terça-feira, setembro 29, 2009

daqui

De lá não há lugar mais longe que aqui
Daqui não há lugar mais perto de si
Daqui, de lá 
De lá pra cá
De lá pra si 
De si pra lá

Esta letra curta define exatamente o que sentimos quando estamos aqui no Japão. Foi escrita por meu parceiro Rodolfo Stroeter em Osaka, e musicada por mim em seguida. 

Daqui não há lugar mais perto de si. A magnitude do jet-lag faz com que tudo tome proporções enormes. 

Mas a música sempre nos salva de quaisquer contratempos. Aqui vai um pequeno clip de nossa estréia domingo à noite, que está no website do Blue Note Tokyo. A gente se cansa, mas também se diverte.


terça-feira, setembro 22, 2009

minhas cidades

Tenho cidades minhas. São aquelas que conheço bem, ou pelo menos penso que conheço. Meus cantos favoritos, o hotel de sempre, o bairro, os restaurantes e alguns bons amigos. Hoje estou falando de Tóquio, para onde seguiremos amanhã (se bem que a foto acima é de Yokohama, cidade de que também gosto muitíssimo, mas sem esse pertencimento todo).

Minhas cidades são aquelas de que não posso me afastar por muito tempo, ou fico com síndrome de abstinencia. Amo Nova York e Paris, que são cidades óbvias, feitas para serem amadas. Nos anos 1970, amei Roma, depois esqueci um pouco este amor, devido às prolongadas ausencias. Em compensação, aprendi a amar Londres. Nós e a torcida do Fluminense amamos a Praia do Forte, na Bahia, claro. E por razões familiares, amo também São Paulo e Colônia, onde temos filhas e netos. 

(São Paulo não se entrega assim tão fácil, é um amor que precisa ser cultivado. Frequento SP desde pequena, pois minha mãe tinha um arranjo engraçado com a irmã dela: no verão, meus primos paulistas passavam as férias lá em casa, no Posto 6 (para os não-cariocas, explico: trata-se da divisa entre Copacabana e Ipanema), torrando sob o sol do espetacular e tranquilo Rio de Janeiro dos anos 50/60. Nas férias de julho, o arranjo entre as irmãs nos transferia para a casa de minha tia, no Brooklyn Novo, em São Paulo, onde o programa era congelar nos duríssimos invernos paulistas. Por sorte havia uma lareira na sala, onde podíamos nos aquecer. Mas o banho de chuveiro naquele frio era uma tortura, e à noite era dureza dormir nos quartos gelados. Cedo percebi que meus primos saíam ganhando com a troca... Hoje aprendi a amar Sampa, e é um dos meus lugares favoritos, para onde vou com prazer sempre que posso.)

Enfim, tudo isso para falar de Tóquio, cidade que adoro, e pela qual me apaixonei à primeiríssima vista. De tal forma que minha primeira ida ao Japão, em 1985, não me provocou sequer um jet-lag, tamanha a excitação da viagem. Hoje, depois de 24 anos de convivencia com a cidade, a paixão se acalmou, virou um amor tranquilo, mas é claro que temos nossos points prediletos _ Shinjuku, onde fica a melhor papelaria do mundo; Shibuya, onde ainda se encontra, firme e forte, o prédio de cinco andares da Tower Records, minha perdição, a cadeia japonesa sendo a única da rede, no mundo inteiro, que ainda não faliu; Harajuku, para bater perna pela Omotesando-dori e ver as modas; Takadanobaba, bairro afastado onde se esconde nosso restaurante preferido. E claro, Minami-Aoyama, onde fica nosso QG musical desde 1991, o Blue Note Tokyo. 

Depois dessa rápida visita, voltar para a mãe de todas as cidades, a minha, a Maravilhosa.


Pois afinal de contas, there's no place like home, como diria Dorothy. Minha alma ainda canta, apesar dos pesares.


quinta-feira, setembro 17, 2009

a onda que se ergueu no mar

Foi assim: o fotógrafo estava na Austrália e foi dar uma surfada na praia de Cape Dieu. E quem ele encontrou por lá surfando também? golfinhos em bando.

Aqui na baía de Guanabara eles ainda aparecem, não sei se ainda com a mesma frequencia com que apareciam quando a gente ia de barca pra Niterói e eles nos seguiam fazendo algumas acrobacias aquáticas, ou simplesmente nadando ao lado. Mas pegando onda, é a primeira vez que vejo.

Saudades de minhas meninas com suas pranchas de morey-boogie, nos anos 80, na praia do Recreio, perto da nossa casa de então. Elas foram tão ratinhas de praia quanto eu também fui, só que na minha época a gente pegava onda sem prancha mesmo. E ninguém falava em protetor solar nem em camada de ozônio.

(fotos: globo.com)


terça-feira, setembro 15, 2009

o que é fraqueza?

Leio diariamente nos jornais sobre o massacre midiático a que tem sido submetido Barack Obama, por quem tanto torcemos, antes, durante e depois da campanha presidencial americana. Ele é mulato (para os padrões brasileiros, claro; para os padrões americanos, é negro mesmo, conforme a política da 'gota única de sangue'). Ele é jovem, bonito, elegante, sai bem na foto. Ele é um grande orador. Ele é democrata. Ele fala mais de um idioma e tem raízes multiculturais. Tudo isso junto provoca a ira dos radicais de direita nos Estados Unidos, o que de início me fez temer pela vida dele. Apareceram logo os primeiros malucos armados, prontos para assassinar mais um presidente progressista, como tantas outras vezes na história do país. 

O FBI deve estar fazendo um trabalho extremamente competente em protegê-lo, pois agora começa a tentativa de assassinar a imagem de Obama e transformá-lo num novo Jimmy Carter, o presidente democrata que ganhou um Nobel da Paz, mas não conseguiu se reeleger. "Ele é fraco, ele é confuso, ele é inexperiente", são os argumentos dos que não aguentavam ver um presidente desses, com 70% de aprovação nas pesquisas. Que já despencaram para quarenta e poucos, graças à campanha insidiosa que tem sido feita. A luta pela mudança no sistema de saúde, que atinge tantos interesses; a condução da política internacional, mais baseada na diplomacia do que no enfrentamento; o pisar-em-ovos na política econômica, numa economia baqueada pela crise... são questões que servem como luva às intenções malsãs dos que preferem que fique tudo como está. Até o tenebroso Bin Laden, que não é bobo,  já pegou carona nesse bonde _ pois radical é tudo igual _ e usou a pecha de fraco que tentam pôr em Obama para incentivar seus jihadistas da Al-Qaeda: "podem atacar, que ele é um banana". 

O que é fraqueza? É não invadir o país dos outros sem motivo justificável? É tentar oferecer um sistema de saúde mais justo, que possa ser usufruído por todos, como acontece na maioria dos países da Europa? É lidar cautelosamente com a herança maldita dos anos Bush? É preferir o diálogo e escutar o que diz a outra parte? É não dar o murro na mesa e reconhecer "the otherness of others"? Se for assim, vamos todos ser fracos, com muita honra _ e em paz com nossas consciências.


terça-feira, setembro 08, 2009

na idade da razão - aniversários

Antigamente as festas de aniversário de criança eram simplérrimas e divertidas. A gente juntava uns dois ou três amigos(as) para soprar bolas, fazer brigadeiro e cachorro-quente e pronto. Hoje as festas infantis são produzidíssimas, caríssimas, organizadas por empresas especializadas e com a presença infalível dos 'animadores'. Nas festinhas antigas, a animação vinha das crianças mesmo, era só os pais chegarem no local e deixar que elas mesmas inventassem suas brincadeiras. A gente ficava lá só olhando, batendo papo com outros pais e mães e comendo o brigadeiro cuspido por nossos filhos e filhas. Todo mundo se divertia à beça.

Hoje, ai de nós, as crianças querem as festas superproduzidas, apoteóticas, bem diferentes, por exemplo, da festinha que aparece na foto acima, quando minha filha Clarinha (na foto, com a irmã, Aninha) fez 11 anos e organizamos um piquenique no Parque da Cidade _ local hoje infrequentável, devido à violencia e aos assaltos constantes na área.

Agora é a vez da geração seguinte.

Ele vai fazer sete, que, dizem várias tradições, é quando começa o livre-arbítrio. Chegou pra nós num momento especialmente conturbado, exatamente uma semana depois da partida de minha mãe. O que foi uma prova, pelo menos pra mim, de que a vida tem sempre razão.

A mãe dele acha que na festa de 16 anos, ou seja, em 2018, ela terá de mandar fazer um convite igual ao que está acima. Vamos ver. O tempo dirá. Festa em Marte, eu diria, talvez só quando ele estiver completando trinta, e aí ele mesmo convida. Por enquanto ele só quer saber de futebol, judô e computador. E dos primeiros livros, agora que se alfabetizou e descobriu um novo mundo. Ele mesmo responde aos e-mails. Crianças modernas fazem tudo isso, claro. Difícil é fazer com que eles topem uma festa mais simplezinha... Parece que este ano conseguimos.


quinta-feira, setembro 03, 2009

rio de janeiro forever

Não é sempre que os cariocas conseguem ir à praia, a não ser os que moram em frente (ou quase, como era o caso de minha mãe) ou os que têm tempo de sobra, o que não é nosso caso. Hoje conseguimos. O final de inverno surpreendeu e tem tido dias lindíssimos _ o mar com águas límpidas, a praia calma, naquele horário em que só tem criança e idoso. Ipanema hoje estava tinindo. Como amamos essa cidade!

(na verdade, foi a primavera que chegou mais cedo: aqui em casa, gerânios e orquídeas já deram o ar da graça....)

Pesquisa da revista Forbes coloca o Rio de Janeiro como a cidade mais feliz do mundo. Segundo o organizador da pesquisa, isso reflete a percepção das pessoas, não a realidade, obviamente. Falta muito para o Rio ser uma cidade mais justa e feliz de verdade. Mas a impressão geral é a que conta, e a lista mundial ficou assim:

Veja abaixo o ranking da Forbes:

 

1º - Rio de Janeiro (Brasil) 

2º - Sydney (Austrália) 

3º - Barcelona (Espanha) 

4º - Amsterdã (Holanda) 

5º - Melbourne (Austrália) 

6º - Madri (Espanha) 

7º - São Francisco (EUA) 

8º - Roma (Itália) 

9º - Paris (França) 

10º - Buenos Aires (Argentina)

 

 

Vejam que bonita essa vista da Lagoa, nosso bairro, nosso lugar. Dá pra ser feliz? Dá. É melhor ser alegre que ser triste.