quarta-feira, maio 09, 2012

Sambacana


Esta é a capa do meu primeiro disco... Minto: é a capa do disco que contém minhas primeiras gravações, na tenra idade de 16 anos. Aconteceu que um compositor mineiro, o bossanovista Pacífico Mascarenhas, queria que suas composições fossem gravadas pelo melhor grupo instrumental e pelo melhor grupo vocal do momento. O grupo instrumental, ele conseguiu: Roberto Menescal e seu conjunto, sucesso absoluto na época, com seu primeiro lançamento pela gravadora Elenco (aquele disco em que Menescal aparece vestido de mergulhador, com arpão e tudo, coisa que ele realmente era). Mas para o grupo vocal, que pela vontade do dono do disco seria Os Cariocas, a verba não foi suficiente (pelo que soubemos, ele estava bancando tudo sozinho, embora a gravadora Odeon cedesse seus estúdios para a gravação e lançasse o disco). E foi assim que Pacífico pediu a Menescal, já assumindo as funções de produtor, que organizasse um quarteto capaz de gravar suas músicas em tempo recorde.

Menescal era amigo de meu irmão, como já contei aqui em várias ocasiões. Tinha escutado uma fitinha despretensiosa, que eu gravara em casa em nosso gravadorzinho Geloso, com minhas primeiras tentativas musicais. E achou que eu estaria pronta para fazer parte desta empreitada. Fui portanto convidada para participar do disco do fictício Conjunto Sambacana - em cuja contracapa constava a fantasiosa história de "um grupo de rapazes e moças de Belo Horizonte que se reunia para fazer música". Conversa fiada: os ensaios foram lá em casa. Até a foto da capa era uma ficção, com uma imagem parcial de Marcos Valle - que não tinha nada a ver com a história, e que era facilmente reconhecível pela indefectível pulseirinha de ouro no braço direito - tirada dos arquivos da gravadora.

O quarteto vocal ficou sendo então, além de mim mesma na primeira voz, e do próprio Menescal, completado por Hedys Barroso (irmã de Sérgio Barroso, baixista do conjunto do nosso líder) e por Toninho, crooner do conjunto de baile que meu irmão tinha na época, que, por mais experiente, fazia a maioria dos solos. A mim também coube um solo na canção "Olhos Feiticeiros", que fiz com bastante empolgação, e que está hoje na seção de raridades do meu website - visto que o disco do Sambacana não está mais disponível. Mas dele não me esqueço, pois foi minha primeira vez num estúdio de verdade, além de ter sido meu primeiro trabalho remunerado. Aos 16 anos, ainda vivendo no ciclo adolescente de colégio de freiras/namoricos/praia e festinhas, foi uma experiência e tanto. Só quatro anos depois eu entraria na música para valer.

O imaginário Conjunto Sambacana ainda teria uma versão posterior, desta vez mineira de verdade, com participação dos iniciantes Milton Nascimento e Wagner Tiso. Mas isso é uma outra história.


6 Comments:

At 1:59 PM, Anonymous Baptistão said...

Ótima a história, Joyce. Esse Pacífico nem imaginava quem viria a se tornar a cantora "arranjada" para o disco dele.

 
At 10:50 PM, Blogger Fefeu said...

... E assim nasce a nossa cantora, compositora, instrumentista e estrela: Joyce Moreno.

Sempre bom ler suas histórias.

Boa noite, querida Joyce.

 
At 5:26 AM, Blogger pituco said...

joyce,

de mentirinha, apenas a estória do grupo vocal mineiro...o resto é tudo pra valer...composições, vocais e músicos...

nessa época, ou talvez posterior a isso, também venderam-se muitos cantores e compositores brasileiros com nomes e letras em inglês...o mercado, sempre inventando...truques pra sobreviver???...ou exploração???...enfim, a mentirinha do grupo vocal mineiro é até charmosa...

abrsonoros e saudosos...
ps.curioso pra ouvir as novas autorais...

 
At 3:45 PM, Blogger Fefeu said...

Oi, Joyce. Passei para desejar-lhe um Feliz dia das mães.

Que a Clara, a Ana e quem mais chegar lhe mimem bastante. Acho que o maior presente você já ganhou: o talento por elas herdado. Você deve se sentir bastante orgulhosa por isso.

Ps: continuo na contagem regressiva para o show de BH.

Um beijo imenso pra você!

 
At 10:53 AM, Blogger rogerio santos said...

Joyce, que delícia de história. História a vera da MPB.
Lembro de ter lido sobre Pacífico Mascarenhas no livro do Márcio Borges, "Os sonhos não envelhecem". Certamente (não me recordo ao certo) citando essa segunda passagem do Sambacana.

Assim como Pituco, tbm estou curioso para ouvir as novas autorais.

Abraços e bom final de semana.
Rogerio Santos (de Sampa)

 
At 4:11 PM, Anonymous Ronaldo Gazzinelli said...

Salve! .....E onde encontraremos esse disco prá comprar ou prá fazer download? Voce sabe de algum site que o tem na lista? Conhece algum link? Desde já, meu muito obrigada! Saúde e Sucesso!

 

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