quarta-feira, março 27, 2013

Um garoto brilhante

 O adolescente que (nos anos 1960 e poucos) abandonou o sax-alto, instrumento que já tocava profissionalmente, pela bateria - depois do impacto de ver ao vivo, em Salvador, Edison Machado tocando -  completa 50 anos de música. Com a mesma alegria!

Amanhã ele estará no SESC Copacabana, aqui no RJ, tocando com seu trio (ele e mais Rafael Vernet e Zeca Assumpção) e os convidados Moreno Veloso e Davi Moraes. Eu não perco de jeito nenhum!

PS- foto recente de Myriam Villas Boas, a nossa Miroca.


quinta-feira, março 21, 2013

vozes brasileiras

A perda - irreparável para quem ama a música do Brasil - do querido Emílio Santiago leva a uma reflexão: onde estão as novas vozes brasileiras? Onde anda o nosso jeito de cantar? aquele onde o(a) cantor(a) canta com sua própria voz, ou seja, com a voz que tem, aquela mesma com a qual ele, ou ela, falam?

Disse o sábio Elton Medeiros no texto do livreto que acompanha o CD 'Samba Sincopado', de Ana Martins: "A vida brasileira, ainda no início de sua cultura humana, viu-se contaminada pela música. Através do imaginário de seu povo, criou características para as artes de compor e interpretar obras musicais, o que significa o surgimento de uma escola para exprimir, bem ao nosso jeito, nossas vocações".

Não vemos mais essas características facilmente por aí. Hoje, seja nos concursos de talentos, seja nos lançamentos de novos artistas, o que se vê é uma profusão de vozes emitindo vibratos, vozes de quem estudou canto, vozes padronizadas em jeitos de cantar que são iguais em qualquer lugar do planeta, sem a marca do canto brasileiro, sem o suingue que é tão nosso, sem a síncope que é a nossa assinatura. Pior, sem alma. Quantidade não é problema: nunca se cantou tanto. Qualidade também não: não é que as pessoas não saibam mais cantar. O problema é que é tudo mais do mesmo.

Não estou cobrando que apareçam cantores e cantoras geniais como os que tivemos no século XX. Eras de ouro não duram para sempre, bem sei. Muito menos prego uma volta ao passado recente. Mas que as novas vozes brasileiras possam ao menos conhecer este legado, dar continuidade - e renovar esta cena, se quiserem e forem capazes.


domingo, março 17, 2013

sonho americano, parte 2






1989, 31 de janeiro. Meu aniversário de 41 anos. Cheguei em casa de um jantar com a família e havia um recado na secretária eletrônica: "Happy birthday, Joyce! Aqui é Richard Seidel, vice-presidente da Polygram USA. Gostaria de falar com você sobre vir a Nova York e gravar um disco conosco."

Presente de aniversário era pouco. Era o sonho americano abrindo as portas para mim mais uma vez, eu que já tivera uma frustrante experiência em 1977, com o famoso disco com Claus Ogerman,  "Natureza", jamais lançado. Eu não conhecia Seidel pessoalmente, mas depois fiquei sabendo que ele conhecia alguns discos meus anteriores e também que Tom Jobim, que estava terminando de gravar seu 'Passarim' para a Verve (o braço jazzístico da Polygram norte-americana) havia indicado meu nome a eles. Eu gravara um disco com seu repertório, em 1987, do qual o maestro havia gostado muitíssimo. E assim foi que surgiu este convite.

Organizei a vida e fui a NY, onde conversei com Seidel e outras pessoas da gravadora. Seria uma volta ao esquema das majors, que no Brasil eu não frequentava havia anos. Por isso procurei um advogado americano, caríssimo, mas de confiança, indicado pelo Bituca. Ele era advogado de artistas pop como Madonna, o que já dava uma ideia do quanto seus serviços custavam por hora - mas paguei com prazer, queria me certificar de que dessa vez tudo daria certo.

Quase deu. Assinamos o contrato, e me foi pedido que eu voltasse para casa e fizesse uma fita demo no Brasil, com músicos da minha escolha, que possivelmente seria usada como base do disco. O diabo mora nos detalhes: possivelmente. Gravamos com o grupo que tocava comigo na época. Chegando de volta a NY, surpresa: não era nada daquilo que a Verve queria.

Gravadoras às vezes são como certos maridos: apaixonam-se por uma mulher, por tudo o que ela é, e depois querem que ela mude sua essência e a festa acabe. Pois mesmo depois de saber o que eu era, ouvir meu som, ver o jeito com que eu queria que minha música fosse feita, Mr. Seidel declarou sem meias palavras que gostaria que eu regravasse tudo com músicos americanos. Fiquei assustada e preocupada em como o suingue brasileiro da minha música seria preservado. Especialmente porque havia uma cumplicidade de linguagem entre meu violão e a bateria do Tutty que leváramos anos para construir. E também porque o próprio Tom jamais abria mão de usar bateristas brasileiros: Doum Romão, João Palma, Paulo Braga. Nem mesmo gravando com Sinatra houve esta questão. E se houve, ele resolveu favoravelmente.

Mas eu não tinha o poder de fogo do soberano maestro. E tive de engolir (afinal, já havia um contrato assinado) o que a gravadora me impunha: músicos americanos, para que o som ficasse com a cara do estilo fusion que era moda naquela época - e que eu respeitosamente detestava. Os músicos eram de fato ótimos, a fina flor do jazz novaiorquino daquele momento, e com alguns deles construí uma sólida relação de amizade, que dura até hoje. Mas a base ficou dura demais, sem aquele não-sei-quê-que-faz-a-confusão, que só uma base brasileira daria.

Acabou que gravei várias faixas apenas de voz e violão, ou de violão e percussão, aí sim, com a colaboração do brasileiro Café, radicado em NY. E ainda são minhas preferidas deste disco. Dentre elas, improvisada no estúdio, uma leitura minha para 'Help', dos Beatles: "help me get my feet back on the ground... won't you please, please help me..." Era o desespero que eu sentia naquele momento.

No ano seguinte eu gravaria o segundo disco para a Verve, aí já com uma base mezzo-brasileira. Mas ainda não era minha música do jeito que eu queria e sabia fazer, havia ainda muita interferência  por parte dos produtores americanos. Do meu jeito mesmo, eu só conseguiria gravar bem mais à frente, para a Verve alemã, para gravadoras japonesas ou para a inglesa Far Out. Mas aí... é outra história que fica pra depois.



domingo, março 10, 2013

1977

Estas lembranças me vieram por conta do lançamento de um livro de Antonio Carlos Miguel sobre o Morro da Urca, na próxima semana, de onde vem a foto acima e para o qual dei um depoimento.

Em 1977 eu trabalhava como side musician ao lado de Egberto Gismonti: cantava, tocava alguma percussão e, numa música somente, violão (nessa parte o chefe, compreensivelmente, não me dava muito espaço: o violão dele preenchia todos). Já então era o grupo Academia de Danças, na formação com Robertinho Silva, Luiz Alves, Nivaldo Ornellas e eu.

Nosso amigo David Tygel, músico de grande espirito emprendedor, criou uma programação cultural para o Morro da Urca, na então chamada Concha Verde. Era pra ser música para ouvir, a princípio, embora mais tarde tenha se transformado, o espaço, num lugar de música pra dançar. O projeto de David, 'Quem Sabe, Sobe', foi inaugurado num fim de semana que abria com Hermeto e seu grupo numa noite e Egberto na noite seguinte. Foi minha primeira e única apresentação com o Academia de Danças (ao vivo, pois gravações houve muitas), pois logo em seguida eu iria para Nova York para ficar por algum tempo. Indiquei Marlui Miranda para me substituir no Academia, onde ela funcionou às mil maravilhas: era a pessoa certa no lugar certo, e por lá ficou.

Na semana seguinte eu e Maurício Maestro fizemos nosso show de despedida, antes da ida pra NY. O Morro lotou, houve canjas de milhões de amigos - Toninho Horta, Luli e Lucina, Robertinho Silva, Nivaldo Ornellas, Bituca, um saxofonista americano cujo nome não lembro e que estava no Rio tocando com Art Blakey, o próprio David e tantos outros... As pessoas subiam nas árvores para assistir, de tão lotado que estava.

(Minhas duas filhas pequenas, que ficariam alguns meses longe da mãe e aos cuidados da avó, também estavam ali no meio do público, eu e elas com sentimentos divididos... A ideia era buscá-las quando as coisas estivessem ajeitadas por lá, o que acabou não acontecendo: a maior teve um problema de saúde, eu voltei voando pro Brasil e o sonho americano ficou pra outra oportunidade)

Enfim, foi uma noite importante em vários sentidos, na véspera de uma viagem que, eu e Maurício achávamos, mudaria nossas vidas.

E não é que mudou mesmo?


terça-feira, março 05, 2013

em breve na estrada

Nosso quarteto volta pra estrada em breve! Daqui a um mês, pra ser mais exata. Na turnê da Europa estará saindo lá o 'Tudo', em lançamento quase simultâneo com o do Brasil. Aqui sai em maio, logo depois que a gente chegar de volta.

Na foto, nosso quarteto no estudio, em fevereiro/2012 - sambados, cansados, suados, felizes, terminando de gravar este que é meu filhote preferido por enquanto. Como eu quero este CD aqui no Brasil!


sexta-feira, março 01, 2013

Cem Mil

E eis que chegamos aos cem mil acessos neste modesto blog. Foram seis anos e cinco meses - portanto, em termos de internet, não fomos propriamente campeões de bilheteria. Mas em qualidade, sim: e as conversas que surgiram, as trocas de ideias, as discussões interessantes e as pessoas idem que frequentaram este espacinho durante este tempo, me dizem que sim, tem valido a pena.

Como hoje, ainda por cima, é o aniversário da minha mui amada cidade - 448 anos, com corpinho de 200 - posto aqui a foto que inaugurou este blog, com minha filha e sua então promissora barriga de grávida, no Arpoador, em 2006. O fotógrafo francês que a clicou chamou a foto de 'Rebirth'. Que o Rio possa, então, renascer - em meio a tantas situações caóticas, criadas pelo homem, e outras tantas belezas divinas.

PS- infelizmente, nunca soubemos o nome deste fotógrafo. Mas a foto, como o Rio, continua linda.