quarta-feira, dezembro 10, 2014

A vida é viagem

Tem hora que dá vontade, ah, se dá. Tem hora que dá vontade mesmo. Sumir no mundo poderia ser uma alternativa. Não fosse o mundo esse mesmo mundo.

Tem hora que dá um desânimo. Dá, sim. O Brasil dá desânimo até nos mais patriotas e entusiastas. A gente tem de sempre 'estar fazendo' o chamado wishful thinking, pensamento positivo, o que os especialistas em mente humana chamam de 'terapia cognitiva'. É assim: só pense no que lhe dá prazer. Esqueça, ou ignore, todo o resto. Ou abstraia. Meditação transcendental é muito bom. Eu faço. Quase sempre.

Um tanque. Um tanque é excelente. Tarefas domésticas, quem não as tem? Só os que ainda vivem naquele mundo quase extinto do século passado. Lavo a minha roupa, sim. Faço a minha comida, sim. E quase tudo o mais. A faxineira também vem, claro, mas o ponto aqui é que esse trabalho do dia-a-dia não deixa ninguém pensar. Tem hora que é ótimo.

Uma estante em casa. Ninguém mais tem. Temos muitas. Cerca de sete, na casa toda, e já não cabe mais, mas os livros continuam chegando. De Jane Austen a Amós Oz, só nesta semana que corre, são tantas emoções. Aí, sim. Não contem com o fim do livro, palavra de especialistas. CDs também chegam, aos borbotões. Nem todos são bons, mas chegam. A criação continua. A vida é viagem. Viagem mental.

E viagem, é o que mais temos pra 2015. Europa, gelo e alegria, já em janeiro. Daí a gente se transforma no Brasil, representa um Brasil moderno, chique, criativo - que não existe mais, mas o pessoal lá fora ainda não sabe. Éta nós.

6 Comments:

At 3:24 PM, Anonymous Maurício said...

O Brasil que conhecemos e gostamos ainda existe. Porém a luta contra os inimigos da vida e da alegria é incessante. Vigiai. . .Mas cada um lute com as suas arma. Felicidades, e boa viagem.

 
At 9:02 PM, Anonymous sandra bittencourt said...

Você citou ' especialistas em mente humana ' e eu me lembrei do Pierre Lévy, aquele filósofo francês da informação e autor de obras sobre cibercultura, que pra mim funcionou como um especialista desse tipo quando escreveu ' O Fogo Liberador' sobre o despertar da força interior. Pra encurtar a historia, ele fala sobre a importância do ' não pensar'.
Isso me proporcionou um outro patamar de raciocínio, praticamente, me libertou de pessoas e situações em vários momentos da vida, coisa que pratico o tempo inteiro. Ou seja, intuição = margem de erro zero.
Agora, eu te lendo, dei de cara com ' um tanque é excelente … esse trabalho do dia-a-dia não deixa ninguém pensar'. Isso, dentro de um certo tipo de raciocínio, soa transgressor por ser tão básico - adorei. Nesse sentido, eu prefiro inventar alguma coisa na cozinha : costumo ter soluções até plausíveis.
Então, num país como o Brasil, ou num planeta como a Terra, opte pelo
'não sofrimento', é o melhor a ser feito. Se a cabeça não funciona corretamente, lascou, como se diz aqui. Então acho que esse ' wishful thinking' é terapêutico, e acaba por nos dar suporte melhor para a viagem mental do agora, e também aos roteiros mundo afora.
E tem mais uma coisa: só o fato da tua arte existir já fundamenta a existência de um Brasil moderno, chique e criativo. Pense nisso. Aliás, observe isso, sem pensar.
SB

 
At 12:29 PM, Anonymous edson tadeu said...

Amiga,

Foi um imenso prazer reencontrá-la.
Faço minhas as suas palavras: a realidade de violência, injustiça e corrupção é asfixiante. Com minha idade avançando e minhas baterias arriando, tenho sim que arejar minha cabeça: achar algo no horizonte que eleve meu olhar, que me inspire. É um exercício desafiador: cavoucar em busca da alegria de viver. Sem entrar em detalhes, minha decepção não é só com a realidade externa, é também com a minha, interna. Nesse sentido, não há pra onde fugir.

Também faço tudo em casa; não tenho nem faxineira. Li que no Zen Budismo, japonês, considera-se a possibilidade de atingir-se a “iluminação” inclusive em atividades rotineiras, varrendo o quintal. Se a mente estiver livre das besteiras que a acometem, apresentar-se “esvaziada”, imagino. Outro dia escrevi isso:

Enquanto alguns (não muitos) decidem o destino universal,
Eu estendo roupas no varal.

Vou seguir sua sugestão, gosto muito de ler.
Obrigado, te desejo luz e serenidade.

Edson Tadeu

 
At 10:58 PM, Anonymous Avi Alkalay said...

Joyce, enquanto você existir (e você existirá prá sempre, porque tá tudo lá gravado), o Brasil será chique e criativo.

Continuo desconsertado com sua obra quase interminável. Achava que tinha tudo mas aí descubro outros 5 álbuns que não tinha. O último foi o Delirios de Orfeu, super groovy. Que maracatú é aquele na Upa Negrinho? Sensacional! E o scat em Cantaloup? Imperdível !

Continue Joyce, por favor continue !

 
At 4:26 AM, Blogger pituco said...

joyce,

até o futebol brasileiro está 'caído'…desmoralizado…

2015 com saúde e toda música que houver nessa vida…

abtsonoros

 
At 6:33 PM, Blogger Khrystal said...

Adoro esse jeito seu de escrever. Corta e tem cheiro de flor. Um beijo

 

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