Paulo Moura
O tempo passa e os amigos vão indo embora. Acho que estamos ficando mais velhos, é isso.
Esta foto é da nossa temporada no Blue Note Japan em 2000, quando Paulo Moura foi meu convidado especial. Aí estão conosco Teco Cardoso, Halina Grynberg (psicanalista, mulher do Paulo), o percussionista Guello, Rodolfo Stroeter e Tutty, Faltou na foto Mauricio Carrilho, que com seu 7 cordas fazia com Paulo um set de sambas e choros. Fizemos todas as cidades do circuito Blue Note e encerramos no Kutchan Jazz Festival, numa cidadezinha nas montanhas.
A entrada de Paulo em cena nesse show era irresistível: eu tocava "Lamarca na Gafieira", parceria minha com Silvia Sangirardi, que terminava dizendo:
Num samba rodopiando
Te sigo por onde for
Com Paulo Moura arrasando
Fervendo na domingueira
Lá do Circo Voador
E enquanto eu repetia o refrão "com Paulo Moura", lá vinha ele gingando, com sua clarineta e seu chapéu, pelo meio da platéia, já tocando. Era uma loucura. Foi um dos muitos shows que fizemos juntos. Mas o mais bonito talvez tenha sido um que fizemos em 1987, eu, Paulo e Hugo Fattoruso, apenas com repertório jobiniano. Fizemos duas semanas em São Paulo no Maksoud Plaza, e depois dois concertos na Sala Cecília Meireles aqui no Rio, que superlotaram a tal ponto que tivemos que fazer espetáculos extras nas duas noites.
Esta foto é do meu casamento com Tutty, em 2001, quando decidimos, depois de 24 anos de vida em comum, botar no papel o grande amor. Tutty resolveu que não queria casar de paletó e gravata, afinal era uma cerimonia simplezinha, aqui em casa mesmo, só para a família e alguns bons amigos. Mas faltou combinar com os convidados... Paulo, como de costume, veio tão chique que meu irmão chamou o Tutty de lado pra dizer : "cuidado, que a juíza vai pensar que o noivo é ele..."
Alguns anos depois, Paulo e Halina também se casaram no papel - e sei que nossa decisão já tinha mexido com eles desde aquela época. Só que os dois casaram em grande estilo, com festão, orquestra tocando (dançamos muito!) e Frei Betto celebrando cerimonia ecumênica - Halina judia, Paulo do candomblé _ e dizendo aos noivos uma frase da qual nos lembraremos sempre:
"Nunca se esqueçam de que marido e mulher não são parentes. Marido e mulher são amantes!"
Vamos ter saudades do nosso amigo.
10 Comments:
joyce,
creio que, a boa música e as boas lembranças nunca morrem...apesar da perda, a tristeza fica menor que a saudade.
que o sr.paulo moura descanse em paz...e obrigado pela música perpetuada.
Engraçado que sempre visualizei Paulo entrando em cena quando escuto "Lamarca na Gafieira", agora eu sei que aconteceu mesmo.
A última lembrança que tenho dele é dos muitos shows do "Samba de latada" que ele fez aqui em Recife com Josildo Sá. Com aquela clarineta de acrílico inesquecível... vai deixar saudades.
Joyce,
Dizem que ninguém é insubstituível.
Tenho cá minhas dúvidas e acho que o Paulo Moura pertence a essa rara estirpe de pessoas.
Felizmente, deixou-nos uma obra maravilhosa, não apenas em seus próprios discos como em dezenas de gravações ao lado de outros grandes artistas. Semana passada mesmo, eu estava ouvindo o maravilhoso "Pescador de pérolas", do Ney, onde o Paulo simplesmente arrasa.
Um monstro, um craque, um grande cidadão e um grande homem.
Prestei-lhe uma singela homenagem no JAZZ + BOSSA, há pouco mais de um mês, num post chamado "Charlie Parker na Gafieira Estudantina" (http://ericocordeiro.blogspot.com/2010/06/charlie-parker-na-gafieira-estudantina.html).
A orquestra celestial recebe em seu cast mais um músico extraordinário. Ficamos nós com a memória e o encanto de sua música.
Abraços!
joyce
paulo moura foi e será sempre TUDO DE BOM.
paul
Joyce...
A música tem um poder incrível - a negação daquele ditado "ninguém fica para semente"...
Esse é um caso claro de uma pessoa iluminada que ficará para semente...
Beijos,
Rogerio
Joyce, minha querida,
só fiquei sabendo da morte de Paulo Moura na manhã seguinte, quando cheguei ao trabalho. Curioso é que no caminho até lá fui justamente ouvindo no carro seu Tudo Bonito e dando repeat no Lamarca na gafieira. Os versos dedicados ao mestre foram a primeira coisa que tuitei no dia.
Aliás, queria pedir licença pra divulgar o blog que criei pra falar de música.
Estreou com homenagem ao Vinícius no dia em que se completaram 30 que o poetinha saiu de cena.
O texto de hoje fala do diálogo de compositores por meio de canções. Ultrapassando barreiras do tempo, a música torna possível um papo entre Caetano Veloso e Noel Rosa, ou Chico Buarque e Geraldo Pereira
A tua conversa com Dorival Caymmi, que sempre adoro aouvir, está lá. Contei pra todo mundo. rs.
Fica o convite para você e seus leitores visitarem, lerem, comentarem, criticarem o blog sempre que possível. Espero vocês em:
http://blogmusicadobrasil.wordpress.com/
e também no Twitter:
@musicadobrasil
Grande abraço,
Anderson Falcão.
Brasília - DF
Joyce,
Sinto muito pela sua perda do seu amigo.
Não conheço muito do Paulo Moura; a pasaigem musical do Brasil sendo tão enorme e com braças de profundidade, mas agora queria aprender.
Um abraço...
O Brasil perdeu mais uma vez um dos seus maiores músicos. Muito bom saber dessas histórias suas com o grande Paulo Moura.
Um cd que não consigo parar de ouvir é Paulo Moura visita Gershwin & Jobim. Sensacional.
Joyce.
Participei há muitos anos de um festival onde Paulo Moura era o diretor musical e escreveu um arranjo maravilhoso para uma música minha, que venceu o festival. Mas não levou: todos levamos um sonoro cano, inclusive Paulo, pois o festival não pagou a ninguém. Desde essa época, todas as vezes que estive com ele, e foram muito poucas, a sensação que tinha era de estar com um lorde, uma realeza. Essa foto dele com o Tutty me traz de novo essa sensação. Chorei quando vi o vídeo dele tocando com os amigos no hospital, antes de partir. Ali ficou evidente como a música foi a ligação dele com a vida, do início a fim. Pessoas assim ficam pra sempre.
Um beijo
Sérgio
Bonita evocação. Teria gostado de conhecer Paulo Moura...
Abraço
o falcão
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