sábado, dezembro 29, 2007

paz e bossa em 2008

Ano dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil; dos 50 anos da Bossa-Nova (que já começam a me dar as primeiras dores de cabeça); dos meus 40 anos de carreira, iniciada com o primeiríssimo LP, no famoso ano de 1968 (portanto, 40 anos também do AI-5, da passeata dos 100 mil, e de tudo o que vivemos com tanta intensidade e que a rapaziada de hoje não tem a menor idéia do que foi). E por acaso ou não, dos meus 60 anos de vida _ caramba, vou poder pagar meia-entrada no cinema! É muito aniversário junto...

Vamos fazer o seguinte: a gente dispensa os parabéns e as comemorações e vamos simplesmente fazer o melhor possível pra honrar o que achamos certo. Meus modestos pedidos pra 2008:

- a paz mundial (só isso??? fácil, né?)
- a paz federal
-a paz estadual
-a paz municipal
-a paz individual de cada um.
(Não necessáriamente nessa ordem. Pode começar pelo inverso, de baixo pra cima, que dá até mais certo.)

Ou seja: em 2008, PAZ. Mas com um pouco de bossa, pra dar algum tempero.
Feliz Ano Novo!


domingo, dezembro 23, 2007

tradições

Reflexões de Natal: a participação judaica na festa cristã é a maior prova de que as religiões de tradição bíblica são no fundo uma coisa só, por mais que se queira negar. Lembrei-me disso quando fui comprar a sobremesa para a ceia, no Kurt, uma célebre confeitaria do Leblon, cujo dono, o austríaco Kurt Deichmann, fugiu do nazismo nos anos 30 e veio parar no Brasil. Ele faria 100 anos em 2007 (morreu aos 93), mas sua família e descendentes continuam adoçando os natais de cariocas como eu.

Judeus na ceia de Natal eram uma constante nas festas da nossa família, que retribuía comparecendo aos bar-mitzvah e outras comemorações dos amigos. Uma amiga judia de minha cunhada vestia a roupa de Papai Noel, o que nunca deu certo, pois além de ser mulher, faltava-lhe o physique du rôle do personagem: era por demais esbelta e jovem, coisa que certamente ajudou as criancinhas da família a desacreditar mais rápido _ mas quem se divertia mesmo era ela, tenho certeza. Em outra época, David Tygel, vocalista do Boca Livre, chegou a lançar uma campanha, 'adote um judeu neste Natal', pois era louco por rabanadas e adoraria ser convidado para algumas ceias. Como o apelo era basicamente gastronômico, não sei se teve muito sucesso.

Ouvindo uma nova e bela canção natalina de meu amigo (judeu e americano) Johnny Mandel, em gravação recente de Tony Bennett, não resisti e perguntei a ele como foi possível que a grande tradição do cancioneiro norte-americano de Natal tenha sido, em sua grande maioria, composta por judeus (só pra citar a mais famosa: 'White Christmas' é de Irving Berlin, judeu russo emigrado no início do século passado), num tempo em que essa integração estava longe de ser moda. Ele me respondeu, no ato: "because Jesus was one of our boys, of course!" Claro, isso explica tudo, como é que eu não pensei nisso antes?

Então, feliz Natal e feliz Chanuká pra vocês!


quinta-feira, dezembro 20, 2007

diz a lenda que...

... os três Reis Magos estão enterrados em algum recôndito cantinho da catedral de Colonia. Ninguém sabe dizer exatamente aonde, mas de algum modo essa maravilha gótica, que levou mais de 600 anos para ser construída (e é o único monumento da Alemanha intocado pelos bombardeios da 2ª Grande Guerra) ficou protegida durante todos estes séculos, e hoje está ali, deslumbrante, ao alcance inofensivo das câmeras de locais e turistas.

Minha amiga Robin, de quem falei no outro dia em outro post, me conta que foi entrevistada sobre seu livro 'Piano Girl' num importante programa de rádio nos Estados Unidos. O outro entrevistado do programa era ninguém menos que Bill Clinton.

(Claro que perguntei a ela como ele tinha se comportado, afinal de contas ficou péssima sua fama em relação ao sexo oposto, mas ela me garantiu que não, ele fora delicadíssimo e apenas apertara sua mão _ um simplérrimo shake-hands, sem sequer um beijinho no rosto, que ele não é bobo e sabe que qualquer deslize pode pegar mal. Ainda mais com a perspectiva da madame na Casa Branca...)

Enfim, meio entre o deslumbre e o constrangimento diante de personagem tão célebre, não restou a Robin senão arrumar assunto, explicar que era uma pianista americana que emigrara para a Alemanha, morava em Colonia, e coisa e tal, e Bill lhe diz, amável:"ah, Colonia... não é lá que fica aquela catedral gótica?" E Robin completa, "sim, é lá mesmo, onde estão enterrados os três Reis Magos". Na mesma hora se arrependeu de ter falado com tanta convicção, pois lenda é lenda, sabe como é... E pior é que ela jura que ao sair do estúdio, escutou o ex-presidente dizendo entusiasmado ao produtor do programa: "você sabia que os três Reis Magos estão enterrados na entrada da catedral de Colonia?"

Assim são as lendas, você conta um conto e o outro reproduz com um pontinho ou dois a mais. Já ouvi lendas sobre mim que me deixaram de boca aberta. Quando foi que fiz isso ou aquilo? Ou que conheci essa ou aquela pessoa? Ou namorei o primo (ou prima) de alguém de quem nunca ouvi falar? Imagino o suplício das verdadeiras celebridades, com as vidas esquadrinhadas segundo a segundo. Que bom que eu sou só um pouquinho famosa.

Agora, sobre Colonia, o que posso dizer é que desconheço se os Reis estão lá ou não. Mas a sagrada família está, com certeza. Pelo menos, parte da minha.


sexta-feira, dezembro 14, 2007

rádio-cabeça, a canção

Acho que deve ser pra compensar o mês e meio ausente. Mas chove sem parar no Rio e dá vontade de escrever, ainda que seja pra reproduzir coisas já escritas. Pois o post sobre a rádio-cabeça, que rendeu comentários variados, inclusive musicais (com nosso amigo Silvio D'Amico mandando as diversas versões do toque de celular da Nokia que moram na cabeça dele), acaba de render uma nova canção.

Com letra minha sobre um calango encapetado de meu parceiro Francis Hime, aqui vai a nossa versão para o assunto:

RÁDIO-CABEÇA

A rádio na cabeça toca sem querer
A música que mora dentro de você
O som descontrolado de qualquer canção
A música do momento ou de outra encarnação
A rádio na cabeça pode enlouquecer
Te acorda de madrugada e não quer nem saber
Invade impertinente a mente do freguês
Ou chega e se insinua um pouco a cada vez
Com sambas, calangos, tangos, bossas-novas, jazz
Com valsas, sinfonias e outros carnavais
A rádio na cabeça quer tocar sempre mais

A rádio na cabeça toca sem parar
A trilha do dia-a-dia pra te acompanhar
Esgota a paciencia de qualquer cristão
Mas pode também ser sonho ou alucinação
Te leva ao paraíso, ela promove a paz
Ou toca até se dizer que não se agüenta mais
As vezes manda um som que a gente nem pediu
A rádio na cabeça pode ser sutil
Tem mambos, rumbas, rocks, choros e forrós
Lentíssimos blues, bebops em versão veloz
A rádio é aleatória, como a vida é pra nós


quinta-feira, dezembro 13, 2007

piano girl

Esta é minha amiga Robin Meloy Goldsby. Vocês ainda vão ouvir falar dela. Multitalentosa, americana nascida e criada em Pittsburgh, depois residente em Nova York, mudou-se para a Alemanha, quando o marido, John Goldsby (atrás dela na foto, um super-contrabaixista de jazz, autor de vários livros sobre o assunto que são clássicos para baixistas do mundo todo), aceitou fazer parte da WDR Big Band, de Colonia. Os dois queriam criar os filhos longe da loucura urbana novaiorquina, e hoje moram numa casinha adorável, num ambiente tranqüilo no campo, bem como queriam.

Robin é pianista e escritora. Estudou música e teatro na universidade, mas no sufoco de ganhar a vida como estudante, tendo de pagar por seus estudos, acabou se especializando numa área que muitos músicos consideram ingrata: ela faz lounge music, o que significa tocar em hotéis, coquetéis, festas privadas, enfim, o tipo de trabalho que faz um músico criativo ter arrepios de horror. Mas não ela. Depois de 30 anos ganhando a vida dessa forma, Robin escreveu um livro delicioso, 'Piano Girl', onde conta as peripécias de quem assiste `a vida passando do outro lado do Steinway. Embora, como ela mesma diz na abertura do livro, 'nem sempre seja um Steinway'.

Com humor, verve e muita filosofia, ela tira de letra as situações surreais em que muitas vezes se meteu por conta deste trabalho: a inesperada gig de pianista-stripper, ainda nos primeiros tempos em NY; servir de madrinha improvisada para o casamento de um chefão da máfia chinesa _ numa prisão de segurança máxima; ver o piano de cauda ser transformado em mesa para o bufê do brunch do hotel; ser despedida e substituída por um piano automático que toca sozinho; tocar num resort no Haiti para os esbirros de Baby Doc Duvalier... Toda sorte de incidentes e personagens, os tipos que gravitam num lounge de hotel, as madames que chegam para o chá da tarde e acabam enchendo a cara, os don-juans baratos que mandam o telefone num guardanapo junto com uma nota de dez dólares, os freqüentadores das happy-hours, os namoros e affaires ilícitos iniciados ao som do piano... Enfim, como ela mesma diz: "é melhor do que criar a trilha sonora para um filme. É criar a trilha sonora para a vida, como numa gravação ao vivo _ sem a gravação".

'Piano Girl' foi lançado nos Estados Unidos e teve sucesso de público e crítica. No momento Robin estuda propostas para transformar seu divertido livrinho em filme ou peça de teatro. Pois como bem disse alguém numa das críticas: "imaginem a Carrie, de Sex and the City, tocando no Marriott". É isso aí.

Hoje ela toca três vezes por semana num castelo `a beira do Reno, alimentando as fantasias dos hóspedes japoneses que escolhem uma locação romântica para seus casamentos ou férias. De lá, fez um CD, 'Songs from the Castle', que acaba de ser pré-indicado para o Grammy na misteriosa categoria de 'new age music'. Minha amiga é um barato. E é também minha parceira em algumas novas canções com letras em inglês, que ela escreve com engenho, arte e muita musicalidade, e que algum dia, não muito distante, acabarei por gravar.


quarta-feira, dezembro 12, 2007

frrriiiio!!!

Voltando da tournée, ainda congelados pela temperatura local _ chegamos a pegar até - 5º, com neve, gelo, chuva e aquele vento que atravessa a gente e para o qual nós, brasileiros, não fomos preparados no nosso design original _ porém felizes pela música e seus resultados. E pra mim, como cantora (ou melhor, como músico que tem a voz como um de seus instrumentos _ cantora não sou, não quero, nem pretendo ser), uma vitória incrível: não fiquei gripada no frio, o que permitiu que meu instrumento orgânico funcionasse perfeitamente. Quem trabalha com a voz vive sempre nesta paranóia.

(na foto acima, estamos congelando em Liverpool... e entendendo por que os Beatles saíram de lá rapidinho...)

A música, ela sim, foi quente. Deu pra levar algum calor para os residentes dos países onde estivemos. É o que se espera da música brasileira, sempre. Muita alegria, platéias fantásticas, todos felizes. De volta pra casa agora, e esperando pra ver o que irá acontecer em 2008, ano de tantas comemorações.

E faz mais de 30º no Rio! O verão promete...