quinta-feira, fevereiro 28, 2008

bossa na praia

Esta foto foi tirada no lendário apartamento de Nara Leão na avenida Atlantica, um dos berços da bossa-nova, e cujos atuais proprietários gentilmente permitiram que entrássemos para uma reportagem. Ao contrário da maioria dos presentes, eu só tinha passado por ali uma vez, nos meus tempos de aluna de jornalismo na PUC, entrevistando Nara em 67. Na ocasião, fiquei doida pra dizer a ela que também fazia música, mas não tive coragem.

Neste próximo sábado, em Ipanema, esperando que não chova, vai rolar um som com toda esta galera e mais alguns que não puderam aparecer nesse dia para o encontro... Estamos aí!

PS- agradecimentos `a Lelê pela foto.

foi bom, não foi?

De volta aos milhões de afazeres do dia-a-dia, `as voltas com produções de concertos, tournées, DVD novo, 40 anos de carreira, bossa-nova na praia de Ipanema e em Londres, livro, roteiros, encrencas, egotrips alheias e outras mumunhas mais, eis que chega a roda-viva e carrega a nossa sanidade pra lá. Como profilaxia pra mim mesma, boto aqui esta foto pra lembrar que o paraíso esteve ótimo, ainda que tenha durado pouco.


domingo, fevereiro 24, 2008

Obama in excelsis

Era uma tarde de julho de 2004 no Japão. Eu estava no hotel me preparando para sair para o Blue Note Tokyo, para o show daquela noite. Separava meu instrumento e minhas roupas, enquanto o Tutty fazia a barba, essas coisas. A televisão ligada no comício do candidato democrata John Kerry (por quem torcíamos deslavadamente, como boa parte do planeta), acontecendo ao vivo em algum lugar dos Estados Unidos. Nenhum de nós dois olhando a TV, ligados apenas no som dos discursos, meio no automático.

De repente tudo parou. Corremos para a frente da televisão para ver de quem era aquela voz contundente, que dizia coisas que não esperávamos ouvir num evento desse porte, com clareza, emoção e magnetismo. E pra nossa surpresa, a voz era de um desconhecido. Jovem! mulato! ou negro pelos padrões americanos, onde uma gota de sangue determina a raça. Quem é esse cara? de onde saiu? Tudo o que ele dizia, e não sei mais o que foi, parecia lógico, brilhante, perfeitamente encaixado no momento. Ficamos ali, hipnotizados, dizendo entre nós "esse é o cara que devia estar concorrendo". Pois bem, agora está.

Está, e periga ganhar a indicação, quiçá a presidencia. Se ganhar, Deus o proteja, sabe-se lá o que pode acontecer. Maluco nesse mundo é o que não falta. Ainda fico chapada diante dessa hipótese. Ele é um orador vistoso como poucos _ Carlos Lacerda, Fidel Castro e alguns raros me vêm `a memória. Tenho sentimentos misturados em relação a isso. Líderes carismáticos não são boa coisa. Governo bom é o que menos aparece. Uma mulher competente na presidencia da maior potência do planeta seria ótimo. Mas um negro neste posto, ainda mais brilhante assim, convenhamos, também seria sensacional. Será que ele segura a peteca? Será que daria certo? Entre o falar e o fazer, quanta distancia. Mas que possibilidade fantástica para mudar a história dos Estados Unidos e sua relação com o resto do mundo.

Mas que dá medo, dá. Olho para Obama hoje e vejo um mix de Martin Luther King com Bobby Kennedy _ e isso não é um elogio. E eis que 1968, o ano que acabou tão mal, de fato ainda não terminou, 40 anos depois. Um grande país eu espero, espero do fundo da noite chegar.


quinta-feira, fevereiro 21, 2008

intérpretes

Conheci Rosa Emília no final dos anos 80, quando ela esteve casada com meu parceiro Cacaso. Antonio Carlos de Brito, Cacaso na música e na poesia, era figura ímpar nos fabulosos anos 70, um dos poetas emblemáticos da 'geração mimeógrafo' ao lado de Ana Cristina César, Chacal e tantos outros. Na música, era parceiro de Edu Lobo, Sueli Costa, Toninho Horta e muitos mais. Além de tudo, figuraça: nessa noite, ele apareceu numa festa chiquérrima no Country Club (todos os homens de paletó), de jeans, chinelo de dedo (as havaianas ainda não estavam na moda) e uma linda baianinha ao seu lado, aparentando metade da idade dele _ era Rosa. Os dois se casaram e viveram felizes para quase sempre, até a morte dele aos 42 anos, por aí, de um infarto fulminante.

Rosa gravou alguns CDs. O primeiro eu conheci logo que saiu e gostei muito, vi nela uma voz promissora, com futuro pela frente. Depois da morte de Cacaso ela se mudou para a Itália, onde vive até hoje com as filhas, e continuou a carreira de cantora. Faz poucos dias me ligou, estava finalmente fazendo um projeto com as canções dele e convidando os parceiros para participar. Gravei com ela uma de nossas parcerias, 'Beira-Rio', e ela me deu de presente seu CD anterior, acho que feito em 2004, 'Baiana da Guanabara', onde ela canta o repertório de Nelson Angelo, outro parceiro constante.

Voltei para casa ouvindo o CD no som do carro. Esperava reencontrar a boa cantora do primeiro CD, mas pra minha surpresa não havia ali uma cantora boa _ havia uma cantora incrível, originalíssima. Adorei o trabalho dela, e fiquei pensando: hoje em dia, quando se sacudir o pé de cantoras no Brasil caem trezentas, como é difícil encontrar alguém diferente dos padrões. Salve Rosa, portanto! e todas as vozes interessantes do Brasil, que felizmente hão de sempre chegar.


domingo, fevereiro 17, 2008

Henri Salvador

Esta é uma foto de 1988, tirada em Paris, no chiquérrimo restaurante Fouquet's (nome impronunciável para nossos amigos americanos...), localizado no Champs Elysées. Ao meu lado, esbanjando charme e elegancia, na flor de seus sessenta e poucos anos, está um dos meus ídolos de infancia, Henri Salvador.

Fomos convidados para almoçar com ele depois que um amigo comum lhe contara que eu estava cantando duas músicas suas nos meus shows no New Morning, tradicional clube de jazz parisiense. Henri não estava exatamente em seu melhor momento de carreira _ na verdade, vivia a chamada 'entressafra', aquela fase entre um período de sucesso e outro, quando nada acontece, que ocorre com todos nós de quando em quando _ mas ainda era, como sempre foi, uma instituição cultural francesa. Já eu estava debutando na França, fazendo uma temporada lá pela primeira vez, e achei que seria divertido incluir alguma coisa sua no repertório, ele que fora um dos artistas prediletos de minha mãe e cujas canções eu conhecia de cor e salteado, ainda em 78 rotações.

Fiz portanto um pequeno medley juntando seu grande sucesso, 'Dans Mon Île' (que seria gravada também por Caetano, entre outros) e a menos conhecida 'Chanson Douce'. Isso rendeu alguns comentários, Henri ficou sabendo e acabou gentilmente convidando a mim e ao Tutty para almoçar com ele neste sofisticado local, na época bem acima de nossas posses.

(Um artista em entressafra na França ainda podia fazer um convite desses. Já por aqui...)

O almoço foi, em todos os sentidos, delicioso. Salmão, vinho branco e a verve do nosso anfitrião, velho conhecido do Brasil desde os tempos em que cá esteve como crooner da orquestra de Ray Ventura, no Cassino da Urca _ corria a 2ª Guerra Mundial, e com a França ocupada, a orquestra, com músicos judeus, negros e mulatos como Henri, achou melhor dar um tempo por aqui. Ele nos perguntou muito por seu amigo querido Grande Otelo, e de vez em quando, meio para se mostrar, falava alguma coisa em português, geralmente gírias dos anos 40/50. Foi assim que, quando ofereci a ele um disco meu autografado, com uma caprichada foto minha na capa, feita por Frederico Mendes, ele olhou e comentou, com seu pesado sotaque francês: 'muito boa!' Rimos bastante, e o Tutty, igualmente com sotaque, só que desta vez baiano, mandou em francês: 'c'est ma femme...' Ao que Henri, malicioso, piscando o olho, respondeu: 'malandrrro...'

Infelizmente não tornamos a nos ver, mas a notícia de sua morte me pegou de surpresa nas minhas férias, semana passada. Sei que ele nunca se distanciou muito do Brasil e gravou com Rosa Passos e Lisa Ono ainda há poucos anos atrás. Ambas cantoras 100% bossa-novistas, pois Henri tinha em sua música um parentesco estético com a nossa. Não foi, como gostava de pensar, um precursor da bossa: ele está para a bossa-nova assim como Chet Baker, pela leveza. Talvez no caldeirão de influencias estrangeiras da bossa ele possa ser incluído, junto com Chet, com o cool jazz, com os boleros de Manzanero, com Gershwin, Ravel e Debussy (principalmente os dois últimos). Mas foi compositor e cantor genial, de estilo único e totalmente diferente da canção variété francesa tradicional _ Henri era da Martinica. Ouçam 'Dans Mon Île', 'Chanson Douce', 'Maladie D'Amour', 'Syracuse', 'J'ai Vu', 'Cendrillon', 'Le Marchand de Sable'... é uma obra deslumbrante de um autor maravilhoso. `A bientôt, Henri.


sábado, fevereiro 09, 2008

a dois passos do paraíso

Chegando finalmente nosso tempo de férias... São apenas alguns dias, mas devem ser suficientes pra desintoxicar a alma das tensões do nosso cotidiano. Pra quem, como a gente, nunca viaja pra descansar, apesar de viajar o ano todo a trabalho, é um momento mais do que aguardado.

Não que a gente não se divirta nas turnês, pelo contrário. Temos a sorte infinita de poder realizar o trabalho que amamos em mil lugares diferentes pelo planeta. Mas olhem só a diferença...

Eu mereço. Nós merecemos. Todo o mundo merece. Luxo para todos! _ e o conceito de luxo varia de pessoa pra pessoa. O meu é este mar deslumbrante, dois acarajés e muita água de coco.


sábado, fevereiro 02, 2008

festa!!!

Hoje o blog vai virar fotolog... Tive o melhor aniversário da minha vida (por enquanto) nesta quinta-feira, no novo Mistura Fina de Ipanema. A idéia era fazer um show, convidar alguns amigos e passar a data tocando, fazendo o que mais amamos na vida. Convoquei os super-músicos Jorge Helder e Helio Alves, mais o Tutty, como não podia deixar de ser, e lá fomos nós. Sem pensar em platéia, mas a verdade é que os ingressos se esgotaram e alguns amigos acabaram ficando de fora. Mas os que vieram, e foram tantos, compensaram tudo.

Teve flores e bolo no camarim e parabéns no palco. Ao fundo, Memeca, queridíssima amiga, que ajudou a fazer com que tudo saísse perfeito. Especialidade dela.

A familinha querida _ três filhas moram fora do Rio com suas proles. A prole carioca (Aninha e Tomaz, faltando o Miguel, que é dimenor) esteve com a gente na festa.

E a bossa-nova compareceu em peso!!! O que pode ser mais luxuoso do que ter Marcos Valle, Carlinhos Lyra, Donato e Menescal na platéia? Havia outros parceiros também, como Mauricio Maestro e Mário Adnet, que não estão aqui na foto. Cantei um pouco das minhas parcerias com cada um deles e ainda lembrei outras canções. Diversão garantida!

Meu também parceiro e padrinho de casamento Herminio Bello de Carvalho, com seu parceiro de tantos sambas (e meu amigo queridíssimo) Elton Medeiros. Que orgulho ter estes dois na minha festa... o samba é minha nobreza também! (ao lado do Elton, Tutty me ajudando com os presentes)

Minha turma do colégio São Paulo, que esteve inteira lá. Emoções em alto-mar perde! Ainda vou escrever mais sobre elas e sobre esse misterioso laço que nos une. Minha turma de faculdade de jornalismo (PUC-RJ, 1968) não consegue nunca se reunir, mas a turma do curso clássico (1965) não falha. O mais divertido foi estarmos a poucos metros do nosso antigo colégio, que fica também ali bem em frente ao Arpoador, onde íamos matar aula em algumas manhãs ensolaradas, com direito a ondas e surfistas. Pertinho de onde agora se localiza o Mistura Fina. Olha as garotas de Ipanema aí, gente! com seu discreto charme, todas sexies, todas nós _ The New Ladies from Ipanema.
Bom carnaval pra vocês!
PS- agradecimentos `a minha comadre Lizzie Bravo pelas fotos.