rescaldos da tour
Aqui vai uma crítica de nosso show no Ronnie Scott's, feita pelo London Jazz Blog, pra quem quiser conferir:
http://londonjazz.blogspot.com/2011/03/review-joyce-moreno.html
(na foto, o vulcão Etna visto da estrada, a caminho de Palermo, na Sicília)
No mais, semana que vem retomamos as gravações do programa, entrando no repertório da Tropicália, com participação vocal de Marcos Sacramento, além de entrevistas e muitas externas e textos, ai de mim... (mas juro que aprendi a gostar de fazer esse papel!)
A reunião com a Ministra Ana de Hollanda foi mais o menos o que eu deveria já ter esperado, com muita gente da plateia tomando o microfone para falar de assuntos que não eram pertinentes ali. Democracia é assim mesmo. O importante ali era que se ouvisse o que ela tinha a dizer, o que até o momento não tinha ainda acontecido. E o que ela tinha a dizer era importante.
Ana padece de um problema que se torna sério nos dias de hoje: ela não se comunica muito bem. A lábia baiana do seu antecessor (não me refiro aqui ao Gil) fazia com que o conteúdo do que ele dizia passasse batido, e assim se convencessem os incautos. No caso de Ana, o conteúdo excelente do que ela diz às vezes se perde para quem não estiver muito atento. Como o cargo dela é de ministra da Cultura e não de apresentadora de TV, vocês podem até dizer que isso não importa. E não deveria importar mesmo. Mas hoje em dia a política é totalmente midiática, infelizmente. De qualquer forma foi um alívio ouvir dela que o direito de autor é cláusula pétrea e que as decisões tomadas até aqui foram tomadas de caso mais do que pensado. E isso foi dito com total segurança. Tomara que daqui para a frente os talibãs da internet deixem a ministra trabalhar em paz.
A crise na OSB foi um assunto pertinente levantado naquela reunião. Esperemos que tudo se resolva da melhor forma. Os maestros sempre comparam as orquestras a uma tropa de cavalos que precisa ser domada. Já ouvi esta comparação dita por Isaac Karabitchevsky aqui no Rio, pelo diretor artístico da WDR Big Band na Alemanha, e hoje li no jornal esta mesma comparação feita pelo maestro Eleazar de Carvalho, em antiga entrevista dos anos 1970. Ou seja, não é de hoje, e é universal. É uma relação complicada, mas sei de casos de spallas de orquestras sinfônicas a quem são dados períodos sabáticos de um ano, tal o stress da posição (comparável ao de um controlador de voo - não estou brincando, tive amigas na França que eram controladoras de voo e tinham períodos assim longos de folga, para se recuperar da tensão).
A música, em tese, não deveria causar esse stress todo, mas no universo da música de concerto isso acontece, e não foi por menos que, no final dos anos 1980, em tempos de tremenda dureza financeira aqui em casa, consegui convencer o Tutty a desistir de prestar exame na OSB, para o qual ele tinha intensamente se preparado e já estava pronto - tendo inclusive participado do naipe de percussão como músico extra em vários concertos. Mas o nível de stress a que ele estava se submetendo não compensaria o possível salário da orquestra. Graças a Deus ele me ouviu e saiu fora dessa. Ou estaria hoje bem menos feliz. Mas esse não era mesmo o universo dele, músico brasileiro de jazz, de um mundo bem mais livre. Para um músico que se prepara por toda uma vida para ingressar numa sinfônica e, uma vez dentro dela, enfrenta sérias cobranças pela manutenção de um alto nível de excelência, o stress é inevitável. É um clássico caso em que todo o mundo tem sua dose de razão. A questão é como resolver isso sem chegar a este ponto de conflito.
PS- vejam o filme de Fellini, 'Ensaio de Orquestra'.
PS 2- Na verdade, manter o nível de excelência é necessário para qualquer músico que se preze. Por isso praticamos diariamente nossos instrumentos e estudamos a fundo tudo o que se relacione com a música que queremos fazer. Mas numa orquestra sinfônica é o maestro quem determina onde o músico deve chegar. Aí é que o bicho pega...