quinta-feira, junho 21, 2007

da janela, vê-se...

Da série "porque não saímos do Rio de Janeiro"

A acácia rosa (que tenho uma vez por ano assim florida, diante de minha janela) está em vias de extinção aqui no Rio. Fala-se na possibilidade de ela ser substituída pela prefeitura por mudas de outras árvores mais resistentes. Não na minha rua, espero.

Os pássaros também andavam meio sumidos. Parece que por causa dos sagüis, que roubam os ovos nos ninhos. Mas os sagüis também não têm aparecido, então... semana passada tive diante de minha janela, pela ordem: um pica-pau, um beija-flor pequeno, dois bem-te-vis e um bando de maritacas, além do passarinho verde e azul mais lindo do mundo, que aparece de vez em quando e que não sei como se chama. Preciso arrumar um nome pra ele.

Ah, e mais tarde a coruja também veio. Tudo isso num mesmo dia.

Os macacos-prego, não vejo faz tempo. Esses não fazem falta. Quando resolvem querer entrar, é um sufoco. Atrevidos. Qualquer hora vou postar a série de fotos da tentativa (infrutífera, literalmente, já que ele vinha mesmo atrás de frutas) de um desses aqui na janela da sala. Fechei a vidraça a tempo.

As crianças vão bem, graças a Deus.


segunda-feira, junho 18, 2007

batida diferente

Outro dia, passeando pela internet, me deparei com uma frase num blog sobre música que me deixou momentaneamente em estado de choque: a pessoa que escrevia (certamente não por falácia, mas por desinformação) falava em Djavan como o "verdadeiro criador do samba-jazz". Ó céus!

Hoje acordamos com a noticia da morte de Durval Ferreira, a melhor guitarra/violão-centro da bossa-nova, do samba-jazz e de outras bossas. Então explico, pra quem não teve a chance de conhecer: samba-jazz _ estilo criado nos anos 60, a partir da bossa-nova, e basicamente instrumental _ é Durval Ferreira, é Tamba Trio, é Luiz Eça, Edison Machado, Moacir Santos, Dom Salvador, Rio 65 Trio, Luiz Carlos Vinhas, Bossa Três, João Donato, Sérgio Mendes (antes dos USA), Raul de Souza, J. T. Meirelles, Doum Romão, Tenório Jr... é muita gente, e NÃO é Djavan.

Muitos artistas da minha geração cresceram nos anos 60 ouvindo o legítimo samba-jazz. Acredito que Djavan tenha sido um deles, embora menos visivelmente influenciado do que outros. A pegada djavanesca é basicamente pop-fusion, e não vai aqui nenhuma crítica a essa opção, que ele executa muitíssimo bem. Mas samba-jazz, não é mesmo. Outros artistas mais novos estão tentando retomar o estilo, uns bem-sucedidos, outros nem tanto. Mas pra quem quiser saber do que se trata, recomendo a audição urgente dos CDs relançados de todos os mencionados acima.

E de Durval Ferreira, por supuesto, talvez o mais importante compositor do gênero, autor dos principais standards do autêntico samba-jazz. Foi também um de meus mestres do violão como centro de tudo, como levada e sustentação de grupo. Ouçam e comprovem.


segunda-feira, junho 11, 2007

a escrita


Quando eu era pequena, achava que queria ser escritora, como os amigos aí da foto (Heloisa Seixas, Ruy Castro, Ana Maria Machado, todos grandes nos seus ofícios e fãs de boa música). A música me sugou pra dentro dela quando eu ainda era estagiária no Caderno B do Jornal do Brasil, e nunca mais me devolveu.

Assim, não se cumpriu a profecia/desejo de minha mãe, que no Natal de 1960, tinha eu meus doze anos de idade, me deu de presente a obra completa de Machado de Assis, com uma dedicatória que dizia "que Machado de Assis te inspire no caminho que vais trilhar" (minha mãe era do início do século XX, pra quem estranhar o verbo na segunda pessoa). Virei um músico, e quando estou letrista, até consigo contar uma história direitinho. Ela também gostaria que eu tivesse sido diplomata, mas depois entendeu que de certa forma eu também represento o Brasil `a minha maneira. Eu faço o que posso.

Mas o velho Machado me inspirou sim, e muito. Principalmente seus contos (short stories em inglês, termo que define melhor) _ psicologia, ironia, profundidade, compaixão, toda a grande comédia/tragédia humana, tudo lá. Estes dias mesmo, em SP, assisti a uma versão teatral de dois contos dele, feita por um dos elencos do grupo Ágora, de que nossa filha Kadi faz parte. A história do sádico Fortunato (do conto 'A Causa Secreta'), contada por excelentes atores, descrita não só nas palavras, mas por gestos, caras e movimento, é de arrepiar. Ainda mais tenebrosa do que a simples leitura do texto, que em si já é impressionante. "O Espelho", outro conto ali re-contado, é um tapa na cara dos quase-famosos. Leiam, vejam, tudo o que um pequeno título (no caso, patente) pode fazer com um mortal. Depois me contem.

Machado de Assis, genio da raça _ e além do mais, ele é carioca.