terça-feira, maio 27, 2014

Torquato Neto, parte 2





segunda-feira, maio 26, 2014

Eu e Torquato

             "Torquato, que não era baiano, e sim piauiense, morava numa casinha de vila, no pé da ladeira dos Tabajaras, em Copacabana: uma casa simples de casal jovem, com posters e coisinhas penduradas na parede, almofadas pelo chão."

Assim começava no meu livro, 'Fotografei Você na Minha Rolleiflex', o capítulo em que falo dos amigos tropicalistas. Não à toa comecei por Torquato Neto: foi na casa dele que conheci Caetano, Bethania e Gal, levada por amigos comuns. Ainda não eram propriamente famosos, os baianos, mas já sabiam muito bem o que queriam fazer - embora a revolução estética a que iriam se atirar ainda não tivesse de fato começado. Isso aconteceu nos idos de 1967, quando eu ainda nem abraçara a música como profissão. Nesse dia também cantei e toquei um pouquinho, o que levou Caetano a comentar que eu era "muito musical e parecida com a Jean Shrimpton" - esta, uma top model inglesa da época (o primeiro comentário me interessou muito, o segundo, nem tanto). Cheguei em casa já de manhã, e encontrei minha mãe furiosa. Por causa dessa noite, cheia de música e de novos amigos, fui terminantemente proibida de trabalhar numa peça de teatro amador, na qual eu já me comprometera a ser assistente de direção musical. Obedeci, mas por pouco tempo: a música já me chamava, e não havia mais como evitar esse envolvimento.

E assim foi que comecei a ver todos eles de tempos em tempos, almoços na casa de Bethania, encontros com Caetano e os outros no Solar da Fossa, enfim, o tempo foi passando e acabei fazendo parte do círculo. Torquato era letrista, poeta, já era casado, tinha uma vida um pouco diferente (pois não era artista de palco), mas foi fundamental na grande virada da Tropicália - e depois que Caetano e Gil tiveram de ir para o exílio, foi um importante  parceiro de Jards Macalé naquele disco histórico de 1972 (ou 1973? não sei mais).

Tudo isso para contar que de repente, agorinha mesmo, me apareceu um poema que Torquato havia escrito e dedicado para Ronaldo Bastos, e que Ronaldo, inspirado por uma entrevista que deu para um documentário sobre o amigo, resolveu publicar na rede social. Todo o mundo que leu, achou que o poema era uma música pronta, com suas rimas, seu ritmo próprio - e entre os que se propuseram a musicar, fui eu a feliz escolhida. Não só por ter sido próxima de ambos naquele ano crucial de 1969, quando o poema foi feito em Paris, mas porque o próprio Torquato - e isso eu não sabia - havia deixado por escrito uma vontade de fazer parceria musical comigo: "rancho com Joyce", estava escrito num de seus papéis que Marcus Fernando, um dos diretores do doc, encontrou em Teresina.

Pois bem, a canção saiu de cara, jorrou, fluiu, por assim dizer. E eis que eu e meu amigo Torquato agora somos finalmente parceiros, 40 anos depois dele ter partido deste planeta. 

A vida é doida mesmo.


quinta-feira, maio 15, 2014

Prêmio da Música Brasileira, 2ª parte

E lá estava eu no telão do Theatro Municipal do RJ, mais uma indicada ao prestigioso prêmio. Na minha categoria (melhor CD de MPB) concorriam Vitor Ramil e Edu Lobo (que, previsivelmente, ganhou, com o CD de revisão de carreira que celebra seus 70 anos com a Metropole Orkest). Premiação é assim: você ganha ou perde ou, mais raramente, empata. Se a gente sabe que é assim, por que se chatear se o resultado não for o que se quer? Se fosse pra todo o mundo ganhar, não seria uma premiação. Por isso não entendi as reclamações em redes sociais de alguns colegas que estavam indicados e não foram os escolhidos. Está até na bíblia: são muitos os chamados, etc. Somos adultos ou não?

Como fui vacinada contra esse tipo de aborrecimento desde a época dos festivais da canção, pude apreciar, me divertir, abraçar e aplaudir os colegas, e ficar muito feliz com tudo. Esse tipo de evento - ao qual já compareci com algum estranhamento em anos anteriores, devido a uma certa tensão que parecia estar no ar de um modo geral -  hoje em dia serve para reunir a classe, reencontrar amigos, rir um pouco, rever as pessoas. E me parece que a maioria já se deu conta disso, pois, com poucas exceções, neste ano o pessoal estava mais relaxado e feliz. Ainda bem.

Somos todos ótimos - mas diferentes, graças a Deus. E um prêmio, como eu mesma já disse aqui, não pode ser tomado como juízo de valor, justamente por isso. Fazemos música neste país maluco, e vivemos dela e por ela. Só por isso, já somos todos vitoriosos.


quinta-feira, maio 01, 2014

Amor, Estúdios e Fórmula 1

Já faz muito tempo, eram ainda os anos 1980... 

Minhas filhas Clara  e Ana  eram regularmente chamadas para cantar em gravações que tivessem coros infantis, que na época eram moda - outras pequenas futuras cantoras, como Marya Bravo e Muiza Adnet, também participavam. Gravaram muito, em discos de gente como Egberto Gismonti, Gonzaguinha, Dona Ivone Lara, Milton Nascimento, João Nogueira... Sem falar nos explicitamente infantis, como Balão Mágico e o Trapalhão Mussum. Com isso, minhas meninas compravam as próprias roupas, e o resto ia para a poupança de uma sonhada viagem à Disney, que finalmente elas fizeram. Só uma vez isso mudou: quando as duas, de comum acordo, juntaram seus cachês de uma gravação para dar de presente ao Tutty (que era fã do iniciante Ayrton Senna e do já campeão Nelson Piquet) um ingresso para ver os dois correrem no Autódromo de Jacarepaguá, na época ainda palco da Fórmula 1. 

Hoje fazem 20 anos da morte trágica do Senna, e essa história me veio de novo à lembrança. Foi um gesto bonito, meninas.


PS - foto de Lizzie Bravo, feita em 1976, na entrada do nosso prédio, no Jardim Botânico..