terça-feira, julho 13, 2010

Paulo Moura

O tempo passa e os amigos vão indo embora. Acho que estamos ficando mais velhos, é isso.

Esta foto é da nossa temporada no Blue Note Japan em 2000, quando Paulo Moura foi meu convidado especial. Aí estão conosco Teco Cardoso, Halina Grynberg (psicanalista, mulher do Paulo), o percussionista Guello, Rodolfo Stroeter e Tutty, Faltou na foto Mauricio Carrilho, que com seu 7 cordas fazia com Paulo um set de sambas e choros. Fizemos todas as cidades do circuito Blue Note e encerramos no Kutchan Jazz Festival, numa cidadezinha nas montanhas.

A entrada de Paulo em cena nesse show era irresistível: eu tocava "Lamarca na Gafieira", parceria minha com Silvia Sangirardi, que terminava dizendo:

Num samba rodopiando
Te sigo por onde for
Com Paulo Moura arrasando
Fervendo na domingueira
Lá do Circo Voador

E enquanto eu repetia o refrão "com Paulo Moura", lá vinha ele gingando, com sua clarineta e seu chapéu, pelo meio da platéia, já tocando. Era uma loucura. Foi um dos muitos shows que fizemos juntos. Mas o mais bonito talvez tenha sido um que fizemos em 1987, eu, Paulo e Hugo Fattoruso, apenas com repertório jobiniano. Fizemos duas semanas em São Paulo no Maksoud Plaza, e depois dois concertos na Sala Cecília Meireles aqui no Rio, que superlotaram a tal ponto que tivemos que fazer espetáculos extras nas duas noites.

Esta foto é do meu casamento com Tutty, em 2001, quando decidimos, depois de 24 anos de vida em comum, botar no papel o grande amor.  Tutty resolveu que não queria casar de paletó e gravata, afinal era uma cerimonia simplezinha, aqui em casa mesmo, só para a família e alguns bons amigos. Mas faltou combinar com os convidados... Paulo, como de costume, veio tão chique que meu irmão chamou o Tutty de lado pra dizer : "cuidado, que a juíza vai pensar que o noivo é ele..."

Alguns anos depois, Paulo e Halina também se casaram no papel - e sei que nossa decisão já tinha mexido com eles desde aquela época. Só que os dois casaram em grande estilo, com festão, orquestra tocando (dançamos muito!) e Frei Betto celebrando cerimonia ecumênica - Halina judia, Paulo do candomblé _ e dizendo aos noivos uma frase da qual nos lembraremos sempre:
"Nunca se esqueçam de que marido e mulher não são parentes. Marido e mulher são amantes!"

Vamos ter saudades do nosso amigo.

10 Comments:

At 12:28 AM, Blogger pituco said...

joyce,

creio que, a boa música e as boas lembranças nunca morrem...apesar da perda, a tristeza fica menor que a saudade.

que o sr.paulo moura descanse em paz...e obrigado pela música perpetuada.

 
At 9:02 AM, Blogger Cyntia Monteiro said...

Engraçado que sempre visualizei Paulo entrando em cena quando escuto "Lamarca na Gafieira", agora eu sei que aconteceu mesmo.
A última lembrança que tenho dele é dos muitos shows do "Samba de latada" que ele fez aqui em Recife com Josildo Sá. Com aquela clarineta de acrílico inesquecível... vai deixar saudades.

 
At 9:28 AM, Blogger Érico Cordeiro said...

Joyce,
Dizem que ninguém é insubstituível.
Tenho cá minhas dúvidas e acho que o Paulo Moura pertence a essa rara estirpe de pessoas.
Felizmente, deixou-nos uma obra maravilhosa, não apenas em seus próprios discos como em dezenas de gravações ao lado de outros grandes artistas. Semana passada mesmo, eu estava ouvindo o maravilhoso "Pescador de pérolas", do Ney, onde o Paulo simplesmente arrasa.
Um monstro, um craque, um grande cidadão e um grande homem.
Prestei-lhe uma singela homenagem no JAZZ + BOSSA, há pouco mais de um mês, num post chamado "Charlie Parker na Gafieira Estudantina" (http://ericocordeiro.blogspot.com/2010/06/charlie-parker-na-gafieira-estudantina.html).
A orquestra celestial recebe em seu cast mais um músico extraordinário. Ficamos nós com a memória e o encanto de sua música.
Abraços!

 
At 9:54 AM, Blogger Paul Constantinides said...

joyce

paulo moura foi e será sempre TUDO DE BOM.

paul

 
At 12:29 PM, Blogger rogerio santos said...

Joyce...
A música tem um poder incrível - a negação daquele ditado "ninguém fica para semente"...

Esse é um caso claro de uma pessoa iluminada que ficará para semente...

Beijos,
Rogerio

 
At 10:24 AM, Anonymous Anônimo said...

Joyce, minha querida,

só fiquei sabendo da morte de Paulo Moura na manhã seguinte, quando cheguei ao trabalho. Curioso é que no caminho até lá fui justamente ouvindo no carro seu Tudo Bonito e dando repeat no Lamarca na gafieira. Os versos dedicados ao mestre foram a primeira coisa que tuitei no dia.

Aliás, queria pedir licença pra divulgar o blog que criei pra falar de música.

Estreou com homenagem ao Vinícius no dia em que se completaram 30 que o poetinha saiu de cena.

O texto de hoje fala do diálogo de compositores por meio de canções. Ultrapassando barreiras do tempo, a música torna possível um papo entre Caetano Veloso e Noel Rosa, ou Chico Buarque e Geraldo Pereira

A tua conversa com Dorival Caymmi, que sempre adoro aouvir, está lá. Contei pra todo mundo. rs.

Fica o convite para você e seus leitores visitarem, lerem, comentarem, criticarem o blog sempre que possível. Espero vocês em:

http://blogmusicadobrasil.wordpress.com/

e também no Twitter:
@musicadobrasil

Grande abraço,
Anderson Falcão.
Brasília - DF

 
At 1:32 PM, Blogger Kristi_Sundberg said...

Joyce,

Sinto muito pela sua perda do seu amigo.

Não conheço muito do Paulo Moura; a pasaigem musical do Brasil sendo tão enorme e com braças de profundidade, mas agora queria aprender.

Um abraço...

 
At 5:09 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

O Brasil perdeu mais uma vez um dos seus maiores músicos. Muito bom saber dessas histórias suas com o grande Paulo Moura.
Um cd que não consigo parar de ouvir é Paulo Moura visita Gershwin & Jobim. Sensacional.

 
At 8:51 AM, Anonymous Sergio Santos said...

Joyce.
Participei há muitos anos de um festival onde Paulo Moura era o diretor musical e escreveu um arranjo maravilhoso para uma música minha, que venceu o festival. Mas não levou: todos levamos um sonoro cano, inclusive Paulo, pois o festival não pagou a ninguém. Desde essa época, todas as vezes que estive com ele, e foram muito poucas, a sensação que tinha era de estar com um lorde, uma realeza. Essa foto dele com o Tutty me traz de novo essa sensação. Chorei quando vi o vídeo dele tocando com os amigos no hospital, antes de partir. Ali ficou evidente como a música foi a ligação dele com a vida, do início a fim. Pessoas assim ficam pra sempre.
Um beijo
Sérgio

 
At 10:06 AM, Blogger MJ FALCÃO said...

Bonita evocação. Teria gostado de conhecer Paulo Moura...
Abraço
o falcão

 

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