Casei cedo, para os padrões de hoje: aos 22 pela primeira vez, aos 27 na segunda, e aos 29 na terceira e definitiva
(no flyer acima, estávamos comunicando aos amigos que casamos no papel, ambos aos 53). Fora os 3 casamentos, também namorei bastante durante a minha adolescência e primeira juventude. Bastante, mas nem tanto como parece que as pessoas acham... Volta e meia alguém se apresenta como amigo ou parente de algum 'namorado' meu. O problema é que quase nunca sei de quem se trata. Como ainda não fiquei maluca e continuo dotada de excelente memória, sei direitinho os nomes de cada um dos namorados reais que tive entre os 13 e os 22. Esses que têm me aparecido, lamento dizer, são produtos da delirante fantasia de alguém.
Sei que o palco é zona erógena, e até já escrevi um post a esse respeito. Aquelas luzes sobre a pessoa, o som de uma voz numa gravação, o desejo secreto de que aquela música, com que você se identificou tanto, tivesse sido feita para você... Tudo isso junto pode alimentar todo o tipo de fantasia. Em alguns lugares a coisa pode sair do controle, como a gente vê nos Estados Unidos, onde às vezes os
stalkers, ou perseguidores, quando apanhados em flagrante, recebem ordem judicial de ficar a
x metros de distância do objeto de seu interesse. Eventualmente, isso até pode acontecer por aqui também. Atores e atrizes de novelas são alvos preferenciais, e por isso mesmo vivem numa tensão danada. Conheço algumas pessoas do ramo e já presenciei situações bizarras. É dura a vida da bailarina.
Na minha avançada faixa etária, porém, graças a Deus, não corro mais esse perigo. Mas é comovente e um pouco triste ver como, vez por outra, alguém dessa minha geração conta vantagens para algum parente, amigo ou vizinho - talvez numa tentativa de se dar importância diante da família, alimentar o próprio ego ou dar um pouco de graça a uma vida que talvez não tenha tido nenhuma, vai saber? Como o caso daquela senhora que me abordou no toalete de um teatro, para me dizer que meu ex-namorado, marido dela, tinha recentemente falecido. Infelizmente, este era alguém que eu não tinha a mínima ideia de quem fosse. Como destruir a ilusão de uma viúva tão recente? E de onde, pelo amor de Deus, ela tirou essa ideia?
Ou então aquela linda mocinha que atravessou o país de avião para assistir a um show meu em Nova York, eu que fora namorada de seu falecido pai. Fiquei passada, pedi mais informações a ela, tive de dizer que não me lembrava, e era verdade, eu não lembrava mesmo. Depois, juntando os dados no meu quase imbatível HD de memória, a ficha caiu. Eu conhecera o pai dela, sim. Tinha dançado uma vez - uma vez! - com ele numa festinha, nos meus distantes 13 anos de idade, em 1961. Uma simples dança, sem outra aproximação física nem troca de telefones, num bailinho de domingo, estaria longe de ser considerada namoro, mesmo para os padrões dos anos 1960. Mas vá explicar isso para a moça que tinha ouvido essa história, contada pelo pai, a vida inteira.
Meu brother Dori Caymmi, por exemplo, volta e meia ouve alguma senhorinha - e neste caso, são idosas mesmo - dizendo que foi musa de seu pai Dorival:
"eu sou a Dora!", elas dizem,
"eu sou a Marina"... Neste último caso, Dori sempre retruca
"desculpe, minha senhora, mas a Marina sou eu: eu é que, quando era pequeno, vivia dizendo para os meus pais que ia ficar de mal com alguém. Foi daí que meu pai tirou a ideia dessa canção". Não sei se elas aceitam a dura realidade.
Não sei como funciona este mecanismo de fantasia que algumas pessoas desenvolvem, mas sei que não há mesmo nada que nós, que estamos debaixo do refletor, possamos fazer para evitar que isso aconteça. Se acontece comigo, que sempre me preocupei em separar bem as coisas, imaginem com quem não...