terça-feira, novembro 14, 2006

água é luz


Adoro vinho. Detesto a 'atitude' que acompanha alguns tomadores de vinho. A pessoa que cheira a rolha, cheira o líquido, roda a taça, bochecha antes de engolir e não dispensa a longa dissertação sobre ano e safra de cada garrafa, o gosto de couro, de madeira, de abobrinha... É muito chato, corta o barato de quem está apenas a fim de curtir um bom momento e uma boa refeição _ e ainda por cima é de um nouveau-richisme terrível. Podem reparar.

Mas adoro água. E modestamente me considero connoiseuse de águas, assim como alguns se acham conhecedores de vinho. Sei, por exemplo, que a água nunca é insípida, como aprendemos na escola. Umas são mais doces, outras têm um leve sal escondido. Umas têm gosto de bica, mesmo que venham engarrafadas com lindos rótulos. Outras são puríssimas, como a água que sai de qualquer torneira na Áustria (a melhor do mundo, para mim, é a água de Schwaz, cidadezinha alpina onde morava nosso amigo Thomas). Há águas que você só encontra no lugar de origem, como a minha gasosa predileta, a francesa Badoit. 'Une Badoit, s'il vous plaît!' _ e para os que gostam de vinho, estando em Paris, basta pedir 'un rouge ordinaire', que já é jogo. Vinho é uma bebida que não viaja bem. E quanto mais perto do local de produção, melhor.

Sobre vinhos, aprendi o essencial com amigos franceses, que me ensinaram a procurar no rótulo se foi engarrafado no chatêau ou pelo negociante (fuja do negociante). O resto é puramente subjetivo. Tenho um amigo chamado Ludwig, músico de jazz alemão, que foi criado na vinícola da família `as margens do Reno (que alguns quilometros adiante passam a se chamar 'côte du Rhône'). Ele não cheira rolha nem balança a taça, mas na casa dele os vinhos são de total confiança. Ele sabe. Se algum dia eu vier a recebê-lo aqui em casa, posso apresentar a ele a nossa água Petrópolis e sei que ele ficará encantado. Água é luz, como diz o Tutty. E brevemente, para nosso pesar, será talvez a bebida mais cara do planeta.

4 Comments:

At 10:50 PM, Anonymous Anônimo said...

Concordo com você. Antes me sentia constrangido quando, na mesa do restaurante, o garçon me servindo um "vinho desses qualquer" fazia o ritual esperando minha degustação -que eu não sei fazer. Pô, um vinho de R$5,00,lá cabe degustar?
Casei com uma gringa - sogro italiano - desses que faz o vinho no porão de casa. Vi todo o ritual ir por água a baixo: italiano bebe vinho sem frescura, bebe tinto gelado (on the rocks se o dia estiver muito quente), branco a temperatura ambiente e jamais paga o preço que cobram pela bebida nos supermercados, nas vinículas da moda e muito menos nos restaurantes. Meu sogro morou na Italia e me disse categoricamente, que o melhor vinho bebido por lá, tinha o mesmo gosto do que é feito aqui na região (sul do RS). Desencuquei,dismistifiquei
e hoje numa dessas saias justas de garçon de restaurante tentando te "chamar de grosso"e "se passar por fino" eu já digo: deixa isso
prá quando tu me servires um Brunello di Montalcino ou um Barolo (dicas do sogrão!), o resto é só suco de uva fermentado..., enche a taça aí!

 
At 9:26 PM, Anonymous Anônimo said...

Joyce,
Obrigado por ter postado meu comentário, mas cometi umas DESLIZADAS GRAVES no português, esperava que tu não fosses postar por causa das infâmias cometidas contra nossa amada e bela língua ou então que desses a corrigida necessária. Bobeira geral, mas quem escreve não se perdoa. Prometo me policiar na próxima, acho que foi a emoção de estar "falando" com você, já que sou mais um exilado da Ilha Brasil e não tenho acesso ao circuito europeu para te ver como eu gostaria: SHOWZÃO de verdade e não apenas nos projetos culturais - quando ainda se tenta- de forma acanhada - levar um pouco de beleza a esse povo brasileiro tão desassistido de cultura.
Abraços
LUIZ (não fiz correção gramatical nesse aqui, deixei a emoção rolar, ela só não pode é me enrolar....risos)

 
At 4:31 PM, Blogger LPSBRAZIL said...

salve joyce? dia desses te vi no zoombido do o moska...sensacional...
você deveria ser presença obrigatória em todo programa de respeito.
uma dúvida...o compacto sem foto no teu site..é o da tribo mesmo?
fiquei em dúvida porque tenho um compacto com a tua foto na capa e com aquelas mesmas músicas.

bjo;

 
At 10:30 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Joyce.
Nosso país está mais pra água do que pro vinho. Não no sentido bíblico de atribuir valor mais a um que a outro, mas no sentido objetivo mesmo: somos muito melhores em águas que em vinhos. Só que em nosso afã de ser o que não somos, esquecemos onde somos melhores. No meu querido sul de Minas, por exemplo: há ali um dos maiores mananciais de água mineral do planeta, no chamado Circuito das Águas. Hoje em dia a região está em absoluta decadência econômica, tendo a exploração comercial predatória das águas levado muitas das fontes quase a minguar. O turismo organizado que deveria ter atenção prioritária do governo, é uma atividade em colapso, estacionada no tempo. Ou seja, desperdício e descaso com um recurso natural fundamental, que deveria ser gerador de riqueza se explorado racionalmente. Ano que vem já tenho o projeto de fazer uma série de shows em todas as cidades do Circuito, só com músicas que farei com a temática da água. É o que posso fazer como artista e sul mineiro pelas nossas águas. Sinta-se desde já convocada a uma nova parceria. E quando o Ludwig for te visitar dê a ele a gasosa de Caxambu, engarrafada da Fonte D. Pedro; sem nepotismo, é a melhor. Como sempre, o Moreno tem razão: água é luz.

 

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