalhes sórdidos, para que quem vai estar no palco possa se preocupar exclusivamente com o palco propriamente dito. Aliás, produção é um trabalho ingrato, quando aparece é sempre pelos problemas. Quando não aparece é porque está funcionando, o trem roda nos trilhos suavemente, e isso é que é o certo. Coitado do produtor.

Tenho amigos, que adoro no dia-a-dia, famosos pela quantidade de exigencias esdrúxulas, o que faz o contratante pensar duas, três, dez vezes quando precisa fazer algum trabalho com eles. Alguns têm de ter uma garrafa de uísque 12 anos no camarim, carro `a disposição 24 horas, 30 toalhas brancas de determinada marca (quantos banhos a pessoa irá tomar antes e depois do show?), teleprompter alugado para quem não consegue se lembrar das próprias letras, banquinho com suporte para o pé na centimetragem exata, mapa do avião, comidas especiais, `as vezes tudo isso junto. Sei de um caso onde a pessoa cancelou toda uma turnê já iniciada, porque não gostou do colchão do primeiro hotel (depois dessa, sua produtora mudou de ramo). Nenhuma das pessoas acima encontra-se exatamente no patamar Madonna dentro do show-business: são, sem dúvida, artistas musicalmente especiais, que apenas seguem a máxima de Elis, quando mandou redecorar o camarim do Canecão, que já tinha sido todo preparado para ela. "Mas está ótimo", disse um amigo, e ela: "eu sei, mas se eu não reclamar, ninguém me respeita".

Por isso fico feliz quando tenho de trabalhar com alguém que une o útil ao agradável e pede `a produção apenas o realmente necessário. E vamos `a música, que é a diversão do negócio, muito mais do que o negócio da diversão.


terça-feira, dezembro 09, 2008

Visões do Amanhecer

Ou, no idioma de Barack Obama, 'Visions of Dawn' _ título de uma das 3 partes da suite de Mauricio Maestro que compõe parte do repertório do nosso disco de 1976. Mais psicodélico, impossível. Discuti muito com a gravadora de Londres por causa do injusto destaque ao meu nome. Foi um trabalho de 3 cabeças, os possíveis royalties serão divididos igualmente, mas não teve jeito. A capa ficou assim mesmo.

Sai por lá no início do ano que vem, que, pelo visto, será um ano bastante confuso, pois deve ser lançado, também na Europa e no Japão (por outras gravadoras), o projeto gravado ao vivo que fiz sobre Tom com a WDR Big Band, em 2007, chamado 'Celebrating Jobim'. E o DVD/ CD dos 40 anos ainda estará no mercado, com chances de sair no exterior também. Sei o que acontece quando os lançamentos vêm assim em cascata: acaba nenhum vendendo direito, um atrapalha o outro. Nessas horas invejo uma mulher de negócios como Marisa Monte, que programa cada passo de sua carreira com precisão cirúrgica. Ela está certa. Mas eu não consigo: me apaixono pela música, pelo projeto, pelo sonho, e aí, já viu.

De qualquer forma, ainda bem que há excesso de projetos, não falta deles. Ninguém sabe o que virá daqui pra frente. Alguns shows deste final de ano já foram cancelados. É a economia, estúpido. O que me lembra uma piada que meu amigo Betinho gostava de contar: parada de 7 de setembro (ou 4 de julho, ou 14 de julho, ou qualquer dessas datas nacionais _ você escolhe o país). Os convidados estrangeiros estão impressionados com o poderio bélico do país anfitrião. De repente, no final de tudo, aparecem 3 homens de terno, desfilando depois de todo o Exército, Marinha e Aeronáutica. Os convidados não entendem e perguntam: quem são esses caras? por que estão no final do desfile? E o presidente responde: "é a equipe econômica. Esses três caras fazem mais estrago que todo o nosso armamento junto".


sexta-feira, dezembro 05, 2008

o que interessa, e o que não

Toda vez que estou em fase de lançamento de CD, DVD ou qualquer produto audiovisual, a deprê é inevitável. Como é possível que a essa altura dos acontecimentos ainda se me façam as mesmas perguntas e ainda me venham as mesmas antigas propostas? Tanta coisa importante acontecendo no mundo; tantas abordagens possíveis para falar do meu trabalho, que não envolvam diretamente a minha pessoa; tanta coisa, enfim, para ser dita e ouvida e sentida e ligada ao que realmente importa, que é a música em si mesma. E lá estou eu repetindo a mesma dança de 40 anos atrás, apenas com parceiros e parceiras diferentes.

Já é complicado lidar com a posição em que minha profissão me coloca diante do mundo, com o ego balançando ali na frente, sendo afagado ou esculhambado, conforme o gosto do freguês. O ego, esse ladrão insidioso, que pode fazer com que você acredite no que será dito a seu respeito, para o bem e para o mal, e com igual perigo dos dois lados. Não ouvir o que ele diz é um exercício diário. Nem acreditar por demais nos afagos nem se enfurecer com a esculhambação, eis o modelo de equilíbrio, e haja meditação pra isso. A gente bota a cara na vitrine todos os dias, et pour cause.

No entanto, já que estamos em exposição permanente, é de se esperar alguma criatividade, imaginação e entendimento por parte de quem irá conversar conosco. E contudo, isso não muda nunca. Se estou lançando um CD novo fora do Brasil _ perdão por esse acesso de colonialismo cultural _ fico arrepiada quando me dizem que no meio das entrevistas haverá um veículo brasileiro. Pois se com os locais de lá a conversa será basicamente sobre minha música e o novo trabalho, aos conterrâneos muitas vezes terei de explicar quem eu sou, desde o começo, o que faço, por que estou aqui. Foi inesquecível a jovem equipe que veio me fotografar em casa, alguns anos atrás, e no meio da sessão de fotos, a mocinha pediu licença, sacou do celular e ligou para a redação: "o que é que ela fazia mesmo?" (fazia???) Compreendo que ignorem, mas podem procurar no website, na rede, hoje em dia não tem desculpa pra se entrevistar alguém sem saber do que se trata. Já fui estagiária de caderno cultural, eu sei. E no ano de 1967 A.G. (antes do google).

`As vezes, mesmo as pessoas que estão organizando a publicidade do trabalho passam ao largo destas questões e imaginam que tudo vale a pena. Pois olha, nem sempre. Já dizia um amigo meu: quem sabe, sabe; quem não sabe, não precisa saber. Basta ouvir a música, e se bater, valeu.

PS (já no domingo, 7/12) - Depois de ler o meu perfil escrito pelo Ruy Castro para a coleção '50 Anos de Bossa-Nova', da Folha de SP, que saiu exatamente hoje, vou ter de caprichar nas sessões de meditação pra tirar o ego da frente, Como tudo o que ele escreve, é uma maravilha. E um perigo pro objeto do perfil.