sábado, novembro 22, 2014

Tantas coisas

 Tento escrever, mas o tempo não para. Ouço dizer que a Terra está mesmo girando mais rápido, não é maluquice minha. Assim, os dias têm menos de 24 horas, na real. Pois o eixo da Terra está ligeiramente fora de prumo. Acredito.
Então corro pra cumprir tudo o que vem pela frente. Prioridade 1: a música, novas composições nascendo e a preparação da turnê da Europa, que nos levará a 8 países em janeiro, em pleno inverno europeu. Uma fria, com certeza, mas a música certamente vai nos aquecer.

As gravações da 3ª temporada do 'Pequenos Notáveis', série que criei e apresento para a Multirio, também têm tomado muito do meu tempo. Nas fotos, estou (com o querido Alfredo Del Penho) homenageando - bem na semana da consciência negra - o grande Paulo da Portela, um super-herói do samba. Já gravamos os programas sobre Chiquinha Gonzaga e Mário Lago, ambos parceiros póstumos que a vida me deu. Essa série continua linda, e que pena que esteja restrita às escolas municipais do Rio e ao canal da Multirio na NET. O Brasil precisava e merecia ver isso...

Mas não há de ser nada. Em janeiro, finalmente,  sai aqui no Brasil, via Biscoito Fino, o "Rio", meu CD dedicado à minha cidade. Ao mesmíssimo tempo, estaremos fazendo a turnê de lançamento do "Raiz" na Europa. Vida boa, vida maluca. Não posso reclamar. Adoro essas encrencas. Música, música, música. A vida é isso, e os amores da vida da gente. Não precisa mais nada.

PS- foto 1, by Myriam Vilas Boas; fotos 2 e 3, de Alberto Jacob Filho.


segunda-feira, novembro 03, 2014

Um tempo em que se morria por isso

Esta foto é de um tempo em que se morria por isso. E tem uns malucos pedindo a volta dos militares, tem doido pra tudo. Santa ignorância.
Quer saber como era viver numa ditadura militar? Era mais ou menos assim:

Ter suas músicas censuradas. Ter de mandar seu trabalho, depois de tudo pronto, para o crivo dos censores, podendo ser aprovado ou não. Só poder trabalhar com a famigerada 'carteira de censura', permissão dada (ou não) aos artistas pela Polícia Federal.

Ter de pagar uma taxa de mil dólares para poder viajar ao exterior - chamava-se 'depósito compulsório', nós aqui em casa chegamos a pagar por isso, para que minha enteada, filha do Tutty, pudesse ser devolvida à mãe, que morava nos Estados Unidos. E por falar nisso, ter sua enteada/filha de quatro anos presa no Galeão pela polícia política, por estar sendo trazida de NY até você por um casal amigo (os queridos Ana Arruda e Antonio Callado) que estava na lista negra. Ao chegar em casa, depois de horas de sufoco, a criança tendo sido finalmente libertada pelo esforço de um advogado amigo, ver que a maior parte dos brinquedos que ela trazia tinha sido desmontada pelos policiais do DOPS, para ver se continham alguma mensagem subversiva dentro.

Estar sempre falando por códigos ao telefone, pois sua linha podia estar grampeada, e vai saber o que os hômi poderiam achar da sua conversa. Vai que saísse algum comentário crítico...

Ter amigos e parentes assassinados e/ou desaparecidos. A pessoa podendo ser presa, torturada, morta, ou forçada a ir para o exílio, se fosse marcada pelos hômi. Ou se fosse chamada para um depoimento e não convencesse, como  aconteceu com um garoto, totalmente inocente, vizinho de minha prima, que era a cara de um ex-líder estudantil que estava sendo procurado. Ou como aconteceu com nosso amigo, e grande pianista, Tenório Júnior, preso, torturado e morto (por um engano desses!) pela polícia política argentina, com a conivência da polícia política brasileira.

Ter amigos exilados, ou "banidos' - banido era pior, pois queria dizer forever - o que finalmente não se deu, pois estes, com a anistia, finalmente puderam voltar. Mas até que isso acontecesse, imagine o desespero das famílias e a dor dos exilados.

Ter amigos presos e exilados por incomodarem a 'família brasileira' e os bons costumes, como Caetano e Gil.

Ter notícias da corrupção em Brasília apenas pelo boca-a-boca, pois na imprensa não era possível, e o tempo estava sempre com 'nuvens negras e ar irrespirável', como escreveu o gênio (e meu professor na PUC) Alberto Dines na manchete do JB, no dia do famigerado AI-5.

Malucos pedindo intervenção militar - nem os militares querem isso. Vocês só podem estar brincando.