segunda-feira, outubro 25, 2010

fla x flu

O repórter liga e me pergunta, como eleitora de Marina no primeiro turno, qual será minha escolha para o segundo. Não respondi. Não quero participar deste Fla x Flu.

Caros amigos petistas (que são tantos): por favor, não insultem minha inteligência enviando emails onde o candidato tucano é chamado de candidato da direita fascista. O que seria direita fascista no Brasil? Algum clube que reúna ex-amigos da ditadura, como Fernando Collor, José Sarney, Paulo Maluf? Mas estes já são aliados do Lula, uai!

Caros amigos simpatizantes do PSDB (muitos, também): por favor, também não insultem minha inteligência com emails de fundo religioso, demonizando a outra candidata. Menos, pessoal, menos.

A escolha é de cada um. Arranjem argumentos melhores para convencer os indecisos.

Aliás, eu mesma já decidi meu voto, que não será nulo. Mas desse Fla-Flu, definitivamente, estou fora.


sexta-feira, outubro 22, 2010

Billy Blanco

Cronista do Rio, o paraense mais carioca que já existiu, parceiro do Tom na Sinfonia do Rio de Janeiro, autor de sambas deliciosos que falam do Rio-capital-federal dos anos 50/60... O que mais dizer sobre o Billy?

Que é um gentleman, e que quando em janeiro de 2006, por conta de uma inesperada apendicite, não pude participar da apresentação da sua Sinfonia na Sala Cecília Meireles - o que me deixou arrasada, pois era um velho sonho meu - ele fez questão de vir me visitar e alegrar meu pós-operatório com sua querida presença. Fiquei feliz e orgulhosa com a visita de um compositor que sempre admirei tanto.

Billy está hospitalizado no momento, depois de um AVC. Rezamos por ele, e esperamos que dê a volta por cima, para que a gente possa revê-lo logo - sempre vestido de branco, com sua inseparável bengala - nos acontecimentos musicais da cidade, que ele adora frequentar. Viva o nosso Billy!


terça-feira, outubro 19, 2010

Amor é entre pessoas livres

Deu no Bom Dia Brasil (não sei quem escreveu, mas achei tão bom que re-publico):

A violência está generalizada. Vimos violência em um estádio de futsal. Um homem foi praticamente linchado dentro de um pronto-socorro no interior de São Paulo. A segurança do hospital só chegou depois.

Sentimos que a violência, a raiva, está dentro da cabeça das pessoas, pronta para explodir. É a solução física, na falta de argumento racional. Na base, é a falta da educação. É a educação que nos distancia dos animais.

Homens espancam homens. Homens espancam mulheres. Como falou a delegada, a mulher já vence uma barreira enorme ao se queixar de seu homem. Em geral, tem medo de represália, de agravar a situação, de os filhos sofrerem ao ver o pai sendo chamado à polícia. Agora a Justiça decidiu: basta registrar a queixa e o resto é com a promotoria.

Eu pergunto: quem é o algoz de 35 mil mulheres que apanham todos os dias? Para a psicologia, é um inseguro, um sujeito que se sente inferior aos outros homens. Talvez tenha distúrbios sexuais, se sinta inferior à própria mulher. É pressionado pela cultura machista de ter que ser o dono, comandante, superior.

Demonstra que é apenas superior em força física. Na verdade, cada vez que bate se diminui mais. E pode não estar só. A mulher que se anula para não perturbar o companheiro, no fundo é agredida duas vezes – pelo seu homem e por si própria. Cada vez que permite, fica menor.

Uma relação de domínio e medo não pode ser mantida pela tentativa de preservar a relação, não indo à polícia. Uma relação assim não tem futuro mesmo. Não tem nada a ver com uma relação saudável de companheirismo, de cumplicidade, de intimidade e, sobretudo, de desigualdades que se complementam e preservam a personalidade e a liberdade de cada um. Domínio e submissão são para escravatura. Amor é entre pessoas livres.


sexta-feira, outubro 15, 2010

alô, garotada!

Adoro interagir com essa garotada que começa a botar as manguinhas de fora na música. Hoje recebi e aceitei um convite, que muito me alegrou, para participar do primeiro CD de Maíra Freitas. Ela tem 24 anos, é pianista e cantora, muito talentosa, e cheia de marra, como meninas de 24 anos costumam ser (eu, pelo menos, sei que fui: quando eu tinha 18, ninguém me aguentava...) O que significa que ela sabe bem o que quer fazer, e faz.

Por sugestão da produtora do disco, e irmã dela, Mart'nália (pois ambas são filhas do querido Martinho da Vila), Maíra resolveu gravar a minha 'Monsieur Binot'. Dito e feito. Fizemos um duo de violão e piano, e lá está minha música, na voz de mais esta sobrinha honorária.

(essa geração de músicos jovens, filhos de amigos, pra mim é tudo sobrinho. Mas o único que me chama de 'tia' é o Philippe Baden...)

Enfim, fico sempre feliz quando vejo uma menina bonita e talentosa como Maíra tocando bem seu instrumento e mostrando ao que veio. Vida longa na música pra toda essa nova geração - e pra todas nós, mulheres instrumentistas.



domingo, outubro 10, 2010

três garotas de Ipanema


Nádia é psicóloga, especializada em trabalhar com grupos de mulheres, adolescentes e famílias.


Eliane é socióloga, mas atua na área de urbanismo, inclusive dando aulas aos futuros arquitetos da UFRJ.



E eu sou eu, mas isso vocês já sabem.

Somos três amigas de infância, três garotas de Ipanema de classe média, que estudaram na mesma escola, adolesceram juntas e depois seguiram seus caminhos, cada uma buscando seu rumo. Acabamos nos reencontrando em 2005, nos 40 anos de formatura do curso Clássico do Colégio São Paulo - um colégio de freiras que ficava (ainda fica) diante do mar do Arpoador. Um reencontro que vem se repetindo anualmente. E no último encontro da turma, Nádia teve uma ideia.

"Por que a gente não cria um blog falando sobre isso?" O "isso" em questão era como definir a gente _ garotas de Ipanema dos anos 60/70, daquela geração que mudou tudo, envelhecendo no século 21. Pois o que vimos nas reuniões era interessante. Ninguém com cara de plástica. Nenhuma dondoca, mas nem também nenhuma senhorinha. Todas nós (e olha que não somos poucas) com energia e humor de sobra, embora nem todas mais atuando profissionalmente. Mas havia no grupo, além das aposentadas de praxe (geralmente as que optaram pelo serviço público), professoras, cientistas, tradutoras, psicanalistas, jornalistas, uma gama infinita de escolhas. E o mais importante, alguma coisa indefinida, um certo 'caráter coletivo' de valores que nos fez pensar.

Eliane achava que, de alguma forma, nosso colégio - que tanto questionávamos, na época - tinha muita coisa a ver com isso. Já eu questionei se não seria talvez o reflexo de uma certa classe média carioca daquele tempo, com seus valores implícitos gravados em nós, desde a infância.

Por tudo isso, decidimos criar um blog a três, para discutir esse mistério que é o envelhecimento de uma geração que mais uma vez estará quebrando a escrita e não seguindo o disposto. Como é que a gente envelhece? Começa quando? (eu não sei quando vou começar...) Há políticas públicas que contemplem essa gente toda que vai durar mais do que o previsto? É diferente para os homens e para as mulheres?

Enfim, aviso quando estiver no ar (está em construção). Vai se chamar, naturalmente, 'Avec Élégance'... que é como pretendemos atravessar essa nova fatia de vida.



quarta-feira, outubro 06, 2010

primavera no Rio


sexta-feira, outubro 01, 2010

um grande país eu espero do fundo da noite chegar

Recebi pela internet este texto, que eu já tinha lido na edição on-paper d'O Globo desta quarta-feira, e repasso para quem quiser ler. Muita lucidez e clareza por parte de um jovem pensador, Francisco Bosco, a quem respeito cada vez mais. Um segundo turno é sempre bom. Quanto mais tempo para debater e discutir ideias, melhor. Voto é coisa séria. Quem viveu 21 anos de ditadura militar sabe bem disso. E, pelo visto, quem não viveu tudo isso, sabe também...

 

 

Declaração de voto

Estatura moral e simbólica é justamente o que Marina me parece ter de sobra

 

Francisco Bosco – coluna publicada 29/09/2010 no Segundo Caderno (O Globo)

F. Scott Fitzgerald, o autor de “O grande Gatsby”, pensava que “uma inteligência de primeira linha” deveria ter “a habilidade de sustentar duas ideias opostas na mente, ao mesmo tempo, e ser capaz de operar desse modo”. Concordo. Procuro ter uma visão ambivalente e complexa da realidade; desconfio das perspectivas demasiadamente seguras e unilaterais. O cenário político brasileiro, às vésperas das eleições, exige um modo de pensar fitzgeraldiano. Tentarei exercê-lo aqui, apesar do pouco repertório que tenho nesse campo.

De início, o que caracterizou o governo Lula, no conjunto de seus dois mandatos? A referência à tese de André Singer, ex-porta-voz do presidente Lula, me parece incontornável.

Para ele, houve, nesse período, um realinhamento do eleitorado brasileiro: a classe média afastou-se do PT, cuja base de votos passou a ser a classe mais baixa, grande maioria do eleitorado.

 

Parte da esquerda não suportou a decepção com o alinhamento de Lula às diretrizes principais da macroeconomia no período FHC: altos superávits primários, juros elevados, autonomia do Banco Central. Ao final de 2003, os dissidentes fundaram o PSOL. O escândalo do “mensalão”, em 2005, acrescento eu, terá contribuído para afastar do PT eleitores de sensibilidade republicana, e foi uma ferida até hoje não cicatrizada na estrutura moral do partido.


Entretanto, segundo Singer, desde o final de 2003 o governo Lula lançava as bases do que futuramente lhe asseguraria altíssimos índices de aprovação junto às classes mais baixas: o Bolsa Família, um vasto programa de crédito e, em seguida, um aumento progressivo e significativo do salário mínimo. O conjunto de medidas elevou bastante o poder aquisitivo dos mais pobres, fazendo surgir um poderoso mercado interno de massas, movimentando a economia brasileira.

 

Assim, ao final do mandato, apesar do mensalão, Lula sagrou-se reeleito. De lá para cá, a economia tem crescido com constância, milhões de empregos foram gerados e o Brasil atravessou sem maiores turbulências a crise sistêmica do capitalismo em 2008. Tudo isso me parece irrefutável.

 

Mas o lulismo segundo Singer tem seu outro lado da moeda. É o lulismo da condescendência ao velho fisiologismo da política brasileira, da omissão diante de questões morais que exigem uma postura clara e inflexível, do culto à personalidade, das tentações autoritárias de controle da imprensa e das artes. Além disso, há ainda o tão propalado aparelhamento do Estado, que parece ser a versão petista, mais ideológica, do tradicional “Estado patrimonial de estamento”, como diria Raymundo Faoro.

Tudo isso vem sendo compendiado, com exatidão e clareza, nas colunas de Merval Pereira, desde 2002, e agora reunidas no livro “O lulismo no poder”. Merval me parece imprescindível, mas discordo quando ele afirma que não houve reformas estruturais no governo Lula: não consigo ver uma reforma mais fundamental que a diminuição drástica da pobreza.


Acredito que o governo Dilma manteria as virtudes principais do governo Lula, mas temo pelo agravamento dos seus defeitos, dadas as condições de alta popularidade e ampla aliança política.


Tenho pavor de totalitarismos.


Uma das frases-guias da minha vida é aquela de Thomas Jefferson: “Prefiro as inconveniências decorrentes do excesso de liberdade às decorrentes de um grau pequeno dela.” Por isso, penso que a alternância de poder é importante para a democracia.

 

O que fazer, então? Aqui devo dizer que estou entre aqueles para os quais o Brasil fez progressos extraordinários no período FHC-Lula. Sou democrata convicto e de forte tendência reformista. Reconheço que a perspectiva reformista é facilitada numa situação, como a minha, de classe média (embora, segundo Singer, o eleitorado de baixíssima renda também deseja que as mudanças se deem sem ameaça à ordem). E reconheço ainda que parte da esquerda encara o reformismo lulista como uma decepção diante do sonho de justiça social mais rápida e igualitária.

O que fazer? A candidatura de Serra padece de uma dificuldade que o psicanalista Tales Ab’Sáber descreveu com exatidão: Lula, ao realizar um governo “de grande liberdade liberal”, ao seguir, e talvez aperfeiçoar, a linha macroeconômica do governo FHC, “roubou a verdadeira base social tucana”.
Não vejo, com efeito, em que a candidatura Serra se diferencia fundamentalmente da de Dilma.


Marina Silva, entretanto, sinaliza com uma diferença importante. Se o governo Lula se definiu por uma profunda transformação material, sobretudo entre as classes mais baixas, definiu-se também, pelas razões já expostas e ainda outras, por certa precariedade moral e simbólica. Estatura moral e simbólica é justamente o que Marina me parece ter de sobra. Não apenas pela centralidade da questão ambiental, mas por sua altivez e elegância e pelas declarações tão equilibradas como incisivas. É óbvio que sem uma base material digna, sem justiça social econômica mais profunda, não se pode pleitear um enriquecimento simbólico.


Mas esse rumo acredito que o país não perderá, seja com quem for.
Tudo somado, então, apesar de reconhecer os feitos, notáveis, da gestão Lula, e enxergar virtudes na figura política de Serra, meu voto vai para a candidata que me parece sinalizar para um projeto civilizatório que ultrapasse o desejo, humanamente acanhado, de comprar um iPhone ou uma TV de plasma de 30 polegadas.