sábado, dezembro 26, 2009

um músico brasileiro

Copio aqui o texto emocionado e cheio de indignação de minha parceira Ana Terra sobre o nosso amigo Helvius Vilela, que recentemente teve sérios problemas de saúde e tem precisado recorrer à ajuda de amigos neste momento difícil.

Como sempre digo aqui no blog, é dura a situação do músico brasileiro. Vejam, alguns poucos posts atrás, o caso do queridíssimo Johnny Alf, um dos pais musicais de tantas gerações, que felizmente pôde contar com a ajuda de um fã governador de estado - no caso, José Serra - para garantir que ele fosse tratado adequadamente. Este foi um caso isolado. Nem todos os músicos têm tido a mesma sorte.

É uma profissão tremendamente incerta, principalmente para os idealistas que vivem para honrar seu dom. A música brasileira construiu a identidade cultural deste país, e eis o que o país lhe devolve.

Segue aqui o texto da Ana:

MÚSICOS

Para Helvius Vilela  - Natal de 2009

Não fui agraciada pelos deuses da música com talento para tocar um instrumento. Minha arte se resume a descobrir nas melodias dos parceiros palavras que traduzam o que o músico já disse com suas notas musicais. É exatamente isso, traduzir. Músicos se expressam em outro idioma, que mesmo não sabendo falar, compreendemos com a escuta do coração quando uma música “nos toca”.

Quando entrei na família Caymmi, iniciei minha carreira de letrista. Mas muito mais que isso, aprendi com Dorival e família, respeito e admiração pelos instrumentistas que os acompanhavam e a outros artistas. “Ouça, minha filha, a maravilha que esse menino faz com o piano!”

Hoje é dia de Natal e por estarmos mais sensíveis com o nascimento do menino-deus, verdadeiro ou simbólico, pensamos naqueles que estão ausentes, porque morreram, como Dorival e Stella, ou porque sofrem com doenças ou outros males. Porisso pensei no pianista Helvius Vilela, que doente, não está podendo trabalhar e ganhar seu sustento e de sua família. Pensei nele porque soube disso pela Ana de Hollanda, com quem  tocou  e que revi no lançamento do seu CD em setembro.

Pensei em Helvius porque tenho pensado muito nos músicos “da antiga”, que trabalharam a vida inteira mas não tem quem os mantenha quando a saúde lhes falta. Além da batalha diária para conseguir trabalho com música decente, à altura do talento deles, e não essa porcaria que infesta os meios de comunicação.

Pensei em Helvius, porque há mais de 30 anos venho militando no setor musical, no qual percebo a perversão que aflora nos que sentam a bunda em qualquer instância de poder, sejam entidades de classe ou poder público. É a figura histórica do traidor de classe, o capitão do mato. Essa perversão consiste em desqualificar o músicos: “são bêbados… são drogados… não se organizam… se estão nessa situação a culpa é deles…”

Não, a culpa não é deles. A culpa é de todos nós quando compactuamos com políticas públicas que financiam o empresariado e não o trabalhador. Quando não exigimos um sistema de saúde que atenda a todos e não apenas aos que tem plano de saúde. Quando não exigimos do Estado a obrigação que lhe cabe: responsabilizar-se por todos seus cidadãos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.

Mas enquanto isso não vem, tratemos de fazer do nosso modo.  Levemos adiante o projeto do baterista Teo Lima, que inspirado na Casa do Artista dos atores, vem batalhando para criarmos a CASA do MÚSICO.

Vamos nos unir para em 2010 concretizarmos essa idéia. Aí sim, teremos um feliz ano novo. “-Ouçam, meus filhos, a maravilha que esse menino faz com o piano!”

25 de dezembro
 
ANA TERRA

2 Comments:

At 8:53 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Realmente é uma pena o descaso de nossas autoriadades com o músico brasileiro, como você falou sorte a do Johnny Alf que o Serra ajudou.
Esperamos que o Helvius também consiga sair dessa. E que não aconteça outros casos assim.

 
At 12:49 AM, Blogger Luiz Antonio said...

Falas pela categoria a qual pertences. Mas sabemos que isso ocorre em varios setores profissionais. Mesmo nos de CTPS assinada, fgts e todo pacote que inclui até a troca da saúde pelos míseros 20% do salario minimo a título de insalubridade ou 30% para periculosidade. Vendemos nossa vida por 20% do salario minimo para ter mais 90 reais no fim do mês e engrossar o "rancho" da familia. No final da carreira depois de amargar desempregos , se tivermos sorte, aposentamos pelo´mínimo regional_ que nem os remédios da terceira idade pagam_ (porque vc vai precisar deles, principalmnete se vendeu a saúde pelos 20%). O estado não atende aos músicos e nem a ninguém como deveria e recebe para fazê-lo _ao cobrar as mais altas taxas tributárias e previdenciárias do mundo_ . Pobres "BRASILEIROS" que dependam do estado para ter saúde ou dignidade e do empresariado (esmagado pelo governo) mas que também age como vilão ao se limitar a fazer _como vingança_ o minimo que a Lei exige, quando na verdade a iniciativa privada deveria, como um todo _apesar de sofrer também _ contribuir o mínimo que pudesse, pois no final das contas é a única _ diante de um estado engessado e podre _ que tem o poder de fazer algo de forma mais imediata. Sou empresário e batalho mesmo para fazer alguma coisa nesse sentido. Publico ou Privado o que faz a falta maior é a presença de DEUS na vida das pessoas, é amar _de verdade_ o próximo como a si mesmo. Que mundo melhor teríamos e veríamos os "poderes" sendo desbancados pelo poder maior : O AMOR!
Ingenuidade Talvez, mas quero acreditar só pra ter razão de sonhar mais uma vez. MEU DESEJO PARA 2010: MAIS AMOR E MAIS DEUS NA VIDA DE TODO MUNDO.

 

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