sábado, março 27, 2010

Filgueiras



Tenho ótimas lembranças de Filgueiras - uma linda  praia pertinho de Mangaratiba, a caminho de Angra, litoral sul do RJ. Era lá que minhas amigas Luli e Lucinha (hoje Luhli e Lucina, por artes da numerologia, e não mais uma dupla) tinham uma casa onde moravam com o marido, Luiz Fernando, e as crianças deste casamento.

Porque além do trabalho musical da dupla, havia um casamento, só que nada convencional: tratava-se, como dizia na época a Luhli, de um "trisal", um casal de três - três pessoas que se amavam entre si e criaram uma família a partir desse amor. Família que, apesar de formada nos anos 1970, era pra lá de alternativa, e na verdade o seria ainda hoje. Nós aqui em casa - que éramos, ainda somos e sempre seremos um casal de dois - respeitávamos a escolha de nossos amigos, pessoas mui queridas, e frequentávamos a casinha de Filgueiras com nossas crianças e outros amigos. 

Foi lá, entre outros acontecimentos, que foram feitas as fotos para a capa do meu disco "Feminina" no comecinho de 1980, que Luiz Fernando, grande fotógrafo, clicou e junto com Luhli (ex-aluna da ESDI, como ele) criou a arte e o logotipo do LP. Eu e Tutty estávamos recém-saídos dos estúdios dessa gravação (que seria uma das mais importantes de nossas vidas, embora ainda não soubéssemos disso) e éramos recém-pais de nossa filha mais nova, Mariana, na ocasião com 8 meses. Lucina, por sua vez, já estava grávida dos gêmeos Pedro e Antonio, dela e do Luiz. Ela e Luhli tinham produzido há pouco mais de um ano seu primeiro disco independente. Eram tempos férteis em todos os sentidos.

(As fotos acima, feitas nesta ocasião, são do Luiz, mas as fotos abaixo são de Lizzie Bravo, também amiga e frequentadora da casa. Ela está reorganizando seu fantástico arquivo, talvez com vistas a uma futura publicação. Tem de tudo ali: eu, Milton, Egberto, o Som Imaginário e todo o mundo da nossa turma lá pelos anos 1970. Não é pouca coisa.)

Esta foto, por exemplo, é de um carnaval na casa de Filgueiras. Da esquerda para a direita, Flor e Júlia, filhas de Luhli e Luiz. Em seguida estão minha filha Ana, depois Marya (filha de Lizzie e Zé Rodrix) e minha filha Clara. Três futuras cantoras, portanto - e naquela época, inseparáveis.


 Nosso amigo Ney Matogrosso, igualmente hóspede da casa, maquiou as crianças para o bailinho da matinê do clube em Mangaratiba, e lá se foram elas cair no samba. Lindas.

Boas lembranças, que as fotos que Lizzie mandou ontem me trouxeram de volta. Tempos de juventude, criatividade e paixão pelo que estávamos fazendo - o que perdura até hoje. Mas o melhor de tudo é que era feito sem pensar, deixando que a vida nos levasse, sem temer nada, como só acontece quando somos assim tão jovens.


segunda-feira, março 22, 2010

Panamá

Santos Dumont já usava, no começo do século XX. Aqui no Brasil, mais recentemente, foi popularizado pelo Tom. Alguns bambas do samba, como o grande Monarco, também usam. E neste verão carioca foi a grande moda, desta vez também até entre algumas mulheres. De cores variadas (o que, para o meu gosto, fica meio esquisito), no verão 2010 o chapéu panamá pôde ser encontrado até nas bancas de camelô, embora os legítimos, para os realmente chiques, precisem ser importados do Equador. Pois é de lá que eles vêm, apesar do nome.

Quem gosta de usar chapéu, e parece que ainda são muitos, diz que o panamá é ideal para o verão, por ser mais fresquinho. Eu implicava um pouco com esse acessório, achava seu uso um pouquinho pretensioso. Mas implicava, na verdade, porque o panamá me parecia parte tão integrante de figuras queridas, como Tom e Monarco, que os usuários posteriores e mais jovens me davam a impressão de quererem parecer mais velhos, mais sábios, mais... chamativos, quem sabe. Como todo julgamento, provavelmente este aqui também está errado. Mas que o uso do panamá passa uma mensagem sobre a personalidade de quem usa, lá isso passa.

Em meados dos anos 1970 saí em turnê com Vinicius e Toquinho. Viajamos para a Europa, especialmente Itália e França. E em todos os shows, como era seu costume, Vina gostava de contar algumas historinhas no idioma local. O baterista da banda, Mutinho, gaúcho e sobrinho do grande Lupiscínio Rodrigues, era o feliz proprietário de um chapéu panamá pelo qual Vinicius tinha se interessado - ele que na época usava boina direto (e é bom lembrar que naquele tempo o uso do panamá ainda não havia sido adotado pelo Tom). Enfim, de tanto ouvir os elogios do poeta, Mutinho acabou lhe dando o chapéu de presente. E ainda fez um samba, intitulado "Meu Panamá", que começava assim: "eu dei pra ele/ meu panamá/ saudade dele/ me faz chorar..." Vinicius, que tinha lá suas vaidades, adorou mais ainda a história, e daí por diante, em todos os shows, fazia com que o baterista cantasse o samba que tinha composto em sua homenagem. Era um sucesso.

Quando retornamos ao Brasil fomos fazer um show em Santos, para uma plateia de universitários. E Vinicius quis contar de novo a história do chapéu, pedindo a Mutinho que cantasse o samba. Só que assim que saiu a primeira frase - "eu dei pra ele..." - dá pra imaginar o que aconteceu: quase o nosso show acabava ali mesmo, sob vaias, gritos e gargalhadas do público. O compositor e o poeta não tinham se dado conta da interpretação maliciosa que semelhante gesto de carinho poderia acarretar por aqui. 

A expressão "dar o panamá" por pouco não virou piada recorrente entre os músicos. Ainda bem que o pessoal esqueceu logo essa história.


segunda-feira, março 15, 2010

pois então...

Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro da foto acima. É o sensacional Lamartine Babo, autor de tantas maravilhas na música brasileira. Figura engraçada, divertida e capaz de musicar até bula de remédio. Dele guardo aqui em casa um pequeno LP de canções juninas autografado, não para mim, mas para o filho de um casal amigo seu, na época ainda uma criança: "Nos meus fogos de artifício/ no outono dos meus amores/ saúdo o Carlos Maurício/ no mês de maio e das flores", escreveu o Lalá em 1958. Um doce para quem adivinhar quem era o pequeno Carlos Maurício da dedicatória, tão desleixado com seus valiosos pertences que deixou esta jóia na casa de uma amiga mais cuidadosa, sabendo que com ela estaria segura. Está, pois, aqui em casa o LP, que contém coisas como "Chegou a Hora da Fogueira", "Isso É Lá com Santo Antonio" e outras pérolas juninas que a criançada canta até hoje, sem saber de quem é. Continua guardadinho à disposição, se algum dia o dono vier buscar.

Divagando de novo... É que Lamartine também foi o autor da divertida "História do Brasil" ("quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral, foi seu Cabral!"), que poderia ser o tema de abertura de um novo programa de TV que imaginei alguns anos atrás, não fosse o erro histórico que vem logo a seguir ("No dia 21 de abril/ Dois meses depois do carnaval...")

Pois é essa a nova aventura a que me propus: criar e apresentar um programa de TV onde a música brasileira contasse a História do Brasil e do povo brasileiro. Porque ela conta, mesmo. Está tudo lá. Imaginei este projeto há alguns anos, registrei e guardei, pois as primeiras tentativas de levá-lo ao ar não deram certo. Mas agora vai, e estou fechando com a Multirio - mesma produtora do Cantos do Rio em suas duas temporadas, 1999/ 2000 e 2002 - uma nova série de programas. Só não sabemos ainda quem irá exibir.

É uma tremenda responsabilidade, pois não estarei falando só de um assunto que domino, que é a música brasileira, mas também de suas intersecções com a História do Brasil, o que pode ser complicado. Mas a vontade de fazer com que isso chegue aos brasileirinhos das escolas - e a todos os que queiram aprender, se divertindo - vale o risco.

Vou contando as novidades à medida que forem acontecendo.


sexta-feira, março 12, 2010

aventurando

Riscos a gente sempre corre. Basta botar o pé fora de casa - ou não: minha mãe, sabiamente, dizia: "pra morrer, basta estar vivo". Se estamos respirando, tudo pode acontecer. Tomamos decisões certas e erradas, e só vamos nos dar conta muito depois. 

Sei que em muitas ocasiões da vida minhas decisões podem não ter sido as mais acertadas. Mas sempre errei tentando o melhor. Acho que com a maioria das pessoas é assim.  Temos alguns talentos específicos e procuramos fazer deles alguma coisa útil, se possível. 

Estou divagando? estou. É que estou iniciando alguns trabalhos "de risco", ou seja, entrando em searas onde até já estive, mas que desta vez parecem mais novas, diferentes. O que acarreta também novas responsabilidades nos meus ombros que "suportam o mundo... e ele não pesa mais que a mão de uma criança..."

Se eu pedir socorro, alguém aí me salva, por favor.


terça-feira, março 09, 2010

dia internacional da mulher

Aquela moça que ganhou o Oscar fez um filme completamente de macho!
Então é assim que se faz... 


sexta-feira, março 05, 2010

até um dia, Johnny!


segunda-feira, março 01, 2010

tristezas e alegrias

Neste fim de semana perdemos o querido Walter Alfaiate, o homem mais chique do samba - que por si só já é forma de arte das mais elegantes. Ele aparece no canto esquerdo desta foto, tirada em 1999 na festa de lançamento do meu programa de TV Cantos do Rio. Um momento de muita alegria, onde amigos de várias diferentes vertentes da música brasileira estiveram presentes. Ao meu lado, claro, o amigo de sempre Hermínio Bello de Carvalho. Deus abençoe o nosso Alfaiate, que deve estar chegando lá do outro lado com a dignidade que em vida lhe foi marca registrada.

E hoje, não por acaso, é aniversário do Rio de Janeiro, 445 anos de belezas, alegrias e tristezas de toda sorte. Incluo aqui, portanto, dedicando o post de hoje à minha cidade e seus cantores, a letra da canção que servia de abertura para o Cantos do Rio.

                                      DELIRIOS DE ORFEU

                            (música: Claudio Nucci/ letra: Joyce)

Sons de Noel, tons de Jobim

Encontros naturais

Sonhos de Cartola num jardim

Com Vinicius de Moraes

Vila Isabel em Ipanema dá

Mangueira dá no mar

Sons de Noel, tons de Jobim

Batuques de Sinhô

Lupiscínias sombras sobre mim

Negra luz do meu amor

Copacabana invade o cabaré

E a Lapa , o mar levou

Cidade, esconde os teus sinais

De lágrimas e cicatriz

Vermelhas marés, línguas negras, aflição

Assombração, o mal pela raiz

Nesses tempos sem perdão

Os teus poetas vão voltar

Te povoar mais uma vez

Pois de algum lugar

Pixinguinha abençoou

Villa crismou

E a maravilha então se materializou

Do invisível renasceu

Pelos delírios de Orfeu .