toque de recolher
Minha turma de colégio é um barato, todas garotas de Ipanema hoje na faixa dos 60, que não perdem oportunidade de estar juntas e festejar por qualquer motivo. Começou nos 40 anos de formatura e não parou mais. Virou hábito, e agora volta e meia a gente se encontra, fala besteira e ri `a beça. Continuamos divertidas e irreverentes, o que é ótimo.
Na mais recente reunião marcada, que seria para celebrar os aniversários de três de nós, eis que nos chega um email de uma das aniversariantes. Patricia é tradutora e morava em Floripa até outro dia, quando resolveu voltar para o Rio. Está na casa da mãe, em Ipanema. Neste email, nossa aniversariante explicava por que não poderá estar presente em sua própria festa:
(...) à NOITE, o ambiente perto da Comunidade (favela, em bom Português) já não me deixaria muito tranqüila! Peço que comuniquem à tchurma toda, que de agora em diante só poderei ir a encontros DIURNOS (tipo almoço, ou à tarde cedo)
(...)
Mesmo após encontrar meu próprio apê, eu não quero mais sair à noite, pois não me sinto bem com essa insegurança toda na cidade. Não é questão de falta de carona só, é de mal-estar mesmo, de ansiedade por estar na rua no escuro, seja caminhando, de ônibus ou de táxi. Torço pra que tb. marquem alguns encontros de dia pra não perder contato.
Este email me fez pensar. A gente também, por mais cascudo carioca que seja, quando sai escolhe o horário, o lugar onde vai, a melhor rota, evita passar por certas áreas sabidamente de risco _ que no momento, são quase todas. Nosso dia-a-dia é, portanto, puro stress. Para quem viveu o Rio deslumbrante da nossa adolescência e primeira juventude, dói demais saber que sair `a noite passou a ser atividade radical. E o pior é que o dia também não anda muito lá essas coisas. E não é privilégio do Rio não; a violencia se espalha feito metástase pelo país todo, sem que ninguém faça nada a respeito.
Nem nos tenebrosos tempos da ditadura (cruzes!) se passava por isso: parece que vivemos num Brasil paralelo, sob uma ditadura não-oficial, que não ousa dizer o nome. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
2 Comments:
É triste mesmo, vivermos neste "toque de recolher"
Olá, Joyce! Sentí muito tua falta no nosso ALMOÇO de setembro.
Quando escrevi sobre a minha ansiedade em enfrentar a NOITE,no Rio,recém chegada de 6 anos "idílicos" com a natureza calma de Floripa,senti como me privo de grande parte dessa liberdade que você tão bem descreveu,da nossa infância e adolescência, pelo Leblon, no meu caso, e depois disso, Ipanema,e outros...Mas sabe, Joyce, estou TÃAAAAAAAAAAAAAO FELIZ em estar morando aqui, espero que pra sempre, que até já diminuiu um pouquinho a aflição...ou quem sabe, aprendi a me proteger nos momentos mais necessários, e contando com meu ANJO DA GUARDA, procuro não perder completamente as oportunidades para me divertir, deixando um pouco de espaço fora do TRABALHO (que aliás, é mais diversão que preocupação, visto que não páro de alargar os horizontes através dos textos ricos,inteligentes, profundos, que tenho tido oportunidade de fazer desde que voltei a ter meu próprio computador!). Tomara que a gente se veja por aí! TUDO DE BOM E NUNCA DEIXE DE NOS PRESENTEAR COM AS NOVIDADES DO MUNDO MUSICAL(de coração de músico profissional,pra coração de mãe de músico profisisonal...)BEIJOS,da "anônima" PAT!
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