boas lembranças
E partiu ontem, depois de um período bastante sofrido, nosso querido amigo Helvius Vilela. Um grande músico, como todos que conhecem MPB sabem, mas também uma das pessoas mais engraçadas e divertidas que já passaram pela Terra. Se estivesse começando hoje, ele poderia tranquilamente fazer uma carreira paralela de stand-up comedian, pois era insuperável como contador de piadas. Num show do Milton, lá pelos idos de 1969, tempos pré-Som Imaginário, havia inclusive um momento em que a música parava para que Helvius contasse algumas das suas. A platéia adorava todas.
Lembro também dele tocando comigo no Teatro Ipanema, em 1978, quando teve de sair às pressas logo que o show terminou, sem voltar nem para o bis: estava nascendo sua primeira filha. Ele estava nervosíssimo durante o espetáculo, e eu brinquei: 'tem algum médico na platéia?' (para ele, claro) E não é que tinha mesmo, e de repente um cidadão de maleta sobe ao palco? Morri de vergonha pela brincadeira fora de hora.
Na foto acima, uma lembrança de juventude. O ano era 1970 e estávamos todos no México, divididos em dois grupos: o Vox Populi, com Helvius, Novelli, Fernando Leporace, Luiz Fernando Werneck e outros, e nosso grupo Sagrada Família, liderado por Luizinho Eça, do qual fazíamos parte, entre outros, eu, Mauricio Maestro, Nelson Angelo, Naná Vasconcelos, Ion Muniz, Claudio Roditi... João Gilberto estava morando na Cidade do México e era habitué do nosso hotel. Chegava de madrugada, sempre depois que nosso show no Camino Real já tinha terminado, para fazer um som, jogar pôquer e outras atividades menos recomendadas (coisa que posteriormente ele faria no Rio com os Novos Baianos). Nosso líder morria de ciúmes, pois éramos todos muito jovens e ele achava que João estava 'desencaminhando a banda' - logo quem? Luizinho, que de santo não tinha nada.
Pois nesse dia, desencaminhou mesmo. Aí estão, na foto tirada num parque de diversões em Xoximilco: na ponta direita, Helvius Vilela; na esquerda, Maurício Maestro; em pé, Novelli. E ao centro... João Gilberto e sua eterna calça de tergal. Ele tinha passado no hotel com seu carro, pegou parte da banda e só devolveu três dias depois. Fizemos o show com o grupo incompleto durante esses dias, e Luizinho deu uma bronca bem dada no desencaminhador de músicos, quando retornaram ao Camino Real.
Boas lembranças, das quais nosso divertido amigo Helvius Vilela foi parte integrante. Que seja bem recebido onde estiver.