domingo, setembro 28, 2008

minha praia

Esta é a provável capa do DVD que está em fase de finalização, meu cancioneiro ao vivo, com convidados. Ao fundo, minha praia de infancia, o Posto Seis, pois aí estou eu sentada na mureta do Forte de Copacabana, bem na área onde nasci e cresci. Quando eu era adolescente, lá pelos 13, 14 anos, costumava ir nadando com algumas amigas até a Prainha, que ficava na área do Forte e cujo acesso era proibido ao público (e só dava pra chegar lá a nado mesmo). Éramos invariavelmente expulsas pelos soldados que tomavam conta. Naquela época não se podia entrar no Forte, que hoje é um simpático museu, com a vista mais linda do mundo e uma filial da confeitaria Colombo, onde se pode tomar chá olhando o por-do-sol em Copacabana. A Prainha não existe mais, foi tomada por um cais construído há alguns anos.

O pessoal do Forte foi gentilíssimo e nos abriu as portas para as fotos com a maior simpatia. Engraçado como o exército brasileiro, tão temido e execrado nos meus anos de juventude, em plena ditadura militar, foi mudando de cara e ficando mais parecido com a gente. Eu não tenho mais medo do exército. Mas `as vezes tenho medo da polícia, quase tanto quanto tenho medo de bandido. A gente nunca sabe. Tudo muda com o tempo. Espero que essa minha percepção de hoje mude pra melhor também, mas por enquanto ainda é a que tenho.


domingo, setembro 21, 2008

é pau, é pedra...

Momento de decisão: quem vai ser o novo prefeito da minha cidade? Quem vai encarar uma roubada dessas? Ou alguém muito maluco(a) ou muito ambicioso((a) também, pois temos duas candidatas).

Tenho um amigo concorrendo, pessoa que respeito e cuja postura admiro, mas que não sei se dará conta de tamanha pedreira, pois é impossível ser feliz sozinho e sua coligação não é lá das melhores. Tem o meu provável candidato, um político bastante interessante e de trajetória singular. Os outros são os outros. Quero ver quem se disporá a botar ordem nessa zona e dar um basta na favelização da cidade, por exemplo. Hoje, domingão, acordei `as seis da manhã com o foguetório no morro Dona Marta. Era polícia ou ladrão, tanto faz. E olha que moramos a mais de um quilometro e meio de distancia do morro. Imagina quem mora lá.

O problema é muito simples: não cabe mais ninguém no Rio. A cidade incha mais e mais a cada dia, e quem não tem lugar vai se espremendo pelas favelas que já existem. 'E quando o primeiro começa, os outros mais depressa procuram achar/ seu pedacinho de terra pra morar', já dizia Padeirinho, numa vasta extensão cada vez menos vasta. A periferia é aqui dentro, e cada bairro do Rio tem a sua. E o pessoal que mora nas comunidades hoje vive 'num campo de concentração sem arame farpado', como bem definiu o novo presidente do TRE-RJ. Liberdade zero. Foi para isso que tanto buscamos a democracia?

Ver minha cidade agonizando, em estado terminal, me faz lembrar nosso ex-governador Marcello Alencar, que disse um dia, de maneira politicamente incorreta, que o Rio de Janeiro é como uma belíssima mulher _ tão bela que os homens não querem amá-la, e sim estuprá-la. Pois pra ser mais incorreta ainda, vou lembrar aqui também aquela pérola do inenarrável Paulo Maluf: estupra, mas não mata. É o horror, é o caos, é o fim do caminho.


segunda-feira, setembro 15, 2008

Nonada no Grammy



OK, desconsiderem os luxuosos convidados que estiveram comigo em algum momento no Japão ou em outras paragens, e vamos nos concentrar no meio de campo: aí estão, comigo (e com Dori e Menescal) alguns grandes músicos que fazem ou fizeram parte das minhas Bandas Malucas como efetivos, durante os últimos 10 anos: Rodolfo Stroeter, Nailor Proveta, Teco Cardoso, André Mehmari _ e Tutty Moreno, ça va sans dire, meu efetivo na música e na vida há mais de 30 anos.

A reunião desses talentosos malucos como grupo em si mesmo começou em 1998, quando surgiu um convite da Secretaria de Cultura da Bahia para o Tutty, que é baiano, gravar um CD individual. Ele optou por convidar para a empreitada músicos tão criativos quanto ele. Rodolfo e Proveta (baixo e sax-alto/ clarinete) foram escolhas imediatas, com quem ele já tocava havia tempo em várias situações e grupos, e que toparam no ato sua proposta de 'desconstruir' a música (daqui a pouco explico melhor). Para completar o elenco, ele apostou num garoto então de 20 anos incompletos, com quem tocara recentemente num concerto em SP, André Mehmari (piano e arranjos de cordas), fazendo ali sua estréia num trabalho desta responsabilidade.

Pois desconstruir a música significava pegar um tema e desdobrá-lo, revolvê-lo, recriá-lo através da liberdade do improviso _ não o surrado formato tema-improviso-volta-ao-tema, mas de fato uma recriação, algo como pegar um vestido, desmanchá-lo todinho e com o mesmo tecido fazer dele uma calça, mal comparando. André foi fundamental nessa proposta, como re-harmonizador, mas igualmente Proveta como solista, Rodolfo como meio-campista (que todo baixista é) e Tutty como ideólogo da coisa toda, transformando, como sempre fez, a bateria em instrumento harmonico e melódico _ trabalhando com ritmos, claro, mas também com cores e texturas. Assim nasceu o CD 'Forças D'Alma'.

Quando eles se apresentaram no Chivas Jazz Festival, em 2001, foi um escandalo para uns, um choque para outros, um alumbramento para a maioria. Principalmente entre os músicos, 'Forças D'Alma' ficou sendo um marco na música instrumental brasileira, e isso saiu com todas as letras em diversas publicações.

A concepção daria ainda mais dois filhotes: o CD 'Nem 1 Ai', com este mesmo grupo acrescido da bela voz de Monica Salmaso e da sanfona de Toninho Ferraguti, gravado em 99; e finalmente, o recente 'Nonada', com Tutty, Rodolfo, André, Proveta e Teco Cardoso, recém-lançado pelo selo Pau Brasil, via Biscoito Fino. Deste eu novamente participo em uma faixa (no 'Forças D'Alma', participara em duas), com uma composição minha, 'Feijão com Arroz', devidamente virada pelo avesso e com um arranjo espetacular do Proveta, ele e Teco com seus saxofones, clarinetas, flautas em todos os timbres possíveis, fazendo uma sanfona gigantesca.

Pois o CD 'Nonada' acaba de ser indicado ao Grammy Latino como melhor CD de jazz. Grammy neles, portanto, que eles merecem!

PS- o nome deste grupo sempre foi uma questão um tantinho polêmica. Forças D'Alma, uma primeira idéia, foi dispensado por todos, por remeter demais ao CD que, afinal, era do Tutty; Banda Maluca, como chegou a ser sugerido pelo Rodolfo, também remetia ao meu trabalho. Depois de muito pensar, o próprio Rodolfo propôs Nonada (como no livro de Guimarães Rosa, 'Grande Sertão- Veredas') e batizou-se grupo e CD.
Agora vimos que, por um erro ainda na prensagem do CD, o nome do selo (Pau Brasil) saiu na lista do Grammy como sendo o nome do grupo. Pau Brasil (o grupo) é outro, de que também fazem parte nossos amigos Rodolfo e Teco _ mas o Nonada é o Nonada, e a eles o que lhes pertence.


terça-feira, setembro 09, 2008

de volta a casa

Lindo, não? essa é a foto de Lizzie Bravo mostrando Jardim Botanico, Lagoa, Jockey Club, etc. Meu bairro. Nosso bairro. Lindo.

Mas a chegada ao Rio já derruba qualquer um. Minha cidade, vista assim do alto, de quem chega de avião, mais parece uma mega-favela. E é o que ela é, infelizmente, devo dizer. Vivemos numa pequena ilha de beleza, cercada de favela e violencia por todos os lados. E eu queria essa beleza para todos, como um dia já foi, mas como aparentemente nunca mais será. Não com as perspectivas que se apresentam.

Passado o primeiro bode da chegada _ o famoso choque de realidade que me acomete sempre que passo mais de uma semana fora do Brasil _ devo dizer que o Japão foi uma maravilha: a música funcionou lindamente, o Blue Note superlotou como sempre, com um público animadíssimo, e essa formação de banda está uma delícia de tocar junto. Nos encontraremos de novo na Espanha, em novembro. Meu atual pianista mora longe (NYC) e o atual baixista, meu vizinho, vive com as mãos ocupadíssimas, cheio de trabalho. Mas sempre que der, nos juntaremos, pois foi bom pra todo o mundo. E temos muitos projetos pela frente, aqui, ali e acolá. O show de domingo passado foi gravado ao vivo pela TV Fuji, e será exibido lá intermitentemente pelos próximos dois anos. Quem sabe vira um 'produto' num futuro próximo...