2012
"Ó ano triste e sem sorte..." Lá se foi mais um, o genial Millôr Fernandes, que conheci de perto lá pelos meus19 anos, eu ainda iniciando minha carreira, quando ele namorava minha amiga Dulce Nunes, que depois se tornaria, por um bom tempo, a sra. Egberto Gismonti... Isso foi no final da década de 1960. A última vez em que o vi, há uns doze anos atrás, foi num coquetel do jornal 'O Dia', em que tive uma coluna semanal entre os anos 1998 e 2000, e do qual Millôr era um dos colaboradores mais importantes. Ele brincou comigo e me deu uma leve sacaneada, dizendo que, agora que eu estava escrevendo, ele se sentia autorizado a ir cantar no Japão. Baixei a crista e concordei: no quesito escrita, ele estava certo... Mas fui em frente, já que nem todo o mundo precisa ser tão genial como ele foi. E aqui entre nós, acho que cantando no Japão ele faria pior figura do que eu escrevendo no jornal 'O Dia'...
Millôr foi um dos fundadores do 'Pasquim', e a livre associação de ideias me faz lembrar que amanhã irá ao ar o último episódio da série 'No Compasso da História', que se encerra na década de 1980, com a campanha pelas diretas, o atentado do Riocentro (que quase dizimou a MPB), o rock Brasil, a música independente, a vanguarda paulistana, o surgimento de novas compositoras, a morte de Elis, e finalmente, a redemocratização do país. Por acaso, a exibição deste episódio cai em data emblemática, com o mofo da velha ditadura ainda rondando o Brasil novinho. Eu - que tirei meu título de eleitor aos 18 anos, conforme manda a lei brasileira, mas só pude usá-lo para escolher um presidente aos 41 - não me permito esquecer as sábias palavras do querido Nelson Motta, quando foi entrevistado para o programa: "as pessoas só dão valor à liberdade quando perdem. Nada justifica a perda da liberdade. Ideologia nenhuma." É isso aí.