rock in rio: eu vou...
... ficar em casa, dizem os brincalhões da internet. Mas é o melhor a fazer, ao invés de enfrentar filas, lama, dificuldades no transporte e eventuais batedores de carteira, além dos mega engarrafamentos no trânsito da minha cidade. Programa cotação 'cinco ocas' no meu ranking pessoal, mesmo para quem gosta de rock, o que não é o meu caso.
Mas estivemos lá em 1985, na primeira edição. Nossas filhas tinham ido na famosa noite que teve George Benson, James Taylor, alto astral, lua cheia, etc, levadas por amigos nossos - e quiseram ir de novo no dia seguinte. Pois nos conformamos e as levamos, como amorosos pais. Choveu direto nesse dia, e o que se via no muito ao longe (não havia ainda o recurso dos telões) era um penacho que se movia pelo palco, e que depois identificamos como sendo Nina Hagen (hoje tive de explicar ao meu neto quem era essa pessoa. Artistas do mundo pop-rock, na maioria das vezes, somem sem deixar vestígio).
E claro, não posso esquecer que um dia também estive artista pop, e toquei com meu grupo no Rock In Rio... em Lisboa! Foi em 2004, e é daí que vem a foto acima. Pois não tendo nenhuma foto deste show no arquivo do computador (talvez tenha algumas convencionais, em papel, mas daí até encontrar é um longo tempo, que não quero perder), restou a foto da nossa incursão gastronômica em Lisboa logo depois do concerto, na excelente Tasquinha d'Adelaide, com direito à própria ao meu lado, sob as bençãos do Pessoa enquadrado sobre nós.
Sim, estive pop durante alguns anos, na Europa, quando minha música caiu nas graças de alguns DJs ingleses influentes, formadores de opinião, e isso me levou a festivais de grande porte, como o de Glastonbury, na Inglaterra (o festival inglês que deu origem à sua famosa réplica americana, Woodstock), do qual participamos duas vezes, em 1994 e em 2006. E no Palco Raízes, no Rock In Rio Lisboa, em 2004. Posso dizer que no fundo, no fundo, é tudo a mesma coisa: confusão, multidão, muita lama, um corre-corre, som ruim no palco (pois nunca dá tempo para uma passagem de som decente) e você toca para uma garotada que está lá pela festa e, eventualmente, para os fãs de verdade, que iriam lhe ver em quaisquer circunstâncias mesmo.
(Nossa passagem pelo festival de Glastonbury de 2006 teve lances tragicômicos, pois tínhamos tocado em Estocolmo na véspera e nosso voo até Londres, naquela mesma madrugada, atrasou. Chegamos em cima da hora (nossa apresentação era à uma da tarde!), o aeroporto ficava do outro lado da cidade, e a van que nos levava até Glastonbury ficou presa na gigantesca massa de gente que lotava a fazenda onde o festival acontecia. A van não se movia e tivemos que trocar de roupa ali mesmo, sem esperar pelo camarim. Eu, muito sem graça, pois estávamos todos juntos, a banda toda. Foi quando o Tutty, filosófico e pragmático, me sussurrou: "faz de conta que estamos na praia". Enfim, vestidos e prontos, ainda assim chegamos com meia hora de atraso para o show, nosso tempo se esgotava, e só pudemos apresentar um show pela metade, para não atrasar a atração seguinte...)
Por essas e outras, confesso que foi um alívio quando os fãs daquela época se tornaram adultos, e agora lotam os locais de jazz, sejam teatros, casas noturnas ou festivais, onde até hoje tocamos pelo mundo. Estão lá pela música, e não mais pela festa. A vida assim é bem mais real. Meu reino, definitivamente, não era daquele mundo.
6 Comments:
joyce,
um amigo pianista dizia, quando apareciam esses eventos em sua agenda...isso não é show, isso é encrenca...e tô rindo com o bom humor do tutty no camarim improvisado..
bom, desde sempre nunca curti multidão...portanto, nunca fui assistir eventos assim...apenas a trabalho, driblando a encrenca...é isso aí
abraçsonoros
ps.joyce, lá no facebook postaram uma parceria tua com o zé renato...tá legal...e o toninho horta de guest...
joyce segue o link do site de compartilhamento de áudio...suspeito que o perfil seja do próprio zé...???
http://soundcloud.com/zerenato/t-legal
bom, não é preciso postar esse comentário...abrçsons
É postagem do Zé mesmo, e tem outra parceria nossa ali, do novo CD dele - 'De Onde Vem a Saudade'. As outras são do CD infantil que ele fez uns anos atrás.
meu deus! joyce num festival de rock, esta eu não sabia.
para aqueles velhos bossanovistas radicais (se é que eles ainda existem) este é um típico caso de meu passado me condena rs rs rs.
brincadeiras a parte, quando li o texto sobre os artistas pops que somem, fiquei pensando no que era a indústria de música ontem e hoje.
antigamente a indústria se comprometia com o artista, que começava vendendo pouco, mas ao longo de alguns anos, conseguia assim consolidar uma carreira, com fama, prestígio etc.
hoje o que querem é que um iniciante já comece com disco de ouro e nos próximos lançamentos ainda mais.
portanto, o que temos é muita concessão, em geral ao ritmo da moda (que muitas vezes não tem nada a ver com a verdade do artista, se é que ele tem uma), superexposição na mídia, etc, quando a maré muda e o ritmo da moda também ou a superexposição cansa, muitos deles ficam pelo caminho.
fico pensando nos cantores atuais, que se enquadram nesta situação, que já virou regra.
qual deles sobreviverá para as gerações futuras?
Tulio, é preciso dizer que a música que fizemos nestes megafestivais foi igualzinha à que fazemos em todos os outros lugares onde tocamos. Quem mudou ali foi o perfil do festival, não o meu... :-))
joyce, fiz esta brincadeira pensando em como as coisas mudaram, a ala da mpb que era contra a tropicália, os fã de rock que eram radicais contra qualquer coisa que não fosse rock, passeata contra as guitarras, etc.
entre os 60 até meados dos 80 se você tivesse participado de um festival com o nome rock ligado a ele, na volta teria sido apedrejada.
o fato de caber uma joyce nestes festivais, como hoje um milton nascimento e uma esperanza spalding mostra isto, me questiono até se o nome ainda deva ser rock in rio.
beijos
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