sábado, outubro 27, 2012

sabedoria


Grafite (não confundir com pichação, que é barbárie pura) pode ser uma coisa genial. Ainda nos anos 1980, fiz um show chamado 'Quadrantes', dirigido por Túlio Feliciano. Era um show solo, eu sozinha no palco, onde a música contava a história de quatro diferentes períodos da juventude brasileira. Separando cada período, eu grafitava painéis de plástico transparente, ali mesmo ao vivo, usando figuras que tivessem a ver com o momento que a música descrevia: guitarras, palavras de ordem, sutiãs, flores, tudo isso usando 'máscaras' criadas pelo grafiteiro paulista Alex Vallauri, hoje já falecido. Ele me deu algumas aulas para que eu soubesse como fazer isso em cena, usando os sprays e moldes dele. Foi um barato, e levamos este show para várias capitais, entre 1984 e 1985.

(Não muito tempo depois, Alex seria o primeiro grafiteiro a ter uma sala só para ele na Bienal de SP, com a instalação "A Casa da Rainha do Frango Assado")

Hoje, ao invés de imagens, quero anotar aqui algumas frases que tenho visto pelos muros de algumas cidades, e que me chamaram a atenção. É também sabedoria de rua, vejam:

"O que é real? Dinheiro? Uma moeda? E o que é concreto?" (Praia do Canto, Vitória, ES)

"Haja amanhã pra tanto hoje!"(perto da rua Frei Caneca, São Paulo)

E a minha predileta:

"Em arte, tudo o que não pode, deve"(muro do Jockey Club, Rio de Janeiro)


domingo, outubro 21, 2012

Praga!!!



Aí está o interior da Ópera de Praga, ou Estates Theater, ou ainda, Naródni Divadlo, onde há apenas uma semana atrás, fiz meu primeiro show solo fora do Brasil. 

Já toquei em muitos teatros belíssimos e históricos, mas este é deslumbrante - um teatro do século XVIII, totalmente conservado, com maravilhosa acústica e uma energia interna de séculos de grande música lá dentro. Adoro tocar neste tipo de ambiente, parece que alguma mágica se cria e tudo dá incrivelmente certo.

Foi exatamente o que aconteceu. Guy, um dos organizadores, tinha me avisado que o público tcheco não conhecia quase nada de música brasileira. O fato de a noite ter ficado sold-out com quase 2 meses de antecedência para ele era uma surpresa, indicativa talvez do interesse do público por uma cultura estranha. Seria praticamente uma estréia, pois mesmo os standards da bossa-nova eram pouco conhecidos, sem maiores referências de autor ou país (tem gente na Europa que pensa que a bossa-nova é americana, até hoje...) Além disso, me disse ele, é uma platéia bastante reservada, sem maiores demonstrações expansivas. Como eu já ouvi isso mil vezes sobre o público japonês - e na hora H, não é o que acontece - me permiti duvidar. 

E não deu outra: tive de voltar duas vezes para o bis, e um público superanimado até cantou junto comigo na minha 'Caymmis' - foi tudo bom demais! Os organizadores do festival, felizes, diziam que ali uma barreira havia sido quebrada e uma porta se abria para que a música brasileira viesse a ser mais frequente no país. Que assim seja!

(na foto acima, a fachada externa do teatro; abaixo, a bela Praga. Reparem no Kafka Museum ao fundo, logo na primeira foto)




Praga, a cidade em si, também é belíssima, e foi uma alegria pra nós percorrer suas ruas, pontes e as margens do rio, lotadas de turistas, músicos e artistas de rua. Pura magia. A vida é muito boa com quem faz música, e às vezes nos leva a lugares incríveis. É só agradecer.


terça-feira, outubro 09, 2012

na estrada, outra vez



Já nos preparamos para novamente atravessar o Atlântico. Desta vez para Praga, onde vou fazer meu primeiríssimo show de voz e violão fora do Brasil. E justamente no belíssimo Teatro dos Estados (Estates Theatre, ou Narodni divadlo) - simplesmente a Ópera de Praga, onde Mozart pessoalmente regeu a primeira audição de sua 'Don Giovanni', em 1787, quatro anos depois da inauguração.

Sei que os ingressos estão sold-out já há algum tempo, sendo este evento parte do Festival Strings Of Autumn. Será uma honra e uma alegria pra mim - o coração na boca, por não contar com a banda ao meu lado, como estou habituada sempre que toco no exterior. Mas ao mesmo tempo, uma grande curiosidade em ver como a música, nua de quaisquer outros elementos, se comportará em ambiente tão cheio de tradições.

Pois é isso: adoro tocar nestes grandes teatros, onde há séculos de música impregnados pelas paredes. Sempre deu muito certo pra mim, e espero que dê mais uma vez. Oremos!

(PS- foto, como sempre, da nossa querida Miroca - Myriam Villas-Boas, a melhor fotógrafa de palco que eu conheço!)


sábado, outubro 06, 2012

namorados



Casei cedo, para os padrões de hoje: aos 22 pela primeira vez, aos 27 na segunda, e aos 29 na terceira e definitiva (no flyer acima, estávamos comunicando aos amigos que casamos no papel, ambos aos 53). Fora os 3 casamentos, também namorei bastante durante a minha adolescência e primeira juventude. Bastante, mas nem tanto como parece que as pessoas acham... Volta e meia alguém se apresenta como amigo ou parente de algum 'namorado' meu. O problema é que quase nunca sei de quem se trata. Como ainda não fiquei maluca e continuo dotada de excelente memória, sei direitinho os nomes de cada um dos namorados reais que tive entre os 13 e os 22. Esses que têm me aparecido, lamento dizer, são produtos da delirante fantasia de alguém.

Sei que o palco é zona erógena, e até já escrevi um post a esse respeito. Aquelas luzes sobre a pessoa, o som de uma voz numa gravação, o desejo secreto de que aquela música, com que você se identificou tanto, tivesse sido feita para você... Tudo isso junto pode alimentar todo o tipo de fantasia. Em alguns lugares a coisa pode sair do controle, como a gente vê nos Estados Unidos, onde às vezes os stalkers, ou perseguidores, quando apanhados em flagrante, recebem ordem judicial de ficar a x metros de distância do objeto de seu interesse. Eventualmente, isso até pode acontecer por aqui também. Atores e atrizes de novelas são alvos preferenciais, e por isso mesmo vivem numa tensão danada. Conheço algumas pessoas do ramo e já presenciei situações bizarras. É dura a vida da bailarina.

Na minha avançada faixa etária, porém, graças a Deus, não corro mais esse perigo. Mas é comovente e um pouco triste ver como, vez por outra, alguém dessa minha geração conta vantagens para algum parente, amigo ou vizinho - talvez numa tentativa de se dar importância diante da família, alimentar o próprio ego ou dar um pouco de graça a uma vida que talvez não tenha tido nenhuma, vai saber? Como o caso daquela senhora que me abordou no toalete de um teatro, para me dizer que meu ex-namorado, marido dela, tinha recentemente falecido. Infelizmente, este era alguém que eu não tinha a mínima ideia de quem fosse. Como destruir a ilusão de uma viúva tão recente? E de onde, pelo amor de Deus, ela tirou essa ideia?

Ou então aquela linda mocinha que atravessou o país de avião para assistir a um show meu em Nova York, eu que fora namorada de seu falecido pai. Fiquei passada, pedi mais informações a ela, tive de dizer que não me lembrava, e era verdade, eu não lembrava mesmo. Depois, juntando os dados no meu quase imbatível HD de memória, a ficha caiu. Eu conhecera o pai dela, sim. Tinha dançado uma vez - uma vez! - com ele numa festinha, nos meus distantes 13 anos de idade, em 1961. Uma simples dança, sem outra aproximação física nem troca de telefones, num bailinho de domingo, estaria longe de ser considerada namoro, mesmo para os padrões dos anos 1960. Mas vá explicar isso para a moça que tinha ouvido essa história, contada pelo pai, a vida inteira.

Meu brother Dori Caymmi, por exemplo, volta e meia ouve alguma senhorinha - e neste caso, são idosas mesmo - dizendo que foi musa de seu pai Dorival: "eu sou a Dora!", elas dizem, "eu sou a Marina"... Neste último caso, Dori sempre retruca "desculpe, minha senhora, mas a Marina sou eu: eu é que, quando era pequeno, vivia dizendo para os meus pais que ia ficar de mal com alguém. Foi daí que meu pai tirou a ideia dessa canção". Não sei se elas aceitam a dura realidade.

Não sei como funciona este mecanismo de fantasia que algumas pessoas desenvolvem, mas sei que não há mesmo nada que nós, que estamos debaixo do refletor, possamos fazer para evitar que isso aconteça. Se  acontece comigo, que sempre me preocupei em separar bem as coisas, imaginem com quem não...



terça-feira, outubro 02, 2012

panorâmica


Mais uma bonita foto de NY, esta uma panorâmica feita pelo Chico Pinheiro, mostrando a área de Columbus Circle, onde fica o Lincoln Center. Feita da janela do nosso camarim, usando um app do celular dele que permite fazer este tipo de foto.