encontros e despedidas
Como todo o mundo, vi nos jornais e na internet a noticia do avião da Continental que caiu em Buffalo, nos Estados Unidos, no dia 12/2, matando a tripulação e todos os passageiros, inclusive dois músicos da banda de Chuck Mangione. Mas a ficha só me veio cair agora, quando recebi um email de minha amiga Jeanie Bryson: o companheiro dela, Coley, era um desses músicos.
Jeanie é uma cantora maravilhosa, da estirpe de Peggy Lee e Julie London, como Diana Krall também é. São cantoras de voz pequena, mas espertas no uso de seus recursos. Intimistas, sexies, tirando partido das palavras e dos sons, usando e abusando de um humor super-cool. No caso de Jeanie, o fato de ela ser filha de um gigante do jazz como Dizzy Gillespie não ajudou muito sua carreira. Ela sempre se manteve `a margem do nome do pai, ficando mais ligada sempre `a mãe, a poeta e letrista Connie Bryson, que teve a audácia (para uma mulher branca na década de 60) de criar sozinha uma criança resultante de um relacionamento com um músico famoso, negro e casado _ que só foi assumir a filha muito mais tarde. Jeanie, portanto, em matéria de origens, é uma espécie de Barack Obama do jazz. Se fosse brasileira, ninguém acharia nada de mais, essa mestiçagem é 100% coisa nossa; nos Estados Unidos, infelizmente, isso já não é tão comum, mesmo no ambiente livre da música.
Eu e Jeanie nos conhecemos na primeira vinda dela ao Rio, ainda nos anos 90, quando ela foi assistir a um show que eu fazia no Arpoador. Eu e Tutty a levamos a uma roda de samba no Sobrenatural, em Santa Teresa, onde ela se divertiu bastante. Daí para a frente, nunca mais perdemos contato, e tanto eu vi seus shows seguintes, quando ela voltou ao Rio, quanto ela foi me ver em NY nos meus. Fiquei feliz quando, num desses shows novaiorquinos, ela veio ao meu camarim e me apresentou seu novo marido, Coley (Coleman Mellett), um guitarrista de jazz bastante jovem e muito talentoso. Os dois estavam obviamente felizes juntos, vivendo aquela mistura de música e vida em comum que aqui em casa conhecemos muito bem, onde um alimenta o outro com idéias e sons.
Ainda no ano passado, recebi de Coley seu primeiro CD solo, que abre com uma bossa chamada 'For Joyce', composição dele dedicada a mim. Fiquei mais do que lisonjeada: quando um músico faz esse tipo de homenagem a outro músico, isso tem um significado muito especial. Como dizem os rappers: respect.
Entro agora na página dele no myspace, e lá está o 'For Joyce', com mais de 20 mil acessos. Neste momento em que escrevo, a cerimonia do seu memorial deve estar rolando lá em New Jersey, onde eles moravam. Torço para que minha amiga tenha fé e coragem numa hora dessas, e possa sacudir a poeira e dar a volta por cima. Com música e paz.
4 Comments:
Apesar dessa triste notícia, confesso que só agora, através desse post, tomei conhecimento da Jeanie Bryson. Muito menos sabia que o Dizzy tinha uma filha cantora. Vou atrás para ouvir com toda a atenção que ela merece. By the way e de pato pra ganso, as canadenses (de Montreal) Bet.E & Stef também eram desconhecidas para mim. O duo fez muito sucesso com um tipo de bossa nova jazz. O CD Day By Day, de 2002, vendeu milhares de cópias e foi nominado ao Prêmio Juno, um dos mais importantes no Canadá. E acabo de receber um CD apenas com a Bet.E, agora em disco solo, ainda no mesmo gênero que caracterizava a dupla. Apesar da pronúncia torta, ela gravou algumas músicas brasileiras, dentre elas – é a última faixa do CD -, “Feminina”, de Joyce Moreno. Se quiser, posso mandar essa gravação para qualquer e-mail que me indicar.
Joyce, parabéns pela coragem de transformar seu nome, pelos textos maravilhosos sobre maturidade e casamento, pelo equilíbrio das opiniões a respeito da vida. Gosto muito de ler suas pensatas, ouvir sua música, gosto de você, enfim. Estive conversando com seu parceiro e ídolo Johnny Alf, pessoalmente, em Santo André. O relato de minha visita ao mestre está no meu blog: ericosanjuan.blogspot.com. Se você puder me honrar com sua visita ao blog, agradeço de coração. Um abraço!
Joyce, te assistis ontem, 01/03/09, na faculdade, em sampa. amei: você está extraordinária como sempre, cantando como nunca e ccom um trio magnífico! Faça derreter as geleiras finlandesas com o mesmo arrebatamento que demonstraste ontem. Parabens e obrigado pelo show nota 1.000.
meu esposo trabalha com aviação.É responsavel pela manuntenção de sua empresa na área industrial e nos angares dos aeroportos do RJ. Ele sempre diz que sua missão é "preservar vidas" e só assina a partida de uma aeronave se passar em toda a checagem! Trabalho minucioso e que requer amor e respeito ao próximo. Trabalho de quem valoriza a vida, seja da minha querida Joyce; de cada membro da banda de Chuck Mangione, do aposentado do inss que resolveu economizar para um viajem exploradora ou da babá da madame que acompanha os filhinhos que correm pelo corredor do avião sem a menor paciência de esperarem o destino numa viajem longa! São vidas e toda vida é importante demais...seja ela enfeitada de som ou não! Preferiria que todas fossem! Ainda que seja esse desejo enorme, no futuro do pretérito...bom seria se fossem num "mais-que-perfeito"!
Bjs e excelente tour européia, como tudo de bom que faz em equipe e eu gosto muito!
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