terça-feira, julho 31, 2012

minha primeira bicicleta


Quem leu meu livro, 'Fotografei Você na Minha Rolleiflex', sabe que bicicletas são um sonho irrealizado para mim. Minha mãe sofrera um grande trauma na infância - seu irmãozinho menor morreu, aos 9 anos de idade, depois de um acidente com bicicleta, e por isso nem eu nem meus irmãos mais velhos tivemos permissão para aprender a andar ou ter uma. No fim das contas, descobri que este acidente com meu tio Carlinhos foi na verdade devido a um erro médico, mas como ela tinha 11 para 12 anos na época (e estamos falando da década de 1920, quando crianças não eram informadas de nada), ficou a culpa oficial sendo da bicicleta mesmo.

Até cheguei a tentar, numa viagem a Punta Del Este, no Uruguai, com Vinicius de Moraes. Aluguei uma bicicleta e cheguei a dar umas voltinhas, até que - claro - caí de cara no chão. Levei uma bronca do chefe ("isso é hora de aprender, em dia de show? Faça isso quando estiver de férias!") e acabei desistindo pra sempre. Mas jamais deixei que essa frustração impedisse minhas filhas de terem e usarem muito suas magrelinhas.

Pois uma delas agora resolveu me surpreender, e aí está na foto: minha primeira bicicleta! Presente amoroso de minha filha mais nova, que mora na Alemanha e tem em duas rodas seu maior meio de transporte. A minha leva três, para me prevenir dos tombos. Espero dar conta, e não chegar ao Japão com as manchas roxas e a cara amassada que fizeram o Poeta me dar aquela bronca em Punta Del Este,  1975...



domingo, julho 29, 2012

Kenny Werner


Aí está nosso amigo querido Kenny Werner (ao lado de Tutty e Rodolfo), nas gravações do 'Rio-Bahia', meu CD com Dori Caymmi, gravado em 2005. Kenny é um pianista genial, arranjador, compositor, com grandes serviços prestados ao jazz norte-americano por todos estes anos.

Somos amigos desde 1989, quando ele participou das gravações do meu primeiro disco pela Verve, 'Music Inside'. Daí para a frente nossos caminhos se cruzaram em diversas ocasiões, em vários lugares do planeta. A última vez em que nos vimos foi em 2010, no Canadá, ele com seu grupo e eu com o meu, tocando no festival de Vancouver. Ou terá sido Montreal? Já não sei, pois estávamos ambos em turnê por todas estas cidades.

Kenny esteve no Brasil por estes dias, e aqui no Rio se apresentou anteontem no Miranda com seu espetacular trio. Como estamos sempre em contato por email, ele tinha me sugerido fazermos alguns shows juntos nesta sua passagem por aqui. Não deu certo, por eu estar envolvida com outros projetos e nossas datas não coincidirem. Mas topei dar uma canja com ele no Miranda, que não poderia ser anunciada, pois no dia seguinte (ontem) eu estaria fazendo o último show da turnê 'Aquarius', exatamente no mesmo local. Mas uma aparição surpresa, tudo bem.

Pois foi maravilhoso. Kenny é um pianista capaz de virar o piano pelo avesso. Como convivi e trabalhei ao lado de Luizinho Eça, que também era um desses, não tive problemas em topar o desafio e encarar um trapézio sem rede com meu amigo. Foram duas músicas: a minha 'Essa Mulher' e, por insistência do Kenny, que achava uma só muito pouco, 'Corcovado'. Sem ensaio, totalmente no susto, improviso total. Foi bom demais, e agora estamos pensando na possibilidade de fazermos alguma coisa juntos em duo, como uma tour ou uma gravação. Vamos ver no que dá!


sexta-feira, julho 27, 2012

Manaus

 Algumas fotos do nosso concerto no Festival Amazonas de Jazz, onde tocamos anteontem.

 Maravilhoso teatro - fotos do teatro Amazonas num próximo post - e maravilhosa plateia, amorosa e calorosa. Uma noite pra não esquecer.



sábado, julho 21, 2012

Amazonas


Estamos aqui nos preparando para tocar no lindíssimo Teatro Amazonas, em Manaus, na próxima quarta-feira. Será minha primeiríssima vez na cidade, em mais de 40 anos de carreira. Fui convidada, desde o ano passado, para tocar no Festival de Jazz do Amazonas - e lá estarei com Tutty, Rodolfo e Rafael Vernet (no piano), tentando botar em dia o repertório destes anos todos em que ainda não tinha me apresentado por lá... A expectativa é grande.

Depois é o último show da turnê 'Aquarius', no Miranda, aqui no Rio - que quem viu, viu e quem não viu, perdeu, pois não se repetirá. E na sequência, para minha total alegria, Tokyo - minha cidade amada, onde, com minha mui querida banda de sempre, estarei mostrando as inéditas do novo CD, 'TUDO'. Nos meses seguintes, Nova York, Praga, e também por aqui, sempre que a vida quiser... 

E vamos em frente!


filosofia



"A vida, amigo, é a arte do encontro - embora haja tanto desencontro pela vida."
(Vinicius de Moraes, como todo o mundo sabe)

Um sábio, esse meu amigo.

PS- foto de Pedro Moraes, 1975.


quarta-feira, julho 18, 2012

sambalanço

Sessão nostalgia:

Os bailes dos adolescentes dos anos 1960 eram embalados, quase sempre, pelo conjunto de Ed Lincoln, cujo falecimento, aos 80 anos, foi noticiado ontem. Era o melhor da época, com instrumentistas maravilhosos como Durval Ferreira na guitarra, Wilson das Neves na bateria e o próprio Ed no órgão, um suingue infernal que não deixava ninguém parado. Os crooners eram simplesmente Sílvio César, Pedrinho Rodrigues e Orlandivo - além de um uruguaio, também percussionista, chamado Humberto Garín, que cantava samba com divertido sotaque platino. As composições eram próprias, na maior parte de Ed, Sílvio ou Orlandivo. Era o creme do creme dos conjuntos de baile da época. Os criadores do estilo que se chamou 'sambalanço'.

(aí estou eu, aos 14 anos, no meu baile de formatura de ginásio, que teve justamente o conjunto de Ed Lincoln tocando. Foi o máximo!)

Seus LPs tocavam direto nas festinhas adolescentes, e quem quiser saber como era, é só dar uma lida no  post de hoje do blog de Artur Xexéo. Era assim mesmo! Vejam:
http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/

Sempre havia uns meninos que em vez de dançar ficavam parados na frente do palco, sacando as harmonias e o jeito de tocar daqueles craques. Eram os aspirantes a músico. Depois de algum tempo, tomei coragem e me juntei a eles, de olho na guitarra de Durval Ferreira, que em muito me influenciaria como guitarra/violão "de centro" - sem ser solista, mas segurando todas para que os solistas pudessem brilhar. Como eu era sempre a única menina interessada nessas coisas, isso acabava criando mal-entendidos. Mas, como eu já disse outro dia numa entrevista: não, eu não queria "namorar um dos caras". Eu queria SER um dos caras.

Na foto acima,  minha filha Clara revivendo este estilo, ao lado do grande Orlandivo, que fez participação especial no CD dela, "Miss Balanço" - a faixa-título, aliás, foi um dos grandes hits do conjunto de Ed Lincoln. 

Longa vida a esta grande música - Sambalanço forever!


domingo, julho 15, 2012

São Pixinguinha

Tivemos esta foto, em formato de poster, na parede de nossa casa no Recreio, nos anos 1980. A casa tinha dois andares, e ao subir a escada que dava para os quartos, a primeira coisa que se via era a imagem de Pixinguinha e os Batutas, abençoando a nós e às nossas crianças.

A formação deste grupo, que nasceu em 1919 e viajou gloriosamente em turnê para Paris em 1922, sob os auspícios generosos de um Guinle, fez com que Pixinguinha recebesse duras críticas ao seu trabalho: seria ele um jazzista, americanizado, ou coisa pior. Onde já se viu tocar sambas e maxixes usando saxofone, bateria e outros instrumentos de origem suspeita? Críticas que, décadas depois, se repetiriam com a nascente bossa-nova, e, especialmente, com Tom Jobim. Chegou-se a acusá-lo de propositadamente usar um apelido americano - sem saber que Tom-Tom era como a irmãzinha menor, hoje a grande escritora Helena Jobim, chamava o irmão mais velho Antonio Carlos, cujo nome ela não conseguia pronunciar.

A música brasileira já nasceu assim, mestiça, misturada de influências. "As raízes", dizia o sábio Tom, "estão no Jardim Botânico". Mesmo assim, os implicantes não deram trégua a nenhum destes geniais pais da nossa música. É o pecado mortal do sucesso.

Essas divagações me vieram à mente, assim entrelaçadas e meio confusas, pela gravação que fizemos, eu e Alfredo Del Penho, para mais um episódio dos "Pequenos Notáveis", desta vez com Pixinguinha como tema. As emoções trazidas por esta grande música, dele e de outros bambas fundamentais como Caymmi e Gonzagão, não têm preço. Como é bom ter nascido no Brasil e fazer parte deste legado!



segunda-feira, julho 09, 2012

na estrada

Escrevi no "Fotografei Você na Minha Rolleiflex" - meu livro de memórias musicais, publicado em 1997 - o texto abaixo:


Um elenco em turnê funciona um pouco como uma família na estrada. Incrível como isso acontece, e os papéis sempre se distribuem, como na vida, com alianças, acordos implícitos e personagens subentendidos: o pai, a mãe, os irmãos, aquele parente chato, o louco, o responsável, o bonzinho.


É a mais pura verdade. Por isso mesmo, as escolhas devem ser sempre feitas com o máximo cuidado, pra que depois, no meio de uma turnê importante, você não se arrependa delas. Não me refiro apenas a dificuldades normais de convivência, coisas do dia-a-dia, onde um acorda mais tarde que os outros e atrasa as viagens, por exemplo. Ou uns têm assunto para conversar no trem e outros não. Uns são pontuais, outros são mais doidinhos; uns são ótimos só nos ensaios, outros só acendem seu brilho no palco; uns só reclamam e exigem privilégios, outros têm espírito esportivo e encaram os eventuais problemas numa boa... A série é infinita.

Mas falo aqui também, e principalmente, de caráter, amizade, confiança - valores que, junto com o indispensável talento, ajudam a formar uma banda dos sonhos. Aquela que nunca decepciona quando se está na estrada, onde as coisas acontecem e você fica realmente conhecendo quem é quem. Onde se sabe que estamos todos no mesmo barco, e é um por todos e todos por um, na música e na vida.

Por isso mesmo, fico sempre feliz quando se aproxima o momento de viajar pelo mundo com o quarteto aí da foto, podendo me concentrar na minha música com tranquilidade e alegria, sabendo que todos individualmente brilharão, e que juntos vamos nos divertir, rir e criar. É muito bom, e já está chegando. Não vejo a hora!

PS- pra quem não sabe, aí estão, da esquerda para a direita: Hélio Alves (piano), fixo no grupo há 5 anos; Tutty Moreno (bateria), fixo no grupo (e na minha vida) há 35; Rodolfo Stroeter (baixo), fixo no grupo há 15. É com esses que eu vou!


quinta-feira, julho 05, 2012

línguas e amores

Foi o título de um CD que gravei em 1991, lançado pela Verve como 'Language and Love'. Na verdade, nome de um bolero que eu tinha feito, inspirada nas múltiplas viagens que começavam a acontecer e no encontro com novas gentes, culturas, lugares e idiomas.

Levo jeito pra idiomas. Sempre levei. Meu pai, dinamarquês, não só falava seu idioma de origem como também era perfeito em inglês, português, espanhol e alemão. Minha mãe não tinha essa base toda, mas falar era com ela mesma: como diz uma de minhas filhas, que herdou esta prática, ela era capaz de conversar com qualquer coisa que se movesse. Então conversava com qualquer um em inglês, francês, o que pintasse, mesmo arriscando errar, sem medo de ser feliz.

Eu tenho ouvido de músico para aprender sotaques, e minha geração de adolescentes dos anos 1960 se acostumou a ver filmes sem legendas e a ouvir canções pop em inglês, francês, italiano, espanhol. E ainda tínhamos inglês, francês e latim direto na grade de ensino. Por isso, além do aprendido na escola e do inglês completo no cursinho do IBEU, aprendi todas estas outras línguas latinas de ouvido e sou perfeitamente capaz de ler e escrever nelas também. No espanhol é que sou mais fraquinha - é parecido demais com português e acaba virando um certo portunhol, mas é tudo uma questão de tempo: em alguns dias já melhoro e falo direitinho, posso dar entrevistas e tudo o mais, sem passar muita vergonha.

Fiquei feliz por estes anos todos com estas cinco línguas no bolso, podendo usar quando fosse necessário, e na nossa vida de viajantes sempre é. Mas por uma série de razões pessoais, eu e o Tutty resolvemos juntos estudar alemão, e tem sido uma surpresa.

Eu já tinha feito uma tentativa antes com japonês, pois indo ao Japão no mínimo uma vez por ano, há 27 anos, eu me sentia na obrigação de falar nem que fosse só um pouquinho. Desisti quando chegamos aos numerais: a contagem em japonês varia conforme os objetos que estão sendo contados, e isso estava me deixando maluca. As frases são construídas como se estivessem sendo ditas pelo Mestre Yoda, do 'Star Wars' ("quinta-feira do meu marido aniversário é"). Além do mais, apesar de a fonética não ser complicada na hora de falar, ler em japonês é tarefa virtualmente impossível pra quem começa tarde como eu, tendo que lidar com kanji e katakana ao mesmo tempo. Portanto joguei a toalha, e hoje meu japonês é suficiente apenas para que eu me dirija a garçons e motoristas de táxi - e um pouquinho ao público, claro, o que não chega a oferecer risco, porque plateias de shows de jazz não respondem como no teatro infantil ("pra onde ele foi???" "Pra lááá!!!") Principalmente no Japão, onde também não ligo pra ninguém nem atendo telefone, pra que ninguém me responda. Meu japonês ficou pra lá de básico.

Mas de fato o alemão tem sido uma surpresa. Parecia a língua mais complicada do mundo e, pelo que me dizem, se nos aprofundarmos até pode ser, sim. Mas já conseguimos ler um texto simples, já dá pra formar algumas frases que não dependam tanto do uso das declinações. Já conjugamos alguns verbos regulares e irregulares, o vocabulário aos poucos vai aumentando - enfim, tem sido um ganho pra dois sessentões como nós, que não esperavam ir além do que já sabiam (embora nossos coleguinhas de classe estejam todos na faixa dos vinte anos). Estudar a esta altura da vida pode ser bem divertido. Iremos em frente!


domingo, julho 01, 2012

Minha cidade é do mundo

Da série "por que me ufano de ser carioca":

Hoje o Rio de Janeiro foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
Viva!

Agora só falta a bossa-nova receber o título de patrimônio imaterial, e a justiça será completa.

palco BH

 Fotos do cartaz do teatro e da montagem do palco do 1º show da turnê 'Aquarius'.

 Eis o palco quase montado com o lindo cenário de Vanessa Lopes, que, combinado ao design de luz, ficou mesmo muito bonito. Pena que de onde estamos atuando não dá pra ver tudo.

Próxima parada, Brasília.