todos os instrumentos
Tutty toca sax-alto como hobby. Na verdade, ele já atuava como saxofonista profissional em bailes na Bahia quando, aos 16 anos, viu Edison Machado ao vivo e pirou: resolveu trocar para a bateria, uma paixão que já dura mais de 40 anos. Mas ganhou um sax de presente há 6 anos atrás, e voltou a tocar, ainda que só de vez em quando e nunca profissionalmente _ exceção feita ao nosso CD, 'Samba-Jazz & Outras Bossas', onde ele toca sax em uma faixa, e de onde saiu esta foto.
Por que estou contando isso?
Porque talvez ele precise repensar essa escolha (do sax para a bateria) e assumir um instrumento de menores proporções, daqui a não muito tempo. Estou exagerando, é claro que ele não fará nada disso _ mas a paranóia faz sentido. As companhias aéreas brasileiras entraram em campanha aberta contra músicos de todos os segmentos. Atualmente um músico que precise viajar com instrumento próprio é obrigado a despachar o dito cujo como carga, a preços extorsivos (mais caros que o tradicional excesso de peso) e nem sempre com a garantia de que sua ferramenta de trabalho chegará no mesmo vôo. O infeliz passageiro deverá chegar ao departamento de cargas com três horas de antecedencia (o que somado `a antecedencia de praxe para o check-in pode resultar em mais de cinco horas!) para que o instrumento seja pesado e avaliado por despreparados funcionários, que não distinguem um contrabaixo de uma gaita de boca.
Nosso amigo Zeca Assumpção, baixista acústico de longa e reconhecida carreira, tem tentado de todos os modos reverter esta nova política, através de cartas, emails, toques na imprensa e comunicação direta com as empresas. Recentemente recebeu uma carta pessoal do presidente da TAM, dando-lhe a garantia de que poderá viajar com seu baixo nos vôos da empresa. Nada, porém, que assegure que outros músicos poderão fazer o mesmo, e nenhuma garantia de que outras companhias aéreas seguirão o exemplo. É pouco, muito pouco.
Fazer música no Brasil continua sendo cada vez mais atividade de risco. Não conheço ninguém, com exceção das grandes estrelas do ramo, que não esteja com a vida pendurada em dívidas, cartões estourados, contas atrasadas e tudo o mais. Músicos com anos e anos de enormes serviços prestados `a cultura brasileira cada vez mais se dedicam apenas ao ensino, impedidos de exercer a profissão por razões que variam do esvaziamento do mercado para a música criativa `a inviabilidade das turnês pelo Brasil _ caso em que esta questão das companhias aéreas pesa muitíssimo. Estarão ensinando e, sem querer, contribuindo para criar mais uma legião de excelentes músicos desempregados no nosso amado país. Mas quem se importa?
Não o governo federal, que até hoje não incluiu a música no currículo regular das escolas, o que ajudaria imensamente na formação de platéias; não os sindicatos dos músicos e a OMB, que teoricamente nos representam, e na prática apenas cobram de nós a anuidade, sem o pagamento da qual estamos impedidos de trabalhar. Destas entidades, seria de esperar que reagissem com firmeza a esta nociva atitude das empresas aéreas. Eu ainda não ouvi nem um pio por parte de nenhuma delas. Alguém aí já ouviu?
6 Comments:
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Cara Joyce, sou um dos seus novos fãs (tanto da música como do blog). Ler este seu post sobre a relação entre as empresas aéreas e os músicos deixou profundamente triste. Primeiro, mais uma vez vemos o quanto a nossa sociedade é insensível a arte. As empresas aéreas, com essas medidas rídiculas, não só perdem lucro e passageiros (pois assim alguns músicos deixariam de usar o serviço aéreo) como ajuda a destruir (de um certo modo) a nossa cultura, pois dificulta os nosssos músicos viajarem pelo Brasil e divulgarem sua arte. Segundo, apesar da tecnologia ter avançado, certas coisas ainda são insubstituíveis, como ver ao vivo o seu músico peferido. E quando digo ver a vivo, é no show mesmo, não pela televisão, ver uam cantora afinada, talentoa, inteligente e linda como você a poucos metros . Eu adoraria assisitir um show seu de bossa-nova, sentir este cromatismo musical fascinante. Mas como eu pdoeria fazer isso, se moro aqui em Salvador e você, minha cara Joyce, mora aí no Rio de Janeiro? Um dos dois precisam viajar. e pessoalmente, eu (e seus fãs baianos) adorariam que você nos visita-se e fizesse seu show aqui na Bahia, quiça no Teatro Castro Alves, quiça no Largo Teresa Batista, no Pelourinho. Só que, pelo o você contou no post, ficará cada vez mais difícil por contra das empresas aéreas. São por essas e outras que eu ainda acho estranho que vejo um brasileiro ficar ofendido quando alguns de nossos monstros sagrados da música comentam (com razão) que são mais reconhecidos e valorizados no exterior do que aqui no Brasil. Sinceramente, é lamentável essa situação. No mais espero que fatos como esses não venham a impedir de nós, seus fãs, continuarmos a ouvir sua voz e as suas criações. Um abraço sincero e fraterno de um fã que cada vez mais está aprendendo a amar sua arte.
Joyce,
não tennho opinião formada sobre essa questão...
talvez,quem deva desembaraçar os trâmites legais,com o embarque dos instrumentos,seja o 'manager' e/ou produtor(?)
dentro das regras empresarias,as cias.aéreas deveriam entender os músicos,como passageiros 'especiais'(?)...
...assim como quem precisa transladar uma 'cadeira de rodas',por exemplo(?)
...ou então,o artista plástico,que precise transportar suas obras - quadros,esculturas(?)
pergunto: também são cobradas taxas extras nesses casos(?).
se não se resolver essa questão,a curto prazo,todos músicos estarão como naquela canção do Bituca...'na boléia de um caminhão'...rs!
amplexosonoros
Digna Joyce.
Uma frase antiga, atribuida ao nosso Tom Jobim, parece jamais perder a atualidade. Na época, percebendo a crise envolvendo nossos bons músicos, Tom disse: "A única saída para o músico brasileiro é o Galeão". Quis o destino que o próprio Galeão virou Aeroporto Tom Jobim. Mas a situação dos nossos músicos continua inalterada. A mídia em geral mantém a filosofia do quanto pior melhor em relação à nossa música. E todo mundo tira da reta, comportamento
inexplicavelmente omisso. Fica assim difícil mudar essa situação.
Abs.
JoFlavio
Oi Joyce!
Li seu post, realmente é lamentável o desrepito das companhias aéreas aos músicos brasileiros.
Isso me faz lembrar uma entrevista do Tom que falou o único jeito para o músico brasileiro era virar contrabandista, pois não tinha como levar o piano.
Vamos torcer pra que isso mude.
Beijos!
Pois eh, precisei sair do pais para poder encontrar CDs de musica brasileira de verdade. Enquanto morava no Rio de Janeiro soh dava vontade de chorar ouvindo as radios: Funk, breganejo, ai ai... E para comprar um CD da Maysa Matarazzo, como eh que eu faco?
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