segunda-feira, novembro 24, 2008

música em família

Aí está minha filha Clara, gravando seu novo CD na boa companhia de João Donato e Orlandivo. Será um disco que privilegia o chamado 'sambalanço', e por isso mesmo ela os convidou e gravou músicas dos dois. Claro que acabei envolvida na produção, e temos trabalhado direto nesse projeto, previsto para sair no início do ano que vem em Londres, e seis meses depois, tudo correndo bem, sairá também por aqui.

Donato já é praticamente da família, pois além de sermos parceiros e termos gravado juntos um CD inteiro (e participado de projetos um do outro inúmeras vezes), Tutty também já tocou e gravou com ele desde os longínquos anos 70, e João participou também do primeiro CD de minha outra filha cantora, Ana. Dessa vez ele está no CD da Clara, e pelo visto o próximo passo será convidá-lo para padrinho de algum neto ou coisa parecida. Ele mais a Ivone, claro.

Ontem `a noite ele tocou no Mistura Fina, e depois fiquei sabendo que as duas, Clara e Ana, que estavam juntas na platéia, atacaram de 'donatetes', fazendo coro pra ele em 'Bananeira'. Deve ter sido uma noite divertida, perdi essa. Mas ele que me aguarde, outras virão.


terça-feira, novembro 11, 2008

música de tempos atrás

Esta é uma foto feita em 1976 (por Lizzie Bravo), quando eu e meu parceiro Mauricio Maestro recém-voltávamos de uma temporada em Paris. Tínhamos gravado lá um disco com nosso amigo Naná Vasconcelos, que na época morava na França, e estávamos prontos para novas aventuras, que de fato aconteceriam no ano seguinte. Este disco _ esta fita, melhor dizendo _ acabou servindo como demo para que o maestro alemão Claus Ogerman conhecesse nossa música, o que faria com que no ano seguinte (1977) ele produzisse um disco nosso em Nova York.

Em 1978 (data desta outra foto) eu já era uma criança de 30 anos, mãe de duas meninas e autora de algumas músicas que dois anos depois ficariam conhecidas aqui no Brasil, como 'Clareana', 'Feminina', 'Mistérios' e outras. Estava voltando da temporada novaiorquina e da gravação com Claus Ogerman, que acabou nunca sendo lançada, mas que ainda guardo comigo como relíquia _ a deslumbrante orquestra arranjada e regida por ele, as participações de Michael Brecker, Joe Farrell, Buster Williams, todos tocando nestas sessões (que por um triz não tiveram a participação de meu ídolo Bill Evans). Foi a minha experiencia inaugural com o chamado sonho americano. Muito legal, mas não foi possível. Voltei correndo pro Brasil quando minha filha mais velha, então com 6 anos, que eu deixara aos cuidados de minha mãe, adoeceu e precisou de mim. Nessas horas, não tem sonho americano que compense.

A intenção de Claus era lançar este disco (que se chamaria 'Natureza') naquele momento mesmo, mas era um projeto caro e as gravadoras americanas insistiam em que eu voltasse para regravar tudo em inglês. Eu estava recém-casada com o Tutty e acabara de engravidar da terceira filha. As promessas eram vagas e acabei ficando. O disco por fim nunca foi lançado, e o sonho americano ficou pra outra ocasião. Como a vida tem sempre razão, acabou sendo melhor assim.

Mas o projeto lá do alto (com Mauricio e Naná, Paris, 1976) estará sendo lançado agora (por enquanto, apenas na Europa), mais de 30 anos depois, pela Far Out Recordings, de Londres. Nunca esperaríamos que esse lançamento tardio acontecesse. Portanto, não será demais esperar que um belo dia nosso amigo Claus se sensibilize e tope liberar o projeto gravado em 1977. Quem sabe? Enquanto há vida, há esperança.


sábado, novembro 08, 2008

America, the beautiful

Como quase todo o mundo (ou pelo menos, quase todo o mundo que eu conheço), fiquei feliz e orgulhosa pela bela vitória de Barack Obama para a presidencia dos Estados Unidos. Não dá para não pensar na magnitude deste evento. Confesso que chorei um pouquinho (mas quase todo o mundo também), e admito que essa vitória me custará um esforço extra _ é mais alguém para incluir nas minhas preces diárias, junto com a minha família, meu bairro, minha cidade, meu país. Eu e quase todo o mundo tememos pela segurança dele, ainda mais tendo lido que a venda de armas triplicou por lá desde que ele ganhou esta eleição. Tomara que o pessoal da CIA e do FBI seja tão competente como aparece nos filmes. O lado negro da força _ no sentido star-wars da palavra _ pode querer impedir este guerreiro Jedi de fazer o que deve ser feito. O que não falta na grandiosa América é maluco armado.

Mas grandiosa a América foi mesmo _ "um grande país eu espero, espero do fundo da noite chegar", já dizia Marcinho Borges _ e foi lindo, lindo, lindo. Como já contei aqui, eu e Tutty somos fãs de Obama há muito tempo, desde o discurso antológico que ele fez no comício de John Kerry em 2004. Desde então, nossa percepção era de que esse era o cara _ e quem deveria estar concorrendo ali era ele. A TV ligada no comício e nós ocupados com outras coisas, sem olhar para a tela. Fomos atraídos, magnetizados irresistivelmente, pelo que ele dizia ali, pela força das palavras, antes de ver a imagem. Era um discurso positivo, bonito, cheio de verdade e fé. A embalagem vimos depois, e foi uma bela surpresa. Mas não foi o atrativo principal.

A vida imita a arte porque a arte está sempre `a frente dos acontecimentos, para o bem, e para o mal. Foi assim com o 11 de setembro (Hollywood adora destruir NYC), e foi assim desta vez também. O povo americano já tinha se acostumado a ver Danny Glover, Morgan Freeman e outros bons fazendo este papel de presidente negro. Mas a realidade arrumou um bem melhor do que a encomenda. Não carrega o peso do rancor do descendente de escravos, porque é filho de um africano livre. Não odeia o branco porque foi criado e amado pela família branca. É preto mesmo e é branco mesmo também. Melhor, impossível. É bom escritor, orador brilhante, tem charme e os ternos lhe caem com perfeição. Ele e a família são bonitos, elegantes, longe da jequice provinciana dos ocupantes anteriores da Casa Branca. É um cidadão do mundo e fala mais de um idioma. É o melhor do melhor, God bless America.

E ainda por cima, a acreditar no que ele conta em sua autobiografia, foi gerado graças ao efeito romântico que o filme 'Orfeu Negro' causou em sua mãe, encantada com a música e a beleza daqueles negros brasileiros cantando e dançando. Uma impressão de liberdade que mais `a frente fez com que ela se apaixonasse pelo jovem estudante do Quênia e gerasse o futuro presidente. Bem que Yoko Ono disse um dia que a música brasileira seria a salvação do mundo. Taí a prova.

PS- na foto, outono em Cleveland, Ohio.