segunda-feira, março 22, 2010

Panamá

Santos Dumont já usava, no começo do século XX. Aqui no Brasil, mais recentemente, foi popularizado pelo Tom. Alguns bambas do samba, como o grande Monarco, também usam. E neste verão carioca foi a grande moda, desta vez também até entre algumas mulheres. De cores variadas (o que, para o meu gosto, fica meio esquisito), no verão 2010 o chapéu panamá pôde ser encontrado até nas bancas de camelô, embora os legítimos, para os realmente chiques, precisem ser importados do Equador. Pois é de lá que eles vêm, apesar do nome.

Quem gosta de usar chapéu, e parece que ainda são muitos, diz que o panamá é ideal para o verão, por ser mais fresquinho. Eu implicava um pouco com esse acessório, achava seu uso um pouquinho pretensioso. Mas implicava, na verdade, porque o panamá me parecia parte tão integrante de figuras queridas, como Tom e Monarco, que os usuários posteriores e mais jovens me davam a impressão de quererem parecer mais velhos, mais sábios, mais... chamativos, quem sabe. Como todo julgamento, provavelmente este aqui também está errado. Mas que o uso do panamá passa uma mensagem sobre a personalidade de quem usa, lá isso passa.

Em meados dos anos 1970 saí em turnê com Vinicius e Toquinho. Viajamos para a Europa, especialmente Itália e França. E em todos os shows, como era seu costume, Vina gostava de contar algumas historinhas no idioma local. O baterista da banda, Mutinho, gaúcho e sobrinho do grande Lupiscínio Rodrigues, era o feliz proprietário de um chapéu panamá pelo qual Vinicius tinha se interessado - ele que na época usava boina direto (e é bom lembrar que naquele tempo o uso do panamá ainda não havia sido adotado pelo Tom). Enfim, de tanto ouvir os elogios do poeta, Mutinho acabou lhe dando o chapéu de presente. E ainda fez um samba, intitulado "Meu Panamá", que começava assim: "eu dei pra ele/ meu panamá/ saudade dele/ me faz chorar..." Vinicius, que tinha lá suas vaidades, adorou mais ainda a história, e daí por diante, em todos os shows, fazia com que o baterista cantasse o samba que tinha composto em sua homenagem. Era um sucesso.

Quando retornamos ao Brasil fomos fazer um show em Santos, para uma plateia de universitários. E Vinicius quis contar de novo a história do chapéu, pedindo a Mutinho que cantasse o samba. Só que assim que saiu a primeira frase - "eu dei pra ele..." - dá pra imaginar o que aconteceu: quase o nosso show acabava ali mesmo, sob vaias, gritos e gargalhadas do público. O compositor e o poeta não tinham se dado conta da interpretação maliciosa que semelhante gesto de carinho poderia acarretar por aqui. 

A expressão "dar o panamá" por pouco não virou piada recorrente entre os músicos. Ainda bem que o pessoal esqueceu logo essa história.

5 Comments:

At 3:55 PM, Blogger rogerio santos said...

hahahaha...
Muito engraçada a estória...rs
Obrigado por compartilhar !

Pimenta no Canal dos outros, é refresco !! hehehe...

 
At 5:40 PM, Blogger Paul Constantinides said...

é! ainda bem mesmo q não virou piada recorrente.
mas ai esta um belo exemplo da distorção q pode ocorrer como a narração de um fato para platéias de culturas distintas.

no mais dá outro samba!
e viva o Lamartine Babo!!!

ah! este fim de semana a Folha de SP..(não sei se saiu ai no RJ) lançou uma coleção chamada Raizes da Musica Brasileira (algo assim) e no primeiro numero vieram dois cds acompanhados de lindos encartes e textos,com resumo da vida e epoca qdo viveram os compositores..
neste primeiro numero foram lançados Noel Rosa e Lamartine Babo...uma delicia de se ouvir.

 
At 6:41 PM, Blogger Luiz Antonio said...

bah...dar o panamá...significa dar o canal...que grosseria..."o que quer o que pode essa lingua!" rsrsrsrs

 
At 8:39 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Muito boa essa do Vinícius. rs
Você foi privilegiada de conviver com monstros da nossa música como Tom e Vinícius. Com certeza tem muito mais estórias bem engraçadas.
Falando nisso já li o seu livro inúmeras vezes, é maravilhoso.
Será que um dia você fará outro no mesmo estilo?
Beijos

 
At 2:32 AM, Blogger pituco said...

joyce,

a galera é maliciosa mesmo...e o vinícius nem levava jeito pro negócio dos 'panamás', não é verdade?...rs

mas a imagem que me ocorre agora é a do chapéu e palha com terno de linho branco...típico traje de gala dos srs.feudais e mencionado em algumas das nossas canções, não é isso?

valeô o relato e tê-lo compartilhado conosco aqui...

abraçsons pacíficos

 

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