Foi o título de um CD que gravei em 1991, lançado pela Verve como 'Language and Love'. Na verdade, nome de um bolero que eu tinha feito, inspirada nas múltiplas viagens que começavam a acontecer e no encontro com novas gentes, culturas, lugares e idiomas.
Levo jeito pra idiomas. Sempre levei. Meu pai, dinamarquês, não só falava seu idioma de origem como também era perfeito em inglês, português, espanhol e alemão. Minha mãe não tinha essa base toda, mas falar era com ela mesma: como diz uma de minhas filhas, que herdou esta prática, ela era capaz de conversar com qualquer coisa que se movesse. Então conversava com qualquer um em inglês, francês, o que pintasse, mesmo arriscando errar, sem medo de ser feliz.
Eu tenho ouvido de músico para aprender sotaques, e minha geração de adolescentes dos anos 1960 se acostumou a ver filmes sem legendas e a ouvir canções pop em inglês, francês, italiano, espanhol. E ainda tínhamos inglês, francês e latim direto na grade de ensino. Por isso, além do aprendido na escola e do inglês completo no cursinho do IBEU, aprendi todas estas outras línguas latinas de ouvido e sou perfeitamente capaz de ler e escrever nelas também. No espanhol é que sou mais fraquinha - é parecido demais com português e acaba virando um certo portunhol, mas é tudo uma questão de tempo: em alguns dias já melhoro e falo direitinho, posso dar entrevistas e tudo o mais, sem passar muita vergonha.
Fiquei feliz por estes anos todos com estas cinco línguas no bolso, podendo usar quando fosse necessário, e na nossa vida de viajantes sempre é. Mas por uma série de razões pessoais, eu e o Tutty resolvemos juntos estudar alemão, e tem sido uma surpresa.
Eu já tinha feito uma tentativa antes com japonês, pois indo ao Japão no mínimo uma vez por ano, há 27 anos, eu me sentia na obrigação de falar nem que fosse só um pouquinho. Desisti quando chegamos aos numerais: a contagem em japonês varia conforme os objetos que estão sendo contados, e isso estava me deixando maluca. As frases são construídas como se estivessem sendo ditas pelo Mestre Yoda, do 'Star Wars' (
"quinta-feira do meu marido aniversário é"). Além do mais, apesar de a fonética não ser complicada na hora de falar, ler em japonês é tarefa virtualmente impossível pra quem começa tarde como eu, tendo que lidar com
kanji e
katakana ao mesmo tempo. Portanto joguei a toalha, e hoje meu japonês é suficiente apenas para que eu me dirija a garçons e motoristas de táxi - e um pouquinho ao público, claro, o que não chega a oferecer risco, porque plateias de shows de jazz não respondem como no teatro infantil (
"pra onde ele foi???" "Pra lááá!!!") Principalmente no Japão, onde também não ligo pra ninguém nem atendo telefone, pra que ninguém me responda. Meu japonês ficou pra lá de básico.
Mas de fato o alemão tem sido uma surpresa. Parecia a língua mais complicada do mundo e, pelo que me dizem, se nos aprofundarmos até pode ser, sim. Mas já conseguimos ler um texto simples, já dá pra formar algumas frases que não dependam tanto do uso das declinações. Já conjugamos alguns verbos regulares e irregulares, o vocabulário aos poucos vai aumentando - enfim, tem sido um ganho pra dois sessentões como nós, que não esperavam ir além do que já sabiam (embora nossos coleguinhas de classe estejam todos na faixa dos vinte anos). Estudar a esta altura da vida pode ser bem divertido. Iremos em frente!