sábado, julho 31, 2010

no Japão é que é bom

Aí vai a foto oficial desta turnê. Celso Fonseca com Ana (mulher dele), nossa tour manager Ioná Zalcberg, eu, Tutty, Hélio Alves e Jorge Helder. Todo o mundo com cara de sono, é verdade. Mas é isso mesmo, aqui não se dorme. O fuso não deixa. Embora os próprios locais pareçam estar sempre com algumas horas de sono faltando, é só olhar em volta no metrô: todo o mundo, de 8 a 80, cochila durante a viagem.


E estar em Tóquio é tudo de bom - como a gente também ama essa cidade!



sexta-feira, julho 23, 2010

mais uma

Saindo amanhã pro Japão... Lá vamos nós de novo, enfrentando um fuso horário de 12 horas na frente. Mas com certeza vai ser bom, como nunca deixou de ser...

E aos amigos Cissa e Raul, nosso beijo comovido.


domingo, julho 18, 2010

quem samba, fica

Rola hoje na rede uma grande discussão sobre a intenção do MinC de modificar a atual lei do direito autoral. Fala-se em extinguir o ECAD, em criar dispositivo que permita a licença não-voluntária para o uso de alguma obra que seja de interesse do governo, dando ao Estado poderes para dispor de nossas obras - enfim são inúmeras as modificações para uma lei que, se não é perfeita, vem funcionando ao longo do tempo. O pessoal reclama do ECAD, mas não reclama da Globo, do Canecão, e outros maus pagadores. E nessa há muita gente boa inocentemente caindo na conversa da mudança extemporânea da lei. Tolinhos.

Meu amigo Zé Rodrix dizia que "quem sabe, sabe; quem não sabe, não precisa saber". Como eu acredito que todo o mundo sempre precisa saber, segue abaixo um resumo histórico, para quem quiser ver como as coisas eram aqui no Brasil, na pré-história do Direito Autoral. Quem não quiser saber, pode me deletar agora mesmo.

Antes de o ECAD existir, havia cerca de 10 sociedades autorais que recolhiam - TODAS, ao mesmo tempo - os direitos dos seus autores. Não havia computador, as contas eram feitas na ponta do lápis. Quem pertencesse a uma não podia ter um parceiro de outra - o que explica a grande quantidade de músicas com pseudônimo na época. 

Na metade dos anos 70, um grupo de 13 compositores filiados à SICAM pediu para verificar as contas, e foram todos expulsos da sociedade por isso. A classe se uniu em defesa deste grupo, e criou-se a SOMBRÁS, presidida por Tom Jobim e vice-presidida por Herminio Bello de Carvalho. A SOMBRÁS se reunia no MAM e se mantinha com a realização de shows coletivos, no tempo em que fazer show dava algum dinheiro. Como estávamos em plena ditadura militar, tínhamos ainda que lidar com a questão da censura, que não era brincadeira. Os tempos não estavam nada fáceis para quem queria ser compositor.

Mas uma incipiente abertura política já se iniciava no Brasil. Uma comissão de compositores foi a Brasília conversar com então o ministro da Educação (não havia na época a separação entre os ministérios de Educação e Cultura), e desta reunião surgiu a centralização da arrecadação através do ECAD e a criação do CNDA (Conselho Nacional do Direito Autoral), que seria um órgão fiscalizador e normativo. As sociedades autorais chiaram muito com isso, pois tinham perdido sua função. E conseguiram, anos depois, voltar ao funcionamento, como repassadoras dos direitos arrecadados. 

(Pela minha experiência pessoal funcionava muito melhor quando só o ECAD recolhia e distribuía os direitos. Passamos a ter mais um 'sócio' na corrente, totalmente desnecessário, na minha opinião - mas já que existia, tive de me associar a uma dessas sociedades. Escolhi a que me pareceu mais profissional, pois é disso que se trata: profissionalismo)

Entre os anos 1985 e 1986, fui convidada e aceitei fazer parte do CNDA. Fiz isso para cumprir o que eu considerava uma espécie de 'dever cívico'. Eu me sentia em dívida com o CNDA, que, a partir de uma reclamação e um processo meus, me ajudara a recuperar quase todo o meu repertório preso a uma editora multinacional (aqueles contratos 'forever' que a gente assinava antigamente). Tendo recuperado minha obra de até então, pude em 1980 abrir minha própria editora, que ficou sendo a segunda editora de autor no Brasil (a primeira foi a Três Pontas, de Milton Nascimento, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Marcio Borges). A Feminina Edições Musicais existe até hoje, custa caro para manter, mas minha obra é minha e ninguém tasca. Graças a Deus.

Enfim, topei fazer parte do quadro de compositores do CNDA, junto com Mauricio Tapajós, Gonzaguinha, Capinam e Fernando Brant. Os outros membros eram, na maior parte, advogados, alguns simpáticos à nossa causa, como Pedrylvio Guimarães e Hildebrando Pontes, outros trabalhando para grandes gravadoras. Isso significava ir uma vez por mês a Brasília, e lá discutir processos ligados aos titulares de direitos, muitas vezes trazendo estes processos para casa e, com a ajuda do excelente departamento jurídico do CNDA, formular nossos pareceres. Era um trabalhão, não remunerado, diga-se de passagem. Recebíamos um pro-labore que quase dava para pagar hotel e refeições. Mas foi uma experiência interessante. Eu, pelo menos, aprendi muito nesses tempos. E esse aprendizado me fez ficar mais esperta para lidar com minha própria obra.

Conto tudo isso para dar uma ideia do que acontecia antes e logo depois da criação do ECAD. O ECAD que é conquista nossa, e portanto, problema nosso também. Se há alguém que possa e deva corrigir os seus erros, somos nós, compositores. 

Basta olhar em volta e ver o que está acontecendo no continente para pressentir por que, de uma hora para outra, o direito autoral passou a interessar tanto às altas esferas governamentais. Isso sim, me dá arrepios.


terça-feira, julho 13, 2010

Paulo Moura

O tempo passa e os amigos vão indo embora. Acho que estamos ficando mais velhos, é isso.

Esta foto é da nossa temporada no Blue Note Japan em 2000, quando Paulo Moura foi meu convidado especial. Aí estão conosco Teco Cardoso, Halina Grynberg (psicanalista, mulher do Paulo), o percussionista Guello, Rodolfo Stroeter e Tutty, Faltou na foto Mauricio Carrilho, que com seu 7 cordas fazia com Paulo um set de sambas e choros. Fizemos todas as cidades do circuito Blue Note e encerramos no Kutchan Jazz Festival, numa cidadezinha nas montanhas.

A entrada de Paulo em cena nesse show era irresistível: eu tocava "Lamarca na Gafieira", parceria minha com Silvia Sangirardi, que terminava dizendo:

Num samba rodopiando
Te sigo por onde for
Com Paulo Moura arrasando
Fervendo na domingueira
Lá do Circo Voador

E enquanto eu repetia o refrão "com Paulo Moura", lá vinha ele gingando, com sua clarineta e seu chapéu, pelo meio da platéia, já tocando. Era uma loucura. Foi um dos muitos shows que fizemos juntos. Mas o mais bonito talvez tenha sido um que fizemos em 1987, eu, Paulo e Hugo Fattoruso, apenas com repertório jobiniano. Fizemos duas semanas em São Paulo no Maksoud Plaza, e depois dois concertos na Sala Cecília Meireles aqui no Rio, que superlotaram a tal ponto que tivemos que fazer espetáculos extras nas duas noites.

Esta foto é do meu casamento com Tutty, em 2001, quando decidimos, depois de 24 anos de vida em comum, botar no papel o grande amor.  Tutty resolveu que não queria casar de paletó e gravata, afinal era uma cerimonia simplezinha, aqui em casa mesmo, só para a família e alguns bons amigos. Mas faltou combinar com os convidados... Paulo, como de costume, veio tão chique que meu irmão chamou o Tutty de lado pra dizer : "cuidado, que a juíza vai pensar que o noivo é ele..."

Alguns anos depois, Paulo e Halina também se casaram no papel - e sei que nossa decisão já tinha mexido com eles desde aquela época. Só que os dois casaram em grande estilo, com festão, orquestra tocando (dançamos muito!) e Frei Betto celebrando cerimonia ecumênica - Halina judia, Paulo do candomblé _ e dizendo aos noivos uma frase da qual nos lembraremos sempre:
"Nunca se esqueçam de que marido e mulher não são parentes. Marido e mulher são amantes!"

Vamos ter saudades do nosso amigo.


sexta-feira, julho 09, 2010

a thing of beauty is a joy forever

I love NY - principalmente quando a gente acha lugares secretos, fora da agitação turística, que só atrai o que não interessa.

NY in June - na rua em que estivemos, e foi tão bom.

Joyce Moreno Wine, vê se pode? (invenção do pessoal da City Winery, onde tocamos - lugar excelente pra se jantar e pouco propício pra se fazer música, mas nada é perfeito...) "Meu" vinho era um syrah da California. Não provei. Deixei de presente para a amiga que nos hospedou. Tomara que seja bom e ela goste.

Enquanto as discussões sobre direitos autorais fervem na internet;
Enquanto as datas mudam e nossa tour européia é adiada para 2011;
Enquanto aguardamos nossa próxima ida para o Japão, daqui a apenas duas semanas;
Enquanto tentamos acertar nosso sono, ainda no fuso horário da Costa Oeste americana (4 horas atrás), para encarar as 12 horas à frente de diferença entre o Brasil e o Japão;
Enquanto com tristeza recebemos a notícia de que um queridíssimo amigo e parceiro encontra-se hospitalizado em estado grave, e não sei se conseguiremos revê-lo a tempo;
Enquanto não chegam nossos netos para as férias, o que sempre simboliza vida...

...vamos lembrando momentos felizes, como nossa recente estada em Nova York. É disso que somos feitos: de momentos bons. Alegrias pra serem lembradas. Things of beauty. Joy forever. Salve, salve os poetas!


terça-feira, julho 06, 2010

direito autoral, o retorno

A coisa está ficando cada vez mais preta. O inenarrável MinC, entidade dirigida por um certo Juca Ferreira, no momento a serviço do governo petista, continua firme e forte na intenção de solapar nossos direitos e mudar a legislação autoral, como já falamos aqui diversas vezes. Este é o ministério da Cultura, que deveria jogar a nosso favor, e não contra nós!

Já publiquei aqui no blog posts de Danilo Caymmi, Antonio Adolfo e Sergio Santos sobre o assunto. Segue agora o excelente texto de Nelson Motta, já publicado no Estadão e no Globo.

Harmonias e dissonâncias
 
02 de julho de 2010 | 0h 00
Nelson Motta - O Estado de S.Paulo 
 
Todos gostam de música, muitos fazem dinheiro com ela, ninguém imagina a vida sem ela, mas como os seus criadores podem viver do seu trabalho? O assunto interessa não só aos compositores, porque envolve liberdade de associação e de expressão, quando se discute se o Estado deve participar da arrecadação e distribuição de direitos autorais no Brasil.
 
Aqui, a arrecadação é feita por um escritório central, o ECAD, criado, administrado e controlado por sociedades privadas de autores musicais, como a UBC, SICAM e outras. O ECAD cobra direitos dos que usam as músicas para ganhar dinheiro com elas (rádio, TV, shows, festas, publicidade, clubes) e os repassa às sociedades, que os distribuem entre seus autores, proporcionalmente à quantidade de execuções públicas de cada música no período monitorado. 
 
É um sistema correto e efetivo, que dá a cada um a sua parte pela utilização comercial de sua criação. Nos Estados Unidos e na Europa funciona muito bem. Se aqui há falhas, falcatruas ou ineficiência, o problema é de gestão e fiscalização, e deve ser resolvido entre o ECAD e as sociedades que representam os compositores, intermediados pela Justiça. O Estado não entende nada disso, e já morde 25% de impostos sobre direitos autorais sem tocar uma nota.
 
Quando se canta o velho refrão de uma sociedade arrecadadora estatal, ouve-se cabide de empregos, aparelhamento partidário, altos custos e burocracia. No mundo moderno, as sociedades de autores são empresas comerciais, que fazem tudo para ganhar o máximo de dinheiro para seus associados. Como qualquer empresa, competem no mercado, buscam eficiência administrativa, novas tecnologias, prestam contas, são auditadas, podem ser processadas e liquidadas legalmente. O que é que o Estado tem a ver com isso?
 
Pode soar como pleonasmo ou redundância, mas é uma evidência: quem tem a autoridade é o autor, quem criou é que decide o que se faz ou se deixa de fazer com a sua criação.
Cabe à Justiça julgar os conflitos com base na legislação (que precisa ser modernizada), e ao Estado, garantir os direitos e o cumprimento da lei. Já é muito.