quarta-feira, maio 30, 2012

Pequenos Notáveis


Quando vocês pensam que estou quietinha, aí mesmo é que estou trabalhando...

Hoje começamos a nos preparar para gravar um novo projeto criado por mim para a Multirio. Depois da trabalheira que foi fazer os 15 documentários da série 'No Compasso da História' - que contava para a rapaziada do ensino médio a História do Brasil através do nosso cancioneiro, e que levou um ano e meio para ser concluída - desta vez resolvi pegar mais leve. Agora estaremos falando para crianças de 8, 9 anos em diante. E o nome do projeto é 'Pequenos Notáveis'.


(ao meu lado nesta empreitada, meu notável parceiro, o ator, cantor e grande músico Alfredo Del Penho, que, além de tocar e conversar comigo, irá contracenar com os atores infantis que fazem parte da dramaturgia do programa)

Serão 10 programas de meia hora cada, contando para a criançada como foi a infância de alguns dos nossos maiores compositores: Caymmi, Tom, Vinicius, Lamartine, Pixinguinha, Braguinha, Gonzagão, Chico, D. Ivone Lara e Noel Rosa.

É uma forma de oferecer música boa para a garotada, e mais do que isso, fazer com que essas crianças saibam que este tesouro brasileiro lhes pertence. O futuro Brasil precisa conhecer o Brasil.

PS- vejam, nas fotos de Alberto Jacob Filho, o lindo cenário criado por Carla Berri e Bianca Serpa.


domingo, maio 27, 2012

Encontros sempre são bons


Foi mais uma série de encontros que deixou saudade. Estivemos nos apresentando juntos, eu, Paulo Jobim, Miúcha e Monica Salmaso, além de Danilo Caymmi - que não aparece nesta foto, pois na hora estava dando uma entrevista - e o Quarteto Jobim, liderado por Cristóvão Bastos. Quem aparece é Roberto Sion, grande músico paulista, que esteve na plateia do Teatro Geo, no Instituto Tomie Ohtake, onde aconteceram nossos shows em SP. No repertório, só Tom Jobim. E como nosso MC, contando casos sobre o homenageado, o querido Sérgio Cabral (o pai, jornalista, claro - não o filho, governador do RJ)

Foram shows corporativos (ou seja, contratados por empresa para seus clientes, e não abertos ao público), mas de qualquer forma nos divertimos, rimos muito e cada um fez o que sabe fazer. Então, valeu!

PS- no espelho, batendo esta foto, aparece Maria Alice Rufino, que conheci nos anos 1970, quando trabalhei com Vinicius e Toquinho. Ela era casada com Toquinho na época, e nunca mais tínhamos nos visto. Tudo a ver com o post anterior, sobre Tenório Jr, pois essa trágica história aconteceu bem ali, naquele momento.


domingo, maio 20, 2012

Tenório Jr. e a Comissão da Verdade


Este é nosso amigo querido, Tenório Jr., maravilhoso pianista, um dos maiores do samba-jazz - na verdade, um dos pioneiros deste estilo.

Além de grande instrumentista, era também compositor de grandes temas, como 'Embalo' - que eu e Tutty gravamos em nosso CD juntos, 'Samba-Jazz & Outras Bossas' - e muitos outros, além de vários temas que ficaram inéditos depois de sua morte, aos 35.

(vejam a capa do disco abaixo, o único LP que ele lançou na vida, hoje um clássico várias vezes reeditado pelo mundo)


Tenório tinha uma inteligência impressionante, aquele humor ácido dos muito observadores, musicalidade à flor da pele. Tinha também 5 filhos e algumas compulsões, das quais, a longo prazo, precisaria se libertar. Mas não houve tempo.
Como todo o mundo sabe - e se não sabe, precisa saber - Tenório desapareceu em Buenos Aires, na madrugada de 18 de março de 1976, depois de ter se apresentado num show com Vinicius de Moraes e Toquinho. Eram as vésperas do golpe militar que deporia a presidente Isabelita Perón e jogaria o país numa longa noite ditatorial. Nosso amigo saiu do hotel para comprar cigarros, ou um sanduíche, ou um remédio - as versões são conflitantes - e nunca mais voltou. Tempos depois, o depoimento de um ex-oficial argentino que participara da repressão dava conta de que Tenório fora confundido com alguém que estava sendo caçado, numa espécie de operação pente-fino, pré-golpe. E morreu na tortura, cerca de 10 dias depois. Ele, que de política não sabia nada, nem queria saber. O ser mais apolítico que já conheci na vida, totalmente inofensivo, que só pensava e vivia para a música, foi preso, torturado e morto como se fosse um perigoso subversivo. O que, ainda que fosse, não justificaria o que ele passou.

Sua odisséia serviu como inspiração para o filme 'Os Desafinados', de Walter Lima Jr, com Rodrigo Santoro fazendo um Tenório de dar aflição a quem o conheceu (no filme, o personagem tem outro nome). É a mediunidade a serviço da arte, só pode ser, pois não existem registros visuais de nosso amigo falando, andando ou mesmo tocando, que expliquem uma composição tão precisa do ator.

Há também outra produção em andamento, do espanhol Fernando Trueba, sobre a mesma história. Trueba esteve aqui em casa e na casa de outros amigos que conheceram e conviveram com 'Seu Antenas' (apelido pelo qual eu o chamava, já que ele era uma antena ambulante para tudo o que era som), para ouvir depoimentos sobre ele. Eu estive com Tenório poucos dias antes do acontecido, pois estava na mesma turnê, da qual saí em Montevidéu, enquanto eles seguiam para Buenos Aires. Acompanhei o desespero de Vinicius, da família (o quinto filho ainda na barriga da mãe) e de toda a classe musical carioca naquele momento. Ninguém sabia o que fazer, a embaixada brasileira não podia ajudar, foi totalmente o caos. Até que o oficial argentino, numa entrevista, contasse o que realmente aconteceu. É  uma página infeliz da nossa história que merece mesmo um documentário, como este que Trueba está há anos preparando e que agora, dizem, pode ser feito em formato de animação.

Falo tudo isso porque tenho esperança de que o caso Tenório venha a ser investigado na Comissão da Verdade, que recém foi inaugurada. Sei que muitos outros casos estarão esperando - e dentre eles, alguns de gente que conheci e por quem tive diferentes afetos: meu parente Aloisio Palhano; a família Angel Jones (Stuart, Sonia e Zuzu); Ana Maria Nacinovic, minha colega de escola; e tantos outros mais. Mas embora o sequestro, prisão e morte de Tenório tenham se dado na Argentina, houve uma conivência do Brasil, no sentido de 'desaparecer' com aquele inocente que, ao sair da cadeia onde fora parar por acaso, poderia dar com a língua nos dentes e assim comprovar o que extra-oficialmente já se sabia: havia uma cooperação sinistra entre os governos ditatoriais do Cone Sul.

É esperar para ver.


segunda-feira, maio 14, 2012

Desapego


Eu gostaria muito de ter um IPad. Mas não preciso tanto assim, por isso não tenho.

Nossos celulares e computadores são relativamente novos, mas até mereceriam um upgrade. Mas não precisamos tanto assim, e mantemos os mesmos até onde der.

Também seria bom ter outras coisas aqui em casa - uma aparelhagem de som que fosse campeã, por exemplo. Mas não precisamos tanto assim, e vamos levando com a que temos.

Um carro mais novo e melhor também seria bem vindo. Talvez menor que o nosso, que é grande demais na hora de estacionar e manobrar. Mas não precisamos tanto assim, e vamos ficando com o mesmo.

Na verdade, o ideal seria fazer tudo a pé e não ter mais carro. Mas isso ainda é um projeto para o futuro, já que moramos no alto de uma ladeira íngreme, que subimos a pé quando dá - e nem sempre dá. Por enquanto, vamos ficando por aqui, inclusive porque amamos nosso cantinho - e com o Pão de Açúcar na frente e o Corcovado nos fundos, é difícil dispensar a vista, tão cedo. Mas a ideia de não usar mais carro é tentadora. Principalmente se pensarmos uns 20 anos à frente. Depois que o petróleo acabar, quem sabe mudamos para uma área mais baixa?

Fazer tudo no nosso bairro é o projeto atual. Vai ficando cada vez mais complicado sair dele, então a ideia é usar todas as facilidades da nossa área mais próxima. O Rio vai parar, como São Paulo já parou. Cada dia se veem mais automóveis nas ruas, e o transporte público não ajuda.

Tanta coisa no mundo hoje que é legal, mas dispensável. Vivíamos bem sem elas, há anos atrás. Agora tudo parece indispensável, mas, olhando bem, não é mesmo. Meu projeto, então, seria simplificar a vida e me concentrar na necessidade maior, que é a criação. Dessa, o desapego é impossível.

Por isso, em vez de trocar de carro e comprar um IPad, gravei um novo CD.


quarta-feira, maio 09, 2012

Sambacana


Esta é a capa do meu primeiro disco... Minto: é a capa do disco que contém minhas primeiras gravações, na tenra idade de 16 anos. Aconteceu que um compositor mineiro, o bossanovista Pacífico Mascarenhas, queria que suas composições fossem gravadas pelo melhor grupo instrumental e pelo melhor grupo vocal do momento. O grupo instrumental, ele conseguiu: Roberto Menescal e seu conjunto, sucesso absoluto na época, com seu primeiro lançamento pela gravadora Elenco (aquele disco em que Menescal aparece vestido de mergulhador, com arpão e tudo, coisa que ele realmente era). Mas para o grupo vocal, que pela vontade do dono do disco seria Os Cariocas, a verba não foi suficiente (pelo que soubemos, ele estava bancando tudo sozinho, embora a gravadora Odeon cedesse seus estúdios para a gravação e lançasse o disco). E foi assim que Pacífico pediu a Menescal, já assumindo as funções de produtor, que organizasse um quarteto capaz de gravar suas músicas em tempo recorde.

Menescal era amigo de meu irmão, como já contei aqui em várias ocasiões. Tinha escutado uma fitinha despretensiosa, que eu gravara em casa em nosso gravadorzinho Geloso, com minhas primeiras tentativas musicais. E achou que eu estaria pronta para fazer parte desta empreitada. Fui portanto convidada para participar do disco do fictício Conjunto Sambacana - em cuja contracapa constava a fantasiosa história de "um grupo de rapazes e moças de Belo Horizonte que se reunia para fazer música". Conversa fiada: os ensaios foram lá em casa. Até a foto da capa era uma ficção, com uma imagem parcial de Marcos Valle - que não tinha nada a ver com a história, e que era facilmente reconhecível pela indefectível pulseirinha de ouro no braço direito - tirada dos arquivos da gravadora.

O quarteto vocal ficou sendo então, além de mim mesma na primeira voz, e do próprio Menescal, completado por Hedys Barroso (irmã de Sérgio Barroso, baixista do conjunto do nosso líder) e por Toninho, crooner do conjunto de baile que meu irmão tinha na época, que, por mais experiente, fazia a maioria dos solos. A mim também coube um solo na canção "Olhos Feiticeiros", que fiz com bastante empolgação, e que está hoje na seção de raridades do meu website - visto que o disco do Sambacana não está mais disponível. Mas dele não me esqueço, pois foi minha primeira vez num estúdio de verdade, além de ter sido meu primeiro trabalho remunerado. Aos 16 anos, ainda vivendo no ciclo adolescente de colégio de freiras/namoricos/praia e festinhas, foi uma experiência e tanto. Só quatro anos depois eu entraria na música para valer.

O imaginário Conjunto Sambacana ainda teria uma versão posterior, desta vez mineira de verdade, com participação dos iniciantes Milton Nascimento e Wagner Tiso. Mas isso é uma outra história.



segunda-feira, maio 07, 2012

Ana de Hollanda e nossos direitos

Continuam as discussões em torno das questões que cercam o direito autoral. Por incrível que possa parecer - e sei que há gente que lê este blog do outro lado do mundo, em países onde esse tipo de discussão pode até soar meio ridícula - ainda há quem pregue o retrocesso em nome da 'modernidade'. Muderno, para esses, seria o autor voltar à situação de marginalidade em que vivia no início do século XX. O pagamento justo dos direitos do autor foi conquistado duramente na década de 1970, e eu sei porque vi, ninguém me contou. Estava lá quando foi criada a SOMBRÁS, associação civil de compositores que existiu justamente para que essas reivindicações fossem feitas em nome da música, e que serviu para que fosse centralizada a arrecadação de nossos direitos, através da criação do ECAD. Se o ECAD depois se desvirtuou, errou, distribuiu mal, problema nosso, corrija-se. Mas simplesmente achar que acabar com o ECAD é solução é, no mínimo, ingenuidade.

(Agora mesmo houve uma grande reformulação na SGAE, sociedade europeia à qual pertenço, e que atravessava grave crise. Depois de discussões e debates, foi feita uma nova eleição e modificou-se a SGAE, democraticamente. Se vai dar certo ou não, isso veremos. O importante é que em nenhum momento foi proposta a extinção da sociedade. Os espanhóis não são malucos.)

O projeto da reforma do DA tramita no Senado, onde há muitos felizes senadores/proprietários de redes de rádio e TV -  concessões dadas, na maior parte, durante o governo Sarney. Estes são os grandes interessados no não-pagamento dos direitos e dizem isso abertamente, pois contam com a cumplicidade dos mudernos da internet, que, conscientemente ou não, também atendem aos interesses de grandes corporações como o Google. A questão abrange todo tipo de profissional que viva de sua arte, não apenas nós músicos. Todo criador está, no momento, com sua profissão em vias de extinção. Somos todos espécies em risco.

Vejam abaixo a fala emocionada da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, no Senado. E, logo a seguir, um ótimo texto do jornalista Mauro Dias sobre o mesmo assunto.

http://www.youtube.com/watch?v=X0Je0Ou1yyM&feature=youtu.be


 http://migre.me/8XaTG .