domingo, novembro 22, 2009

amor


Este casal da foto está junto há 32 anos. Aliás, 32 anos era justamente a idade que tínhamos quando fomos assim fotografados no estúdio, durante as gravações do 'Feminina', em 1980.

(O casalzinho está visivelmente flutuando em nuvens. Mergulhado um no outro. Quem nunca passou por isso, sorry. É bom demais, e não acontece a toda hora.)

Leio no jornal uma matéria sobre a novidade da busca do amor romântico pelos gays, uma comunidade que, diz a lenda, não estaria nem aí para isso. Mas hoje a maioria quer encontrar um parceiro estável, casar, até mesmo constituir família. Como diz um dos entrevistados, 'ninguém aguenta mais o sexo nômade'.

Na mesma matéria, leio uma declaração que me envergonha: uma escritora, feminista das antigas, diz que o amor romântico é um retrocesso, e que "com os gays vai acontecer o que aconteceu com as mulheres, que ficavam em casa de bobes no cabelo, gordas, enquanto os maridos se viravam com as secretárias". Perdão, cara senhora, mas de que homens e de que mulheres estamos falando? Hoje, em pleno século 21, ainda existem maridos que se viram com as secretárias e deixam as infelizes esposas em casa? Pode até haver, mas as mulheres (graças aos esforços das feministas da primeira geração, justiça seja feita) há muito deixaram de ser bobas. E os homens, por sua vez, aprenderam a ser mais sensíveis - os inteligentes, pelo menos, e são esses os melhores, os que nos interessam.

O amor romântico de retrocesso não tem nada, ao contrário, é um avanço que a civilização ocidental foi conquistando desde o final do século 19. Antes disso, os casamentos eram transações comerciais entre as famílias. O século 20 raiou com a possibilidade de cada um casar oficialmente com o objeto de sua paixão, e por escolha própria. Um avanço, repito, ainda que lá pelos anos 40/50 o moralismo vigente tenha tornado mais amarga a geração de nossos pais. Mas que nossa geração, a dos jovens dos anos 60/70, se encarregou de demolir.

Lindas e exemplares foram as declarações dos gays entrevistados, todos conscientes de que fundamental é mesmo o amor, all you need is love, qualquer maneira de amor vale a pena, etc, etc,  como sabiamente proclamam as canções. Vejam o que eles dizem:

"Essas nomenclaturas (gays, lésbicas, heteros) não têm mais sentido. Todos somos 'bicho-gente', e sendo assim, podemos viver um amor romântico. Seja com quem for, da maneira que for, desde que seja amor."

"O amor jamais será fora de moda ou retrô. Ele é o ar que me alimenta."

"É importante para todo ser humano ter essa experiência, pelo menos uma vez na vida."

Na minha modesta opinião feminina, nós mulheres não precisamos mais querer ser iguais aos homens de antigamente no quesito 'relacionamentos', com seus erros e inseguranças, trocando de parceiro a toda hora e separando o amor de casa do amor da rua. O tempo de queimar os sutiãs já passou, e hoje queremos ser - apenas - tudo: criar nossos filhos e filhas (em parceria, de preferencia), ser profissionais competentes (aí sim, iguais), amar apaixonadamente (nem que seja só uma vez). 

Como, acho eu, pessoas de todos os sexos querem também.

O mundo já anda complicado demais, e o amor a dois pode ser um grande alívio nesta vida. Portanto, jogue suas mãos para o céu, e agradeça se acaso tiver um.

PS- e não é que ligo a TV e vejo Ellen de Generes e esposa mostrando o video do casamento delas no programa da Oprah? As duas de branco e tudo. Na California já é possível ser gay e botar no papel o grande amor. 

19 Comments:

At 2:11 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Bah! Vou mandar em breve meu "compêndio comentário", mas já adianto: Sem querer puxar a "brasa pro meu assado" como se costuma dizer por aqui _até porque em relação a esse assunto puxar a brasa significa "se queimar mais ainda" do que a gente já se queima quando o assunto é a sensibilidade masculina e o direito de exercê-la_ sem ser "gay".
Mas, me assumo sensível, apaixonado e em igualdade de sentimentos como qualquer mulher (melhor dizendo como qualquer ser humano cientificamente falando) e , quando começei a me dar conta disso, lá no final da adolescência, encontrei na tua música "Meio a Meio" uma tradução do que eu sentia, que cantado por uma mulher , me servia como uma "dica" de como ser feliz e fazer o outro (elas) felizes. "um dia sem medo, você meu nego, vai se liberar..." "vai ser cara a cara, vai ter muito mais barra, mais dá pra segurar", "não fuja mas de mim, esqueça a tradição, não tenha vergonha, seja o que sonha, solte essa emoção..." e cantando isso, enfrentando as tais barras, tô aqui e acredite: teve mulher que fugiu de medo (ainda bem!) Amor é TUDO Sexo TAMBÉM, os dois juntos é "miracle of love", e não pode ser previlégio apenas dos heteros, é previlégio de todos que aceitam ser livres, sem medo, principalmente MEDO DE SI MESMO.
bjos.

 
At 2:15 PM, Blogger CAIO said...

Que beleza Joyce, sou casado a 6 anos e valorizo muito isso, sempre falo a minha companheira quando ouço seus discos: "A Joyce e o Tuty são casados a um tempão, que legal né?"

 
At 2:50 PM, Blogger JoFlavio said...

Falso Brilhante -João Bosco & Aldir Blanc (letra)

O amor
É um falso brilhante
No dedo da debutante
O amor
É um disparate.
Na mala do mascate
Macacos tocam tambor.
O amor
É um mascarado:
A patada da fera
Na cara do domador.
O amor
Sempre foi o causador
Da queda da trapezista
Pelo motociclista
Do globo da morte.
O amor é de morte.
Faz a odalisca atear fogo às vestes
E o dominó beber água-raz.
O amor é demais.
Me fez pintar os cabelos,
Me fez dobrar os joelhos,
Me faz tirar coelhos
Da cartola surrada da esperança.
O amor é uma criança.
E o mesmo diante da hora fatal
O amor
Me dará forças
Pro grito de carnaval,
Pro canto do cisne,
Pra gargalhada final

 
At 12:45 AM, Blogger Paul Constantinides said...

joyce outro belo post.
estou casado ha 23 anos e mantenho uma relazao super romantica e amorosa...
acho q como dizia uma canzao do milton com o caetano (creio)...toda maneira de amor vale a pena...

eu escrevi esta letra de musica em 97 ..
o amor
(paul constantinides)
amor nao morre
simples eh o amor

amor nao veste
nao se usa o amor

amor assusta
herege eh o amor

amor eh pouco
como eh louco o amor

um amor eh feito
se perfeito o amor...

ah..coincidencia ou nao...esta postada no meu blog esta musica q o Eduardo Montagnari gravou e cantou.

abs
paulss

 
At 2:49 AM, Blogger pituco said...

joyce,

creio que amar seja um exercício diário enquanto houver vida nesse planeta...a prática nossa de cada dia...

abraçsons pacíficos

 
At 8:12 AM, Blogger Angela Spolidoro said...

É isso aí!!!!
All we need is love, doce, suave e gostoso!
valeu Joyce!
Angela

 
At 11:49 AM, Blogger Érika Fares said...

Ai mana... acordar e se deparar com um post lindo destes... com uma foto lida destas...
Tu ali, volitante, nos braços do Tuti...ai, ai... uma belezura!!!
Obrigada por isso!!!

 
At 4:09 PM, Blogger Kristi_Sundberg said...

Que foto lindo, Joyce!

Sendo uma mulher gay, estou muita comovida pelas suas palavras. No meu pais, hoje e' um dia de Acao de Gracas, e um dos muitos coisas que estou agredecida e' sabendo que uma pessoa como voce, que eu admiro tanto com uma mentora musical (mesmo que de longe), e' tambem uma pessoa tao compassivel. E uma coisa esquisita; mesmo que ainda nao compreender o Portugues e as letras muito bem, sempre encontrei o conforto em essa cancao do Milton(Paulo e Bebeto?rsrsrssss): "qualquer maneira de amor vale a pena". Sempre querei crer que foi criar pra nos gays! :-)

 
At 6:22 PM, Blogger joyce said...

Xica, o nome da música é 'Paula e Bebeto', e eu até participei do coro da gravação original do Milton. Ele tinha feito a música para um casal de namorados, uma menina e um menino, amigos dele, muito jovens. Mas o Caetano, quando fez a letra, teve essa sacada genial: "qualquer maneira de amor vale a pena". E vale mesmo, não é?
Então: a música não foi feita para os gays, mas a letra, com certeza, foi...
Happy Thanksgiving para você!

 
At 10:59 PM, Blogger Rafaela Gomes Figueiredo said...

coisa mais linda!
bem se vê; transcende a beleza - claramente - exposta na fotografia...

besos

 
At 1:12 AM, Blogger Luiz Antonio said...

Não sei como reagirei se minhas filhas se revelarem lá adiante, pois é facil falar qdo o filho é o do vizinho, mas creio que para os gays já deve ter sido muito difícil se assumirem intimamente, fazer o que lhes dava prazer entre 4 paredes porém com os olhos da culpa , da religião, da sociedade toda a espreitar pelas paredes da mente. Imagina então se assumir de mãos dadas aos beijos na rua? "Isso não!!! Pô já não basta ter feito tudo ao contrario do esperado?" Eu penso que muitos devam ter pensado ou pensam assim, então o amor ficou restrito ao privado e por isso não foi demosntrado_ e até mesmo evitado_ por não ter chances de se poder ser declarado publicamente, o que contribuiu para essa coisa de sexo nômade. A liberdade atual permitiu que eles assumissem também o amor gay. Estive num show da Martnália aqui em Poa semana passada, numa casa de shows do tipo palco e pista (sem mesas) todo mundo em pé, dançando e cantando. Tinha gente da minha idade, 46, mas muita gente de 20 e poucos quase trinta. Percebi muitos casais gays, de homems e mulheres, com discretas manifestções de carinho, abraços ou mão na cintura. Coisas que quando eu tinha esses 20 quase 30 poderia ser tomado como afronte e despertado até muita reação de pavor e medo por parte das pessoas, que seria traduzido em xingamentos e piadinhas. Eles sairam da casa de shows e seguiam pelas ruas de mãos dadas. Porém, vez que outra fico sabendo que um ou outro casal desse tipo foi apredrejado em via publica. Ficou livre pra eles demosntrarem o que sentem, mas também para receberem a reprovação da sociedade, daqueles mal resolvidos, temerosos do conteudo homossexual existente dentro de si mesmos, que se traduz publicamente e socialmente no beijo e maõs dadas na rua, entre as meninas, no tatami de judô dos meninos,nos vestiários sem divisão entre os chuveiros, mas que ao ser deparado com uma possibilidade maior de manifestação provoca medo.

 
At 9:12 AM, Blogger joyce said...

"Ter medo de amar não faz ninguém feliz"

Vinicius de Moraes

 
At 9:27 AM, Anonymous Sergio Santos said...

Joyce, que maravilha essa foto!! Não conheci vocês há 32 anos atrás, mas vendo vocês hoje, e vendo essa foto, tenho certeza que a essência do que os mantém juntos até hoje de forma tão maravilhosa já estava lá, há 32 anos atrás. Um beijo pro casal!

 
At 8:54 PM, Blogger Kristi_Sundberg said...

Obrigado Joyce, por revelar os detalhes da criação da "Paula e Bebeto". Que bom que você cantou no coro! E que bom que essas letras e musica, que existe mais do que 30 anos, ainda tem a força pra transcender as fronteiras da geografica e cultura. Como um bom casimento: tem um poder de juntar, pra perdurar, e pra trazer um balsamo pra alma.

A respeito de Ellen, sim, ela se casou na California. Mas tristemente, depois isso, uma nova lei foi promulgando que proibe qualquer casamentos entre gays no futuro(na California...tudo estado e' um pouco diferente). Por mais estranho que pareça, isso acontece no mesmo tempo que Obama foi eleito. Como nos dizemos:"Two steps forward, one step back". Mas concordo com Luiz Antonio que coisas tem melhorado muitas pelos anos(em Brasil e aqui, ele parece). As pesquisas (em E.U.A.) mostra que os jovems não são contra o casimento dos gays; mas a lei muda mais lenta do que a cultura, ne? Nossa problema em E.U.A. e' que tudo e' acontecendo em nivel do estado(pode estar um papel que e' legal em California, mas nem em Nebraska. Que e' bom se uma pessoa nunca tem que procurar um emprego em Nebraska...mas..rss).
Nos temos que ter uma lei federal, provavelmente pela Corte Suprema, porque 1) algumas estados vai nunca votar por isso (e.g. Nebraska) 2) os politicos federais não tem coragem, nem mesmo Obama, que eu creio vai nos ajudar em outras jeitos(e.g. gays nas forças armadas), mas...ele ja e' acusado de ser socialista, communista, Nazi, O Anticristo, o amigo da terrorista, etc! Horror do horrors se ele estivesse tambem um amigo dos gays, e um 'inimigo do casimento'. rsrsrsrs

Acho que o obstaculo mais grande e' não ha um senso da urgencia, mesmo entre os gays. E e' verdade. Sim, nos ainda temos experiencia do preconceito e sim, as vezes o perigo da morte se assumir num certas lugares. Mas não pode comparar dos tempos dos anos 60s(e antes), quando os blacks sofrem tantos,tantos, tantos(e hoje ainda tem um caminho longe por igualidade completa). E muitos (com razão) podem sempre ficam escondidos na multidão; vida as vezes parece muito mais facil esse jeito. E Deus sabe, com o economia, dois guerras loucas, saude, etc. o governo e o povo em geral tem muitas outras coisas que faz a cabeça rodar! Eh...talvez o Brasil vai ter casamentos dos gays antes do que E.U.A.? Isso não vai me surpreender...e quem sabe, talvez eu vou encontrar um amor brasileira um dia, nos casamos e eu vou ficar um brasileira 'da gema'! Tudo vai ser bom...rsrsrs...
Um abraço, Joyce.

 
At 8:28 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Xica, o único problema que vais ter aovir para o Brasil é que vais ter menos chances de ver a Joyce ao vivo! Aí nos EUA pelo menos uma vez ao ano isso e garantido!!!
Xica da Silva (Rainha do Tijuco, a escrava negra que virou amannte e Rainha do contratador do Rei de Portugal, Joao Fernades) já era ela um marco na sociedade colonial pelas diferenças.

 
At 2:23 PM, Anonymous Cecília Freitas said...

Já tive motivos suficientes para acreditar que o amor é um veneno medonho, mas nem por isso desisto dele, rsrs! Sou gay (ou apenas estou, quem sabe?) e realmente, pelo menos aqui em Fortaleza, é possível observar uma tendência aos amores nômades entre os gays, mas também belas famílias formadas... assim como muitos casais "héteros" servem de bom exemplo e outros não... essa história de que o amor romântico entre os gays é uma coisa atrasada deixou-me bem confusa, pois que tipo de evolução queremos? Viver relações hedonistas e instáveis significa que estamos caminhando para a frente? Acho que a única coisa retrógrada que existe é continuar alimentando a formação de estereótipos e rótulos...

 
At 6:34 AM, Blogger Unknown said...

Depois de ter passado algumas horas com vcs (Joyce e Tutty) em Calgary comecei a acreditar q relacionamentos poderiam perdurar e o q mais me abismava: com amor, muito amor! A cumplicidade de vcs é algo raro. Fiquei vidrada no casal, talvez mais do q na cantora.
Meu relacionamento ainda vai bem, obrigada!
Toda vez q o Jamie é muuito gentil, tipo: abre a porta do carro p mim eu falo: “Thanks Tutty” rs.
O Jamie é convicto ao dizer q ficaremos velhinhos juntos.
Depois da demostração de vcs eu acredito q isso é possível.
Sei q a passagem de vcs por Calgary não foi lá grandes coisas mas, pense na boa ação q o casal me fez! Até jazz, Renata Xavier

 
At 10:16 AM, Blogger joyce said...

Olá Renata... Calgary realmente foi um pouco confusa na produção, mas as outras cidades canadenses foram maravilhosas, principalmente Montreal, para onde já fomos convidados a voltar.
Obrigada e boa sorte!

 
At 11:06 PM, Blogger Lizzie Bravo said...

joyce, estou arrumando negativos e eis que me deparo com a série dessa foto, são 6. quando vi pela primeira vez aqui no blog achei que a foto era minha mas não tinha certeza. fico feliz de ter partilhado desse momento com vocês e que esteja guardado para sempre nessas imagens. gostei do texto! beijos.

 

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