domingo, fevereiro 24, 2008

Obama in excelsis

Era uma tarde de julho de 2004 no Japão. Eu estava no hotel me preparando para sair para o Blue Note Tokyo, para o show daquela noite. Separava meu instrumento e minhas roupas, enquanto o Tutty fazia a barba, essas coisas. A televisão ligada no comício do candidato democrata John Kerry (por quem torcíamos deslavadamente, como boa parte do planeta), acontecendo ao vivo em algum lugar dos Estados Unidos. Nenhum de nós dois olhando a TV, ligados apenas no som dos discursos, meio no automático.

De repente tudo parou. Corremos para a frente da televisão para ver de quem era aquela voz contundente, que dizia coisas que não esperávamos ouvir num evento desse porte, com clareza, emoção e magnetismo. E pra nossa surpresa, a voz era de um desconhecido. Jovem! mulato! ou negro pelos padrões americanos, onde uma gota de sangue determina a raça. Quem é esse cara? de onde saiu? Tudo o que ele dizia, e não sei mais o que foi, parecia lógico, brilhante, perfeitamente encaixado no momento. Ficamos ali, hipnotizados, dizendo entre nós "esse é o cara que devia estar concorrendo". Pois bem, agora está.

Está, e periga ganhar a indicação, quiçá a presidencia. Se ganhar, Deus o proteja, sabe-se lá o que pode acontecer. Maluco nesse mundo é o que não falta. Ainda fico chapada diante dessa hipótese. Ele é um orador vistoso como poucos _ Carlos Lacerda, Fidel Castro e alguns raros me vêm `a memória. Tenho sentimentos misturados em relação a isso. Líderes carismáticos não são boa coisa. Governo bom é o que menos aparece. Uma mulher competente na presidencia da maior potência do planeta seria ótimo. Mas um negro neste posto, ainda mais brilhante assim, convenhamos, também seria sensacional. Será que ele segura a peteca? Será que daria certo? Entre o falar e o fazer, quanta distancia. Mas que possibilidade fantástica para mudar a história dos Estados Unidos e sua relação com o resto do mundo.

Mas que dá medo, dá. Olho para Obama hoje e vejo um mix de Martin Luther King com Bobby Kennedy _ e isso não é um elogio. E eis que 1968, o ano que acabou tão mal, de fato ainda não terminou, 40 anos depois. Um grande país eu espero, espero do fundo da noite chegar.

3 Comments:

At 5:39 PM, Blogger Cristiane Figueirêdo said...

Tão bem lembrado...Por que iratr´s de todos os carismas ?...
Criss

 
At 1:03 PM, Blogger Nadia said...

acho que a historia de vida dele, deve ajudá-lo a ter uma cabeça aberta e respeitosa para as diferenças. vamos ver...bjs

 
At 6:57 PM, Anonymous Anônimo said...

Joyce:
Eu estava procurando a sua discografia, queria saber se ja a tinha completa, e dei de cara com o seu blog, comecei a ler e cheguei aqui... O Obama e no momento tudo de bom e de esperancoso no orizonte politico do EU e do Mundo. Realmente seria o sonho feito realidade...
Votarei nele, sou nacionalizada americana e vivo em San Francisco, e ficarei resando pros meus Orixas que o protejam!
Na vida nada e garantido, agente tem de aproveitar enquanto dure... Estou encantada!!!!!

 

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