sábado, janeiro 11, 2014

facebook - impressões de uma novata

Enfim, depois de muito dizer que não tinha interesse em redes sociais, eis que me vi dona de um perfil no facebook. Na verdade, um perfil criado pelo pessoal que trabalha na minha produção em SP, em parceria com a gravadora de Londres. Tudo começou quando lancei a idéia de convidar o público a votar e assim escolher qual seria o CD lançado em 2013, "Rio" ou "Tudo". Encerrada a votação, com a vitória do "Tudo", ficaram lá, inativas, uma página de artista e outra de perfil pessoal, que fui usando este ano, pela curiosidade de ver como era.

A primeira conclusão a que cheguei foi de que não, eu não quero ter um milhão de amigos. Os mais de 1.500 pedidos de amizade que se acumulam na minha página vão ficar por lá mesmo. Não aceito ninguém que eu não conheça pessoalmente, esta é a regra de ouro. E mesmo que conheça, se não vejo a pessoa há tempo demais, é que a amizade saiu do prazo de validade. Melhor não.

O tempo precioso que se perde é igualmente um problema. Os livros que você deixa de ler, as músicas que deixa de ouvir, os momentos de vida-ao-vivo que se perde pra ficar bestamente diante de uma tela, a produtividade que se esvai… Não admira que escolas e empresas estejam praticando uma política de retirar o acesso à internet de estudantes e funcionários.

Aprendi também que esta ferramenta tem suas regras, seus truques, suas tribos e um tipo de etiqueta à qual ainda não me acostumei de todo. Outro dia mesmo uma amiga querida ia se chateando comigo, pensando que eu a tinha excluído, quando na verdade apenas tinha desativado temporariamente o meu perfil, durante minhas férias. Vai entender! Outra coisa que me causou estranheza é um bizarro tipo de contato chamado 'cutucar' alguém. Ninguém ainda me explicou o que pretende uma pessoa, principalmente desconhecida, com uma 'cutucada' em você... Pelo sim, pelo não, bloqueio no ato. Eu, hein, Rosa?

Também me causa espanto o nível de exposição íntima a que algumas pessoas se submetem. Dificilmente alguém verá fotos e nomes dos membros mais próximos da minha família. Acho temerário e desnecessário. Os chamados 'selfies' (e sua versão moderna, os 'braggies') também não mereceram minha simpatia. Já fui informada sobre tantas coisas que não são absolutamente da minha conta, que não sei como vivi sem todas essas informações por tanto tempo...

As discussões de ordem política também não me interessam, ainda mais em ano eleitoral, quando o Brasil vai virando um mega fla x flu, como uma família de ex-parentes em luta fratricida, enquanto os ratos aproveitam para continuar onde sempre estiveram. Também dispenso.

Mas nem tudo são horrores. Há o pessoal que discute música seriamente, ainda que a música criativa hoje no Brasil esteja mais na área da ficção. Há os que simplesmente se empenham em postar belezas em forma de música, poesia e arte - meus preferidos. Há os justamente indignados, que são tantos. Há sempre um pessoal de bom-humor, trazendo uma alegriazinha ou umas risadas tão necessárias. Aliás, este tópico das risadas pra mim também é confuso. Como se deve rir online? Com o tradicional (e universal) hahahaha?  Com o discreto rsrsrs, que pressupõe aquela risadinha marota com a mão na frente da boca? Ou com o galináceo (nas palavras de Ruy Castro) kkkkk? Confesso que ainda não me decidi a respeito.

E há as mensagens de carinho, os parabéns, o estímulo quando alguma coisa bacana lhe acontece, o consolo quando se sofre alguma perda… O afeto virtual tem também seu valor, já que qualquer maneira de amor vale a pena. Ainda mais nestes tempos de solidão planetária em que vivemos. Então é isso. Entregamos nossa privacidade em troca de algum calor humano que nos distraia - pois, como diz Woody Allen, a vida nada mais é do que distração, para que a gente não perceba que um dia ela acaba. E como nos distrai, para o bem e para o mal, esse tal de facebook...



4 Comments:

At 6:46 PM, Anonymous Márcia ( de Brasília) said...

joyce, Feliz 2014
Texto maravilhoso como tudo que você escreve.Vim saber que você tem uma página no facebook quando entrei no face lulielucina e aparece seu nome quando da divulgação do CD da Luhli (Danças da Terra e do Mar),o qual tive o prazer enorme de fazer parte do apoio cultural. Não sei se este CD lindo chegou a você. Pois é, eu não estou no face, mas consigo entrar na primeira página e aí vejo alguns nomes de quem entrou. E um deles foi o seu. E até lembrei do seu texto de resistência de setembro ao facebook em setembro/2012 quando você foi convidada para ser amiga de uma pessoa querida sua que já havia falecido ( a Marta Strauch) e você pedindo ajudas para quem soubesse dos recursos para que excluíssem definitivamene ela do face. Eu mesma já tentei entrar uma vez e levei um susto exatamente com isto, como vai aparecendo, não parece uma rede de fazer amizades e rever outras e sim de total falta de privacidade. Aí fui jogando no google "como faço para excluir definitivamente meu nome no facebook". Mas ainda não desisti do face totalmente, qualquer hora tento novamente, com mais maturidade e menos susto, aprendendo melhor os recursos do mesmo.
Mas sei que a internet ainda é, não a única , uma opção de encontros e reencontros. Também concordo que amizades, mesmo tendo sido boas, algumas são lembranças de um tempo que já passou e podem ficar adormecidas.

E já que estamos falando de relações virtuais, conheci a Luhli (já conhecia o trabalho dela anteriormente), mas a amizade que começou virtual e hoje já nos conhecemos pessoalmente já estive em Lumiar inclusive, desde um texto seu ( setembro 2012), no qual tem a foto sua com Lucina) feita pela Irineia.

Aliás, já te escrevi mais de uma vez o quanto gosto de blogger e inclusive possibilitou esta amizade minha com Luhli


E não demore para voltar com mais um show. Brasília te espera. Mas sei que não depende só de você.

Márcia (de Brasília)

 
At 10:15 AM, Anonymous Mauricio said...

Liguei para um curso de bonsai anunciado na internet. A moca disse que eu teria que segui-la e depois adiciona-la. Respondi que era casado e respeitava minha mulher. Desligou o telefone na minha cara.

 
At 1:40 AM, Blogger pituco said...

joyce,

que bom te rever, ao vivo e a cores, sem ser pela tela de um computador…

e quando me perguntam o que penso sobre determinado povo e coisa e tal…(como se fosse possível ser redutivo)...costumo dizer que em qualquer lugar do planeta existem pessoas bacanudas, pessoas perigosas, pessoas complicadas, pessoas de todo tipo…assim como no facebook…

abrsonoros

 
At 10:02 PM, Blogger Cyntia Monteiro said...

Tenho tantas coisas boas e ruins para falar do facebook que nem caberia nesse comentário... Para não te desanimar, falarei das boas: Há muitos outros assuntos sendo discutindo seriamente. Aqui na cidade onde moro, o cinema ficou muito mais organizado depois de nos juntarmos no facebook. Ficou muito mais fácil, por exemplo, cobrar zilhões de coisas do governo, compartilhar arquivos e o principal: ir além da internet. As reuniões e manifestações tornaram-se presenciais depois de organizadas. Para trabalhar em tv, é uma mão na roda e ainda aproveito esse tempo para não fortalecer o meu esquecimento, mandando inbox com arquivos e mensagens para mim mesma.
Por outro lado, nunca vou esquecer que no ano passado não consegui alugar um apartamento incrível porque fiquei 7 meses com o facebook desativado. É o problema de levar tão a sério algo que podemos sim viver sem.

 

Postar um comentário

<< Home