domingo, outubro 07, 2007

rádio-cabeça

No momento, na minha rádio-cabeça, toca sem parar o lindíssimo CD 'Iô Sô', o novo do meu amigo Sérgio Santos (que aparece aqui na foto, junto comigo e com o Tutty, na visita que fizemos em Olinda a D. Selma do Côco, quando lá estivemos no Projeto Pixinguinha, em 2005). Sérgio para mim é um dos grandes compositores brasileiros da atualidade, e este seu novo trabalho é daqueles que justificam a velha frase (que infelizmente não se usa mais): 'disco é cultura'. Por isso fico feliz em que seja ele o atual ocupante da minha rádio particular.

Sempre tive música rodando na minha cabeça 24 horas por dia, o Tutty também tem, a maioria das pessoas que conheço têm também (até porque a maioria de nossos amigos é composta de músicos). A música está em mim até durante o sono _ muitas vezes acordo no meio da noite com uma canção qualquer na cabeça, durmo e acordo, e as músicas ainda estão lá. Pode ser maravilhoso, dependendo do repertório. Pode ser horrível se você não consegue mudar de disco. Foi infernal, por exemplo, numa época em que fiquei com a gravação de Blossom Dearie para 'Give Him The Oooh-La-La" por mais de um mês na cabeça, rodando sem parar. No final eu não agüentava mais, e passei um bom tempo sem poder ouvir a voz dela (que, aliás, adoro).

Pois eis que agora fico sabendo que nem todo o mundo é assim. E eu que achava que isso era o normal... Está lá no livro 'Alucinações Musicais', do neurologista britânico Oliver Sacks: músicos apresentam alterações cerebrais jamais vistas em outros profissionais. E há pessoas para quem a música não passa de um ruído, a chamada 'amusia', que deve ser uma verdadeira tortura para quem tem. São pessoas que simplesmente não percebem a música, ou mesmo não percebem certas sutilezas, como tons e semitons. Segundo o dr. Sacks, isso se dá quando parte da rede cerebral está faltando (sem querer ser maldosa, deve ter gente `a beça com esse problema por aí...)

A rádio interna que tenho em minha cabeça desde que me entendo é chamada no livro pelo nome assustador de 'alucinação musical'. Ainda bem que o dr. Sacks teve o cuidado de esclarecer que não se trata de loucura, e sim de um tipo diferente de percepção. Ele concorda com Darwin, que dizia que a música nos diferencia das outras espécies, e completa dizendo que o ser humano é o único animal que tem "a capacidade de ouvir e analisar sons complexos, com tons, semitons, ritmos, palavras".

Elementar, meu caro doutor: é isso aí, somos humanos e temos um espírito capaz de entender essa maravilha. Música é tudo. É a linguagem mais completa de todas, a arte que dispensa qualquer aparato, como imagens ou palavras, para mexer com as emoções de quem ouve. Música na cabeça é um privilégio.

PS- pois então, não percam o belo CD do Sérgio.

6 Comments:

At 6:16 PM, Blogger Cyntia Monteiro said...

Joyce, duas semana atrás não sabia quem era o Sérgio. Até raptar o cd de um amigo e me apaixonar pela voz dele. demais!
Assim que comecei a escutar pensei "aí tem o dedo (na verdade as duas mãos e a cabeça também) do Rodolfo Stroeter!". Chute certeiro... me deixou ainda mais fã e não satisfeito, toca com o 'teu' time e faz dueto com a Leila. o achei por acaso no myspace e ainda descubro você cantando "quilombola". muito bom mesmo!
Muito legal a foto de vocês com a Dona Selma! as músicas dela fizeram parte da infância de todo pernambucano como eu.
E você precisa voltar mais vezes! sentimos falta de bons shows como o seu!
Beijo,
Cyntia.

 
At 9:54 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Joyce.
Pode parecer meio cabotino ser o primeiro a comentar o seu post, mas você não tem idéia de como ficou o ego depois de lê-lo. E vindo isso de você, uma das minhas artistas prediletas, sócia fundadora do seletíssimo clube dos que sabem exercer todas as atividades que a música exige, e com maestria, eu fiquei foi prosa!!!
Quanto à rádio-cabeça, o que posso dizer é que se a minha rádio-cabeça pagasse direito autoral, você já estaria rica. O último hit-parade intra craniano é Compositor, mas a cada trabalho novo, você é frequentadora assídua do top-ten do meu play-list ( com perdão por tanta terminologia americanizada ).
Mas colocando um outro aspecto da nossa percepção diferente para a música, já que lidamos tanto com ela, eu pessoalmente tenho lutado contra um certo rigor analítico que sempre me acompanha ao ouvir música. É como se houvesse um espécie de musical-analyser-Tabajara na minha rádio cabeça, o que me dá uma profunda inveja daqueles que conseguem "só" ouvir a música, daqueles que por não terem a ferramenta analítica apenas fecham os olhos e se deliciam com o que ouvem. Eu também faço isso, mas é só despertar um pouquinho mais do interesse, que já pinta a luzinha acesa do analyzer-Tabajara. E eu sei que perco muita coisa com isso, só que ainda não descobri como desligar o aparelhinho da tomada, ter controle sobre ele, ligá-lo só quando eu quiser. Mas eu chego lá...
Obrigado pelas sua palavras. Hoje Iô tô me achando, e Iô sô eternamente grato.
Bj,
Sérgio

 
At 9:56 AM, Anonymous Anônimo said...

não sou músico, ainda que sonhasse ser um produtor como aloísio de oliveira, que foi um pássaro entre morcegos, e que chore quando vejo tanta gente boa levada a grandes equívocos pela mão de gente que se diz produtor, mas antes que me desvie do tópico, devo dizer que minha droga é a música, que escuto diariamente, religiosamente.
e também tenho minha rádio cabeça, ainda que ela não toque 24h por dia.
o terrível pra mim é quando aquele "sucesso das paradas" que a gente foge que nem diabo da cruz, mas acaba sempre escutando nem que seja um pedaço, no rádio, quando tenta achar algo que valha a pena gastar nossos ouvidos, ou na tv, mudando de canal, ou pior ainda ele inteiro, quando estamos num táxi, ônibus, um grande magazine qualquer, ou alguma loja de discos que tenha sempre uma prateleira dos 10 mais vendidos, se instala contra a minha vontade na rádio cabeça, isto é lavagem cerebral.
felizmente você é um dos meus antídotos.

 
At 7:47 PM, Blogger Clara Barreto said...

Ei Joyce,

Vc mais uma vez sempre dando as mehores dicas e fazendo os melhores e mais pertinentes comentários musicais no seu Blog. O Sérgio é maravilhoso e falo isso com muito orgulho de ser conterrânea dele e de um dia ter dividido palco com ele na "Fogueira do Divino" do Tavinho Moura. É um artista como poucos, grande compositor e grande cantor... assim como vc.

 
At 10:14 PM, Blogger Cristiane Figueirêdo said...

Cara Joyce e caros tds,

bem, eu tb tenho essa rádio-cabeça apesar de não ser música, mas gostar bastante e ter estudado um pouco.Isso já me incomodou bastante, por um lado.
No meu caso, fui pesquisar tb no conhecimento não convencional, ou diria espiritualista, ciências parapsíquicas, Psicologia Transpessoal etc.
E qd a pessoa fica com música(s)na cabeça e não exatamente nos ouvidos, isso se chama "tela mental", qd abordado por esse caminho. E pode se manifestar visualmente tb, de olhos fechados, como imagens oníricas.Isso para as linhas que acham q a mente não é o cérebro... e sim um ente a parte que "usa" o instrumento cérebro.
Já conversei com uma psicóloga e médico que são parapsíquicos e eles falaram na "tela mental".
Alguns amigos que são sensitivos tb dizem q qd isso acontece de modo incômodo eles pensam numa música diferente, para mudar a sintonia e não ficar com algo repetitivo na cabeça.
Logicamente que isso não impede de certas atividades estarem ligadas a certas áreas do cérebro.
Cara Joyce, se possível e se não for incômodo, gostaria de falar sobre isso de modo mais particular por email, já que acho delicado ainda relatar uma certa experiência no blog.Quem sabe depois.
Gostei da dica do livro, tem a ver comigo tb.
Também sou de Pernambuco e gosto da D.Selma.
Um abraço a tds,

Cristiane

 
At 2:14 PM, Blogger Aline Lisboa said...

digo e repito! por favor venha fazer um show em Aracaju-SE, precisamos de vc aqui! te adoramos!!!
grande beijo
:*

 

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