sábado, janeiro 29, 2011

turnês, viagens e Creative Commons

Dentro de pouquíssimo tempo - daqui a pouco mais de um mês - estaremos saindo de novo numa turnê europeia. Eu, Tutty, Rodolfo Stroeter e Hélio Alves (quase cometi um erro, achando que era ele tocando comigo na foto acima, mas não: é o grande Frank Chastenier, e a foto é de 2007, no concerto com a WDR Big Band. Perdão, Helinho!). A gente se diverte muito, o que compensa as chatices dos deslocamentos - de uns tempos pra cá, ficou muito desagradável viajar de avião. Mas a música é sempre o melhor remédio.

Já estamos trabalhando no novo roteiro, que como sempre terá de tudo um pouco, mas esse 'tudo' tem de ser diferente do 'tudo' do ano passado. Só que antes da turnê, daremos uma passada no Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga (Ceará de novo, oba!), e o show será diferente e sem o Hélio, que mora em NY e estará aqui sendo substituído pelo igualmente talentoso Rafael Vernet. Ou seja, haja 'tudo'!

No mais, mandei pelo forum de leitores do Estadão uma mensagem de apoio à querida Ana de Hollanda, que está Ministra da Cultura e já tem sofrido pressões do pessoal que quer liberar geral o direito autoral. Como ela retirou do site do MinC o logo do Creative Commons, houve a celeuma, reclamando que ela estaria 'se alinhando ao ECAD' e se aliando 'ao que há de mais conservador'. Mas peraí, pessoal: se eu entro num restaurante, faço meu prato, almoço e vou embora, não vão chamar a polícia para me cobrar o calote? Então, por que a criação alheia (alimento da alma) pode ser usada à vontade, sem que os autores recebam??? E ela apenas retirou o logo do site, que finalmente não tinha por que estar ali...

Muitos compositores se manifestaram pelo forum a favor desta atitude dela, como Carlos Lyra, que escreveu, da forma lúcida de sempre, o seguinte:

AINDA O CREATIVE COMMONS

Aqui vai meu aplauso à ministra Ana de Holanda pela retirada da licença

do Creative Commons do site do MinC. Ao mesmo tempo, não entendo a

surpresa ou a polêmica criada em cima de atitude tão equilibrada e de

bom senso, pois aos autores é garantido por nossa lei, brasileira, o

direito de licenciar ou não suas obras. Por que dar a uma entidade

estrangeira tal direito? O que deveria ter sido de espantar foi a

inclusão dessa licença na gestão anterior. Bola dentro da ministra. Tem

meu total apoio.

CARLOS LYRA

Reproduzo aqui também meu comentário, que foi publicado no mesmo dia:

______________

VANGUARDA DO ATRASO

Todo o meu apoio à ministra Ana de Hollanda! Gostaria que alguém me explicasse por que cargas d'água o Creative Commons (licença norte-americana privada, patrocinada, entre outros, pelo Google - que contribuiu com a módica quantia de US$ 30 milhões!) foi parar num site governamental de um distante país da América do Sul - que, por acaso, também faz a mais valorizada música do mundo no momento. Por que saiu de lá, isso eu entendo...

O direito autoral é uma conquista moderna, que data do início do século 20. Até então, como dizia o grande Donga (para ficarmos só na música), samba era que nem passarinho, de quem pegasse primeiro. Hoje a Constituição brasileira diz que a "obra do espírito" é direito inalienável do autor.

Moderno é o autor ter autonomia para decidir quanto vale o seu trabalho. O resto é a vanguarda do atraso.

JOYCE MORENO


domingo, janeiro 23, 2011

projetos novos

Esta ao meu lado, diante da catedral de Colônia, é Robin Meloy Goldsby, minha parceira americana, residente na Alemanha, que já apresentei a vocês num post antigo. Foi ela que escreveu as letras para 'Slow Music' e 'Convince Me', que gravei recentemente. Escritora e pianista talentosa, temos muitos planos para futuras canções, além das muitas que já temos prontas e ainda inéditas. Quem sabe, um álbum só com nossas parcerias? (mas aí vem tudo em inglês, teria de ser para um mercado mais específico, ou seja, fora do Brasil...)

(eu na foto pareço uma esquimó fora de contexto... Robin, novaiorquina descolada e experiente em invernos, chiquerésima... Mas o meu valente casaco de nylon segurou muito bem a barra do frio de -10º...)

Meu CD com Donato ('Aquarius'), cheio de nossas parcerias mais recentes, estava previsto para ser lançado no final deste ano pela Biscoito Fino. Era este o combinado entre nós, para dar um espaço de tempo entre 2011 e os lançamentos de 2010- o CD dele com a Paulinha e o meu com o Tutty. Mas um atraso da Biscoito na distribuição do nosso 'Samba Jazz & Outras Bossas' fez com que só agora, já no final de janeiro, o CD esteja sendo distribuído para a imprensa. O que certamente nos obrigará a uma mudança de planos, com um efeito cascata nos atrasos. Pena.

Enquanto isso, vou trabalhando num novo projeto, que, por conta de tudo o que mencionei acima, irá demorar ainda mais a sair por aqui, mais uma vez. Este é para o Japão, e será bem diferente de tudo o que tenho feito ultimamente.

Keep it simple. Tira-se tudo e chega-se ao essencial. Voz e violão.



quarta-feira, janeiro 19, 2011

ainda sobre as chuvas

Nosso amado maestro soberano Tom Jobim tinha este sítio, chamado Poço Fundo, que pertencera à família de sua mãe, e onde tantas vezes nossa turma de pós-adolescentes, amigos do seu filho Paulinho, passou finais de semana (eu, no entanto, nunca cheguei a ir lá). O sítio ficou famoso por ter sido o local onde Tom compusera 'Águas de Março', e antes disso, onde ele e João Gilberto gestaram o disco 'O Amor, o Sorriso e a Flor', clássico da bossa nova. Pois as chuvas derrubaram a casa e deixaram Daniel, neto do maestro, ilhado por alguns dias, até que finalmente conseguiu sair de lá, menos mal. Mas foi mas uma tristeza coletiva ver um lugar tão impregnado de música despencar desse jeito.

Não foi o único, sabemos, e agora procuramos por notícias dos músicos amigos que moram pela região. Conseguimos saber que nossa amiga Luli foi resgatada, junto com a filha e a neta, de sua casa nas montanhas, e já está por aqui, com planos de se mudar para Mauá. Não conseguimos ainda notícias de Fátima Guedes, moradora de Teresópolis, mas acreditamos que, como dizem os americanos, 'no news, good news'. Portanto, se nada soubemos, é que deve estar tudo bem - é o que esperamos. (nota: Pituco me avisa que teve noticias dela, via Facebook, e que ela e seus 9(!!!) bichos estão bem...)

Já meu parceiro Claudio Nucci, que mora na cidade de Friburgo, a mais atingida da Serra, me mandou por email este relato impressionante, que repasso aqui pra vocês:

Oi, Joyce!

Bom receber teu email.
Por aqui tudo de pé! Tivemos sorte de estarmos num lugar privilegiado, que é nossa casa. Até caiu um pedaço de muro do outro lado do terreno, longe da casa, mas isso comparado ao que ocorreu em toda a região, é nada!

Ainda tem muita gente desabrigada, ou sem assistência ainda. Estamos ajudando pontualmente, nas redondezas, com água de nascente que temos aqui, e muito calor humano.

A noite de terça pra quarta, foi muito estranha...
Enquanto ouvíamos aqui, estrondos parecidos a rebotes de trovões, que eram na verdade o barulho das pedras, árvores e lama rolando pelas encostas, ao longe, o meus pais estavam em Bom Jardim com água até o teto do primeiro andar da casa deles. Sorte que eles dormiam no segundo andar (imagina, o rio passando praticamente dentro da casa deles e eles dormiam!). A água baixou no dia seguinte e eles foram pra uma casa mais alta, onde ficaram ilhados 3 dias e depois passaram por uma pinguela improvisada e já estão no Rio (de janeiro) agora.

Como vimos, felizmente parece que o pior já passou - mas ficou a cidade em condições dificílimas, com muito a reconstruir. Claudio pede ainda que as pessoas evitem ir para a região nesse momento, já que é grande a circulação de veículos de auxílio, e esta é a prioridade absoluta.

Ele também conta que tinha uma data agendada para fazer aquele mesmo luau em Ipanema que fiz no ano passado (e adorei), mas teve de ser cancelada por conta dos últimos acontecimentos. Espero que logo, logo, isso seja remarcado e o querido Claudio possa vir iluminar nossa praia com sua música. E que a vida volte ao normal para os serranos!


quinta-feira, janeiro 13, 2011

chuva grossa

É um fenômeno da natureza, sim, mas cada vez mais tem a incúria humana nessas chuvas que caem no Brasil nesta época do ano. A falta de cuidado, as construções em áreas de risco, o descaso de sempre das autoridades da hora, tudo isso agrava uma situação que ocorre pontualmente entre janeiro e março (no ano passado, aqui no Rio, foi em abril). Como é possível que isso se repita, e em circunstâncias cada vez mais sérias? As pessoas não se dão conta das mudanças climáticas, que somente pioram o quadro?

No final do ano passado tocamos em Nova Friburgo e Teresópolis, adoráveis cidades serranas que hoje se encontram debaixo de lama. Deu uma tristeza ver no jornal de hoje as fotos da graciosa praça principal de Friburgo, tão organizada e limpa, totalmente destruída. E Itaipava, onde tantas vezes estivemos em pousadas charmosas, hoje inundadas? E todas as outras localidades vizinhas? E o nosso Rio de Janeiro?

Não há muito o que dizer diante do sofrimento de quem perdeu casa e família, a não ser tentar ajudar de alguma forma e prestar solidariedade. Mas que tristeza...


domingo, janeiro 09, 2011

pelo andar da carruagem...


2011 ainda não disse muito ao que veio. Mas se pensarmos em 2010 como comparação, eis aí um ano que começou a meia-bomba e acabou muito bem Portanto, tudo na nossa vida continua tão imprevisível como sempre.

Em 2010, aconteceram, no quesito trabalho:

- um dos melhores shows que já fiz ultimamente - na praia de Ipanema, de voz e violão, e que tem muito me inspirado para projetos futuros.
- mais um encontro da bossa-nova, desta vez nas Ilhas Canárias.
- uma boa turnê pelos EUA e Canadá.
- mais uma temporada no Japão.
- o nascimento do novo projeto para TV, 'No Compasso da História', cujas gravações e filmagens prosseguem já na próxima semana (e tudo indica que se estenderão até junho).
- o relançamento em CD no Brasil do 'Feminina' (pela primeira vez em 30 anos!).
- a indicação do 'Slow Music' ao Grammy Latino 2010, e a inclusão de uma faixa deste CD numa novela da Globo (fato raríssimo, mais difícil pra mim do que ser indicada ao Grammy...)
- o Festival Choro e Jazz em Jericoacoara (pela primeira vez na vida fui convidada a participar de um festival de jazz no Brasil, embora já tenha estado em centenas deles pelo mundo...)
- o show de inauguração do Sesc Belenzinho, onde participei ao lado de amigos queridos, e que pode se repetir este ano.
- o projeto da Orquestra À Base de Sopro e do vocal Brasileirão sobre minha obra, em Curitiba, que muito me honrou e alegrou.
- o lançamento no Brasil do nosso 'Samba-Jazz & Outras Bossas', ainda meio clandestino, no apagar das luzes de 2010...
- meu trabalho agora 'sob nova direção', como se diz nos restaurantes quando muda a gerência.

Junte-se a tudo isso o nascimento de um novo neto na Alemanha; o neto mais velho aprovado no vestibular (!); e o fato de que ninguém na família ficou doente ou foi assaltado - e aí está um bom ano.

Vamos ver o que 2011 nos reserva...

PS- na foto, uma carruagem da família Imperial brasileira, no Museu Histórico Nacional. Já eu, espero conseguir trocar meu valente carrinho por um mais novo este ano...


quarta-feira, janeiro 05, 2011

finalmente, 2011

Finalmente retomo aqui o blog, depois de uma ausência de três semanas. Foram muitos acontecimentos, trabalhos, viagens, encontros e desencontros, coisas da vida. Mas cá estamos de volta. Hoje voltando do frio da Alemanha, onde passamos Natal e Ano Novo. Vejam a neve nas árvores. MUITO frio!

Antes de viajar, como a cereja no bolo de um bom ano, estive em Curitiba fazendo uma série de concertos com o pessoal da orquestra À Base de Sopro (dirigida por Sérgio Albach) e o vocal Brasileirão (dirigido por Vicente Ribeiro, comigo na foto). O pessoal fez um trabalho lindo, todo dedicado à minha música, que apresentamos em três récitas no teatro Guairinha, eu como convidada deles. Belos arranjos do Vicente (ao centro, na frente da foto), e também de André Mehmari, Maurício Maestro e Gabriel Schwartz.

O melhor de tudo, pelo menos pra mim, foi a interessante escolha de repertório deles, fugindo do óbvio, embora sem deixar de lado alguns sucessos como 'Feminina' e Mistérios', mas buscando também o lado B do meu trabalho. Assim, canções como 'Chuvisco', 'Rei Morto, Rei Posto', 'Rodando a Baiana', 'Banana' (e outras que eu não via há anos) reapareceram, junto com a porção instrumental da minha música, em temas como 'For Hall' (lindamente arranjado pelo Gabriel, um dos saxofonistas da orquestra) e 'Hard Bossa' (arranjo do Maestro). Foi tudo uma grande alegria, e deixo aqui uma provinha de links no YouTube pra quem quiser ver como foi:


Curitiba é terra de gente esperta e competente. Foi uma honra ter minha música revista pela visão dessa turma!

O resto foi neve, já na Europa, e as crianças mais queridas do mundo brincando nela... E agora, já de volta, é encarar os projetos do novo ano, que desde já são tantos...

Feliz 2011!