segunda-feira, agosto 27, 2007

cultura é pão

O nome desta árvore é munguba. Aprendi no livro chamado "Árvore Cidade", de Mariana Várzea, Roberto Ainbinder e César Duarte, que lista as diversas espécies de árvores encontradas na área urbana do Rio _ e são muitas. A munguba, trazida para o Brasil no século XIX, dá um fruto grande e oval, meio parecido com fruta-pão, cujas sementes são muito apreciadas por passarinhos e macacos (aha! isso explica tudo!), e esta flor da foto, que o livro descreve assim: "grande e solitária... em formato de um buquê, unido por um laço de fita natural, que exala um aroma agradável e perfuma todo o entorno". Descrição poética e perfeita do que tenho diante de minha janela neste momento. A primavera este ano chegou mais cedo.

Saber mais sobre minha cidade é cultura. Conhecer suas árvores e a origem delas, também. Conhecer a fauna, a flora, a história, a música da minha cidade, me faz compreender melhor porque somos como somos. Pulei da árvore pra música de propósito. Tudo é construção de identidade. Só tem auto-estima e cidadania quem conhece sua identidade.

Durante dois anos apresentei um programa de TV chamado 'Cantos do Rio'. Era um projeto idealizado por mim e feito em parceria com a MultiRio, empresa de multimeios da prefeitura carioca. Foi bom enquanto durou. A idéia era exatamente mostrar a música feita no Rio com seus criadores, nas casas deles ou em seus espaços preferidos. De como a música se espalhou e se espalha pela cidade _ como essas árvores, que `as vezes vêm de lugares exóticos e acabam se adaptando ao nosso clima e virando locais.

Meu sonho ainda é conseguir entrar com este conhecimento na vida das pessoas, especialmente da garotada, exposta ao pior do pior, tanto na vida quanto nas artes. Arte é comida, cultura é pão. Só não vê quem não quer. E infelizmente são muitos os que não querem.


quarta-feira, agosto 22, 2007

big band

Essa é a WDR Big Band de Colonia, Alemanha, uma super-orquestra de jazz ligada `a rádio do mesmo nome (WDR _ West Deustchland Rundfunk). Trabalhei com eles em duas temporadas, em 2002 e 2004, sempre com arranjos e regencia de Gilson Peranzzetta. São músicos do mais alto nível técnico, acostumados a tocar com grandes nomes do jazz (seu último projeto, gravado ao vivo, foi uma tour com Joe Zawinul em 2006). Foi portanto uma honra e um prazer trabalhar com eles.

A existencia de uma big band como essa é um exemplo da importancia da cultura num país, qualquer país. Não sei se nem os Estados Unidos têm tantas orquestras de jazz como a Europa, eles que são o berço desta grande música. Se não têm, deveriam ter _ aliás, imagino que nas universidades americanas, pelo menos, isso exista. Em Colonia, são 7 grandes orquestras de alto nível profissional sustentadas pelo governo, entre sinfonicas, corais, orquestras de câmara, e incluindo a WDR Big Band. Isso só em Colonia, pois outras cidades alemãs, como Hamburgo, Berlim e Munique, também têm as suas. Outras capitais européias, como Bruxelas e Copenhagen, têm suas orquestras de jazz funcionando a todo vapor, e vários músicos brasileiros também já passaram por lá, como nosso Hermeto Pascoal.

A WDR Big Band tem em suas fileiras músicos de vários países. Americanos, holandeses, ingleses, suecos, além da óbvia maioria alemã. Melhor que a ONU. Conversando com uma amiga casada com um deles, fiquei sabendo de uma história sensacional. O pai do baixista (americano) lutou na 2ª Guerra Mundial contra o pai do sax-barítono (alemão, claro), na mesma batalha. Hoje os filhos tocam juntos na orquestra, são bons amigos e foram escolhidos (os dois, por voto direto) como representantes da banda, para tratar de questões salariais e outros babados.

Em dezembro estaremos de volta a Colonia, desta vez com mais dois arranjadores/ instrumentistas convidados: Nailor Proveta e Jaques Morelenbaum. Todos nós a postos para um novo projeto em homenagem ao nosso amado Maestro Soberano e seus 80 anos, infelizmente não completados neste planeta. Um projeto chamado "Celebrating Jobim", que, pela música e pelos músicos envolvidos, tem tudo pra dar certo.


quinta-feira, agosto 16, 2007

outras bossas, mesmo!

Este quadrinho que tenho nas mãos foi o primeiro quadro da minha (modesta) coleção. Tinha eu 18 anos de idade, fui ao vernissage de minha colega de faculdade (anteriormente, de colégio também) Chica Granchi. Era sua primeira exposição individual, ela tão adolescente quanto eu era... Fiquei apaixonada por este quadro dela, que se chamava 'A Janela da Vizinha', e acabei ficando com ele.

(Coisas da vida: Chica era vizinha de rua dos Caymmi, mas não sei se a janela que ela pintou era a deles. Só sei que o quadro me acompanhou pela vida afora, e mudou de endereço comigo muitas e muitas vezes. Já estava meio apagadinho quando Chica me fez o favor de restaurá-lo. E aí está.)

Pois aconteceu que minha amiga foi convidada a participar de um evento onde artistas plásticos de verdade criam uma obra em conjunto com algum artista de outra área. Depois de pronta, a obra é exibida e posta em leilão beneficente. Ela já fizera isso no ano passado com Ferreira Gullar, que tem tudo a ver com artes plásticas (o que não é meu caso, sou absoluta negação) e o resultado fora ótimo. Este ano, ela corajosamente me convidou (ou eu me convidei, sei lá) para fazermos um quadro juntas.

Como minha falta de talento para desenho, pintura e coisas do gênero é plenamente reconhecida, só me restou propor `a Chica que eu inserisse a partitura de alguma música minha no centro de uma de suas mandalas, que são uma de suas marcas registradas. Foi o que fizemos, e ficou assim:

Não sei quem ficou com o quadro no leilão. Se eu estivesse no Brasil na época, teria tentado arrematá-lo com certeza, nem que fosse para mostrar aos meus netos que um dia eu também fiz um quadro. Acho que vou perguntar se a Chica topa fazermos outro...


segunda-feira, agosto 13, 2007

California de novo!

Pois é, se acontece nas melhores famílias, imaginem na minha... Pois não é que botei o mapa de cabeça pra baixo e confundi o norte com o sul da California, quando, num post de maio, escrevi sobre minha não muito boa experiencia com os vinhos locais? Atenção, esta foto foi tirada no lago Sonoma, que fica ao norte, eu disse ao norte, do estado. Agora vai!

A querida Daniella Thompson, maravilhosa tradutora e dona de um excelente website sobre música brasileira _ confiram em www.daniellathompson.com _ me deu um merecido puxão de orelha sobre isso, e ainda me disse que era como se eu tivesse posto o Ceará no sul do Brasil. Tem toda razão. Não é porque os compatriotas dela volta e meia confundem o Brasil com a Bolívia ou com o Congo que eu vou cometer barbaridade semelhante. Perdão, pois!

Então aqui vai a correção, acrescida do meu pedido de desculpas: a região onde estive e provei (e não gostei mesmo) de vinhos feitos com uvas Zinfandel é Alexander Valley, norte da California _ e não sul da California, onde, mais uma vez me corrige a Daniella, se passa o filme 'Sideways'. Mas quanto ao vinho, sorry, ainda não consegui mudar de opinião. Sem querer generalizar, foi o que se nos apresentou naquele momento.

Nós das Américas pertencemos a um continente muito jovem. Em matéria de tradição, o vinho europeu é mais antigo do que o cristianismo. Tentar diminuir isso, como na ocasião fizeram alguns dos nossos anfitriões californianos, será ledo engano.

PS- Daniella, continuo torcendo para que você possa um dia traduzir meu livro. Não posso pensar em ninguém melhor qualificado(a) para isso.


quarta-feira, agosto 08, 2007

noticias do esporte

Diz nosso correspondente em Tokyo que...

o yokozuna Asashoryu fez uma breve viagem a sua terra natal, alegando a necessidade de um tratamento pra suas dores lombares, naquele país.

acontece que foi flagrado em vídeos e fotos, jogando uma partida de futebol, nesse que seria seu intervalo de convalescença.
imprensa e opinião pública estão em alvoroço, por aqui.

o sumôtori foi penalizado com a suspensão salarial, durante três meses, tempo que também viverá em clausura (sem contacto externo).

mesmo assim, a delegação do esporte milenar quer a sua "cabeça".

vale lembrar que o yokozuna tem apenas 26 anos de idade, apesar de ser o único que detém o título desse esporte nacional.

Como já dizia John Drake, the Dangerman (esse, só quem tem mais de 50 sabe quem é): cada país tem seu serviço secreto. Os japoneses agem dessa forma com seus atletas. Cá no Brasil, assim como em vários países da Europa, a prática é passar a mão na cabeça dos mais assanhados, como sempre se fez com Romários e Ronaldos. Na minha Dinamarca, país de onde vem 50% do meu DNA, o ciclista campeão Rasmunssen foi retirado da seleção, embora estivesse vencendo todas no Tour de France, por ter se negado a informar seu paradeiro durante dois finais de semana no início do ano, quando viajou com a namorada. Todos são atletas brilhantes nos seus respectivos esportes, e também muito jovens, com os hormonios em ebulição total. Todos querem ser livremente donos de suas vidas, o que nem sempre lhes é possível. Como lidar com isso, é uma questão basicamente cultural. Mas também pode ser política.

Pois então, já em Cuba...
(e o papelão que fizemos, hein? Nem parece aquele Brasil inzoneiro que abrigou Ronald Biggs e outros malandros de diferentes nacionalidades com tanta simpatia. Que vergonha!)

PS- o engaiolado tucano de dois bicos é cortesia do Zoo de Colonia.


quinta-feira, agosto 02, 2007

samba-jazz & outras bossas no Japão

Este foi o programa da nossa tour japonesa, lançando o CD novíssimo, que infelizmente o Brasil só verá daqui a uns 2 anos, embora tenha sido todo produzido por aqui...

Como foi bastante anunciado, é também o CD comemorativo dos 30 anos de música e convivencia juntos. Fruto de uma longa e bem trabalhada construção, como tudo o que se conquista na vida.

Na foto acima, em momento de alegria, curtindo nosso restaurante preferido em Tokyo, eu, Tutty, Rodolfo Stroeter e Helio Alves, pianista sensacional que se incorporou ao nosso grupo para o novo projeto, 'Samba-Jazz & Outras Bossas'. Muito calor, Japão em pleno verão, muita gente jovem assistindo aos concertos, tudo de bom.

No meio de tanta coisa boa, notícias tenebrosas do Brasil. E aí a gente, lá do outro lado do planeta, chora de tristeza, vendo um país desmoronando `a distancia _ e é o nosso!

Mas não quero falar sobre isso agora. Vamos ficar ainda um pouquinho com o gosto bom das alegrias que tivemos. Paz e música!