quinta-feira, março 21, 2013

vozes brasileiras

A perda - irreparável para quem ama a música do Brasil - do querido Emílio Santiago leva a uma reflexão: onde estão as novas vozes brasileiras? Onde anda o nosso jeito de cantar? aquele onde o(a) cantor(a) canta com sua própria voz, ou seja, com a voz que tem, aquela mesma com a qual ele, ou ela, falam?

Disse o sábio Elton Medeiros no texto do livreto que acompanha o CD 'Samba Sincopado', de Ana Martins: "A vida brasileira, ainda no início de sua cultura humana, viu-se contaminada pela música. Através do imaginário de seu povo, criou características para as artes de compor e interpretar obras musicais, o que significa o surgimento de uma escola para exprimir, bem ao nosso jeito, nossas vocações".

Não vemos mais essas características facilmente por aí. Hoje, seja nos concursos de talentos, seja nos lançamentos de novos artistas, o que se vê é uma profusão de vozes emitindo vibratos, vozes de quem estudou canto, vozes padronizadas em jeitos de cantar que são iguais em qualquer lugar do planeta, sem a marca do canto brasileiro, sem o suingue que é tão nosso, sem a síncope que é a nossa assinatura. Pior, sem alma. Quantidade não é problema: nunca se cantou tanto. Qualidade também não: não é que as pessoas não saibam mais cantar. O problema é que é tudo mais do mesmo.

Não estou cobrando que apareçam cantores e cantoras geniais como os que tivemos no século XX. Eras de ouro não duram para sempre, bem sei. Muito menos prego uma volta ao passado recente. Mas que as novas vozes brasileiras possam ao menos conhecer este legado, dar continuidade - e renovar esta cena, se quiserem e forem capazes.

17 Comments:

At 5:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Oi Joyce. A musica Brasileira e' uma paixao. Quase religiao, expressa no canto do Apostolo Emilio. Descance em paz incansavel guerreiro.

 
At 10:49 PM, Blogger Marcel said...

Aqui Joyce,

Sentadinho aprendendo com aquela que considero como "MESTRE". :)

A perda de Emílio foi realmente lamentável, estava no metrô quando vi a notícia, imaginei basicamente a mesma coisa, "O Brasil não merece o Brasil...!"

E estou ai pro que der e vier, cada vez mais dando a cara a tapa e com fé e coragem levando a minha bagagem musical por ai fora.

Saudades demais em ir te ver.

Um beijo enorme deste grande pupilo,

Até Jazz!

 
At 2:12 AM, Anonymous Túlio said...

nossa joyce
concordo com você em gênero número e grau.
tem gente por aí incensada pela crítica que quando eu escuto, sinto que ainda nenhum deles disse ao que veio, se é que vão dizer algum dia.
não que cantem mal, mas parecem sair de uma linha de montagem.
os mesmos ohs e ahs a mesma respiração, a mesma emissão, o mesmo repertório, roupas etc.
talvez reflexo dos atuais programas de calouros da tv que copiam os originais made usa que fazem exatamente isto, buscam uma padronização.
falta personalidade no canto.
se ao invés disto houvessem os festivais da canção, mesmo sem o público dos anos 60 e 70 pudesse realmente surgir algo novo.

beijos

 
At 10:12 AM, Blogger JoFlavio said...

J,
O maior problema é que a nossa música virou um balcão de negócios que envolve investidores e empresários. Há um estereótipo pronto, definido, que todos devem seguir, caso queiram aparecer na "mídia". Essa mesma mídia que apenas se preocupa com os números do IBOPE. E se o nosso jeito brasileiro de cantar não emplaca em "audiência", que suma do mapa.
Simples assim. A propósito, os tais irritantes "vibratos" viraram obrigação, e não um recurso para determinados momentos.

 
At 6:36 PM, Anonymous Anônimo said...

Os talentosos estao por ai. O problema e' o marketing da esquisitice que impera na midia. Vade retrum.

 
At 7:25 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Disse tudo, Joyce. Me considero em condições de dizer que Emílio é uma das vozes masculinas mais "gostosas" de se ouvir no Brasil. Da para chamar de gostosa justamente por ter as caracteristicas que você mencionou, perdidas ao longo das gerações, que susbtituem o cantar por tecnica vocal.
Algumas das gravações dele são definitivas e serão para sempre "inéditas", incansáveis de se ouvir.
Teve um momento em que eu temi nunca mais ouvir o Emilio, foi na sua fase "Mister Aquarela". Explico: como apaixonado por música E LETRA , curto cada verso, cada partezinha da música...daí aquele pout pourri me matava. A linda voz do Emilio iniciava cantando uma "perola de nosso cancioneiro" ...eu viajava na canção e...de repente: trocava de música....sem concluir!
Resumo: Quem ama música vai entender o que meu gene sacana de carioca vai dizer: "eu ia...eu ia...ia.....e quando estava quase lá....o cara mudava de canção e eu não "chegava lá!" Prazer interrompido!
E isso vindo de um amante daquele quilate! Pô! era dureza. Só voltei a comprar seus cds quando ele voltou a gravar musicas inteiras!

"Nesta rua tão deserta
Numa noite sem luar
Um lamento não se ouve
A noite sem canção"
Só a voz de Emilio consegue traduzir em imagens esses versos...só a voz de Emilio me faz caminhar por essa rua, ver as pedras do caminho, a luz do poste aceso, os grilos, os muros um cachorro latindo...o vento soprando as folhas... e a saudade um amor que partiu.

 
At 9:42 PM, Anonymous Anônimo said...

A midia esconde o que e' bom, pra nos vender porcaria. E quer nos convencer que ta gostoso. Num ta nao!

 
At 10:05 AM, Blogger joyce said...

As Aquarelas foram o momento comercial dele. Também não curto, mas entendo a necessidade e o direito de um artista, em algum momento, querer ganhar dinheiro. Quem sou eu pra julgar...

 
At 11:11 AM, Blogger Luiz Antonio said...

Nao julguei o E.S, apenas disse que não gostei dessa fase. Quem sou eu também! Vender 4 milhões de cds do Aquarela, nas vésperas da internet, não é pouco. Também entendo isso. Como arquiteto faço projetos para "viver" e projetos para simplesmnete "habitar". Nos de "habitar" eu ganho muito mais dinheiro e mais rápido. Em ambos coloco um pouco de mim, do meu conceito de arquitetura "pra morar.
Quem dera se toda fase "comercial" de um grande artista fosse Aquarelas, seria ótimo.

 
At 11:16 AM, Anonymous Anônimo said...

Vi em uma revista um conjunto de rock? Mais parecia um grupo de exterminio! Pra isso tem dinheiro ne' cambada.

 
At 3:41 PM, Anonymous Anônimo said...

A industria do entretenimento ganhou dinheiro investindo na idiotice. As consequencias agora sao funestas. Tai a crise!

 
At 6:29 AM, Anonymous Anônimo said...

Peco autorizacao para fundar no seu blog a Igreja dos Seguidores de Sao Joao Donato. Em breve mais detalhes, e programacao.

 
At 2:58 PM, Blogger joyce said...

Está autorizado, anônimo, desde que você se identifique.

 
At 1:41 PM, Anonymous Baptistão said...

Muito pertinente o seu comentário, Joyce. De fato, há muita gente parecida no mercado. Falta aquela voz de personalidade, coisa que o Emílio tinha de sobra.
As Aquarelas - de que também não gosto pelo mesmo motivo do Luiz Antonio, os pout-porris - , acabaram gerando um preconceito para com o trabalho do Emílio. Por causa delas, todos os excelentes discos que ele gravou antes e depois acabaram esquecidos ou ofuscados. Por outro lado, elas deram a ele um sucesso popular - e, imagino, um dinheiro também - que poucos artistas refinados como ele alcançam.
Há outros ótimos intérpretes masculinos, como Renato Braz, Marcos Sacramento e Augusto Martins, mas esses são, infelizmente, ilustres desconhecidos do grande público.

 
At 10:07 PM, Blogger rogerio santos said...

A carência de novas vozes masculinas realmente é um fato... Tenho convicção que deve haver bons cantores por aí, mas onde? Se a internet democratizou e possibilitou muitos a se lançarem, também fragmentou tudo e foi criando nichos e hoje não temos só a grande mídia... a impressão que dá é que há várias esferas de mídia, cada qual com seus grupelhos, redomas, regras, cifras, etc...

Outro assunto:

Joyce, embora na letra do meu "Samba do Brejo", eu tenha canonizado o João Donato, informo para os devidos fins que o anônimo não sou eu...

Ao invés de sugerir isso, eu fui lá e o canonizei...rs
(ainda bem que cheguei antes...rs)

No último show do João Donato aqui em São Paulo, fui vê-lo e no final do show entreguei meu CD a ele e disse que o "Samba do Brejo" era uma letra em sua homenagem...
o que é fato: construí a letra pensando no "Sapo" que depois virou "A rã".

Não tenho certeza se o Donato ouviu ou não, espero que sim...

Mas a última frase do samba é justamente: "São João Donato vai me socorrer..."

Seguido da exclamação: "Valei-me São João Donato"

Fazer música só tem sentido se for para reverenciar os ídolos e, de alguma forma, manter viva chama da nossa cultura.

O "pensar" comercial é outro papo.
E talvez por isso, as vozes talentosas aqui reclamadas, estejam no ostracismo, de onde talvez nem saiam.

Saudações a todos,
Rogerio

PS: Emilio Santiago deixou uma lacuna e uma herança.

 
At 5:48 AM, Blogger pituco said...

joyce,

o emílio santiago é uma entidade musical brasuca enorme...cada versão dele fica marcada em meu arquivo sonoro...olha maria, logo agora, saigon, nega...e vai swing por aí afora...vai deixar saudade...da boa

as vozes jovens do brasil, depois de amadurecerem, vão ficar bacanudas e supimpas também...

abrsonoros

 
At 6:20 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Cada vez mais a grande música do Brasil vai ficando mais pobre. Um dos nossos maiores cantores de todos os tempos nos deixou. Saudoso Emilio Santiago herdeiro de nomes como Dick Farney e Johnny Alf. Tomara mesmo que apareça outros grandes cantores tão talentosos como ele foi.

 

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