sábado, janeiro 30, 2010

boas lembranças

E partiu ontem, depois de um período bastante sofrido, nosso querido amigo Helvius Vilela. Um grande músico, como todos que conhecem MPB sabem, mas também uma das pessoas mais engraçadas e divertidas que já passaram pela Terra. Se estivesse começando hoje, ele poderia tranquilamente fazer uma carreira paralela de stand-up comedian, pois era insuperável como contador de piadas. Num show do Milton, lá pelos idos de 1969, tempos pré-Som Imaginário, havia inclusive um momento em que a música parava para que Helvius contasse algumas das suas. A platéia adorava todas.

Lembro também dele tocando comigo no Teatro Ipanema, em 1978, quando teve de sair às pressas logo que o show terminou, sem voltar nem para o bis: estava nascendo sua primeira filha. Ele estava nervosíssimo durante o espetáculo, e eu brinquei: 'tem algum médico na platéia?' (para ele, claro) E não é que tinha mesmo, e de repente um cidadão de maleta sobe ao palco? Morri de vergonha pela brincadeira fora de hora.

Na foto acima, uma lembrança de juventude. O ano era 1970 e estávamos todos no México, divididos em dois grupos: o Vox Populi, com Helvius, Novelli, Fernando Leporace, Luiz Fernando Werneck e outros, e nosso grupo Sagrada Família, liderado por Luizinho Eça, do qual fazíamos parte, entre outros, eu, Mauricio Maestro, Nelson Angelo, Naná Vasconcelos, Ion Muniz, Claudio Roditi... João Gilberto estava morando na Cidade do México e era habitué do nosso hotel. Chegava de madrugada, sempre depois que nosso show no Camino Real já tinha terminado, para fazer um som, jogar pôquer e outras atividades menos recomendadas (coisa que posteriormente ele faria no Rio com os Novos Baianos). Nosso líder morria de ciúmes, pois éramos todos muito jovens e ele achava que João estava 'desencaminhando a banda' - logo quem? Luizinho, que de santo não tinha nada.

Pois nesse dia, desencaminhou mesmo. Aí estão, na foto tirada num parque de diversões em Xoximilco: na ponta direita, Helvius Vilela; na esquerda, Maurício Maestro; em pé, Novelli. E ao centro... João Gilberto e sua eterna calça de tergal. Ele tinha passado no hotel com seu carro, pegou parte da banda e só devolveu três dias depois. Fizemos o show com o grupo incompleto durante esses dias, e Luizinho deu uma bronca bem dada no desencaminhador de músicos, quando retornaram ao Camino Real.

Boas lembranças, das quais nosso divertido amigo Helvius Vilela foi parte integrante. Que seja bem recebido onde estiver.


sexta-feira, janeiro 29, 2010

aviso aos navegantes

Infelizmente, por confusões operacionais da própria casa, foi preciso cancelar a temporada de fevereiro no Tom Jazz. Mas o 'anivershow', como disse o Sérgio, está confirmadíssimo, e vai ser ótimo!


terça-feira, janeiro 26, 2010

celebrando

Todo ano a gente faz aniversário, pro bem ou pro mal. O tempo vai passando, ganhamos uma nova idade e nos tornamos mais experientes e interessantes por dentro, embora o lado de fora nem sempre acompanhe. Nesta foto aí de cima está meu aniversário de 2008, passado em cima do palco (cobertura quase completa aqui mesmo no blog - é só procurar o início de fevereiro/2008, que a festa está lá...) Ao meu lado, tocando comigo, Hélio Alves, Jorge Helder e, claro, quem mais? o Tutty. Bom demais, amigos de montão na platéia, uma delícia.

Foi um aniversário tão prazeroso que prometi a mim mesma tentar passar todos os seguintes da mesma maneira. Ano passado conseguimos fazer isso na mesma semana, pelo menos. Foi um showzinho na Modern Sound, com Mauricio Maestro no baixo e participações amigas de Roberto Menescal e Zé Renato. O momento não me inspirava grandes comemorações, pois estávamos saindo de um baita susto com a saúde do Tutty - que, graças a Deus, ficou no susto mesmo - embora hoje em dia, depois desse evento, eu ache que temos de comemorar tudo o tempo todo, diariamente. 

(Aliás eu já estava achando isso antes: logo depois que tive uma apendicite que me tirou do elenco da Sinfonia do Rio de Janeiro, em 2006, comecei a desconfiar que comemorações e encontros são bons pra saúde, e assim que saí do hospital (justamente no meu aniversário) fizemos um almoço entre amigos aqui em casa.)

Este ano - sem maiores problemas a exorcizar, mas pelo infinito prazer que nos dá a música - estaremos em SP, no Tom Jazz, fazendo o repertório do Slow Music com nossos amigos André Mehmari e Rodolfo Stroeter. A perspectiva é de muita diversão e muito som. Que seja esse o melhor presságio para 2010!


quarta-feira, janeiro 20, 2010

convite

Ela começou de mansinho, mineiramente discreta, e agora, cada vez mais, está se revelando uma verdadeira artista da fotografia, com seu olho mágico que captura o momento na fração de segundo exata, como só os grandes conseguem. E como um grande sempre reconhece outro, neste convite está presente o texto de ninguém menos que o mestre Walter Firmo, abençoando Myriam Villas Boas:

"Então, ao sair do meu cofre-forte do ego de todo artista, marejo com um certo olhar, sem inveja ou ciúmes, um preamar encantado com o jeito mineiro sutil dessa moça batizada com o nome de Myriam Villas Boas, que fotografa estes personagens descobertos em uma oração crioula, trazida pela religiosidade de negros congadeiros numa celebração de fé, em honra a Nossa Senhora do Rosário e aos santos pretos."
                                          Walter Firmo

A exposição da Myriam será em Brasília, detalhes acima. Quem estiver por lá e puder comparecer, é imperdível, Quem não puder, fique como eu, esperando que se transforme em livro muito em breve.

PS- "Cofre-forte do ego de todo artista" é uma generosa definição para aquela egocentria mais ou menos latente em cada um de nós. Grande Walter!



domingo, janeiro 17, 2010

quem conta um conto aumenta um ponto

Lendo com algum atraso a interessante biografia de Wilson Simonal, escrita pelo jornalista Ricardo Alexandre, qual não foi a minha surpresa ao me ver citada num texto que postei aqui no blog sobre o filme 'Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei'. Diz o jornalista: "A cantora Joyce Moreno confessou (?) em seu blog que seu grande temor (?) era o de que a simonalmania acabasse por ressuscitar a pilantragem (...) Algumas semanas depois, Ed Motta anunciou a materialização dos piores pesadelos de Joyce (???) Seu próximo álbum, ''Piquenique' (...) traria uma faixa chamada "A Turma da Pilantragem", com a participação de Maria Rita, filha de Elis" (ele esqueceu de citar o pai dela, o grande arquiteto musical do Som Três)

Quem dera meus piores pesadelos fossem tão simples como uma gravação de Ed Motta em tributo à pilantragem. A vida seria bem mais fácil. Também não posso deixar de dizer que o fato de eu não gostar particularmente de algum gênero musical não me impede de reconhecer o valor de quem faz. No caso da pilantragem, por exemplo, as músicas, quase sempre bobinhas, vinham, como falei no post em questão, embrulhadas para presente pela mão de grande músicos, como César Mariano, Erlon Chaves e o próprio Simonal. Isso é inegável. Meu post foi, portanto, mal lido ou mal interpretado, mas está aqui no blog para quem quiser rever.

Já tive discussões sérias com pessoas queridas por coisas assim, e posso recordar precisamente uma que aconteceu aqui em casa, anos atrás, com uma amiga, grande instrumentista de choro e bastante "xiita" em suas posições, quando defendi uma figura do rock brasileiro. Ela sabe, e todos os que me conhecem sabem, que não sou particularmente fã do gênero ou dos artistas que o fazem - mas defendo-lhes até o fim do mundo o direito de fazê-lo. Por isso a discussão acalorada com minha amiga, que quase nos custou a amizade (felizmente ela caiu em si no dia seguinte e me ligou fazendo as pazes). A democracia começa pelo reconhecimento do direito de cada um se expressar como achar melhor, e isso vale para tudo na vida.

Também já me aconteceu de uma certa participação minha, mesmo como coadjuvante, em alguns momentos da vida privada da música brasileira, ser contada de maneira torta e ficar por isso mesmo. No livro de meu mui querido amigo Nelson Motta, 'Noites Tropicais', quando ele descreve o começo do seu namoro com Elis, no início dos anos 1970, eu estou lá no terraço da casa dela, participando de uma roda de música e mescalina com os dois e mais o meu 'namorado'. Não foi bem assim: não só havia muito mais gente presente na reunião, como na data em questão eu estava grávida da minha primeira filha, e não seria irresponsável a ponto de usar alguma droga, beber, fumar ou lá o que fosse. Quando os folguedos lisérgicos começaram a rolar - mescalina, LSD, sei lá o que o pessoal estava usando - comecei a ficar entediada e com sono. Elis muito gentilmente me ofereceu o quarto dela e ficamos lá dormindo, eu e minha adiantada barriga. Acordei com o sol já alto, subi para o terraço e lá estavam meus dois amigos compartilhando uma manta, com cara de quem fez ou vai fazer alguma travessura (os dois eram casados com outras pessoas). No que pedi um táxi e fui pra casa rapidinho.

Quando o livro do Nelsinho saiu, contando a história do jeito que ele lembrava, não dei muita atenção, pois achei que era um pequeno erro que logo, logo seria esquecido. Engano meu. O livro foi (ainda é) um best-seller, e na reedição da biografia de Elis, escrita por Regina Echeverria, a parte da festinha lisérgica contada por ele foi reproduzida, ipsis litteris. Azar o meu, que não me manifestei enquanto era tempo.

Portanto, lição aprendida, estou eu cá me manifestando quanto aos meus piores pesadelos, que passam longe de qualquer gravação de qualquer colega, em qualquer estilo e em qualquer tempo. Que fique aqui registrado.

PS- E vejam como o Lan nos via, em 1967...


sábado, janeiro 16, 2010

feliz ano velho

A gente sabe que a vida recomeça todos os dias, um dia de cada vez, como dizem aqueles programas de ajuda. Todo dia o tempo faz tudo sempre igual, e o ano recomeça exatamente um ano depois de ter começado no ano passado, com exceção dos anos bissextos. Fazemos promessas, planos, programações e agendas. E depois a vida vai lá e muda tudinho, e não há nada a fazer a não ser nos adaptarmos ao inesperado que nos fez alguma surpresa.

Mas há coisas que não mudam nunca, e essas são quase previsíveis. A humanidade continua achando que está por aqui a passeio e com direito a aproveitar incondicionalmente este belo parque de diversões que nos foi dado. E assim desmatamos encostas, gastamos recursos naturais, sujamos o planeta e deixamos que tudo fique como está para não termos o trabalho de corrigir.

Este foi um ano que não começou com bons presságios. Tragédias ambientais no Rio, em SP, no Rio Grande do Sul, chuvas, desabamentos, enchentes. Enquanto isso, frio polar na Europa Ocidental. E agora o Haiti.

O Haiti não é aqui, graças a Deus. Já ultrapassamos essa fase, aparentemente, mas o furacão Katrina está lá mesmo, no passado recente, para nos lembrar que nenhuma nação do mundo está imune a desastres - e o que é pior, à perda da humanidade, que faz com que se roube, ataque e saqueie os próprios companheiros de tragédia. O Haiti foi ali em New Orleans, e não faz tanto tempo assim.

Penso no Haiti, rezo pelo Haiti. Um terremoto não se evita, mas se prevê. Que se preveja com mais precisão, é o que esperamos. Em todo lugar.


sexta-feira, janeiro 08, 2010

nadar no mar é muito bom


Hoje de manhã Ipanema era só felicidade. O mar quando quebra na praia é bonito. Estar dentro dele refaz a alma, limpa a gente por dentro e por fora. Nasci e fui criada à beira-mar e tenho síndrome de abstinência quando o mar me falta.

Minha alma canta. Que amor, que sonhos, que flores naquelas tardes fagueiras. As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental. 

Estou, naturalmente, falando de praias e cidades.