quarta-feira, dezembro 27, 2006

Ano Novo

Dos muitos presentes que tenho recebido na vida, crianças têm sido dos melhores. Filhas, e depois os filhos das filhas. Este ano bateu recorde: de uma hora pra outra, três crianças novas passaram a fazer parte da família. Os dois netos viraram cinco. Esse ano não vai ser igual `aquele que passou.

Esta é Velma Zemir, brasileirinha sueca nascida na Alemanha. Não posso pensar em imagem mais linda pra simbolizar o novo ano e tudo o que se pode desejar de bom pro mundo:

Saúde. Alegria. Trabalho bom. Paz interna. Paz externa. O Rio de Janeiro continuando a ser. O Brasil merecendo o Brasil. As civilizações se misturando, sem fronteiras. O planeta se recuperando de tantos maus-tratos. A Mata Atlantica retomando seus espaços. Os Alpes com suas geleiras de volta. As quatro estações entrando direitinho na época certa, em todos os lugares. A humanidade se tornando mais humana. Solidariedade, honestidade, decencia, palavras antigas, voltando a entrar na moda. Música com mais de dois acordes também. Cinema sem violencia. Sentimentos transparentes, palavras calmas. Amizade sem inveja, amor sem dor. Ter menos, ser mais. Precisar de menos. Viver confortavelmente fazendo o que se gosta. Desejar só o necessário _ o extraordinário é demais.

Paz e Música em 2007!


sexta-feira, dezembro 22, 2006

Feliz Natal


No Natal de 1998, quando eu ainda escrevia uma coluna semanal no jornal 'O Dia', publiquei esta cronica sobre a data. Ainda está valendo. Feliz Natal pra todos e todas!


FELIZ NATAL

(publicado em 24/12/98)

Dizem que Assis Valente recém-chegara da Bahia e vivia solitário numa pensão carioca, às voltas com seus fantasmas, quando compôs a marchinha “Boas Festas” _ aquela que diz “eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel/ bem assim, felicidade/ eu pensei que fosse uma brincadeira de papel...” Assim também Charles Dickens, recluso em seu quartinho londrino no século passado, escreveu a famosa história do avarento que recebe a visita dos três espíritos de Natal, história que até hoje serve de mote para filmes natalinos de todas as procedências. E o que dizer de Machado de Assis, o pessimista-mor da nossa literatura, “mudaria o Natal ou mudei eu?”

Tudo indica que uma certa tristeza é necessária para melhor se traduzir o chamado espírito de Natal. Trata-se afinal de comemorar o nascimento de alguém que já se sabe que terá um fim trágico, por mais que este final seja simbólico para o renascimento da humanidade. E enquanto lá fora o furor consumista parece se renovar a cada ano, com ou sem crise na economia, aquele travozinho de melancolia teima em se intrometer na festa. De quem tem consciência, naturalmente.

Natal bonito era o da nossa infância, justamente porque a gente ainda não sabia que era uma data triste. Depois de adultos, a primeira decepção é justamente a de sabermos que nunca mais será igual. Daí em diante, ficamos tentando reproduzir para as crianças da família o velho clima, do mesmo jeito que nossos pais, tios e avós também tentaram reproduzir pra nós os natais deles. E está formada a cadeia sentimental de enganos, que fará com que nossos netos carreguem esta mesma ilusão para as próximas gerações. Até quando?


De qualquer forma, e isso é de lei, embrulharemos alguma esperança pra presente, com a melhor das nossas boas intenções. Reuniremos a família, quem ainda tem, e os amigos, aderentes e conhecidos. Vamos fazer de conta que estamos perdoando tudo e nos reconciliando com o mundo _ e estaremos mesmo, pelo menos nas 48 horas que envolvem a data. Botar o sapatinho na janela do quintal, cantar jingle-bells, seguir em frente, antes que 99 nos alcance... Um feliz Natal pra vocês também.


quarta-feira, dezembro 20, 2006

todos os instrumentos


Músicos são feito crianças: ficam doidos quando ganham um brinquedo novo. Olha só a alegria do Menescal e do Tutty, cada um com seu novo instrumento, na passagem de som em Tokyo...

Eu gostava de pensar que comigo não fosse tanto assim, já que vejo o instrumento mais como um... instrumento de alguma coisa, oras. No caso, da criação da minha música. Mas bem que gosto quando me chega um novo. O problema é que tenho mais do que preciso, o que me lembra um amigo meu que dizia pra mãe dele: " mas pra que tanto sapato, mãe, se eu só tenho dois pés?" Ah, mas sendo mulher, sapato pra mim nunca é demais... Pronto, olha eu aqui divagando. O que quero dizer é que o violão praticamente faz parte da minha anatomia, depois de tantos anos. E é o melhor de todos os parceiros, aquele que nunca me deixou na mão, a fonte de onde me vêm todas as idéias.

Acho o máximo quando o músico se identifica tanto com seu instrumento que ele vira sobrenome. Paulinho da Viola. Chiquinho do Acordeon. Zeca do Trombone. Paulão Sete Cordas. Ninguém sabe o nome real desses músicos, porque o instrumento tomou conta deles de tal forma que virou nome de família. E eis que de repente resolvo um dilema existencial, eu que fiz carreira sem sobrenome a minha vida toda: eu podia passar a me chamar Joyce do Violão, por que não? Será? hmm, acho que não gostei muito do som. Não, vou ficar com meu nomezinho mesmo do jeito que é. Quem sabe algum dia vou a um numerólogo, e conforme for, passo a usar nos discos Joyce Moreno, do jeito que ficou quando assinei o papel do meu casamento com o Tutty da Batera.

PS- obrigada ao Haryson, que estava em João Pessoa e fez a nossa foto com Sivuca.


sábado, dezembro 16, 2006

Sivuca


Lá se foi mais um amigo querido... Aqui vai uma foto do nosso último encontro, quando participei do Projeto Pixinguinha de 2005 (aqui na foto conosco, Tutty e Mauricio, que estavam tocando comigo). Sivuca, já muito doentinho mas sempre carinhoso, foi nos ver quando passamos por João Pessoa (Glorinha já tinha nos prevenido de que ele voltara `a Paraíba "para esperar a hora"). Tínhamos feito um Pixinguinha juntos em 1980, que foi maravilhoso...

As lembranças deste Pixinguinha são divertidas e felizes. Foi a primeira vez na história do Projeto em que um show foi cancelado não por falta, mas por excesso de público. Bem verdade que eu estava em momento especial de carreira aqui no Brasil, embalada pelo sucesso de 'Clareana' no Festival da Globo. E Sivuca... bom, era o Sivuca, e estávamos viajando pelo Nordeste, território dele, onde era, e ainda é, amado e reverenciado como mestre. Fazíamos shows extras todas as noites nas cidades onde passávamos, e Teresina não seria exceção.

O que fez a diferença foram as condições do teatro, superlotado na primeira noite e já com ingressos esgotados para a segunda. Recebemos a noticia dos bombeiros de que não era possível garantir a segurança, nossa e do público, no antigo e mal-conservado teatro da cidade. Na verdade, já fora um milagre não ter havido nenhum incidente na nossa primeira apresentação. Resolvemos então cancelar. Sivuca ligou para a Funarte no Rio e foi dado o OK. Até outro dia dávamos gargalhadas ao lembrar desta história.

Depois disso nos revimos muitas vezes, e eu, que estava gravando meu novo disco para 81, 'Água e Luz', compus uma música pra ser gravada com ele, 'Samba de Gago', que muitos anos depois viraria hit no meio dos DJs de Londres, a sanfona endiabrada de meu amigo dobrando minha voz, num samba-jazz sem espaço para respiração (até hoje não sei como fiz aquilo). Nos reencontramos em shows, em showmícios, em gravações, ou simplesmente em visitas. A última vez foi em 2001, num festival de Jazz em Punta del Este, onde ele tocou com seu grupo e deu uma canja no meu show _ e arrasou!

Há uns dois anos, eu quis levá-lo ao Japão como meu convidado especial no Blue Note. Cheguei tarde. Glorinha me avisou que ele não viajava mais para fora do Brasil, muito menos uma viagem puxada como aquela. Pena: teria sido simplesmente o máximo.

Olho minhas velhas fotos ao lado de amigos queridos como Tom, Vinicius, Moacir Santos e agora Sivuca, e não sei se me entristeço por não poder revê-los nesta vida, ou se me alegro e sinto orgulho por ter convivido com eles. Acho que fico com a última opção.


quinta-feira, dezembro 14, 2006

Rio '65

Bota um monte de mulher junta e dá nisso: pessoas falantes, bacanas, com histórias de vida diferentes, mas todas convergindo no final para uma conversa sem fim. Esta é a turma de 1965 do Colégio São Paulo quando se encontrou pela primeira vez, nos 40 anos de formatura, há um ano atrás.

(no encontro deste ano esqueci de pôr bateria na minha camera e as fotos goraram, por isso vai a foto do ano passado mesmo. Não mudamos tanto assim...)

Somos as mesmas, não somos as mesmas, ainda bem. Somos tradutoras, professoras, advogadas, jornalistas, psicólogas, funcionárias públicas, aposentadas, artistas plásticas, o leque completo. Algumas enfrentaram momentos duríssimos pelo caminho _ um cancer, a perda de um filho, uma viuvez, as separações que fazem parte da vida _ mas todas, todas sem exceção estão por aí sem medo. Lindas e poderosas, com o controle remoto de suas vidas totalmente `a mão _ ou pelo menos ao alcance.

Como por exemplo, a maluquete da turma, aquela que se formou em jornalismo e em seguida embarcou de cabeça na música. Era cheinha e despachada por demais na adolescencia (aquele velho truque pra esconder a timidez), depois afinou o corpo, refinou o pensamento e foi em frente. Casou três vezes (depois de ter namorado três vezes trinta), teve filhas, gravou discos e até escreveu um livro. Mas ao lado das colegas da turma de 65, ainda é a adolescente de uniforme e chapéuzinho de palha francesa, matando aula nas pedras do Arpoador, com livre acesso aos primeiros surfistas e aos primeiros acordes da bossa-nova, quando o Rio de Janeiro era a sucursal nº 1 do Paraíso.


quarta-feira, dezembro 13, 2006

Terra da Felicidade

Felicidade até existe, o paraíso é aqui. Nossos amigos Sérgio e Myriam nos levaram, e foi maravilhoso. (Olha os dois aí, curtindo seu lugar no mundo...)

Esse é um cantinho da Bahia que costumávamos freqüentar até o ano passado, quando uma situação de violencia quase nos fez desistir de voltar lá. Mas graças aos nossos amigos achamos o rumo do nosso novo lugar. Com mar, barquinhos e tudo. Paz.

A felicidade é sempre provisória. Já estamos de volta. Mas foi lindo ficar ali só respirando, entre o mar e o sol, juntando energias pros próximos desafios, que serão todos ótimos.


sexta-feira, dezembro 01, 2006

Zona da Mata


Esta é para minha amiga de infancia Nádia, hoje psicóloga, que inventou numa mensagem aqui pra este blog uma deliciosa definição do Rio: nossa cidade é dividida em Zona Norte, Zona Sul, Zona Oeste e Zona da Mata. Ela mora na Zona da Mata do Jardim Botânico, eu moro na Zona da Mata do Humaitá. Diante de minha janela estão acácias-rosas e mungubas em plena floração de primavera, além dos geraniozinhos da casa. Melhor, impossível.

A Zona da Mata carioca tem essa particularidade: não tem endereço fixo e pode existir em Copacabana, Botafogo, no Horto, na Gávea, no Itanhangá, em São Conrado, Jacarepaguá, Tijuca... A Zona da Mata é todo o entorno de Mata Atlantica do Rio onde micos, beija-flores, tucanos e outros animais silvestres ainda têm vez. Aqui em casa já apareceu de macaco-prego a porco-espinho. Sem falar nas gigantescas borboletas azuis de contornos pretos, tão grandes que da primeira vez em que vi pensei que fossem pássaros, ou no escandalo das maritacas em bando.

A Zona da Mata é melhor que a orla carioca. Não tem carro de som, congestionamento de transito, show de axé, banda carnavalesca. Só um ambiente de paz e passarinhos, como diria o Tom, que também foi seu morador. Somos seus discretos invasores, tentando respeitar o que dela ainda resta, antes que outros menos cuidadosos o façam.