sexta-feira, outubro 31, 2008

DK


Ela é gente boa. Ela é uma grande mulher (deve medir tipo 1,80 m, e estava de salto alto). Vocês sabem quem é _ Diana Krall, aí comigo na foto. Fiquei baixinha à beça perto dela.

Conversamos ontem depois do show que ela fez _ veio gravar um DVD de música brasileira aqui no Rio _ e adorei a pessoa. Cantoras são uma categoria esquisita. Dão trabalho, quase sempre têm um ego gigantesco e nem sempre são tão musicais quanto deveriam. `As vezes uma cantora iniciante chega para um show de pequeno porte carregando equipamento digno de uma miss, com mãe, cabeleireiro, maquiador, figurinista, empresário, assessoria de imprensa e outros babados mais. Esta aqui, talvez por fazer parte da reduzida categoria das cantoras-músicos, é das pessoas mais tranqüilas que já vi nos meus muitos anos de estrada. E olha que se trata de uma superstar mesmo.

Produção havia, muita gente trabalhando no local, além dela e de seus músicos (todos igualmente gente finíssima). Ela sinceramente ama e conhece a música brasileira (e quem não? afinal, como disse o jornal The Times, de Londres, 'everybody loves a Brazilian'). Durante nossa conversa, além de me dizer uma série de coisas impublicáveis _ pois continuo fiel ao que aprendi com minha mãe: "elogio em boca própria é vitupério" _ elogiou também a bolsa que eu estava usando (gracinha) e descobriu que ambas usávamos o mesmo tipo de adereço, uma corrente com um pequeno relicário que, ao ser aberto, mostra duas pequenas fotos. O meu tem a foto da minha filha mais nova quando pequena, e a da filha dela na mesma idade. O de DK tem as fotos de seus filhos gêmeos. "São seus bebês?" ela me perguntou. "Não, é o meu bebê e o bebê do meu bebê".

Enfim, foi uma dessas raras vezes em que se pode mesmo dizer que foi um prazer conhecê-la. E ouví-la. Instrumentalmente, talvez seja um jazz um pouquinho comportado demais pro meu gosto pessoal. Mas a líder é uma bela cantora-músico, uma grande 'entregadora de canções', como se diria em inglês, e diz as letras com propriedade e entendimento, fundamentais numa intérprete. Certamente o DVD vai ficar bacana, ainda mais com a paisagem que ela escolheu para filmar. O Rio é sempre um luxo, e todo o mundo sabe disso. Ou não sabe?


quarta-feira, outubro 29, 2008

precisa explicar?

Queridos leitores, parece que pirei um pouco algumas cabecinhas, com minha explosão anti-vanguardista. Perdão se assim foi, não era essa a intenção. Mas vejam bem meu ponto de vista, e compreendam que foi causado por um rápido momento de irritação com coisas que acontecem na música e nas artes em geral.

Essa foto aí em cima, por exemplo: não sou fotógrafa, não sei nada sobre fotografia, mas uma foto dessas pode ser chamada de vanguardista, se houver um mínimo de boa-vontade do espectador. Posso botar um título qualquer da minha cabeça _ "anêmonas azuis do Caribe", "solidão", "o fim do mundo", "Aquarius", "no fundo do mar", "evocações submarinas", "o céu que nos protege" _ vocês escolhem, para cada título desses eu arrumo uma boa explicação. Se eu tiver amigos formadores de opinião, faço uma exposição em 3 tempos com essa série toda, digo que sou fotógrafa de vanguarda e todo o mundo acredita. E no entanto, foi apenas minha câmera digital que deu defeito, quando eu quis fotografar os peixes no Zoo de Colônia.

Tenho uma amiga, ótima artista plástica, que foi convencida por um professor a abandonar tudo o que sabia para seguir o glorioso caminho da vanguarda. Sabia pintar, pintava bem, mas agora só faz instalações. Hoje renega e se envergonha de sua obra anterior, porque não é 'muderna'. Aliás, quando recebo convites para algum vernissage atualmente, me divirto muitíssimo com os textos explicativos. É arte que precisa de mapa, bússola e glossário.

Com música também acontece isso a toda hora. Conheço músicos que não são músicos, são 'performáticos'; compositores sem obra; cantores que não sabem cantar, instrumentistas que não sabem tocar, tudo vanguarda.

Por isso salve, salve! todos os Picassos e Hermetos, que fizeram vanguarda sabendo exatamente o que estavam fazendo.

Qualquer dúvida, perguntem a São Google pelo verbete 'vanguarda' e vejam só o que aparece.


sábado, outubro 25, 2008

aforismo musical


A vanguarda é o último refúgio dos incompetentes.


sábado, outubro 18, 2008

o piano

Peço aqui emprestada essa imagem do nosso amigo (e atual pianista regular da minha banda) Hélio Alves para falar não dele, mas do instrumento que ele tem nas mãos. Durante os 12 anos em que temos morado aqui, nesta paradisíaca ladeira no alto Humaitá, nossas vidas foram alegradas pelo som de um piano. Não um piano profissional, um brilhante piano de jazz como o do Hélio ou um piano clássico tipo Nelson Freire, tocado por algum concertista que vivesse nas redondezas. Não. Era um piano bem simples, amador, discreto, tocado por uma senhorinha de certa idade que morava em frente.

Numa mega-cidade como é o Rio de Janeiro a gente se acostuma a não incomodar os vizinhos. E o não incomodar muitas vezes inclui o não conhecer. Nós cariocas somos assim, marcamos uma visita que jamais faremos _ 'me liga', 'passa lá em casa', tudo mentira, não iremos ligar e esperamos que o outro jamais apareça _ criamos uma imagem de cordialidade que na verdade não existe, porque não queremos incomodar nem ser incomodados (principalmente a última alternativa). Quando eu era pequena, havia um sucesso de Ivon Curi chamado 'Delicadeza', que dizia exatamente isso, e já naquela época. O coro cantava e ele comentava baixinho: "Encantado... (que nada!)/ é um prazer conhecê-lo (cruzes!)/ como passou, como vai? na certa voltarei a vê-lo (Deus me livre!)/ sou fulano de tal, moro na rua tal, apareça... (nunca!)" Também tive uma amiga querida, bastante franca, que dizia: "já conheço gente demais, não quero conhecer mais ninguém". E ficava em casa para não ter que conhecer mais nenhum estranho. Tudo isso me veio `a mente por causa do piano.

Ontem, ao ver o caminhão da Lusitana levando a mudança, é que me dei conta de que em algum ponto destes 12 anos algum de nós poderia ter se dirigido a ela e lhe dito o quanto seu piano era apreciado. O repertório era variado _ Mozart, Chiquinha Gonzaga, alguns tangos _ e muitas vezes ela ficava apenas praticando as escalas. Quando havia festa na casa, aí sim, o piano era tocado con brio por ela mesma e por algumas visitas. Mas durante a semana ela tocava seu repertório de sempre, simplezinho e delicioso. Até meu neto adolescente, geração mp3 e youtube, se entristeceu com a noticia de que não teríamos mais aquele som familiar alegrando nossas tardes.

Tomara que nada de grave tenha provocado a mudança e que nossa ex-vizinha possa continuar a alegrar outras casas com sua música. Que seus futuros vizinhos possam apreciar essa música tanto quanto a gente. E, principalmente, que digam isso a ela, como nós poderíamos ter dito e não dissemos.


terça-feira, outubro 14, 2008

dia 26

Dia da eleição em segundo turno para prefeito da minha maravilhosa cidade! Vamos cumprir nosso dever cívico! E _ que luxo! _ com dois candidatos decentes concorrendo. Seja quem for o vencedor, não estaremos mal. Isso no Rio de Janeiro, cidade que tem sido sistematicamente usada como trampolim eleitoreiro por aventureiros cheios de pregos, paus e pedras e más intenções, é mais do que bom.

Claro que tenho cá meu preferido, em quem já votara no primeiro turno. Portanto, copio e colo aqui um email que está circulando sobre ele. Vocês votam em quem acharem melhor. Eu, mais uma vez, voto no Gabeira.

Sou Luiz Alberto Py, carioca, psiquiatra e psicanalista, com um grande amor por nossa cidade. Quero lhe falar sobre a eleição para prefeito do Rio de Janeiro.
A pergunta que temos o dever de responder nas urnas é: qual dos dois concorrentes será melhor prefeito para nossa cidade? Ou seja: qual deles terá mais capacidade e melhores condições para lutar em favor do Rio de Janeiro?
Em minha opinião, nossa melhor alternativa é Fernando Gabeira, pois o vejo como um homem maduro, experiente, vivido e com senso político, no significado nobre da palavra. Creio em Gabeira como uma pessoa mais capaz de organizar uma equipe administrativa de que seu adversário. Ele já se declarou comprometido com impedir nomeações para cargos por negociação política, abrindo assim espaço para formar uma equipe de alto nível em vez de um grupo de ambiciosos políticos.
Por ser mais vivido, conhece melhor as pessoas, está mais distante da ingenuidade dos jovens. Tem uma história de vida de seriedade e empenho, um homem que arriscou a vida por seus ideais e foi capaz de reconhecer seus erros, não para com isto tirar alguma vantagem, mas por retidão de caráter. Caráter, capacidade para assumir posições em que acredita e pagar o preço delas. Certa vez Gabeira declarou, quando votou a favor da desestatização da telefonia: "espero que meu eleitor vote em mim para que eu vote de acordo com o que eu penso e não de acordo com o que ele pensa". Com isto desagradou muita gente, mas foi honesto e transparente.
Honestidade, qualidade essencial em um político e tão rara de se encontrar. Por piores que sejam os adversários de Gabeira, nenhum ainda foi capaz de pôr em dúvida a honestidade dele. Em questões como essa, é interessante fazermos uma comparação entre os dois concorrentes à prefeitura. De quem é a melhor reputação de honradez, maturidade e seriedade?
Chegamos à questão de quem melhor representará nossa cidade, quem terá mais capacidade de argumentar e dialogar em nosso favor. Vejo Gabeira como um homem independente e respeitado, cuja palavra será ouvida. Em suas idéias as pessoas prestarão atenção. Receio que o mesmo não ocorra com seu concorrente. Na qualidade de jovem protegido do governador, Eduardo Paes tem com Sergio Cabral uma relação subalterna. Em vez de estar na prefeitura a serviço da cidade, lá estaria para servir o governador que o nomeou candidato.
Mesmo o Presidente Lula que, aparentemente constrangido, apóia Eduardo Paes possivelmente se interessará mais pelos projetos de uma pessoa com a estatura de Gabeira do que pelas idéias de Paes, se é que ele as tem. E em relação aos políticos, empresários e toda a sociedade civil, quem você imagina que tem mais credibilidade? Creio que assim poderemos definir quem será o melhor prefeito para o Rio.
Aqui vai minha sugestão: pense, avalie, compare e decida. Qual dos dois candidatos terá mais criatividade para superar os problemas de nossa cidade, melhor possibilidade de lutar por ela com sucesso e credibilidade para aglutinar apoios aos seus projetos? Esse deve ser o merecedor de seu voto.

Agradeço por sua atenção e se achar que essa minha reflexão merece ser ouvida, envie para outras pessoas.
Muito obrigado.
Luiz Alberto Py
<
luiz@albertopy.com.br>



segunda-feira, outubro 13, 2008

fotos ao vivo

Fotografar um concerto ao vivo é uma arte. Poucos são os fotógrafos que têm a sensibilidade e a sorte de pegar os melhores momentos, de um jeito que parece que quem vê está lá no palco com quem toca. Tenho algumas grandes fotos dos anos 70, feitas pelo querido Luiz Fernando Borges da Fonseca, que deve estar fotografando noutra freguesia a esta altura, documentando encontros mil no céu dos músicos. Mas muitas vezes vi grandes fotógrafos de estúdio não acertarem na hora do ao vivo. É uma forma muito especial de se trabalhar. A pessoa tem de ficar invisível, em primeiro lugar, para não invadir o ambiente dos artistas. Se estiver no palco, então, nem se fala: nada pior do que você 'saber' que está sendo fotografado(a) numa hora dessas. Tira toda a espontaneidade, desconcentra, atrapalha mesmo, por isso também, flash, nem pensar. Complicado, né? Arte para poucos.

Minha amiga Miroca (Myriam Villas-Boas) é brilhante nesse ponto, e tem feito fotos geniais de gente tocando ao vivo, está se especializando nisso. A foto acima é uma de muitas feitas na sexta-feira passada, em BH. Sorte que estávamos tocando bem ali, na cidade onde ela mora. Ela tem o olho vivo e a intuição dos grandes momentos. E começou a fazer isso faz pouco tempo. Daqui a pouquinho estará expondo, publicando livros, aquela coisa toda. Vai ficar impossível! Acho bom a gente aproveitar agora...


domingo, outubro 05, 2008

jazz e liberdade

O que têm em comum o recém-falecido Paul Newman, Anita O'Day, June Christy? Pra mim, simbolizam um estado de coisas, ou estado de espírito, onde nos anos 50 o jazz era a música pop da América pós-guerra e havia uma impressão de liberdade no ar, embora se estivesse em plena guerra fria, com o macarthismo comendo solto por lá. Anita e June, cantoras de formação big-band, o disco 'Something Cool' de June rolando direto, com suas personagens que pareciam saídas de uma peça de Tennessee Williams, a narradora da canção dependendo da bondade de um estranho que talvez vá lhe pagar uma bebida. A era do swing já se acabando, os beatniks, pais dos futuros hippies, já on the road, Thelonious Monk pirando na maionese, Miles Davis ainda usando terno e se mandando para a Paris dos existencialistas, os anti-heróis – Newman, Brando, James Dean, e por que não, Chet Baker _ a América pré-Vietnam ditando a estética do mundo desde então e desde antes, e durante todo o século XX. Anita O'Day deslumbrante no festival de Newport, chapéu e vestido combinando como se estivesse num sweepstake, a voz quebrando tudo, sem barreiras. Que momento.

Os personagens desse tempo (ícones dos futuros bossa-novistas, então adolescentes) quase todos já morreram ou estão morrendo agora. Eu queria ter vivido essa época. Peguei a rebarba do chic, Audrey Hepburn de pretinho e pérolas em 'Breakfast at Tiffany's', Tony Perkins cantando jazz quando já não era mais moda _ meu início de adolescencia nos anos 60 já foi diferente. Nasci atrasada, perdi esse trem, e jamais consegui ter qualquer afinidade com a maioria dos meus companheiros de geração, fãs de rock'n roll. Levei alguns anos para achar alguma graça nos Beatles. A música mudaria, o cinema mudaria, o mundo estava mudando e acabou-se a inocencia. Pode a guerra do Vietnam acabar com a primavera? _ pergunta ingênua que a gente fazia numa enquete meio ridícula na faculdade de jornalismo, e tinha quem levasse a sério e respondesse. Pois pelo menos nos Estados Unidos acabou. A nossa primavera ainda duraria mais um pouco, só um pouquinho mais, até que por aqui também tudo mudasse.

Quais serão as próximas grandes mudanças do mundo, não sei prever. Mas com certeza começam por lá, pela América do Norte _ onde, aliás, já começaram.