sexta-feira, agosto 31, 2012

destinos

Na música, como em tantas outras coisas na vida, se aplica a frase "são muitos os chamados e poucos os escolhidos". Pura verdade. O chamado da música é irresistível, especialmente na juventude, e muitas vezes fica aquele desejo irrealizado, o sonho que não se concretizou. Às vezes se concretiza na idade madura - Clementina de Jesus, por exemplo, gravou pela primeira vez aos 65 anos; Vó Maria, viúva de Donga, com mais de 90! - mas o que acontece comumente é o chamado chegar na juventude, e aí o destino (ou simplesmente o dom) decide se vai dar certo ou não.

"Dar certo", em si, já é um conceito muito abstrato. Na minha visão, não se trata de 'fazer sucesso', necessariamente, mas de carregar essa chama pela vida. Quem sabe até ser capaz de sobreviver com um mínimo de dignidade, fazendo música. Nos dias de hoje, isso já é um sucesso. Ou achar outras formas de sobrevivência, sem deixar que aquela primeira chama se apague - como D. Ivone Lara, que só se profissionalizou na música depois de aposentada como assistente social. Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

Mas há quem tombe pelo caminho. Os que desistem logo, ou porque não têm a música na conta do ar que respiram, ou porque tiveram outras prioridades na vida. Porque ninguém abre mão da música porque quer, quando quer, se ela for maior que tudo ao redor e alguma coisa dentro da pessoa não permite que ela desista, aconteça o que acontecer. O que se enfrenta por isso é mais que um dragão por dia. É sofrimento, desânimo, derrotas diárias, mesmo que se seja um vencedor. Mas a luta continua: luta e prazer (que era o poético nome de uma organização política, nos tempos da ditadura). Pois o gozo é sempre maior do que a dor e justifica, ou melhor ainda, nos empurra para a boa luta. E sempre vem a volta por cima, que cobre a multidão de pecados.

(Hoje acordei meio épica, fazer o quê?)

Muitas vezes vi gente como Tom Jobim, para ficar num exemplo mais próximo, sofrendo e se queixando pela incompreensão da imprensa ou da crítica. Logo ele! Para a gente ver que aqueles para quem a arte é pão sempre têm sua cota de dificuldades a enfrentar. Mas nunca a ponto de abrir mão dela. Este é meu ponto: quem desiste, ou não amou sua arte tanto assim, ou não foi capaz de dar a vida por ela. Porque é disso que se trata: se é vital ou não.

Faço hoje esta reflexão por conta de uma conversa que tive ontem com uma pessoa que me procurou para um depoimento num trabalho seu. Num certo momento, falou-se nos que tombaram pelo caminho. E isso me fez pensar que "quem samba fica, quem não samba vai embora". Simples assim.


quarta-feira, agosto 29, 2012

Canopus

Foi no ano de 1988 que o Tutty tocou no Japão pela primeira vez. Era minha segunda ida lá (a primeira fora em 1985, no Festival Yamaha, onde fui acompanhada pelo grupo japonês Spic and Span), e desta vez pude levar grupo próprio. O baixista, já então, era o Rodolfo. No piano estava Nelson Ayres. Foi uma série de shows promovidos pela revista Latina, em teatros de tamanhos variados. Começava a se consolidar ali minha relação com as plateias japonesas, que cresceria mais e mais com o tempo.

Ali começou outra relação, profissional e pessoal, bastante sólida: a do Tutty com o luthier e engenheiro Shinichi Usuda, que naquela época havia desenvolvido uma caixa, chamada Zelkova, feita de uma só peça circular de madeira, sem emendas. É esta que aparece na foto (com meu belo companheiro na flor dos seus 40 anos). Mais tarde o sonho de seu criador se realizaria, e a Canopus se transformaria numa grande companhia e fábrica de baterias completas, feitas de maneira quase artesanal, que hoje correm mundo e são respeitadas como instrumentos de primeiríssima linha. Em 1988 era uma simples lojinha de rua, ainda pouco conhecida, à qual fomos levados por nosso amigo, e percussionista do Spic and Span, Tomohiro Yahiro.

(também do Spic and Span, diga-se de passagem, nos ficou outra grande amizade: o baterista e líder do grupo, Kazuo Yoshida, que foi produtor de vários CDs meus e continua ligado ao meu trabalho)

Dali para a frente a Canopus foi crescendo, e hoje conta entre seus endorsements com grandes nomes do instrumento, como Brian Blade, Adam Nussbaum... e Tutty Moreno. Mérito de Usuda-san, um sonhador que deu certo.


domingo, agosto 26, 2012

nossa mestra

 Esta adorável senhorinha (que recém-completou 90 anos de idade, em plena atividade)  chama-se Brunilde Mendes do Espírito Santo, fundadora do Lar de Tereza, centro espírita kardecista que frequentamos há mais de 30 anos. É autora de inúmeros livros (próprios ou ditados via psicografia) e iniciadora de uma obra monumental, que começou com simplicidade numa oficina de costura em 1951, na casa dela em Ipanema, e hoje se distribui por 3 grandes centros de estudos e trabalhos assistenciais - em Copacabana, Jacarepaguá e Austin, na Baixada Fluminense - dos quais o Lar de Tereza foi o estopim.

Amiga de grandes médiuns brasileiros, como seu orientador Chico Xavier e o baiano Divaldo Franco, que já a definiu como "a grande dama do espiritismo no Brasil", D. Brunilde continua a mil, trabalhando, escrevendo e orientando seus alunos, como nós, embora não mais exercendo as funções de dirigente da casa.

Foi ainda na sede de Ipanema (não mais na casa dela, mas num imóvel que lhe fora cedido por um frequentador amigo, e que hoje abriga uma lanchonete) que iniciamos, no início da década de 1980, nossos estudos da doutrina espírita e da prática da mediunidade responsável, os quais continuamos até hoje. Foi dali que nasceu a frase final de 'Monsieur Binot', "o resto é a próxima esfera/ o resto é outra encarnação", que pareceu enigmática para alguns na época, mas para nós fazia todo o sentido, e continua fazendo.

Opções religiosas, sexuais e políticas não são coisas que eu normalmente costume trazer aqui ao blog, em nome da privacidade e do direito de escolha de cada um. Mas o aniversário de nossa mestra é uma data especial. Segue este post para D. Brunilde, a Dama de Ipanema, nos seus 90 anos de vida fértil e produtiva, com nosso carinho e gratidão.


quinta-feira, agosto 23, 2012

Puro Ouro

Ainda no fuso horário do Japão, fotos do dia amanhecendo diante da minha janela.






terça-feira, agosto 21, 2012

"New York, New York..."

"... a wonderful town/ the Bronx is up/ and the Battery down (...) New York, New York/ it's a wonderful town!"-  ouço Gene Kelly e Frank Sinatra, vestidos de marinheiros, cantando estas linhas na trilha sonora da minha infância. E eles estavam certos!

Uma das minhas cidades mais amadas do mundo é Nova York. Assim como Paris, Tóquio, Londres, São Paulo (sim!), e agora, mais que nunca, Colônia. Sempre digo que moro um pouco em cada uma destas cidades e mantenho, de forma permanente, as previsões do tempo de todas elas no meu IPhone e sempre dou uma olhada para ver como andam as coisas. Paris está um calorão, acima dos 38º. Em Londres, ora quem diria, chove. Colônia, neste últimos 2 anos, não teve um verão digno do nome. Em Tóquio, conforme comprovei pessoalmente, aquele eterno calorão de agosto (se bem que este ano me pareceu um pouco mais ameno). E em SP as previsões erram sempre, e o prometido quase nunca é o que acontece.

(Não falo do Rio, que pra mim é sempre hors-concours. Não é que eu more nesta cidade: ela é que mora em mim)

No ano passado fomos a NY para resolver alguns problemas burocráticos relativos à minha editora americana, Feminina Music. Como também precisávamos de um período de folga (eu andava às voltas com a pedreira que foram as gravações dos 15 documentários do 'No Compasso da História'), aproveitamos mais alguns dias na cidade,  para ouvir muita música e rever amigos (na foto acima, feita pelo Tutty, estou ao lado de nossa mui querida amiga Lúcia, residente em NY desde sempre, que nos apresentou um delicioso Thanksgiving dinner na casa dela). Foram dias maravilhosos.

A cidade é nossa querida por si só, mas tem também importante e fundamental papel em nossas vidas, pois foi lá que eu e Tutty nos conhecemos e nos apaixonamos de cara, há distantes 35 anos atrás. Primeiro pela música um do outro. E imediatamente depois, por todo o resto.

E eis que agora no final de setembro, lá estaremos de volta, a trabalho. O Jazz At Lincoln Center tem um projeto, no Dizzy's Club, chamado Generations in Jazz, onde um artista convida pessoas de gerações diferentes da sua para um encontro musical. É o que irei fazer, convidando Dom Salvador - importante pianista do samba-jazz dos anos 1960, e também da black music brasileira dos anos 1970, radicado em NY há 4 décadas - e Chico Pinheiro, talentosíssimo jovem compositor e guitarrista. Vai ser complicado montar um show com tanta gente bacana em apenas 75 minutos, mas vamos tentar. E, claro, Tutty, Rodolfo e Hélio lá estarão, nossa trupe de sempre, garantindo os voos de todos nós, trapezistas.

Mal chegamos de volta ao Rio, mas a cabeça em parte já está de novo longe. Força do hábito.


sábado, agosto 18, 2012

de volta

 Mais uma temporada vencida, desta vez no Japão, com passagem pela Alemanha para rever a família muito amada.

E era verdade! Havia uma bicicleta (ou melhor, um triciclo) lá à minha espera, e eu até andei! Foi uma emoção incrível, não dá para descrever a alegria de se fazer alguma coisa aparentemente simples, com a qual se sonhou toda uma vida. OK, foram apenas 2 km, mas de primeira. Comecei meio tensa, depois fui relaxando e curti demais.


Agora a magrelinha de três rodas continuará morando longe de mim, mas de vez em quando poderei acessá-la de novo, nas próximas viagens que tiverem parada na Alemanha - e já teremos outra, em outubro.


E o Japão continua o Japão... Esta foi minha 25ª passagem por lá, com muito trabalho de divulgação e os shows lotados no Blue Note Tokyo e no Cotton Club. O novo CD tem tido excelentes vendas (ainda se compra CD no Japão, graças!), a gravadora ficou feliz e eu também. Foi bom demais experimentar o novo repertório com a banda, já fazendo um laboratório para as próximas turnês agendadas. Eu, Tutty, Rodolfo e Hélio conseguimos uma interação incrível, em todos os sentidos, e quando se tem isso, há que muito aproveitar. A música voou, rolou de maneira maravilhosa, criativa, maluca, trapézio sem rede o tempo inteiro, do jeito que eu gosto. Uma banda assim, aliás, é exatamente como voar num trapézio: você confia no parceiro que vai lhe dar a mão e pegar você no meio do salto. No caso, somos quatro parceiros voando sem rede o tempo todo, e ninguém cai. Bom demais!

E uma idéia interessante pintou aqui para o Brasil, ainda embrionária, mas bastante possível. Se tudo der certo, conto em breve, e sei que terei a cumplicidade da turma toda aqui do blog.


sexta-feira, agosto 03, 2012

já vou indo...


Duas semanas fora do ar... A vantagem do blog é que isso é possível, e a gente espera que o pessoal não desista só por causa disso. Seguimos hoje pro Japão, onde vou fazer os shows de lançamento do meu novíssimo CD autoral, "TUDO". Vejam acima a simples, porém classuda capa do querido Philippe Leon, meu quase-personal designer (já é a quinta capa minha feita por ele, que também criou o design do meu website oficial e deste blog que vos fala)

O repertório do novo CD tem 13 faixas, sendo 8 só minhas, de letra e música, mais 5 com parceiros novos e antigos. A lista completa está no meu website, joycemoreno.com, junto com um aperitivo sonoro das novíssimas canções, pra quem quiser conferir.

No mais, vai ser muito trabalho, que inclui uma tarde de autógrafos e um showcase na nova Tsutaya (loja de livros e CDs, que o Japão ainda tem dessas coisas), muitos programas de rádio, principalmente na J-Wave, entrevistas pra imprensa, aquela coisa toda, sem falar nos 2 shows por noite de praxe. É dureza, mas eu gosto! - ainda mais estando na excelente companhia da minha banda querida.

Portanto, até jazz - fui!