água é luz
Adoro vinho. Detesto a 'atitude' que acompanha alguns tomadores de vinho. A pessoa que cheira a rolha, cheira o líquido, roda a taça, bochecha antes de engolir e não dispensa a longa dissertação sobre ano e safra de cada garrafa, o gosto de couro, de madeira, de abobrinha... É muito chato, corta o barato de quem está apenas a fim de curtir um bom momento e uma boa refeição _ e ainda por cima é de um nouveau-richisme terrível. Podem reparar.
Mas adoro água. E modestamente me considero connoiseuse de águas, assim como alguns se acham conhecedores de vinho. Sei, por exemplo, que a água nunca é insípida, como aprendemos na escola. Umas são mais doces, outras têm um leve sal escondido. Umas têm gosto de bica, mesmo que venham engarrafadas com lindos rótulos. Outras são puríssimas, como a água que sai de qualquer torneira na Áustria (a melhor do mundo, para mim, é a água de Schwaz, cidadezinha alpina onde morava nosso amigo Thomas). Há águas que você só encontra no lugar de origem, como a minha gasosa predileta, a francesa Badoit. 'Une Badoit, s'il vous plaît!' _ e para os que gostam de vinho, estando em Paris, basta pedir 'un rouge ordinaire', que já é jogo. Vinho é uma bebida que não viaja bem. E quanto mais perto do local de produção, melhor.
Sobre vinhos, aprendi o essencial com amigos franceses, que me ensinaram a procurar no rótulo se foi engarrafado no chatêau ou pelo negociante (fuja do negociante). O resto é puramente subjetivo. Tenho um amigo chamado Ludwig, músico de jazz alemão, que foi criado na vinícola da família `as margens do Reno (que alguns quilometros adiante passam a se chamar 'côte du Rhône'). Ele não cheira rolha nem balança a taça, mas na casa dele os vinhos são de total confiança. Ele sabe. Se algum dia eu vier a recebê-lo aqui em casa, posso apresentar a ele a nossa água Petrópolis e sei que ele ficará encantado. Água é luz, como diz o Tutty. E brevemente, para nosso pesar, será talvez a bebida mais cara do planeta.
4 Comments:
Concordo com você. Antes me sentia constrangido quando, na mesa do restaurante, o garçon me servindo um "vinho desses qualquer" fazia o ritual esperando minha degustação -que eu não sei fazer. Pô, um vinho de R$5,00,lá cabe degustar?
Casei com uma gringa - sogro italiano - desses que faz o vinho no porão de casa. Vi todo o ritual ir por água a baixo: italiano bebe vinho sem frescura, bebe tinto gelado (on the rocks se o dia estiver muito quente), branco a temperatura ambiente e jamais paga o preço que cobram pela bebida nos supermercados, nas vinículas da moda e muito menos nos restaurantes. Meu sogro morou na Italia e me disse categoricamente, que o melhor vinho bebido por lá, tinha o mesmo gosto do que é feito aqui na região (sul do RS). Desencuquei,dismistifiquei
e hoje numa dessas saias justas de garçon de restaurante tentando te "chamar de grosso"e "se passar por fino" eu já digo: deixa isso
prá quando tu me servires um Brunello di Montalcino ou um Barolo (dicas do sogrão!), o resto é só suco de uva fermentado..., enche a taça aí!
Joyce,
Obrigado por ter postado meu comentário, mas cometi umas DESLIZADAS GRAVES no português, esperava que tu não fosses postar por causa das infâmias cometidas contra nossa amada e bela língua ou então que desses a corrigida necessária. Bobeira geral, mas quem escreve não se perdoa. Prometo me policiar na próxima, acho que foi a emoção de estar "falando" com você, já que sou mais um exilado da Ilha Brasil e não tenho acesso ao circuito europeu para te ver como eu gostaria: SHOWZÃO de verdade e não apenas nos projetos culturais - quando ainda se tenta- de forma acanhada - levar um pouco de beleza a esse povo brasileiro tão desassistido de cultura.
Abraços
LUIZ (não fiz correção gramatical nesse aqui, deixei a emoção rolar, ela só não pode é me enrolar....risos)
salve joyce? dia desses te vi no zoombido do o moska...sensacional...
você deveria ser presença obrigatória em todo programa de respeito.
uma dúvida...o compacto sem foto no teu site..é o da tribo mesmo?
fiquei em dúvida porque tenho um compacto com a tua foto na capa e com aquelas mesmas músicas.
bjo;
Oi Joyce.
Nosso país está mais pra água do que pro vinho. Não no sentido bíblico de atribuir valor mais a um que a outro, mas no sentido objetivo mesmo: somos muito melhores em águas que em vinhos. Só que em nosso afã de ser o que não somos, esquecemos onde somos melhores. No meu querido sul de Minas, por exemplo: há ali um dos maiores mananciais de água mineral do planeta, no chamado Circuito das Águas. Hoje em dia a região está em absoluta decadência econômica, tendo a exploração comercial predatória das águas levado muitas das fontes quase a minguar. O turismo organizado que deveria ter atenção prioritária do governo, é uma atividade em colapso, estacionada no tempo. Ou seja, desperdício e descaso com um recurso natural fundamental, que deveria ser gerador de riqueza se explorado racionalmente. Ano que vem já tenho o projeto de fazer uma série de shows em todas as cidades do Circuito, só com músicas que farei com a temática da água. É o que posso fazer como artista e sul mineiro pelas nossas águas. Sinta-se desde já convocada a uma nova parceria. E quando o Ludwig for te visitar dê a ele a gasosa de Caxambu, engarrafada da Fonte D. Pedro; sem nepotismo, é a melhor. Como sempre, o Moreno tem razão: água é luz.
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