a bossa agora é australiana!
Não foi por falta de aviso. É tanto o descaso com nossos bens culturais que, claro, algum espertinho registrou a marca 'bossa-nova'...na Austrália! A marca 'samba' também já teve seu registro pedido em outros países. Aguardemos para breve o choro, o forró e outros generos.
(Na foto, estou participando do concerto em homenagem a meu parceiro Carlos Lyra, quando ele recebeu o Premio Shell em 2005 _ ele que é a mais completa tradução da bossa-nova e de um Rio de Janeiro mais gentil.)
A picaretagem não vai só por aí. Ontem mesmo, em visita a minha nova sociedade autoral, encontrei vários créditos retidos em nome de Tom e Joyce (faixa 'Vai Minha Tristeza remix'), ao que fui obrigada a explicar que não, não somos eu e o Tom, e sim uma dupla de picaretas franceses fazendo-se passar por nós. E nem a música é 'Chega de Saudade' e sim um pavoroso melê em português tarzânico com aqueles ruídos eletronicos em volta. A má-fé é tamanha que sequer existe foto dos supostos Tom e Joyce na capa do CD. São artistas fantasmas, acintosamente enganando os incautos.
Mas não queria falar deste caso pessoal, que afinal só prejudica (pouco) a mim e `a família do Tom, além dos eventuais compradores desta bomba (esses, os maiores prejudicados, levando gato por lebre). Quero falar do Brasil que deixa acontecer coisas como esse absurdo registro de uma marca que é 100% brasileira _ como o nosso amazonico cupuaçu, que também foi registrado pelos japoneses. Quer dizer que terei de pedir licença aos australianos se por acaso quiser cantar bossa-nova na terra deles, ou quiçá em minha própria terra, pois não se sabe a extensão do registro? Como permitimos isso?
Se a bossa-nova já tivesse sido tombada como bem imaterial da humanidade, como a Bahia se apressou a conseguir para o samba de roda do Recôncavo Baiano, talvez isso pudesse ser evitado. Mas samba é que nem passarinho, é de quem pegar primeiro, já dizia Donga (ou terá sido Sinhô?) Portanto... perdeu, playboy.
14 Comments:
Cara Joyce,
Li com muita tristeza essa nota sobre a dupla de picaretas franceses.
Somos um grupo de franceses, fan não só de você e do seu trabalho, mas da Bossa e da MPB tambem
Deixei o recado no nosso forum, e talvez poderemos ajudar voce a descobrir quem sao eles
Cara Joyce
Alguem do grupo achou o site do seu "Tom"
http://www.myspace.com/thomasnaim
com todos os dados sobre ele.
Joyce,
parece até piada uma notícia dessa. Li no O Globo um advogado falando que os artistas podem levar isso aos tribunais e que gastaram, mas podem vencer a dispulta. Se ninguém fizer nada o Brasil vai ter pra sempre público, e não povo.
Deixa passar a dupla indignação que eu comento alguma coisa....mas acho que de tudo o pior é o tal francês _ até por tudo que já foi falado nesse blog_ a questão da "bossa" ...sabemos que Brasil (de verdade) é jogado fora diariamente por seus governantes e seu pobre (!!??) povo desassistido de cultura, é obvio que alguém que perceba o valor da riqueza que foi depositada no lixo - recolha e - ainda que de forma nada ética, e isso é o mínimo que se pode dizer pra começar a falar dessa questão - "cate" e leve pra casa pra chamar de seu. Basta ver a Amazonia. O pior ainda é ver que todo o lixo que vem lá de fora e assola nossa cultura é "by alguma coisa", ou seja, somos capazes de produzir ouro e mandamos de graça pra fora e os "formadores de opinião" compram "merda" para alimentar a mente de um povo (vítima ou assassino?)pagando altos copyrights e conseguem que esse povo de retorno ao investimento de forma líquida, certa, e abundante.
Nossa, entenderam???!!!!...acho que sim...isso é que dá falar no auge da indignação...tempestade mental...mas acho que quem ler com calma vai entender alguma coisa do que quis dizer.
Se as otoridades nao se preocupam com a Nossa Amazonia, vendem chao,deixam desmatar, acha que vao se preocupar com a Bossa Nova, coisa das "elites", coisa de americano, influencia do jazz?...
Nao se procupam com as gentes que aqui vivem(ou morrem) nos hospitais, nas ruas, nas favelas, malversando os nao sei quantos bilhoes da CPMF...
Bom parar por aqui.
Beijos e boa turne!
Oi Joyce!
Eu descobri esses Tom e Joyce picaretas. Ouvi essa música Vai minha tristeza, esperando que fosse uma musica composta por você com o Tom, mas me enganei.
Enquanto esse negócio da Bossa ser vendida é outra piada.
Eu li essa matéria que você colocou. É um absurdo o samba e a Bossa Nova serem registrados por empresas estrangeiras!
É um crime para o Brasil!
Mas será que nós brasileiros não tem culpa disso? Grande parte do Brasil, influenciado pela mídia deixou de lado esses produtos nacionais de altísisima qualidade pra gostarem de sertanejos, funks, pagodes e outras coisas que torturam a nossa cabeça.
Imaginou se na década de 50, o João Gilberto tivesse patenteado a sua famosa batida de violão? Seria mais rico que o Bill Gates! Ou o Milton Banana, que ensinou aos americanos a tocar bateria com a batida da Bossa.
Na década de 60 os americanos tentaram e quase coneguiram fazer da Bossa Nova ser música americana, até que veio o Tom Jobim e mudou tudo, misturando valsa, maracatú, baião e muito mais, deixando os americanos loucos.
Hoje em dia os ingleses inventaram a chamada New Bossa, pra eles tudo que vem de qualidade do Brasil é New Bossa, sendo Bossa Nova ou não, como você, João Donato, Os Mutantes, Trio Mocotó, Bebel Gilberto, Caetano Veloso, Marcos Valle e por aí vai.
Isso tudo é uma questão muito séria e mais uma vez fica provado a inconpetência dos brasileiros de preservar o que tem de melhor, aí vem os estrangeiros e pegam pra eles.
Beijos!
Joyce,
ma che bruta sbòrnia,vero?
logo que cheguei aqui,duas décadas atrás, ouvi muita asneira, do tipo...
'bossa-nova é norte-americana'!..rs
no princípio,eu tentava explicar...hoje em dia, a ignorar.
em casos de desinformação,como esse, disparo...
'não,a BN não é norte-americana,não.É que ela fez trânsito lá,há 50 anos atrás,e só agora tá chegando aqui'...rs
qto ao nome cupuaçu,parece-me que o registro nipônico foi revogado,numa decisão de justiça internacional.
agora,
com relação a utilização indevida dos nomes(caso do teu e Jobim),creio que muito mais do que má-fé dos artistas, seja mesmo sacanagem de produtora e gravadora.
amplexosonoros
namaste
Até a rapadura foi patenteada pelos estrangeiros. Acho realmente que nós brasileiros temos que comer menos mosca nesse sentido e entrar (infelizmente) nesse rally capitalista...
Beijos!
Realmente eh o fim do baralho...
Como tem gente picareta nesse mundo.
E paralelamente como nos somos descuidados com as nossas riquezas (todos os tipos inclusive as culturais).
Enfim...
Adoro suas musicas e as vezes dou uma passada aqui para ler seu blog.
Fui ao seu show no Yoshi's em San Francisco. Foi demais!
Um beijo
O blog fez um ano, parabéns! Mas...mera conicidência? Eu fui ver a data do primeiro post (23/10/2006) e olhem - para quem não leu - o que Joyce tinha escrito: "Começando por ela, a música: como é que a gente faz um lobby junto `a Unesco pra que a bossa-nova seja reconhecida como patrimonio imaterial da humanidade, o que de fato e de direito é _ a grande contribuição brasileira para a paz mundial? O samba de roda do Recôncavo baiano já chegou lá... Fala, ministro."
Um ano depois o ministro não falou e a bossa agora é australiana.....
Joyce
fui ontem ver você e o Tuti aqui em SP. Fiquei afim de bater um papinho contigo e o Tuti depois do show mas não pintou um clima para tal... tinha o tal tiéte querendo foto, e eu tambem, que não deixo de ser tiéte queria autografado aquele teu compacto raro.. enfim.. não deu, mas tudo bem! teremos outras oportunidades.
Resolvi então entrar no teu blog e tentar me comunicar atraves dele. Aí logo de cara essa notícia estarrecedora sobre a 'patente bossa nova' e sobre picaretas franceses... me veio na cabeça o que voce disse no show sobre seu CD lançado fora e que levará mais de um ano pra aterrisar em Pindorama, se aterrisar. Então, sei la.. mas te pergunto mesmo se voce não estabelece um tipo de relação entre esses fatos?
Não teve jeito, por exemplo, de no contrato com a gravadora para que fossem obrigados a mandar o CD pra cá, nem que fosse numero limtado de copias que fossem vendidas a 80 reais, em poucas lojas que fosse, não importa!
Bom... eu sou teu fã exatamente por sempre te achar boa cantora/compositora e álem de lindíssima. Digo isso porque sei que estou beirando uma critica ácida, o que não faz meu gênero; quando tenho criticas serias demais simplesmente guardo-as pra mim. Entende?
Sou um pesquisador / historiador da mpb (bem como do cinema nacional) há quase 10 anos. Coleciono LPs e tamb sou DJ.
Entendo a mpb (sigla que não curto muito na real) como um ente mutante e camaleônico e muito escorregadio quando se quer determinar-lhe a natureza, a apreciação critica, ou as implicações historicas.
Tenho por mim que arte é a lingua das linguas e musica a arte das artes. Então vislumbro na nossa musica uma das mais magnificas línguas que a humanidade já atingiu em termos absolutos!!
Pra mim ela teve dois grande momentos bem registrados até aqui; anos 30 e o período que foi de 64 a 74. O primeiro é Ouro né? ali estão os poderosos alicerces desse monumento gigantesco. Tempos de rádio, do inicio da fonografia... enfim.. tudo dourado e com sabor de sonho mesmo!
A segunda fase que me refiro foi quando a mpb começou a se devorar numa autofagia inacreditavelmente oswaldiana.
Bom... preciso dizer como acho que a bossa nova se encaixou, ou mal se encaixou, nessa minha perspectiva. Ao longo dos anos 40 e 50 nossa musica recebeu influencias de menores importancia, ou de mero mercado, do que a do jazz. É óbvio que o jazz trouxe muita coisa pra nossa musica porque ele determinou a musica em si! Dali pra frente só faria musica ruim quem realmente quisesse, ou se enganasse mesmo, o que não deixou de acontecer!! a partir do começo dos anos 60 temos uma infinidade de trios chatos de bossa nova! ou seja a bossa nova dos Joãos (alf, donato, gilberto, mais ou menos nessa ordem...) também se formularizou! E talvez vem daí a critica Lyriana do Influência do Jazz, muito apropriada eu diria.
Mas, volto, dizendo que a bossa foi sim dos ultimos e mais significativos surtos musicais no seio da nossa arte maior, mas pra mim ela encerrou um ciclo! genial? sim! genial!! violão de João?! maravilha! Mas daí pra achar que a bossa foi a mãezona do ciclo que se seguiria eu tenho minhas duvidas se isso foi assim tão estanque e fácil...
Pra mim, o ciclo que se seguiu, a partir de 1964 foi quando a mpb por si, tratou de demolir rotulos... e o primeiro, na minha opinião foi exatamente a bossa nova! Isso foi feito em parte por uma turma 'dissidente' do primeiro escalão da bossa que foi o pessoal do Protesto, que por sua vez tambem não consegiu escapar a um rótulo. Mas tamb não são eles exatamente o pessoal a que quero me referir.
Em 1965 Chico Feitosa gravou seu primeiro LP pelo lendario selo Forma de Roberto Quartin. Esse disco tem 'prefácio' de Millôr Fernandes que brinca que o autor teria entrado pelo cano por optar por um disco intimista ao extremo numa época de posicionamentos. Feitosa topou ser 'alienado' numa época em que isso poderia lhe custar uma crucificação! Tudo bem, pode me perguntar, e os musicos que o acompanharam no disco? sim! musicos advindos da bossa nova... mas.. eu realmente não considero o Chico 'fim de noite' Feitosa como um LP bossa novista! ele não se encaixa! Apenas pegou emprestado da bossa aquilo que ela teve de melhor, qual seja, um depuramento do musico intrumentista com uma referencia, um toque do jazz, sim! Aí vc tem la o Paulo Moura, o magnifico e saudoso Edison Machado... mas po-los como musicos bossa novistas eu acho uma fatalidade inverossimil... São musicos! intrumentistas brasileiros pombas!
O surto ou ciclo inclassificavel ou ate mesmo assumidamente desclassificavel a que estou me referindo continuou 60 a fora... Ainda em 1965 a paulista Tuca (Valenza Zagni, 1944-1978) lançava seu primeiro album de uma carreira interamente inclassificavel. Nesse primeiro album ela tratou de deglutir numa só garfada tando bossa quanto protesto... o disco chama-se Meu Eu (selo Chantecler).
E por aí vai...
O teu LP Encontro Marcado de 69 tem exatamente o cheiro desse ciclo e ali pra mim vc estava digerindo a Tropicália (entre outras bossas), o que ja vinha sendo feito desde o ano anterior (tambem com teu primeiro LP).. Mas não considero um trabalho tropicalista!!
Ta entendendo?
O grande ano desse terceiro ciclo na musica feita no brasil, na minha opinião foi mesmo 1970. Nele temos o primeiro compacto de Macalé, o LP Sagrada Familia que vc integra, o LP Obras de Edison Machado que levou a nossa musica a um nivel de spiritual jazz jamais imaginado pelos bossanovista de carteirinha... e muitos, muitos outros!
São todos artistas que fizeram questão de não se posicionar, de não se encaixar! Ou de ser fiel ao som que queriam sem exceção alguma! nem estética, nem politica... um salto pra dentro!
E, obvio, com rarissimas exceções, esses artistas 'morreram', sumiram, se mataram por parir algo tão corajoso, tão magnifico e eterno numa época tão sombria..
enfim... por aí...
te beijo com enorme carinho e respeito! abração pro Tuti..
Lucas
ps. sobre o 'samba é igual passarinho...' ja ouvi como sendo de autoria de Heitor dos Prazeres...
DOCE JOYCE,
infelizmente as coisas não param por aí... já ouvi falar que, em algumas escolas nos EUA, eles registram nos livros didáticos das crianças que a Amazônia é território deles... dos EUA... quanto a essa dupla francesa, acho que já ouvi esse "trabalho"... vi os nomes Tom e Joyce e (pelo amor de deus) quase caio para trás... tomara que eu tenha escutado o mesmo que vc, pois o mundo tem que ser pequeno para duas duplas como essa!!! E tomara que seja mesmo, porque um picareta de cada já faz um senhor estrago...
Por mais que seja uma brincadeira maldosa e despropositada o nome da dupla francesa, o que me estarreceu mesmo foi o registro da palavra "Bossa Nova" na Austrália. Aliás país que eu conheço bem e posso atestar que o material humano por lá é dos menos evoluidos no planeta. O tal "registro" é prova disso. Agora, quanto ao descaso do Brasileiro em relação a seu patrimônio cultural, todos sabemos que o problema é endêmico, ou melhor, como disse nosso querido Noel Rosa: "o samba, a prontidão e outras bossas, são nossas coisas, são coisas nossas..." e o descaso também. Lutamos esperando que as novas cabeças pensantes desse país acordem e se posicionem contra o descaso que foi instalado aqui há gerações e que muito pouco se fez para mudar. Pelo contrário, sempre se achou "lindo" o sucesso "internacional" de nossos maiores artistas, muitas vezes em claro detrimento ao próprio país e seu público. O resultado meus amigos está aí. A tarefa não é fácil, reconstruir a mentalidade de uma nação inteira, é também coisa nossa, são nossas coisas...
Na dúvida, pergunto pra quem entende!
Olha o que tava na página do BOL:
"Morre Henri Salvador, um dos inspiradores da Bossa Nova"
depois dessa manchete a reportagem fala desse tal Henri _desculpe a ignorãncia_ mas nunca tinha ouvido falar dele, até porque ele e bem "antiguinho", já era senhor quando Tom era um guri. Pois bem a reportagem segue falando dele e lá pelas tantas acrescenta:
"Considera-se que uma de suas canções, "Dans mon île" (1957), contribuiu para o nascimento da Bossa Nova, depois que músicos brasileiros a descobriram no filme "Nuits d'Europe": "Quando Jobim viu aquilo, disse: 'é o que temos que fazer, suavizar o tempo do samba e acrescentar belas melodias'", assegurava Salvador."
Pergunto, embora acredite que a resposta é um NÃO BEM REDONDO!
Isso tem algum fundamento?
Como sou muito indignado com a maneira que nossa música é tratada em nosso país fico P.. quando vejo uma afirmação dessas. Nunca falam bem de nossa música, ou melhor, nunca falam nada de nossa música e quando ela aparece numa manchete é citada como sendo um produto fruto de inspiração de uma produção estrangeira? Olha, por favor! Nada contra que seja ou não seja verdade, mas achei apelação dizer que nossa BOSSA vem de Tom ter assistido "Nuits d'Europe".
E aí Joyce? Sem comnetarios? Ou vale um parecer seu?
Beijão
LUIZ ANTONIO
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