gênero, transgênero, sexualidade - ou não?
Uma das meninas entrevistadas, que está em pleno tratamento para virar rapaz, e é justamente esta que fez a mastectomia precoce, quando perguntada sobre o que pretende fazer de sua sexualidade no futuro, diz que "provavelmente vai namorar meninos". Ou seja, ela quer se transformar num homem... gay. O mistério da natureza humana...
Por que isso me interessa tanto? Porque eu, naquela idade, tinha seríssimas dúvidas sobre se queria ou gostava de ser menina. Sempre detestei o papel compulsório que a sociedade me dava. Na adolescência, preferia mil vezes tocar violão, ler meus livros, praticar esportes 'masculinos'. Não tinha o menor interesse em cabelos, unhas feitas, maquiagens, roupitchas. Gostava mesmo era de pegar emprestadas as roupas do meu irmão. De usar jeans, camisetas, tênis - aliás, gosto até hoje. E nadar, pegar onda, jogar bola, essas coisas. Conversar com os garotos de igual para igual, até eles se assustarem comigo. E me sentia tremendamente deslocada num fútil ambiente 'de meninas'. Embora eu gostasse - e muito - de meninos. Mas estes não eram, nem de longe, minha única preocupação.
Por conta desse meu gosto - esdrúxulo para uma garota dos anos 1960 - ouvi de minha mãe, milhões de vezes, a famosa frase que marcou minha infância e adolescência - "minha filha, você não é feminina"- dita com ar de profundo desgosto. Freud explica porque tive de fazer aquela música, já pelos meus 29 anos, explicando que a identidade feminina não estava no cabelo, ou no dengo ou no olhar...
Pois então, fosse eu uma adolescente norte-americana nos dias de hoje, poderia ser tentada a fazer uma cirurgia tão definitiva - que me transformaria, quem sabe, num homem gay - e teria perdido a oportunidade única de ser mãe, parir 3 filhas e poder trabalhar com intimidade no universo feminino através da minha música, como sempre fiz.
Sorte minha que a mudança precoce de gênero ainda não era moda naquela época.
3 Comments:
Parece que a humanidade está com pressa de ter pressa de ter pressa...
Periga as próximas gerações nascerem com duas bocas e nenhum ouvido... nem de fora e nem de dentro...
Abraços e bom semestre...
Rogerio
Como somos pareceidas! Adorei o texto.
Bjs,
Magda
joyce,
você é a/o cara...rs...bacanuda confissão...corajosa...
abrsonoros e segue o baile...
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