sábado, julho 23, 2011

nascimento da república... e do samba!

(Mais notícias do nosso diário de bordo sobre as gravações do 'No Compasso da História'...)

O nascimento da República no Brasil coincide, historicamente, com o nascimento do samba. Nada a se estranhar: a República nasce logo após a abolição da escravatura, que já viera tarde demais. As oligarquias que ainda dependiam da mão de obra escrava, além dos grupos militares que já eram contrários à monarquia desde a Guerra do Paraguai, acabaram depondo o combalido Império - teremos, no belo roteiro de Isabel Valença, a frase histórica do Barão de Cotegipe para a Princesa Isabel, logo depois da assinatura da lei Áurea: "Vossa Majestade redimiu uma raça, mas acaba de perder o trono". E não deu outra.

(na foto acima, estou fazendo minha leitura minimalista para o 'Hino à Bandeira', com belíssima melodia de Francisco Braga - é o único hino do mundo que tem 'blue note'! - e os versos de ninguém menos que Olavo Bilac, descrito por um dos câmeras da nossa equipe como "uma espécie de Chico Buarque daquela época"... Eu concordo!)

E o que tem isso a ver com o samba? Tudo. Instaladas na área do Estácio (hoje Cidade Nova), as comunidades das 'tias' baianas prosperaram, com seus batuques e festas de terreiro, onde além das comidas e rituais religiosos de origem afro-brasileira, nasceram os primeiros sambistas, como João da Bahiana (não por acaso, filho de uma delas, tia Perciliana), Pixinguinha, Donga e Sinhô - de quem eu e meu convidado Pedro Paulo Malta estamos cantando, na foto acima, o delicioso e politicamente incorreto samba 'Não Quero Saber Mais Dela'.

PP é um sambista e seresteiro com pegada de ator, o que foi uma maravilha para a gravação e encheu de alegria a equipe, que se dobrava de rir com suas interpretações para o português apaixonado pela mulata (no samba citado acima) e os personagens descritos por João da Bahiana em 'Batuque na Cozinha' - mas também se comoveu com sua linda leitura para 'Luar do Sertão', 'Carinhoso' e o glorioso samba-enredo 'Os Sertões'. Na foto acima estamos lembrando a Revolta da Chibata, com 'Mestre-Sala dos Mares'. Ao nosso lado, dando uma canja no tamborim, nossa lindinha Antonia Adnet.

Com mais uma linda e querida presença, minha filhota Ana Martins, estamos homenageando Chiquinha Gonzaga, mãe da música brasileira, com seu 'Abre Alas'. Depois, indo dos primórdios ao Modernismo, ainda faríamos o 'Trenzinho do Caipira', de Villa-Lobos, com os versos contemporâneos de Ferreira Gullar.

(a participação de Aninha neste programa me ajudou a desvendar uma história incrível: desde que minhas meninas eram pequenas, canto para elas - e cantamos juntas - uma cançoneta que aprendi com meu amigo Bituca, e que ele por sua vez aprendera com 'seu' Salomão Borges, pai de seus parceiros Márcio e Lô. Começa assim: "eu vivo triste como um sapo na lagoa/ e ando sempre pelas matas escondido..." Parece que o próprio Salomão Borges pensava que essa música era do pai dele. E eis que lendo o livro de crônicas de João do Rio, 'A Alma Encantadora das Ruas' (publicado em 1908, e que fala da cultura urbana do Rio de Janeiro no início do século XX), na última página, está lá para quem quiser ver: "a despreocupação dessa gente parece viver com uma estranha verdade no lundu popular: 'eu vivo triste como um sapo na lagoa'..." Uma descoberta arqueológico-musical sem preço, que me encheu de alegria. Finalmente uniram-se as pontas desta misteriosa canção!)

E, claro, não podia faltar Pixinguinha, aqui representado por sua "Yaô". E ainda teríamos coisas como 'Espingarda', sucesso da dupla Jararaca e Ratinho, 'Jura' e 'Gosto que me Enrosco', ambas de Sinhô (esta última com Heitor dos Prazeres), 'Se Você Jurar', de Ismael Silva, 'Chuá, Chuá' (clássico sertanejo), e, finalmente, 'Positivismo', de Noel Rosa e Orestes Barbosa. Uma glória de repertório!

Este foi um programa de conteúdo tão rico que teve de ser dividido em dois, para podermos dar conta de tanta informação. O mesmo acontece com o ainda não gravado programa que trata do Brasil Império. E assim, nossa série de 13 documentários passará a ter 15...


5 Comments:

At 2:35 PM, Blogger pituco said...

joyce,

qto mais acompanhamos teus relatos aqui no blog, aumenta nossa vontade de assistír e ouvir os programas...nascimento do samba...que delícia...

mas, afinal...o samba nasceu no rio ou na bahia?...rs

abraçsonoros
e admirado com teu pique de trabalho...sempre em alto astral...exemplo bacanudo pra muita gente, que reclama mais do que trabalha...é isso aí

 
At 3:45 PM, Blogger Marcel said...

E a vontade de assistir me consome!

hehehe

 
At 9:42 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Esse programa vale muito a pena ver

 
At 10:00 PM, Blogger Lizzie Bravo said...

que beleza! parabéns a todos. aguardo ansiosa pelos programas.

 
At 9:37 AM, Anonymous Túlio said...

em que canal estes programas vão passar, é a cabo?
algumas destas pérolas ficam as vezes restritas ao rio, será que dá pra ver aqui em BH?

 

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