domingo, novembro 13, 2011

por um Rio sem nuvens


No momento em que escrevo, está se completando a ocupação da Rocinha, que, como diz o nome, era apenas uma pequena área de plantação de verduras e legumes para abastecer a Zona Sul da cidade, há meros 50 anos atrás, e hoje é a maior favela da América Latina. No momento sendo preparada para receber uma Unidade de Polícia Pacificadora, ou seja, uma UPP.

Esta comunidade (palavra hoje considerada a mais politicamente correta) vivia há mais de 30 anos sob o domínio de facções criminosas, com toque de recolher, expulsão de moradores que desobedecessem às ordens do tráfico, imposição de candidatos "afinados" com os donos da área nas eleições em todos os níveis - a começar pela associação de moradores... A lista não termina. A Rocinha, dizem os indicadores, é a área do Rio com maior incidência de lepra e tuberculose, embora não seja uma área de pobreza tão extrema como outros lugares do estado ou mesmo do Brasil,: pelo contrário, é hoje um bairro de classes C e D, as favoritas do comércio atual. Mas o tráfico não permitia a subida dos agentes de saúde. E por aí segue a grande questão: devolver cidadania e democracia aos moradores dessas áreas.

A culpa é nossa. Elegemos durante décadas os políticos errados, que estimularam esta situação. Não bastasse tudo o que o Rio sofreu ao ser despojado de sua condição de capital federal, com o esvaziamento econômico que se seguiu; a fusão imposta pela ditadura com o Estado do Rio; e os aventureiros que se apresentaram, depois da redemocratização, para tomar conta, ou tomar de assalto, esta maravilhosa cidade. Rapidamente as políticas populistas de ocupação e, em alguns casos, de conivência com o crime, cresceram à vontade.

Temos uma funcionária e amiga que morou durante anos na Rocinha. Localização que lhe parecia perfeita, perto de seu trabalho, com muitos parentes e conhecidos no entorno, todos migrantes nordestinos como ela. Mas quando seu filho completou sete anos, começou a ser assediado pelos 'olheiros' do tráfico para que se tornasse um deles. Sete anos!!! E a proposta era de que ele poderia começar empinando pipa (artifício usado para avisar da chegada do 'inimigo'), e depois seria iniciado em tarefas de maior responsabilidade. Diante disso, nossa amiga achou melhor se mudar para a longínqua comunidade de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, segundo ela, 'muito calma'. Pudera: era, e ainda é, controlada por uma milícia, que agora começa a botar as manguinhas de fora. A vida lá já não é tão calma assim. Mas voltar para a Rocinha, depois da UPP, quem sabe? O problema serão os preços dos aluguéis, que vão certamente ser inflacionados.

Torcemos, rezamos, para que esta nova ocupação, a maior feita até agora, se dê em paz e sem prejuízos para os moradores. Que possam todos ter suas vidas de volta - e para os mais novos, os que nunca chegaram a conhecer uma vida de real liberdade, sem o domínio do tráfico, muita esperança de dias melhores.

PS- aqui vai um link para o trailer do episódio que será exibido hoje, da nossa série da Multirio, 'No Compasso da História':


2 Comments:

At 11:12 AM, Blogger Luiz Antonio said...

Bom, Joyce, já falamos muito sobre esse assunto, concordamos na mutilação urbana; Passei a quinta feira aí no Rio, cheguei pela manhã e sai á noite, tudo pelo SDU e fiz meu circuito todo a pé. Andar pelo Rio vendo o passado e seus status de Capital Federal e o convivio com a miséria e a mutilação urbana e arquitetônica atual é horrivel. Um gaúcho me acompanhava nesse dia e olhava o Rio com curiosidade de quem pouco vê a cidade, exceto a zona sul que ocnhece pelas férias. Ele se encantava e ao mesmo tempo se indgnava. Eu disse: "Quem foi Rei jamais perde a Majestade..." e infelizmnete o RIO, que foi cidade Imperial do Brasil teve sua "majestade" urbana e arquitetônica degradada . Existe uma decadência em meio a sujeira, bandidagem e excesso populacional feito_infelizmente_ pelas classes desassistidas pelos governantes que _voltando a falar nos anos oitenta e daqueles que _pra minha geração_ voltaram sem nem seqUer sabermos o por quê e quando tinham saído_ assumiram o final da ditadura valendo-se dos discursos populistas quando na verdade queriam ver apenas o seus próprios interesees.Encontraram aqui terreno fértil composto daqueles que esperavam o retorno e acreditavam nas boas intenções e nós que nem sequer entendiamos o que ocorria com o decreto da tal "ampla geral e irrestrita" que deu até direito ao seu "feitor" ganhar uma musica e dança na tevê, composta por "eca" C.I.
Deu nisso. Gostaria como urbanista , arquiteto e amnate do Rio, um dia conseguir ocolocar em ação na cidade um projeto de remoção total das favelas e replantio dos morros como verdadeiro simbolo da pacificação da cidade. E olha, que se você olhar o projeto de revitalizçaõ da Praça Quinze, não estou viajando na maionese não....O que falta mesmo e amar a cidade e amar o povo que vive nela e em todo Brasil.

 
At 12:57 PM, Blogger Luiz Antonio said...

em tempo! se esse blog fosse escrito há 50 anos atrás, nossa preocupação com as crianças que vivem nas favelas seriam relatos sobre "O menino das laranjas", que vai pra feira, até se acabar, pra não apanhar! Quem diria que sentiríamos até saudades....

 

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