bossa-nova (de novo?)
Num comentário sobre um texto meu anterior, "Baluartes", que fala da bossa-nova e seus criadores, um leitor (que aparentemente escreve da Colombia, em excelente portunhol) diz o seguinte:
" Baluartes não. Heróis. Eu assisto aquele filme "Coisa Mais Linda" e fico maravilhado com o diálogo tão íntimo entre o Menescal o Carlos Lyra. Me preocupa a continuidade, não tanto da bossa-nova como da percepção que vocês, "os baluartes", transmitem na música, na sensibilidade, na elegância e na harmonia. Quem vai saber valorizar essa complexidade sem o nível de instrução mínimo para entendé-lo ? Até o vocabulário pode chegar até ser incompreensível. Ao final de contas o Octavio Paz já fizera a advertência: "La permanencia de las artes ha sido siempre obra de una minoría".
É de fazer a gente pensar, e muito. Para onde vai a nossa América, pela qual somos 'tan locos'? E falo do continente como um todo. O jazz, por exemplo. Só o fato de ter existido essa riqueza musical tão grande já justifica a existencia de um país, de um povo inteiro. Mesmo que esse país hoje tenha um controvertido papel no mundo. Mesmo que o jazz hoje tenha cada vez menores espaços em sua pátria de origem _ pois lá como cá, e como em toda parte, a complexidade é temida, discriminada por aqueles que pensam que falam em nome da maioria. Políticos, mídia, indústria do entretenimento, mil faces da mesma questão.
Aqui no nosso Brasil, a bossa-nova foi trilha sonora de um renascimento que envolveu cinema, esportes, arquitetura... Um momento cultural que hoje, visto de longe, parece quase impossível de se repetir. Mas quero acreditar que a música do Brasil em todas as suas formas criativas _ o samba, o choro, o forró e tudo o mais de bom que possa aparecer _ será sempre mais poderosa e capaz de se reinventar, não importa o que nos aconteça. Minha pátria é minha música.
PS- agradeço muito a todos vocês, que têm enriquecido este blogzinho com seus comentários, sempre de alto nível, bem-pensantes e pertinentes. Se eu citar nomes estarei sendo injusta. Mas saibam que cada um post desses que me chega é um incentivo para escrever e principalmente, pensar. Numa hora dessas, não é pouca coisa. Vamos em frente nessa parceria.
6 Comments:
Oi Joyce! Entendo a música e seus estilos na mesma perspectiva dos filhos... a gente os cria para o mundo... os lugares cumprem uma missão de parí-los mas depois ganham pernas e percorrem o mundo sozinhos ou por seus mensageiros mais fiéis: os intérpretes. E assim vão caminhando. Entendo o Jazz como algo um pouco nosso também, pois o estilizamos bastante aqui no Brasil, assim como a bossa-nova também é do japonês, que tanto a valoriza. E assim a música vai... É como vc disse, a pátria é a música - que é apátrida. Descobri seu Blog a pouco tempo e saiba que, desde então, você tem enriquecido minha vida e minha ausência musical. E isso tem me feito muito bem! Outra coisa: vc sumiu de BH... por favor, volte com seus shows por aqui. Estamos carentes da sua pátria! Super beijo!
Pensar, numa época como essa que o Brasil e , acho, a humanidade inteira,está vivendo não é fácil, mesmo. Viver... a mesma coisa. Mas tem a música e tantas formas de arte, que fazem a gente desligar um pouco e só sentir.
Meu filho tem 17 e vive aqui nos USA desde os 11. Do mesmo modo que escuta umas coisas assustadoras, uns caras grunhindo e berrando(eu digo que se há música no inferno, é essa que ele ouve!), quase arrebentando a garganta, tem ouvido as músicas da minha playlist do MP3, que incluem Chico, Alaíde Costa, Piazzola, alguns clássicos , Bill Evans e muito mais. Ele ouve enquanto tecla e procura os acordes de algumas delas na internet pra tocar no violão ou no teclado. A música, a nossa ou outra qualquer boa música tem uma linguagem fantástica.
E tem esse blog muito gostoso de ler. Não pare!
Bjs!
Pois é Joyce
A coisa que mais me emociona na vida sem sombra de dúvida é a música.
Esse fim de semana fui para uma fazenda linda e a tardinha fiquei observando o visual,a paz,a natureza e é claro com o meu ipod.Neste momento estava escutando MORRO VELHO e fiquei extremamente emocionada com essa mistura MUSICA e NATUREZA.
Cantei numa casa de show aqui em Salvador(CASA DA BOSSA)por um período de 03 meses.
A casa foi inaugurada em Agosto de 2006 e em 31/03/07 fechará as suas portas por falta de público,você acredita????
Tenho muito receio do nosso futuro musical!!!
Por favor,continue produzindo!!!
Um beijo
Joyce.
Para mim não há nada mais terrível em termos de perspectivas futuras para a música criativa do que esse pavor da complexidade. Isso me dá arrepio. Não que o complexo tenha um valor em si, o complexo não é necessariamente belo. Afinal saber fazer o complexo parecer simples é que o grande lance, e alguns criadores (e jogadores de futebol) se tornaram ícones por saberem equilibrar bem bem essa equação. Mas não há como procurar esse equilíbrio quando domina a idéia de que qualquer elaboração é um pecado mortal: sua arte será tão mais incompreendida quanto mais elaborada for. É duro, mas é essa idéia falsa e ridícula que está fazendo com que a arte esteja se tornando sim algo para círculos a cada dia mais restritos. E não tenho a menor idéia de onde isso vai dar. A geração da bossa nova e a que imediatamente a sucedeu é a prova mais concreta desse pensamento equivocado. O quanto já se fez de música boa, elaborada e mesmo complexa nessa terra, e como as pessoas gostam dela quando podem ouvi-la!!!
Bjs
Sérgio
Joyce!
Eu sabia!Eu sabia! Sempre pensei neste blog como sendo "menssagens engarrafadas" que largamos aqui da na Ilha Brasil - na esperança que naveguem o mar da internet e sejam abertas por você - Obrigado pelo sinal de que as menssagens estão chegando...e te tocando.... ainda aportarás por aqui com sua Nau musical, trupe e velas abertas, Canária que fugiu....pra salvar-se da extinção da música e do belo no Brasil.
Beijos
Luiz Antonio
Hoje tô inspirado...postando aos montes (devo fazer inveja a muita galinha - risos -)Sério, agora, Joyce tava dando uma checada do teu site - agenda - Não visito muito o site porque cds eu tenho todos e a agenda é uma decepção pros Brazukas (falta o Hard Bossa e mais um com Toninho - não tem no Brasil ou estou enganado?). Mas, o que queria dizer é: Obrigado por ainda manteres o blog em português, para os moradores da Ilha Brasil, pois tua agenda de shows - e com certeza milhões de fãs - only speak english...
Não vai achar que isso é uma boa idéia, hein...se for...mantenha em duas versões, mas pensando melhor....desse Brasil que tu falas...só Brasileiro mesmo pra entender....
Beijos
Luiz Antonio (lahs@terra.com.br)
Postar um comentário
<< Home