quarta-feira, maio 30, 2007

sem você

Era maio de 1995 e estávamos voltando de uma viagem ao Japão, com uma parada de um dia em Nova York. A morte súbita do Tom, meses antes, nos pegara de surpresa, uma cacetada emocional como só a morte de um pai pode dar. Ele era o cara que tinha nos ensinado tudo.

Engasgados pelo sentimento de perda, entramos num estúdio em NY, arranjado por uma amiga, e numa noite, de uma tacada só, gravamos este disco, que sairia no Japão pouco depois. Agora finalmente ele chega em casa, via Biscoito Fino.

Antonio, nosso mestre _ sem você, pra você.


segunda-feira, maio 28, 2007

falso brilhante

Sempre que chego de alguma viagem um pouco mais longa fora do Brasil me espanto na volta com alguma coisa. Desta vez o espanto foi no Premio Tim, onde estive representando o Dori, indicado como arranjador pelo nosso "Rio-Bahia". Nada contra o evento em si, já que é sempre bacana uma reunião festiva de artistas e indústria, como no Oscar, um congraçamento de colegas celebrando alguma coisa. Os critérios... bom, os critérios são os critérios, e também não há nada a dizer sobre isso, ou comentar os vencedores de sempre. Mas o povo... o povo fica esquisito`a beça.

Muito estranho ver os amigos e conhecidos do dia-a-dia, com raríssimas e honrosas exceções, transformados em caricaturas de si mesmos, falando e agindo com uma rigidez fora do normal. Foram tantos que nem sei contar. O jornalista gente-boa que me largou falando sozinha no meio da conversa, partindo diretamente para a prática do que os americanos chamam com propriedade de kissing-ass, com a superestrela que chegava. Essa mesma estrela, normalmente pessoa bastante cool, dando piti porque seus seguranças não puderam entrar junto. A colega que apareceu vestida como um embrulho de bombom, na esperança vã de sair em algum editorial de moda. Ainda neste departamento, fashion victims de todos os sexos, idades e estilos. A super-executiva da gravadora, normalmente pessoa carinhosa e gentil, de repente dura, tensa e nervosa no papel de guardadora da grande estrela de seu cast, sem conseguir dar um sorriso. Nenhum prazer, nenhum relaxamento como normalmente deveria ser uma festa. Estamos ali a trabalho, é claro, para ver e (principalmente) sermos vistos.

Nessas horas só dá pra fazer um comentário: meu reino não é deste mundo. Graças a Deus.


quinta-feira, maio 24, 2007

memória e cidade


Tanta gente escrevendo, não só aqui pro blog, mas principalmente pro livro de mensagens do website, e eu sem condições de dar resposta. Infelizmente o fator-tempo não ajuda. Amanhã já estaremos de novo na estrada, ainda que rapidinho, e isso requer toda uma logística que toma muito tempo.

Mas agradeço os feedbacks _ dos que estiveram nos shows, dos que leram o blog, dos que apenas escreveram pra mandar alguma coisa. E pra não dizer que não retribuí, mando o que de melhor posso mandar no momento, que é a indicação de um livro que estou lendo: "Istambul, memória e cidade", de Orhan Pamuk. Achei este livro no aeroporto de Oakland, ainda em inglês ("Memories and the City"), e só ao chegar de volta descobri que ele também já existia em edição brasileira. Como a tradução daqui foi baseada na edição inglesa e não no original, não estou perdendo nada.

Orhan Pamuk, vocês já sabem, ganhou o Nobel de literatura no ano passado, e eu ainda não havia lido nada dele. Não gosto de ficção. Acho sempre que a realidade é muito mais interessante e criativa do que aquilo que se inventa. Quando pela primeira vez li Amós Oz, considerado o grande escritor de Israel no momento, minha amiga Halina Grynberg, também escritora, já tinha me avisado de que eu iria gostar muito mais do livro de memórias de infancia dele ("De Amor e Trevas") do que de sua obra ficcional. E não deu outra.

Memorialistas são raros, e aqui no Brasil Pedro Nava ainda é imbatível. A jornalista embutida em mim também ama relatos de viagem _ antigos como "O Grande Bazar Ferroviário", de Paul Theroux ou "Uma Parisiense no Brasil", de Adéle Toussaint-Samson, ou atualíssimos como os escritos de Åsne Seierstadt sobre Cabul e Bagdá. Mas a memória de infancia, quando traz a cidade junto, vira um relato histórico, imperdível e esclarecedor. É o que acontece no livro de Amós Oz, e também no de Pamuk. Depois dele, Istambul passou a ser minha também, e tudo o que está acontecendo na Turquia passa a ser do meu direto interesse.

Este era um velho projeto meu para um livro futuro _ a mistura de memória e cidade _ e agora que estes novos memorialistas estão botando a cabeça de fora é provável que novas memórias do Rio aconteçam, assinadas por mais e melhores escritores. Mas não posso deixar de citar este trecho de "Istambul, Memória e Cidade", que me caiu como uma luva. Cada um que complete com o nome de sua cidade, se quiser.
(a tradução é minha, sorry. Não tenho a versão em português do livro)

Conrad, Nabokov, Naipaul _ estes são escritores conhecidos por ter conseguido migrar entre idiomas, culturas, países, continentes e até civilizações. Suas imaginações se alimentaram do exílio, nutridas não pelas raízes, mas pela falta delas. Minha imaginação, no entanto, requer que eu fique na mesma cidade, na mesma rua, na mesma casa, contemplando a mesma vista. O destino de Istambul é o meu destino. Estou ligado a esta cidade porque ela fez de mim quem eu sou.


quarta-feira, maio 16, 2007

Zin

Pois é, depois de um mês fora, as histórias são muitas. Vou começar pelos vinhos.

(ao lado, uma winery onde tocamos na California, belo lugar, porém bem pouco apropriado para um concerto. Enfim...)

Quem viu o filme "Sideways" pode ter comprado a idéia, muito bem vendida ali, de que os vinhedos da California são o máximo, com uma população sofisticada, profundamente conhecedora do assunto. Mas quem também viu o documentário "Mondovino" cujo autor, americano, parece que veio se exilar no Brasil devido ao peso da repercussão do seu filme entre imprensa especializada, indústria e enólogos profissionais, também sabe que não é bem assim. Vinho precisa de tempo, tradição e acima de tudo, terroir _ os 3 "t" fundamentais.

Não que eu seja alguma expert no assunto, Deus me livre e guarde. Estou, e quero estar, longe daquele pessoal que faz curso de enologia, vai a degustações e tudo aquilo mais que já mencionei em outro post, tempos atrás. É o primeiro sinal do chamado 'dinheiro novo'... Mas pelo menos sei a diferença entre um vinho que presta e um que não presta, e tenho cá as minhas preferencias.

Os americanos do sul da California parece que aprenderam ontem a gostar de vinho, e já querem dar aulas aos franceses e italianos, segundo eles, produtores decadentes. O futuro do vinho está na California! É de impressionar a intimidade com que se referem ao líquido sagrado: 'faz tempo que não tomo um cab', dizia uma amiga nossa. Como cab pra mim sempre foi táxi, imaginem o meu espanto ao perceber que ela se referia a um... cabernet. Da região, of course.

Pior que o cabernet é o Zinfandel, a uva predileta dos neo-enólogos californianos. Tivemos uma overdose de zin (de novo na intimidade, segundo essa mesma amiga nossa), pois todos os nosso anfitriões queriam nos fazer provar a especialidade da área. E tivemos de provar mesmo, das mais variadas safras e preços. O Zinfandel é ácido, trava na boca ('tem cica', nas palavras do Dori) e ao final de poucos dias me deixou cheia de aftas. Nossos amigos ainda queriam nos oferecer uma caixa para trazer para o Brasil, oferta da qual delicadamente declinamos.

Finalmente conseguimos sair da pequena e rica cidadezinha em que estivemos estacionados durante três intermináveis dias, e _ que felicidade! _ encontramos um honestíssimo restaurante italiano, dirigido e servido por italianos de verdade, nossa chance de enfim tomar um vinho bom. Era um momento de comemoração, nosso aniversário de casamento, passado entre amigos queridos e com muita música, pois tínhamos acabado de tocar numa casa lotada, com platéia entusiasmada. Só alegria, enfim.

(vale dizer, o Tutty não bebe álcool de espécie alguma há 10 anos. O vinho seria para nós outros do grupo.)

Pois eis que ao entrarmos no restaurante somos saudados pelas palmas dos outros freqüentadores, que também vinham do nosso show. E ao sentarmos `a mesa, surprise! a mesa ao lado manda nos oferecer uma garrafa do mais caro Zinfandel disponível na adega da casa. Não cometeríamos a indelicadeza de não tomar. Mais um dia de zin, portanto... fazer o quê? Esperemos que tenha sido o último. Agora é aguardar com ansiedade a tour européia do segundo semestre.

PS- Atenção! cometi erros graves com relação `a localização dos vinhedos e dos lugares onde estivemos, corrigidos por Daniella Thompson em outro post. Perdão, América!


segunda-feira, maio 14, 2007

de volta...



... ... ... cansados, moídos, felizes em estar de volta ao nosso caos de cada dia, depois de passarmos quase um mês envolvidos com o caos alheio... mas a tour foi muito boa, finalmente, com os resultados que desejávamos acontecendo quase sempre.

(nas fotos, dois lados do mesmo país: o Birdland em NYC e o lago Sonoma, na California)

Tanto pra contar, não vai ser hoje. Amanhã, talvez.