domingo, fevereiro 25, 2007

meu país de bolso


Pois é, caiu na rede é peixe, e meu humilde post sobre a violencia no Rio (e por extensão, no Brasil todo) acabou saindo na Folha. Fiquei sabendo porque amigos me avisaram. Minha carreira de jornalista de fim-de-semana parece que vai de vento em popa... Os comentários que tenho recebido dos leitores deste blog (poucos, porém sinceros) têm sido interessantes: vai sim, não vai não (pra fora do país), todos muito bem fundamentados e todos com excelentes razões. No fundo, ir ou ficar é uma decisão que ainda não tomamos, mas em algum momento vamos ter de optar pelo que for o melhor, senão pra nós, pra nossa família.

Por exemplo, esta linda praia aí acima, onde passamos nossas férias regularmente, na Bahia: costumávamos freqüentá-la misturados com os locais, fazendo programas simples em lugares simplérrimos, bem do jeito que gostamos. Mas foi num desses lugares que passamos por uma situação de violencia que só imaginávamos acontecesse aqui pelo Sudeste. Resultado: férias agora, lá mesmo, só que nos lugares 'seguros', vale dizer, os caríssimos. É o preço da nossa tranqüilidade. E quem não puder pagar por isso? Não dá pra ser feliz sabendo que vivemos numa democracia onde uns são mais cidadãos do que outros.

Bye bye Brasil, a última ficha caiu; minha casa não é minha e nem é meu este lugar; inútil paisagem... vocês também sabem que a música brasileira tem resposta pra tudo, mais do que qualquer i-ching. Está tudo lá. Vou voltar, sei que ainda vou voltar para o meu lugar, de onde ainda nem saí, nem sequer sei se sairei. Mas meu lugar, meu Brasil, é um país de bolso, que eu carrego comigo na música que faço. Um país imaginário, portátil, feito de cores, sons e boas lembranças. Ele está lá, nos traços de Niemeyer, que vimos hoje na exposição do Paço Imperial. Está nas canções que os artistas plásticos retrataram em outra bela exposição na sala ao lado. Nos prédios antigos das ruas do centro do Rio, vazias neste domingão de sol. E isso, ninguém tasca, vai comigo aonde quer que eu vá.

O Brasil é a cultura do Brasil. É ela que nos faz quem somos. Nada pode ser mais importante do que isso. Nem um cão, nem um trovão, nem uma assombração, nem uma solidão. Não tenha medo não.


quarta-feira, fevereiro 21, 2007

casamentos

Donato e Ivone, uns queridos, estão aqui com a gente nessa foto, mandada por eles e tirada há mais ou menos uns dez dias atrás, num show de que eu e Donato participamos, e que foi bem divertido. Ivone me mandou essa foto a propósito de uma matéria que saiu sobre nosso CD (meu e do Tutty) que coincide com os 30 anos de casamento. Pois é. Bom ver os dois casais de amigos juntos, aliás dois casais casadíssimos.

Casamento quando é bom é ótimo, quando é ruim é péssimo, e eu estou sempre na torcida pelos ótimos. Não endosso totalmente a jobiniana teoria de que é impossível ser feliz sózinho, pois quem não se dá bem consigo não vai se dar bem com mais ninguém. Mas que é bom demais ter uma contraparte bacana, lá isso é.

Tem os que casam com o trabalho, com a arte, com uma fé religiosa, com a família toda ou com a humanidade em geral. Respeito todos. Quem casa com alguém ou com alguma coisa está abrindo mão da individualidade e admitindo que ninguém é um. Ninguém é ilha. Ou somos todos ilhas e nos comunicamos por pontes malucas que acabam formando continentes perdidos? Brincadeirinha. Mas é certo que casamento é uma instituição que ainda vai durar muito, só que modificada, misturada, dinâmica. Apesar de tanta campanha contra, nunca vi tanta gente querendo casar como agora, gente de todos os sexos e de todas as idades. É o final dos tempos _ ou um sinal do recomeço de tempos novos. Novos costumes do século XXI.


sábado, fevereiro 17, 2007

samba-jazz & outras bossas








Olha aí o Quarteto Fantástico! aqui estamos nós _ eu, Tutty, Jorge Helder e o maravilhoso pianista Hélio Alves, que veio de New York pro Rio, especialmente pra gravar com a gente. Gravamos as bases na semana passada, nós quatro (e mais o Lula Galvão em 3 faixas, só que no dia dele esqueci de levar a camera). Nesta semana tivemos ainda a metaleira do Proveta, e deram-se os trabalhos por encerrados. Bom demais!

Esse é o CD que estamos gravando juntos, eu e Tutty, comemorando 30 anos do que a Elis chamava de convivencia "de cama, mesa e palco". Palavras dela. E como é uma comemoração, pensou-se em chamar o disco de 'Bodas de Vinil'. Bodas de quê??? Pois é. Quem fica casado 25 anos faz bodas de prata, 50 são de ouro, 75 de diamante... a gente não sabia como chamar a efeméride, que rendeu até matéria de capa no Globo de quarta-feira passada, e acabamos brincando, dizendo que as nossas bodas eram de vinil.

Acontece que isso em inglês não quer dizer nada, e se traduzir, fica pavoroso (vinyl anniversary??? vinyl jubilee??? pior ainda). O dono da gravadora de Londres rapidinho botou as coisas nos eixos, e nosso projeto vai mesmo se chamar 'Samba-Jazz & Outras Bossas', conforme a idéia original. Fica bem melhor, e explica direitinho a música que tem dentro. Samba-jazz na veia... mas outras bossas também. Aliás, muitas outras bossas.

Enfim, diversão garantida pra quem está tocando e, esperamos, pra quem vai ouvir. Estamos agora num intervalo da mixagem, continuando depois do carnaval. A música é a musa única, no mar, na procela, sobretudo ela.


quinta-feira, fevereiro 15, 2007

inútil paisagem

Eu deveria estar falando aqui das alegrias que a gravação de um novo disco tem me dado. Da música, dos músicos, do som, tudo de bom. Mas hoje não dá, hoje não posso.

Até aqui cheguei. Esta não é mais a minha cidade, este não é mais o meu país. Este não é mais o meu lugar no mundo, como eu pensava que fosse. O Rio de Janeiro que amamos, e pelo qual trocamos as mais tentadoras ofertas de vida em outras paragens, não é mais a cidade onde eu pretendia envelhecer e morrer. O Rio era do Tom, como Roma é de Fellini e Nova York, do Woody Allen. O Rio era meu também, não é mais.

Hoje, pela primeira vez em muitos anos, pensamos seriamente em ir embora. Pra onde, não sabemos, mas dentro do Brasil não será. Pois o Rio é a vanguarda de tudo, e o que acontece aqui hoje, vai acontecer amanhã ali mais adiante. Minha casa está em perigo. Minha família também. Tom tem 14 anos e meio e começou a sair sozinho na rua há um ano. Já foi assaltado duas vezes, felizmente sem maiores conseqüencias _ mas não posso achar que isso seja normal. Um adolescente tem de ter o direito de ter uma cidade para chamar de sua, conhecer suas ruas e seus caminhos, ir pra escola e voltar pra casa sem que nenhum mal lhe aconteça. Tenho visto adultos fazendo o sinal-da-cruz ao sair de casa, como antigamente eu só via as pessoas fazendo ao entrar no mar ou no palco, que são sabidamente lugares de risco.

Não se trata mais apenas de violencia e crime. Atravessamos a fronteira da humanidade, da civilização, do inominável. A treva tomou conta da luminosa e inútil paisagem. Minha alma chora.

(texto escrito sob o impacto da morte de João Hélio, 6 anos, durante um assalto na Tijuca)


sábado, fevereiro 03, 2007

no estúdio

Na foto acima, Kenny Werner, eu e Tutty, SP, fevereiro de 2005. Abaixo, primeiro, eu e Dori, e em seguida os produtores, Rodolfo e Yoshida.

Recomeça tudo... e nesta segunda-feira damos início a um novo trabalho, que delícia!

As fotos que vocês estão vendo aqui no blog são das sessões do CD passado, 'Rio-Bahia', que gravei na ilustre companhia de meu amigo Dori Caymmi, com uma participação pra lá de especial do grande Kenny Werner, pianista maravilhoso e amigo queridíssimo que veio especialmente pra gravar conosco. Foi bom demais!

Desta vez, teremos outro grande pianista importado diretamente de New York, só que brasileiro: Hélio Alves. O novo CD vai ser dividido entre mim e o Tutty, e está mezzo instrumental, mezzo com letras (na verdade, pendendo um pouquinho mais pro instrumental...) Proveta escreveu alguns arranjos de sopros, e o assunto promete! Vai ser bem divertido...

Com certeza muitas fotos irão pintar, e vou tentar ir atualizando tudo aqui no blog, pra que todos possam acompanhar as sessões, mesmo virtualmente.

PS- sobre blogs passados: os textos que aparecem com cara de poema na verdade são letras de música que escrevi, e gravei (ou não). "Antonio' gravei no meu CD 'Ilha Brasil', de 1996; 'Bodas de Vinil' vai ser gravada agora no CD novo, que possívelmente terá este nome.

PS II- Vicky, que me escreveu de Londres: adorei seu post, e posso te dizer com quase certeza que este é o motivo pelo qual nunca, ou quase nunca, aparecem brasileiros na platéia dos shows que faço pelo mundo... Qualquer hora escrevo neste blog sobre isso.