domingo, março 18, 2007

a vida começa sempre

Abro a revista e vejo um texto que já sai dizendo assim: 'A vida começa (a piorar) aos quarenta'. E tome reclamações de uma moça (que não conheço, é bom que se diga) sobre rugas, bumbum caído, seios idem, o que as pessoas vão pensar se você se vestir assim ou assado, se sair com um cara mais novo ou mais velho, comer engorda, viver envelhece. Quanta bobagem.

Em cima da mesa, entreaberto, está o livro que estou relendo, 'A Segunda Vida das Mulheres', da francesa Christiane Collange. Ela fala da revolução que tem sido a vida das mulheres que hoje têm de 50 anos em diante e seguem produtivas, criativas, saudáveis e interessantes. Existe vida depois da menopausa! Somos parte de duas gerações seguidas que quebraram tudo em termos de comportamento, que assumiram a pílula e reinventaram o sexo, o casamento, o feminismo. Como disse alguém que não me lembro, fomos as primeiras a descombinar bolsa e sapato. Somos também a primeira geração de humanas a alcançar esta idade, outrora considerada como o fim da linha, em perfeitas condições de saúde e energia.

Ou seja, o tempo vai passando, e a gente ainda grita "oba!", como umas malucas bem-resolvidas. OK, talvez nem todas tanto assim, mas melhor resolvidas do que essa meninada de 30, 40, que se sente arrasada por qualquer velinha a mais no bolo.

Comer é bom, viver é ótimo, namorar é divino se você tiver a sorte e/ou o bom-senso de escolher bem. O corpo vai piorando mesmo no desempenho de certas funções, faz parte do processo, e como diz a sábia Mme. Collange, você não vai mais sair por aí saltando obstáculos como uma gazela, como fazia aos 20 anos. Mas é só isso o que você quer da vida?

Aos 40 anos eu, por exemplo, nunca tinha ido a Londres, onde hoje parece que faço parte da paisagem _ assim como o Japão, onde fui pela primeira vez aos 37. Aos 40 anos, as antigas fotos me dizem que eu estava no auge da forma física, e no entanto hoje, aos 59, a sensação que tenho é a de que sou pessoa bem mais saudável _ eu disse mais saudável, não mais bela, o que é outro departamento. Tá certo que rola um trabalhozinho em função disso _ de exercícios, de alimentação e outras coisas que só interessam a mim. Porém nada disso tem importancia, apenas foram escolhas minhas. Cada um faz as escolhas que quer, e o resto é simplesmente a vida.

Rugas tenho, sim, e pretendo continuar com elas. Os fios prateados, comecei a cultivar agora, e estou achando bonito, por enquanto. Mas o principal não é o que sai da cabeça, no caso o cabelo, mas o que tem lá dentro: é a plenitude da mente, a claridade da razão. Sem isso, o desespero pela passagem do tempo virá, com certeza.

7 Comments:

At 7:29 AM, Anonymous Anônimo said...

Pôxa Joyce... 59 com carinha de 49, está muito bem! Só acredito nas dezenas porque conheço sua história. Senão, não dava pra acreditar... Será que vai acontecer isso comigo? O futuro a Deus pertence (e também às minhas escolhas de vida, como vc sabiamente disse). Um beijo mineiro pra vc!

 
At 11:31 AM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Oi Joyce!
Eu acho que você está cada vez melhor, tanto como cantora e como mulher.
Você continua linda, eu tenho 24 anos, conheci as suas músicas a apenas 3 anos, mas parece que eu te acompanho a sua carreira desde 1968.
Parábens por seu talento e por sua beleza!
Um beijo!

 
At 9:13 PM, Anonymous Anônimo said...

e resto nunca se espera, o resto é a próxima esfera, o resto é outra encarnação... Acho que você está certa. Tirando o bafão, que te acorda de noite e te faz ficar com a cara vermelha(problema quando estou no trem, cheia de roupas, porque tá frio pra cacete...), a dor no joelho ao se levantar, afora isso, é muito bom ter 56. Você escolhe melhor sua comida, os exercícios que quer fazer, o que beber, os amigos, as coisas que te dão prazer. Não somos as Machadianas trintonas ou quarentonas que viviam sentadas, esperando pelos maridos ou a morte chegar.
Duas coisas: já disse e repito, você está ótima. Até sua voz continua a mesma; sempre tive curiosidade de saber se você acredita mesmo em rencarnação ou foi só por força da rima...
Adoro vir aqui. Olha o que encontrei:http://monsieurbinot.blogdrive.com/
Beijos!

 
At 11:16 PM, Blogger Exclusivite said...

Joyce
Cada dia me impressiono mais com a sua sabedoria,sensibilidade e inteligência de enxergar além dos que a maioria enxergam.
Sou sua fã,de você e claro da sua música.
Um beijo

 
At 2:16 AM, Anonymous Anônimo said...

Lendo seu texto me lembrei de minha mãe, lá nos anos 70 com 42 e grávida de minha irmã caçula, era uma época em que gravidez depois dos trinta não era uma coisa comum e ela vivia de cheia de medo.
Acabou que ela sempre disse depois que foi a melhor gravidez que ela teve.
O que a deixava fula da vida, é que com a cabeça precocemente branca, quando saia à rua com minha irmã sempre diziam, que gracinha sua netinha.

realmente, os tempos mudaram, naquela época aos quarenta e poucos (ainda mais com cabelo branco e um bebê ao colo) a mulher era encarada meio como "vovó", hoje chegando aos 60 e sendo avó ela não cabem nem um pouco neste modelo, que bom.

 
At 1:13 PM, Anonymous Anônimo said...

"Uma vez sonhei que estava contando histórias e sentia alguém dando tapinhas no meu pé para me incentivar. Olhei para baixo e vi que estava em pé nos ombros de uma velha que segurava meus tornozelos e sorria para mim. 'Não, não' disse-lhe eu. 'Venha subir nos meu ombros, já que a senhora é velha e eu sou nova'. 'Nada disso' insistiu ela. 'É assim que deve ser'.
Percebi que ela estava em pé nos ombros de uma mulher ainda mais velha do que ela, que estava nos ombros de umamulher usando manto, que estava nos ombros de outra criatura, que estava nos ombros... "
(Mulheres que Correm com Os Lobos. Clarissa Pinkola Estés)
Lendo este livro, pude perceber como nós estamos cada vez mais nos distanciando do que somos em essência, enquanto mulheres... estamos perdendo nosso poder intuitivo, em nome de prazeres e rótulos extras... perdendo nossa confiança em nós mesmas, nosso faro, nossa visão no escuro... espero que, um dia, eu - assim como muitas outras - possa retornar à minha psique selvagem... selvagem não no sentido de "anti - civilização", como muita gente pensa... Selvagem, sim, no sentido de respeitar e seguir a intuição, os nossos instintos naturais... respeitar a nossa natureza, de onde viemos, e o ritmo natural do andar da vida...
A gente esqueceu que, embora a gravidade atue de forma "negativa" no nosso corpo com o caminhar dos tempos, a força dos nossos ombros aumenta, e através dela podemos carregar o peso da vida; da nossa própria e da vida de outros que a nós vierem para serem apoiados... é procurar ver o lado bom... as dificuldades existem, mas somos, por fim, as donas da história... espero manter esse pensamento, rsrs! Vai ter muito bloqueio, vai ter muito mais barra, mas dá pra segurar! E o resto é outra encarnação...

 
At 2:25 PM, Anonymous Anônimo said...

Joyce, que prazer, que satisfação, que alegria, saber que "há vida além dos 40". Naturalidade, esperança, alegria e, especialmente, produtividade e contribuição para a humanidade. Sem papo cabeça ou feminista, é bom, ver o gênero feminino cada vez mais feminino.

Fernanda

 

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