quinta-feira, março 31, 2011

rescaldos da tour


Aqui vai uma crítica de nosso show no Ronnie Scott's, feita pelo London Jazz Blog, pra quem quiser conferir:
http://londonjazz.blogspot.com/2011/03/review-joyce-moreno.html

(na foto, o vulcão Etna visto da estrada, a caminho de Palermo, na Sicília)

No mais, semana que vem retomamos as gravações do programa, entrando no repertório da Tropicália, com participação vocal de Marcos Sacramento, além de entrevistas e muitas externas e textos, ai de mim... (mas juro que aprendi a gostar de fazer esse papel!)

A reunião com a Ministra Ana de Hollanda foi mais o menos o que eu deveria já ter esperado, com muita gente da plateia tomando o microfone para falar de assuntos que não eram pertinentes ali. Democracia é assim mesmo. O importante ali era que se ouvisse o que ela tinha a dizer, o que até o momento não tinha ainda acontecido. E o que ela tinha a dizer era importante.

Ana padece de um problema que se torna sério nos dias de hoje: ela não se comunica muito bem. A lábia baiana do seu antecessor (não me refiro aqui ao Gil) fazia com que o conteúdo do que ele dizia passasse batido, e assim se convencessem os incautos. No caso de Ana, o conteúdo excelente do que ela diz às vezes se perde para quem não estiver muito atento. Como o cargo dela é de ministra da Cultura e não de apresentadora de TV, vocês podem até dizer que isso não importa. E não deveria importar mesmo. Mas hoje em dia a política é totalmente midiática, infelizmente. De qualquer forma foi um alívio ouvir dela que o direito de autor é cláusula pétrea e que as decisões tomadas até aqui foram tomadas de caso mais do que pensado. E isso foi dito com total segurança. Tomara que daqui para a frente os talibãs da internet deixem a ministra trabalhar em paz.

A crise na OSB foi um assunto pertinente levantado naquela reunião. Esperemos que tudo se resolva da melhor forma. Os maestros sempre comparam as orquestras a uma tropa de cavalos que precisa ser domada. Já ouvi esta comparação dita por Isaac Karabitchevsky aqui no Rio, pelo diretor artístico da WDR Big Band na Alemanha, e hoje li no jornal esta mesma comparação feita pelo maestro Eleazar de Carvalho, em antiga entrevista dos anos 1970. Ou seja, não é de hoje, e é universal. É uma relação complicada, mas sei de casos de spallas de orquestras sinfônicas a quem são dados períodos sabáticos de um ano, tal o stress da posição (comparável ao de um controlador de voo - não estou brincando, tive amigas na França que eram controladoras de voo e tinham períodos assim longos de folga, para se recuperar da tensão).

A música, em tese, não deveria causar esse stress todo, mas no universo da música de concerto isso acontece, e não foi por menos que, no final dos anos 1980, em tempos de tremenda dureza financeira aqui em casa, consegui convencer o Tutty a desistir de prestar exame na OSB, para o qual ele tinha intensamente se preparado e já estava pronto - tendo inclusive participado do naipe de percussão como músico extra em vários concertos. Mas o nível de stress a que ele estava se submetendo não compensaria o possível salário da orquestra. Graças a Deus ele me ouviu e saiu fora dessa. Ou estaria hoje bem menos feliz. Mas esse não era mesmo o universo dele, músico brasileiro de jazz, de um mundo bem mais livre. Para um músico que se prepara por toda uma vida para ingressar numa sinfônica e, uma vez dentro dela, enfrenta sérias cobranças pela manutenção de um alto nível de excelência, o stress é inevitável. É um clássico caso em que todo o mundo tem sua dose de razão. A questão é como resolver isso sem chegar a este ponto de conflito.

PS- vejam o filme de Fellini, 'Ensaio de Orquestra'.

PS 2- Na verdade, manter o nível de excelência é necessário para qualquer músico que se preze. Por isso praticamos diariamente nossos instrumentos e estudamos a fundo tudo o que se relacione com a música que queremos fazer. Mas numa orquestra sinfônica é o maestro quem determina onde o músico deve chegar. Aí é que o bicho pega...


segunda-feira, março 28, 2011

de volta - diário de bordo (final)

Nós no palco do Ronnie's, na passagem de som...

E nosso anúncio na porta (sem mais ingressos, pois se esgotaram duas semanas antes)

Finalmente de volta, entre a exaustão das viagens, com o cansaço acumulado que sempre pinta, e a alegria de termos cumprido bem a missão, cá estamos, já às voltas com o dia-a-dia do Brasil. Vão-se as primeiras pombas da viagem...

(o verso de Raimundo Corrêa é perfeito, e usado muito aqui em casa quando as contas chegam...)

Na agenda, um encontro dos músicos com a Ministra Ana de Hollanda - que anda precisando mais do que nunca do nosso apoio, tendo sido bombardeada ininterruptamente desde que assumiu - e o coquetel de lançamento da minha nova 'sobrinha' Maíra Freitas, de cujo primeiro CD participei com grande alegria.

E vamos em frente!


quarta-feira, março 23, 2011

diário de bordo 3

Pequenas grandes alegrias... Formaggio di capra gratinato con composta di cipolla rossa, rucola e balsamico (isso foi na Hostaria dal Gallo, em Osimo, no dia 19, antes de sairmos para Ferrara... O chef chama-se Antonio Romano, e é um grande artista)

Hoje escrevo de Londres, onde acabamos de chegar depois de um glorioso show em Berlim ontem à noite. A terra tremeu no A-Trane, um clube de jazz pequeno, porém muito tradicional na cidade, onde tivemos casa lotadíssima e a presença de grande músicos na plateia, como Joe Lovano e toda a sua banda (que irão tocar lá hoje à noite); a cantora alemã Céline Rudolph; o guitarrista (e marido dela) Rudigger Krause; nosso amigo Rolf Romer, que foi tenorista da WDR Big Band e hoje (aposentado da orquestra, mas sempre tocando muito) vive em Berlim... enfim, foi quase uma festa.

(Joe Lovano tem passado pelos mesmo lugares que nós, e por 24 horas de diferença quase nos cruzamos em Milão, Ferrara e aqui em Londres. Mas conseguimos assistir ao show dele em Zurich, e ele ao nosso em Berlim. O mundo do jazz é pequeno e quase uma família, uma comunidade global de gente criativa e do bem - falei isso uma vez para minha amiga Flora Purim, e é a pura verdade. Ganha-se pouco, mas é divertido...)

A festa só não foi uma festa completa pela tristeza das notícias sobre a saúde de uma velha amiga muitíssimo querida, que, no Brasil, está hospitalizada e gravemente doente. Os amigos e a família estão em volta, mas é um momento difícil para todos, especialmente para quem nesse momento enfrenta a solidão de uma UTI. Deus a proteja!

E o Japão, sempre o Japão... Está sendo organizado um show beneficente para as vítimas do terremoto/tsunami, possívelmente no Vivo Rio, juntando os artistas que têm feito de lá sua segunda pátria musical. Eu estarei, claro, assim como João Donato, Roberto Menescal, Marcos Valle, Ed Motta, o casal Paula e Jaquinho Morelenbaum, Pedro Luís, Seu Jorge e muitos outros, inclusive o organizador do evento, Pierre Aderne. Tomara que dê tudo certo.

Amanhã são os shows aqui no Ronnie Scott's, depois seguimos para Belfast e de lá embarcamos de volta pra casa e para a realidade brasileira - contas, família, nosso dia-a-dia. Foi bom enquanto durou.


sábado, março 19, 2011

diário de bordo 2

Turnê tem dessas coisas. Numa troca de aviões entre Zurich (Suíça) e Catania (Itália), lá se foram as nossas bagagens. Ficamos dois dias com a roupa do corpo, tendo shows para fazer (o que me obrigou a ir às compras em Modica, onde iríamos atuar naquela noite, para subir no palco um pouco mais apresentável). Depois de dois dias de negações, boatos e informações truncadas, finalmente conseguimos reaver nossas malas. Fica a sugestão de se evitar companhias como a malfadada italiana Wind Air, que cobrou uma grana extra por peça de bagagem (e não entregou!) e para se prestar atenção quando a moça da Swiss Air disser 'pode deixar que mandaremos suas malas direto para o destino'. Dependendo do destino, pode ser uma grande roubada.

(Lembrei de uma viagem nossa a Cuba em 1987, onde isso aconteceu - não conosco, mas com Gilberto Gil, que acabou tocando no Festival de Varadero usando as bermudas da viagem e uma camisa emprestada por Pablo Milanés... Ficou parecendo uma atitude fashion, mas foram as circunstâncias...)

Mas Modica é uma belíssima cidade e os shows têm sido todos ótimos.

Modica by night (fotos do Rodolfo). A Sicília foi uma bela surpresa!

Estamos hoje em Osimo, outra belíssima cidadezinha italiana, agora na região do Adriático, onde tocamos a noite passada num maravilhoso teatro antigo, o La Nuova Fenice. É nessas cidades menores da Itália que ainda se cultiva a nobre gastronomia italiana. Tem sido bom passar por aqui. Do outro lado, acordar às vezes às 5 e meia da manhã para pegar um voo, tendo chegado no hotel às duas, como aconteceu em Palermo, e embarcar rezando para não perder a bagagem de novo, é sempre um stress. O equilíbrio se dá em cima do palco, e aí a alegria de estarmos tocando a música que amamos não tem preço.

Tivemos daqui a grata notícia de que nossos shows no Ronnie Scott's, em Londres, já estão sold-out. Isso é sempre uma maravilha - vamos a eles!!!


segunda-feira, março 14, 2011

diário de bordo

Já estamos na quarta cidade da turnê e tudo tem corrido tranquilamente, com um grande e entusiasmado público em todos os lugares até agora (graças a Deus!) e o som rolando lindamente. Com este grupo, também, não tem erro... No momento estamos em Zurich, na Suíça, depois de uma linda e exaustiva viagem de trem pelos Alpes. Os shows de Viena, Hard e Milão foram maravilhosos, vamos ver como será aqui.

Aqui em Zurich achamos o que me pareceu ser o melhor restaurante vegetariano do mundo, pelo menos dentre os tantos que conhecemos. Chama-se Hiltl (desde 1898!) e está no Guiness como o restaurante veggie mais antigo da Europa, tocado há quatro gerações por uma mesma família. Mas é também o mais moderno, certamente, com um belo projeto arquitetônico, equipe multicultural trabalhando, ambiente 'children-friendly', e o principal: uma comida divina. Claro que é caro. Mas não se pode ter tudo na vida...

Vimos pela TV as notícias do Japão e ficamos especialmente arrasados, é uma segunda pátria para nossa música, lugar onde temos inúmeros amigos queridos. Não posso nem imaginar o sofrimento das pessoas, e a dureza que será reconstruir tudo. Vimos na CNN que o impacto foi tão grande que fez o eixo da Terra se mover em 10 cm!!! Os noticiários até se esqueceram um pouco dos outros terremotos (políticos) que estão ocorrendo no Oriente Médio... São tempos de grandes mudanças no mundo, e há que ter calma. Nossos netos estão herdando um planeta em mutação, que esperamos que eles sejam capazes de compreender melhor do que as gerações de até agora.


quarta-feira, março 02, 2011

o circo chegou!

A câmera deu chabu e apresentou a data errada - estas fotos são de março de 2009, dois anos atrás, portanto, mas servem para lembrar que esta mesma trupe que me cerca estará levantando sua lona pela Europa, dentro de pouquíssimos dias.

Na primeira foto, estávamos na mui graciosa San Girolamo, na Itália, e nesta agora, em Londres, na entrada do Ronnie Scott's Jazz Club, onde iremos tocar dia 24/03. Eu, Tutty, Rodolfo e Hélio esperamos diversão, muito som e alegria, pra nós e para as plateias locais. Mesmo com os deslocamentos quase diários, feitos de avião, de trem, de van... Mas vida de circo é assim mesmo. Ou, como dizia o Tom, 'é dura a vida da bailarina'...

Aqui no Brasil deixo o programa sendo editado e montado (pelo menos os primeiros episódios) e os convites para os próximos já sendo adiantados - com Marlui Miranda (quem mais?) no programa que fala em cultura indígena, e mais a super-musical Cris Delanno no da Bossa-Nova e Fernando Eiras (que ator magnífico! e que belo cantor, ainda por cima...) para o programa sobre os anos 50, samba-canção e outros babados. Vai ser muito bom! Como uma vez me disse meu parceiro Ronaldo Bastos, convidar com propriedade é uma arte. E acho que estou ficando boa nisso...

No mais, espero que na minha volta, em abril, algumas pendências brasileiras já se tenham resolvido - como a polêmica em torno da ministra Ana de Hollanda, que vem sendo atacada violentamente por algumas figuras que adorariam estar sentadas na cadeira que ela hoje ocupa. E a ingenuidade de alguns queridos compositores que atiram no próprio pé (ou na própria cabeça) quando defendem um projeto de direito autoral que desconhecem. Deveriam ter lido o projeto que os antigos titulares do MinC estavam preparando, antes de sair dizendo que Ana está mal assessorada. Ela está nos defendendo, pessoal! Atenção! Como diz o choro de Pixinguinha, 'cuidado, colega!'

Falando em perrengues sazonais - do carnaval, pelo menos, já nos livramos: eu que amava tanto os carnavais de rua da minha infância e adolescência, hoje passo as duas semanas que antecedem a quarta-feira literalmente trancada em casa, sem querer nem poder sair. O carnaval de rua do Rio renasceu, que bom. Mas se agigantou de tal maneira que se tornou insuportável. Nem alguns pioneiros fundadores de blocos estão aguentando mais. Sem falar no rastro de destruição provocado pelo vandalismo e a má-educação de quem acha divertido urinar na rua e sair quebrando tudo o que vê. Não é esta exatamente a minha noção de diversão. Portanto, hoje em dia me incluo fora disso. E me compadeço de quem mora perto da orla, para onde de vez em quando consideramos nos mudar, mas pensando bem... estamos melhor com a folia vista assim do alto.

No mais, são sonhos de amor e paz que sempre nos embalam, e algumas saudades quase insuportáveis, que vamos levando. E vamos em frente, que quem é de circo não chora.