sexta-feira, maio 23, 2008

queridos instrumentistas

Sei que a vida de vocês não é fácil. São anos e anos de estudo, sempre em busca do melhor som, trabalhando por amor `a arte, sem a menor garantia de uma vida digna. Muitas vezes tocando com grandes estrelas que não têm musicalidade nenhuma, ou tendo de aturar palpites de produtores despreparados. Outras tantas vezes sendo enrolados em tenebrosas transações. É tudo verdade. O Tom mesmo já dizia que a saída para a música brasileira era o Galeão (que hoje, ironia do destino, chama-se justamente Tom Jobim). Nem é mais, enquanto perdurar a situação que relatei no último post (parece que algumas companhias aéreas já estão revendo isso). Mas preciso ter uma conversa muito franca com vocês.

Perdoem a pressa, é a alma dos nossos negócios, e estou saindo daqui a pouco para Londres, onde estaremos fazendo um concerto comemorativo dos 50 anos da bossa nova no Barbican Hall. O Barbican, vocês sabem, é aquela sala de concertos de 2000 lugares, onde se apresenta a Royal Symphony Orchestra e onde muitos eventos de jazz e world music também acontecem, pois os londrinos são curiosos e querem saber de tudo o que há de novo na música do mundo. Confesso que sou a culpada, pois fui eu que, na minha santa ingenuidade, fui falar com a direção artística da casa e consegui convencê-los de que a bossa nova era importante e valia um evento deste porte. E assim foi que, sem nenhum tipo de patrocínio, sem lei Rouanet, sem ajuda do governo brasileiro, nem de ninguém que não fossemos nós mesmos, estaremos seguindo hoje `a noite, uma caravana rolidei de 17 pessoas, com expoentes da bossa de três gerações, para um show que acontece nesta segunda, dia 26. E que já está com os ingressos esgotados.

Uma noite pra ficar na história, é o que todos acreditamos. E no entanto, não será possível o registro disso. Por quê? Se houve um produtor interessado que se dispôs a levar uma equipe para Londres; se o Barbican, por um preço nem tão alto assim, permitiu que fosse gravado um DVD do concerto; se todos os artistas toparam a percentagem oferecida... No entanto, queridos instrumentistas, foram alguns de vocês que botaram areia no feijão e não autorizaram esta gravação. Não, não estou lhes tirando a razão. Essa negociação deveria ter sido feita com maior antecedencia, é certo, para que houvesse mais tempo para marchas e contramarchas. Mas ainda assim...

Por essas e outras é que os oitenta anos de Radamés Gnatalli (e a última vez em que o quinteto dele tocou junto) deixaram de ser registrados. O belíssimo show de 50 anos de carreira de Elizeth Cardoso, do qual tive a honra de participar, nos longínquos anos 80, também. 'O Samba é Minha Nobreza', deslumbrante espetáculo dirigido e criado há uns 5 ou 6 anos por Herminio Bello de Carvalho, que levou crianças das escolas municipais do Rio ao teatro para aprender da fonte a história do samba, também não teve registro.

Por desconfiança, por achar que estão sempre sendo tapeados nas negociações, alguns de vocês, queridos instrumentistas, botam a perder as oportunidades, já tão pouquinhas, de deixarmos para o futuro as imagens do que fazemos hoje. Pensem nisso da próxima vez, em nome dos filhos e netos de vocês, que algum dia vão querer saber como era a música brasileira que o vovô tocava, quando ela ainda existia.


sábado, maio 10, 2008

todos os instrumentos

Tutty toca sax-alto como hobby. Na verdade, ele já atuava como saxofonista profissional em bailes na Bahia quando, aos 16 anos, viu Edison Machado ao vivo e pirou: resolveu trocar para a bateria, uma paixão que já dura mais de 40 anos. Mas ganhou um sax de presente há 6 anos atrás, e voltou a tocar, ainda que só de vez em quando e nunca profissionalmente _ exceção feita ao nosso CD, 'Samba-Jazz & Outras Bossas', onde ele toca sax em uma faixa, e de onde saiu esta foto.

Por que estou contando isso?

Porque talvez ele precise repensar essa escolha (do sax para a bateria) e assumir um instrumento de menores proporções, daqui a não muito tempo. Estou exagerando, é claro que ele não fará nada disso _ mas a paranóia faz sentido. As companhias aéreas brasileiras entraram em campanha aberta contra músicos de todos os segmentos. Atualmente um músico que precise viajar com instrumento próprio é obrigado a despachar o dito cujo como carga, a preços extorsivos (mais caros que o tradicional excesso de peso) e nem sempre com a garantia de que sua ferramenta de trabalho chegará no mesmo vôo. O infeliz passageiro deverá chegar ao departamento de cargas com três horas de antecedencia (o que somado `a antecedencia de praxe para o check-in pode resultar em mais de cinco horas!) para que o instrumento seja pesado e avaliado por despreparados funcionários, que não distinguem um contrabaixo de uma gaita de boca.

Nosso amigo Zeca Assumpção, baixista acústico de longa e reconhecida carreira, tem tentado de todos os modos reverter esta nova política, através de cartas, emails, toques na imprensa e comunicação direta com as empresas. Recentemente recebeu uma carta pessoal do presidente da TAM, dando-lhe a garantia de que poderá viajar com seu baixo nos vôos da empresa. Nada, porém, que assegure que outros músicos poderão fazer o mesmo, e nenhuma garantia de que outras companhias aéreas seguirão o exemplo. É pouco, muito pouco.

Fazer música no Brasil continua sendo cada vez mais atividade de risco. Não conheço ninguém, com exceção das grandes estrelas do ramo, que não esteja com a vida pendurada em dívidas, cartões estourados, contas atrasadas e tudo o mais. Músicos com anos e anos de enormes serviços prestados `a cultura brasileira cada vez mais se dedicam apenas ao ensino, impedidos de exercer a profissão por razões que variam do esvaziamento do mercado para a música criativa `a inviabilidade das turnês pelo Brasil _ caso em que esta questão das companhias aéreas pesa muitíssimo. Estarão ensinando e, sem querer, contribuindo para criar mais uma legião de excelentes músicos desempregados no nosso amado país. Mas quem se importa?

Não o governo federal, que até hoje não incluiu a música no currículo regular das escolas, o que ajudaria imensamente na formação de platéias; não os sindicatos dos músicos e a OMB, que teoricamente nos representam, e na prática apenas cobram de nós a anuidade, sem o pagamento da qual estamos impedidos de trabalhar. Destas entidades, seria de esperar que reagissem com firmeza a esta nociva atitude das empresas aéreas. Eu ainda não ouvi nem um pio por parte de nenhuma delas. Alguém aí já ouviu?


quarta-feira, maio 07, 2008

dia das mães

Flores pra minha: dona Zemir, mulher-maravilha antes que isso fosse moda.
Aqui fala sua produção independente, muito bem-sucedida, graças a Deus e ao seu esforço incessante.
Não é moleza não. Eu sei. Eu já sabia.
Agora elas também sabem.
E de uma em uma, vamos levando a vida, criando esse povo.
Tarefa que não pára nunca. Lifetime gig.
Manda um beijo pra dona Odília. Recebi e entendi o recado dela. O seu também. Tia Wilma, como era de se esperar, adorou a história toda!
Depois mando mais notícias, inclusive da sua xará alemã.
Bjs e muito amor,
J