domingo, fevereiro 08, 2009

verão carioca

Sempre aconselho meus amigos de fora do Brasil a não programarem sua vinda nesta época. É quando o Rio de Janeiro vira uma caricatura de si mesmo, com todos os estereótipos se confirmando. O calor é insuportável, as praias superlotadas, as pessoas ficam mais espaçosas, barulhentas, e achar um cantinho na areia para chamar de seu é quase uma utopia. Uma praia, então, para chamar de sua, mais ainda. Praia é o grande lazer do carioca, sem dúvida. Mas de fato, quem vem sem o compromisso de cuidar não merece este prazer. O que se vê é cada vez mais gente ocupando o espaço sagrado `a beira-mar sem a mínima noção de que alguma etiqueta é possível e algumas regras de convivencia devem ser cumpridas, para que todos possam ser felizes.

Ipanema e Arpoador, nossos points queridos, onde cresceram nossas gerações _ no plural mesmo, pois estou falando desde minha mãe, na década de 40, até minhas filhas, outros 40/50 anos depois _ viraram micos absolutos, intransitáveis nos finais de semana. Copacabana já estava micada desde a minha adolescencia, com as possiveis exceções do Leme e do meu Posto Seis. Já nessa época a majestosa Princesinha, condenada por sua excessiva beleza, ficava dividida entre turistas locais de bairros distantes _ empenhados em jogar areia uns nos outros, e invariavelmente abandonando seu lixo na saída _ e turistas internacionais, com mocinhas prestimosas ao redor. O Posto Seis de então ainda era o paraíso, com sua capelinha, a colonia de pescadores, as amendoeiras e a percepção de que eu e minha turma nadávamos dentro de um cartão postal. Isso foi há mais de quatro décadas atrás, e não durou até hoje.

Indo ainda mais longe, inesquecível foi o meu primeiro reveillon em nossa recém-construída casa do Recreio, ainda no início dos anos 80. Na manhã do dia 1º, animadíssima, levei minhas crianças `a praia _ para quase em seguida fugir apavorada, depois de encarar todo o lixo da véspera, que ia de camisinhas usadas a uma (perdão) cabeça de bode, certamente resquicio de algum ritual esquisito de ano novo. Hoje, com a Linha Amarela despejando gente em toda a extensão da Zona Oeste, Barra e Recreio viraram um mafuá de churrasquinhos e pagode (ou funk) nas caixas de som (altissimo!) a céu aberto. Longe pra burro, ainda por cima... Nem pensar.

Restava o Leblon, onde, graças `a má fama de suas águas, revoltas e nem sempre muito limpas, ainda era possível se chegar numa boa. Periga não acontecer mais, a partir do momento em que deu no jornal: o novo point deste verão encontra-se justamente lá, na altura da Rainha Guilhermina. É sempre assim: inventa-se um point (nos ultimos verões, tinha sido o Coqueirão, em Ipanema), que artistas e alguns descolados passam a frequentar. Chama a atenção, a imprensa noticia, e no domingo seguinte, lá está o lugar secreto repleto de turistas acidentais. É a senha para que se procure um outro local. A praia da moda é itinerante, o que não deixa de ser bom para os moradores.

Minha mãe sempre dizia que um carioca deve escolher sua moradia em algum lugar onde possa chegar na praia a pé. Uma sábia, e com visão de futuro: achar uma vaga para estacionar no verão é missão quase impossível. Aqui onde moro, minha praia vai acabar sendo a Lagoa Rodrigo de Freitas. Pelo menos fica bem ao lado.

PS- na foto, de 2004, a praia de Ipanema sossegada, num dia de semana, bem cedo. O horário dos bebês é o melhor.

7 Comments:

At 2:53 AM, Blogger Luiz Antonio said...

Triste realidade Joyce. O Rio no verão não guarda boas lembranças pra mim. (exceto os passeios pelo Jardim Botãnico). Tudo fica mais caótico ainda e a coisa vai piorando até o carnaval quando chega a hora do "salve-se quem puder" (e do samba mesmo, pouco se tem notícias). Meu ultimo carnaval aí, e já se vão 20 anos, foi pra nunca mais repetir a dose: uma emergência gravíssima com minha vó de 76 anos e o Rio num verdadeiro caos numa noite de sexta-feira de carnaval e eu tendo que recorrer a rede pública de saúde. Brrrrrrr!
Estou escrevendo de Santa Catarina,onde passo férias desde que as meninas nasceram,e que eu defino como uma porção maravilhosa de praia cercada de argentinos por todos os lados (que para muitos deve ser pior que verão no Rio). Mas aqui ainda há espaço para ALGUMA civilidade. Agora há pouco, depois da 1 da madrugada, crianças dormindo e eu e minha mulher fomos até a beira da praia ver o luar quase cheio brilhando sobre o mar, só um portãzinho nos separa desse cenário. Temos certa segurança para aventuras como essa ainda, embora sempre com um olho no luar e outro na areia para ver quem se aproxima. Mas ainda é possivel. E durante o dia, aqui nessa praia, ainda podemos desfrutar um banho de mar com água e areia "a moda antiga" sem carro de som funkeando o sossego ou arrastões.
O Rio de Janeiro deixei para o mês julho. E mesmo sendo carioca, já são oito anos que não piso por ai. Não imagino um Rio onde eu não possa levar minha filha (de oito anos) a subir a pé pela praça XV, Cinelândia, Carioca, Lapa, Santa Tereza de bonde , depois a Glória e toda trilha do Corcovado, Boa Vista, grande parte a pé ou de bicicleta como fazia eu na minha adolescência. Dizem que o longo período sem ir até aí é o principal responsável por ese meu temor, que a coisa não é tão feia como mostram, que tudo continua lindo, mas depois que se tem filhos não dá para não pensar nisso tudo. Chorei com saudades da Guanabara, da Lagoa de águas claras... grande Beth Carvalho!

 
At 8:27 AM, Anonymous Anônimo said...

a Justiça, essa desocupada, deveria condenar todo povo sem educação (97,4%) a frequentar o Piscinão de Ramos...sairiam de lá bem mais queimados e continuariam sem educação...não tem jeito...nosso mundinho tem gente demais e a grande maioria não quer nem saber de conviver em sociedade...por isso os churrasquinhos, espetinhos, e aquela coisa horrorosa que chamam de música, aos berros...uma pena que não se façam mais cariocas como antigamente, salvo raríssimas exceções...Joyces, Doris, Jobins, Donatos, Menescais e que tais, todos cariocas, da gema ou não...onde afinal estão seus espelhos neste conturbado século XXI ???...

 
At 12:46 PM, Blogger JoFlavio said...

Passei minha infância no Leblon. Estudei no "Bons Amiguinhos" e depois no Santo Agostinho. Cada rua tinha a sua turma. A minha, Cupertino Durão, não era diferente. E eu sabia pegar "jacaré" sem tábua. Essas lembranças me fizeram voltar agora à praia na Cupertino. Claro não reencontrei ninguém. Mas a praia estava bem mais tranquila, comparada a de Ipanema (Maria Quitéria). Adorei. Fiquei até 4 da tarde e depois fechamos no Jobi. Perfeito, ainda.

 
At 10:03 AM, Anonymous Anônimo said...

Lendo e analisando todos os pontos de vista expostos por vc, diante de tamanha sensibildade que toda a filosofia da "ciência" que o Yoga traduz, acredito que esse seu desabafo esteja mais voltado para um alerta da responsabilidade social e ambiental que cada um de nós tem, perante aos lugares em que se opta embasada na liberdade de ir e vir. Não importa se é no piscinão de ramos, bacia de sepetida, arpoador, ipanema, arraial do cabo, ferradurinha (tudo em minúscula mesmo, assim como a cosnciencia de preservação ambiental de cada um que ajuda a degradar a natureza, não importando o tipo de poluição. Se é no acúmulo de lixos, rituais ou mesmo a poulição sonora (não pela qualidade da música,mas pela falta de ética e educação em obrigar o outro a ouvir o que não o agrada).
Só espero de verdade, querida, que muitos de seus fãs não tomem esse alerta como uma portinha para se acentuar idéias pré-concedituosas, generalizando o baixo poder aquisitivo tolindo assim o direito de banharem-se em águas publicas ou frequentarem lugares tão longe de casa e de suas realidades.
O que precisamos é educar nossos filhos para que a preservação seja tão constante em suas vidas,assim como os funks ou os classicos que fazem parte de seus dia-a-dia.
Lembrando: depois de um banho de sol pela manhazinha, sexta à noite dar uma relaxada terapeutica na lagoa ouvindo aquelas pérolas da música faz muito bem pra'lma, não é mesmo? Assim como quem frequenta os botecos da Lapa à madureira! ô coisa boa é saber viver.
bj grande

 
At 2:38 PM, Anonymous Anônimo said...

Sem segregação, sem separativismo....sem separação de classes...a praia é do povo, o Rio de Janeiro é do mundo.Querer ficar em lugares com poucas e selecionadas pessoas é até engraçado

 
At 1:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Sou cearense e, aqui em Fortaleza, a opção primeira de lazer também é a praia. Lendo este post, senti-me em casa (no mau sentido, infelizmente), pois aqui sofremos por motivos semelhantes. Parece que a beleza foge dos seus perseguidores, e ela pode ser completamente extinta, se não aprendermos a apreciá-la com respeito... e limites!

 
At 12:46 PM, Anonymous Anônimo said...

Joyce, infelizmente não é só no verão. Senti-me expulsa do Rio, ah.. a minha praia de copacabana era tão maravilhosa antes de empurrarem o mar para longe!
E havia frescor, pois o Sergio Dourado não tinha espigado as casas, o ar circulava. No máximo, uma ventarola.
Vim para a serra da Mantiqueira, durmo com um cobertorzinho nessa época, acordo com pássaros.
Saudades do mar? Muita. De vez em quando me iodizo!

Angela Carneiro

 

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