ainda sobre as chuvas
Nosso amado maestro soberano Tom Jobim tinha este sítio, chamado Poço Fundo, que pertencera à família de sua mãe, e onde tantas vezes nossa turma de pós-adolescentes, amigos do seu filho Paulinho, passou finais de semana (eu, no entanto, nunca cheguei a ir lá). O sítio ficou famoso por ter sido o local onde Tom compusera 'Águas de Março', e antes disso, onde ele e João Gilberto gestaram o disco 'O Amor, o Sorriso e a Flor', clássico da bossa nova. Pois as chuvas derrubaram a casa e deixaram Daniel, neto do maestro, ilhado por alguns dias, até que finalmente conseguiu sair de lá, menos mal. Mas foi mas uma tristeza coletiva ver um lugar tão impregnado de música despencar desse jeito.
Não foi o único, sabemos, e agora procuramos por notícias dos músicos amigos que moram pela região. Conseguimos saber que nossa amiga Luli foi resgatada, junto com a filha e a neta, de sua casa nas montanhas, e já está por aqui, com planos de se mudar para Mauá. Não conseguimos ainda notícias de Fátima Guedes, moradora de Teresópolis, mas acreditamos que, como dizem os americanos, 'no news, good news'. Portanto, se nada soubemos, é que deve estar tudo bem - é o que esperamos. (nota: Pituco me avisa que teve noticias dela, via Facebook, e que ela e seus 9(!!!) bichos estão bem...)
Já meu parceiro Claudio Nucci, que mora na cidade de Friburgo, a mais atingida da Serra, me mandou por email este relato impressionante, que repasso aqui pra vocês:
Oi, Joyce!
Bom receber teu email.
Por aqui tudo de pé! Tivemos sorte de estarmos num lugar privilegiado, que é nossa casa. Até caiu um pedaço de muro do outro lado do terreno, longe da casa, mas isso comparado ao que ocorreu em toda a região, é nada!
Ainda tem muita gente desabrigada, ou sem assistência ainda. Estamos ajudando pontualmente, nas redondezas, com água de nascente que temos aqui, e muito calor humano.
A noite de terça pra quarta, foi muito estranha...
Enquanto ouvíamos aqui, estrondos parecidos a rebotes de trovões, que eram na verdade o barulho das pedras, árvores e lama rolando pelas encostas, ao longe, o meus pais estavam em Bom Jardim com água até o teto do primeiro andar da casa deles. Sorte que eles dormiam no segundo andar (imagina, o rio passando praticamente dentro da casa deles e eles dormiam!). A água baixou no dia seguinte e eles foram pra uma casa mais alta, onde ficaram ilhados 3 dias e depois passaram por uma pinguela improvisada e já estão no Rio (de janeiro) agora.
Bom receber teu email.
Por aqui tudo de pé! Tivemos sorte de estarmos num lugar privilegiado, que é nossa casa. Até caiu um pedaço de muro do outro lado do terreno, longe da casa, mas isso comparado ao que ocorreu em toda a região, é nada!
Ainda tem muita gente desabrigada, ou sem assistência ainda. Estamos ajudando pontualmente, nas redondezas, com água de nascente que temos aqui, e muito calor humano.
A noite de terça pra quarta, foi muito estranha...
Enquanto ouvíamos aqui, estrondos parecidos a rebotes de trovões, que eram na verdade o barulho das pedras, árvores e lama rolando pelas encostas, ao longe, o meus pais estavam em Bom Jardim com água até o teto do primeiro andar da casa deles. Sorte que eles dormiam no segundo andar (imagina, o rio passando praticamente dentro da casa deles e eles dormiam!). A água baixou no dia seguinte e eles foram pra uma casa mais alta, onde ficaram ilhados 3 dias e depois passaram por uma pinguela improvisada e já estão no Rio (de janeiro) agora.
Como vimos, felizmente parece que o pior já passou - mas ficou a cidade em condições dificílimas, com muito a reconstruir. Claudio pede ainda que as pessoas evitem ir para a região nesse momento, já que é grande a circulação de veículos de auxílio, e esta é a prioridade absoluta.
Ele também conta que tinha uma data agendada para fazer aquele mesmo luau em Ipanema que fiz no ano passado (e adorei), mas teve de ser cancelada por conta dos últimos acontecimentos. Espero que logo, logo, isso seja remarcado e o querido Claudio possa vir iluminar nossa praia com sua música. E que a vida volte ao normal para os serranos!
5 Comments:
Que coisa triste!
Estou tão longe, mas sofrendo como se estivera lá.
Graças a Deus tudo bem com Luli, Daniel e o Claúdio Nucci.
A situação das pessoas nessas regiões é triste e terrível.
Eu tinha uma quantia em dinheiro numa poupança, que fiz questão de sacar e entregar pra minha mãe comprar tudo em donativos. Saiu no site do G1 que eles ainda precisam muito de Água Potável, e mantimentos básicos como Arroz e Feijão. Eu tinha planos futuros para o dinheiro, mas do que adianta usufruir dele se tem gente que precisa mais do que eu?
Vou rezar para que tudo esteja bem com a Fátima Guedes, ela é uma das minhas artistas favoritas.
Quanto ao sítio, bem, Deus queira que possam reerguê-lo, um mantro de paz há de cair sobre o Rio de Janeiro e a solidariedade do ser-humano nessa hora é admirável. O Brasil inteiro contribuindo e se ajudando. Pretendo inclusive acender uma vela pra Iansã tomar conta dessa chuva e levar pra bem longe, chega de desmoronamentos, nós mesmos que não sofremos com as enchentes, nos emocionamos. Eu estava assistindo jornal outro dia de madrugada e comecei a chorar com a história de uma mãe que havia perdido 16 parentes nas enchentes.
É uma situação complicada, delicada e esperamos que não esperem o verão de 2012 pra dar as mesmas desculpas esfarrapadas.
"O Janeiro do Rio há de brilhar melhor". Se Deus quiser, e ele vai querer! =)
Um Beijo Imenso!
Meu Deus! Fátima Guedes é uma de minhas paixões músicais, assim como você. Tenho todos os discos dela e tive a oportunidade de levá-los, no ano 2000, primeira vez que ela esteve aqui, para autografar um a um. Pensei em fazer o mesmo quando te vi também , em 2000 e alguns, na Reitoria da UFRGS, num show solo, mas apesar de estar com todos eles na mão, só te passei o TARDES CARIOCAS. BOM ,MAS VOLTANDO AO ASSUNTO: LEMBREI DELA DIRETO E ENTREI NO SITE PRA VER SE ELA TINHA COLOCADO ALGUMA NOTÍCIA. TAMBÉM ME PREOCUPEI. Somos sensibilizados pela tragédia alheia de desconhecidos de todo o mundo, mas a música nos aproximou como gente da mesma tribo, de repente tava eu preocupado com a Fátima, como se ela fosse a "Fatinha", minha tia que mora em Niterói. TENDO NOTÍCIAS, AVISA AQUI!
joyce,
posso imaginar esse sentimento de dúvida e desespero quando procuramos amigos depois de uma tragédia, como a do rio...
no último dia 17, lembrou-se das vítimas do terremoto de kôbe...eu sou um sobrevivente (fazia uma temporada em um restaurante brasileiro lá)...durante os três dias que permanecemos lá, os gringos eram os únicos que davam socorro no resgate improvisado das vítimas(acredite se quiser)...saimos de lá a pé até nishinomiya, num percurso de quase 40km, onde a galera da produção nos aguardava...eles não puderam entrar na cidade (nem era possível, com tantos escombros, elevações e prédios caídos)...
é isso aí...solidaridade é o que precisamos nessas horas...e aí no brasil, vergonha na cara da administração pública pra se evitar esses desastres (porque não se pode culpar são pedro,não é verdade?)...
ps.lá no facebook o zé luis mazzioti conseguiu falar com a fátima guedes e está tudo bem com ela e os seus 9 bichos(?)...
abraçsons
Não tenho nem idéia do como esse esse facebook funciona, Pituco, mas se é uma fonte de comunicação confiável...UFA! OBRIGADO PELA NOTÍCIA! MAS AGUARDO UMA CONFIRMAÇÃO_ASSIM QUE POSSÍVEL_ DE JOYCE SOBRE A FÁTIMA, DIZENDO O QUANTO É BOM "REVER AMIGOS".
Hoje ao entrar no carro e colocar o cd de Fátima Guedes, tive que chorar.
Foi uma grande surprêsa que me deixou numa espécie de transe por alguns minutos.
Trovejava e chovia bastante e a música que se apresentou naquele momento começava assim:
"Santa Barbara dos tempos violentos"
Fiquei muito preocupado com a Fátima e pensei profundamente:
Estamos fazendo algo errado em todo o planeta, e espero que possamos descobrir rapidamente.
Se sourebem notícias dela avise-nos.
Obrigado Joyce pelo espaço por mim ocupado.
Roberto
Postar um comentário
<< Home